domingo, 27 de novembro de 2016

"Felicidade": é preciso vigiar sempre


Felicidade é um momento rápido e fugaz, do tipo  de uma partícula dessas que a ciência descobre de vez em quando e avisa: eis a menor partícula já vista no universo. Até que se descobrirá, amanhã ou depois, outra menor. Definitivamente, felicidade não é um lugar, é uma fração de existência que nos obriga a estar atentos para hora que ela passa, pois quando percebemos, já se foi e é passado.

É preciso vigiar, é preciso estar sempre atento.
Às vezes, nós a encontramos nas memórias. Ela também fica lá em forma de tudo que foi e também na forma do que não foi, mas a gente queria tanto que tivesse sido. E, por alguns instantes, desejamos que mesmo a maior mentira que nos feriu tanto nos permitisse que a congelássemos no último segunda antes de descobri-la (congelar enquanto nos era uma doce verdade) e que nos fazia tão feliz. Mas a felicidade é fugaz, se foi e começou e acabou naquele segundo. Depois, só nos resta a nossa história que carregamos na algibeira.
Por isso é preciso vigiar a cada instante.

É como aquele flor no concreto que passamos no caminho para algum lugar. Se não prestarmos atenção e olharmos para baixo ou para o lado, esquecermos por alguns instantes aonde queremos chegar, ela fica lá. Por um segundo, pois alguns minutos, durando um pouquinho mais do que o tal pedaço de átomo. Mas a cada passo nosso adiante, ela vira um pedaço do passado...

Que só nos resta carregar na algibeira....


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O que você precisa saber para compor...

Bom, Dorival Caymmi se foi, Vinicius também... e nessa leva se foram Tom Jobim, Cazuza, Renato Russo, Raul Seixas entre outros tantos. Esses desfalques na MPB deixam o time mais fraco e com possibilidade de cairmos de série. Daqui a pouco vai haver tantos desfalques que já somos a MPB, ano que vem, disputaremos a série MPC. Queremos voltar para série A, queremos a MPA... Nós e o Vasco.

Mas nem tudo está perdido, para atender uma demanda de mercado, criamos o Compor é fácil, escreva você mesmo sua canção e faça sucesso. Um livro de auto-ajuda que ajuda quem quer compor e atrapalha quem gosta de ouvir.

Veja alguns exemplos...

Um pagode
Ingrediente: uma rima em –ão, uma em –or e uma em –ento...

Em todo pagode quando você cantar “e ficou a dor, desse grande ....” engate logo algo como amor. E prossiga: “Tive essa paixão em meu ....” Sabe que lá vem “coração”... “Não sei se aguento, esse ....”, sofrimento... Muito bem.. aqui o céu é o limite.

Um funk....
Ingrediente: Três verbos e a repetição silábica adequada:
Quero, quequero, quequero, quero, quequero, quero...
Dança, dandança, dandança, dança, quero, quequero você dançar..
Vai,... vaaaiiiii, vaaaii... (acrescente o movimento do quadril creu na velocidade 2 e aumente progressivamente)... Muita gírias e duplos sentidos...


Um heavy metal
Dispense os ingredientes e grite. Mas grite com vontade! Se você tem um instrumento, esquece essa história de nota e cifra, toque.. toque não, bata, mas bata com vontade nele.Ah... se você tem espaço para pular, pule... Ah sim, mas pule com vontade!


Um samba enredo:
Ingredientes: Tema (libertação dos escravos), palavras-chave (construir nação, negro, escravidão, sofrimento, liberdade), palavras-básica (avenida, alegria, emoção, carnaval), onomatopéias básicas (oooiiii, ihhhh, aaahhhh).

Misture as palavras com o mesmo ritmo de sempre (assista um desfile e entenderá que ritmo é esse). Ao final de cada frase, faça a divisão silábica da última palavra (ex.: e todo essa emoção... E–MO–ÇÃO. Ah sim prefiras as trissílabas... com polissílaba é mais difícil) Onde você não souber o que cantar, acrescente ôôôô... e termine sempre: vou cantando na avenida...

Sertanejo/brega/pop
Arrume uma mulher bem vagabunda, case-se, gaste dinheiro com ela, fique apaixonadinho, leve um par de chifres e um pé na bunda. Escreva um relato rimado com no máximo 60 palavras sobre o que aconteceu com você. Pronto. Agora, cante! Sempre em dupla é claro. É o corno e o amigo do corno.

Atenção! Ao final da frases faça "huuuuuummmm" com a boca fechada... Por exemplo, Meu coração(huuuummmm) ....

Rock Teen/emo
Ingredientes: incertezas, paixões perdidas, tédio e desilusões.

Aí você não compõe nada porque já tem demais disso na mídia. Mas se você curte, ligue o som com um conjunto desse, dance abraçando os próprios ombros na frente de um espelho com os olhos semi-cerrados, ouça, chore, jogue a franjinha para o lado e chore mais. Não se preocupe, sua mãe e seus parentes não vão achar que você é esquisitão.
Nessa altura do campeonato, eles já não acham mais nada... e evitam falar no assunto.

É isso, peça já..

Os primeiros 100 pedidos levam grátis, sem nenhum custo adicional o método “Agogô e triângulo sem mestre” nos níveis básico, médio e avançado...

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Um bilhete no saco – duplo sentido...

Caro amigo,
Desculpa por tudo. Sei que fui duro com você, mas você me deu as costas no momento em que mais precisava. Por isso, fiquei para você como grosso, entrão e outros adjetivos pouco abonadores. Só fui ao show com a galera naquele dia porque você me ofereceu sua entrada no dia anterior. Saiba que lamento por tudo e que aquilo que lhe prometi vai ser cumprido. Sou um homem de palavra e que não guarda rancor, por isso, aquilo que combinei te passar está de pé.

Um abraço para você e quem for da sua família.

***
Então...
Ele leu em silêncio. Transpareceu no semblante um certo pavor...
Preferiu não responder.


Não se brinca com um sujeito desse...

domingo, 2 de outubro de 2016

Eleições 2016: de volta ao trabalho...


Depois da festa da democracia, a ressaca pós-urnas. Nesse domingo (02/10), foi eleição e muitos colegas de outras cidades estão relatando casos de vereadores que estavam no 3º, 4º ou 5º mandato e que agora não vão mais ususfruir da vereança pelos próximos anos. Em 4 anos não sei, mas, por hora, voltam à condição de mortais, sem foro privilegiado.  
Parece que realmente, alguma coisa está mudando na cabeça de quem vota... Há, pelo menos no que se refere ao legislativo, um modelo antigo que vai se desconstruindo aos poucos. Obviamente, em um ritmo muito mais lento do que gostaríamos, mas que se desconstrói.
[modo ironia ON]
Todavia, a minha preocupação é onde vamos encaixar esses colegas que viveram tantos anos nessa condição parasitária. Seria necessária uma readaptação à sociedade produtiva. Mas que seja algo suave e sem mudanças bruscas. Um emprego de meio período 3 vezes por semana, logo a seguir, um de meio período até sexta. Alguns meses depois, um período de 8 horas diário e, com sorte, poderíamos expô-los até a uma carteira de trabalho novamente. Não podemos prometer nada... Mas isso vai depender muito como ele vai reagir no processo inicial de adaptação. Penso que grupos de apoio seriam de grande valia nesse momento.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Álbum de fotos e outras formas de torturas...

As pessoas não têm a dimensão de o quanto é chato ver álbum de fotos. Convide seus amigos para uma recepção com fondue de chocolate, morangos e um bom filme, e os inimigos, convide para mostrar álbum de fotos.
O cara abre o álbum cujo tema é férias em Porto Seguro. Bom, para início de conversa, quem viu um álbum de fotos de alguém que foi a Porto seguro já viu todos os álbuns do gênero e o mais terrível é que cada foto vem acompanhada de uma narrativa de como é o lugar, quanto custam as coisas, como a pessoa fez para chegar lá e a programação local. Aí você espera a pessoa distrair e passa duas folhas do álbum de uma vez... e o infame diz:

Você viu a foto dos índios?

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Correios pra que te quero....

Sou do tempo em que, nos Correios, só se postavam cartas, eles vendiam selos para colecionadores às vezes e, no final do ano, cartões de natal da UNICEF.

Depois vieram TELE SENA, carnê do baú, livros e gravuras diversas, CDs e cursos por correspondência...
Aí.. chegaram os serviços de banco postal, sacam, pagam conta, fazem depósito, transferências bancárias, pegam empréstimo etc...

Em breve, os Correios oferecerão:
Serviços de lanternagem, rebaixamento de teto com gesso, remoldagem de pneu, exame de próstata, limpeza de caixa d'água, disk sexo, acupuntura, tratamento de canal, afiação de alicate de cutícula e tesoura, conserto de sombrinha, lipoaspiração e retífica em motor de veículos a diesel, tomografia computadorizada, pilates, escova de chocolate, cirurgias de correção de lábio leporino e limpeza de bico injetor.

Tenho medo dos Correios...

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Devemos ter medo é dos conceitos de bem

Antes de começar digo que isso aqui são só reflexões de um indivíduo que não consegue se enquadrar em nenhuma ideologia de forma imersa e plena. Cada uma delas tem alguma coisa que me atrai e outra que me repele. E assim, nos mantemos a uma distância segura e relativamente livre de sua manipulação.
Sei que corro o risco de reprovação (E talvez textões, essa espécie de diarréia verbal do mundo virtual e de suas redes), mas me arrisco a pensar fora de um X-ista qualquer. Normalmente, esses episódios de verborragia são produtos de uma séria deficiência de leitura, logo, não merecem resposta, mas ajuda... Ah sim... não a minha. 
Creio que parte dessa confusão começou em uma leitura facciosa da declaração dos direitos do homem e do cidadão (1789).

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Nossa adorável ignorância

Certo dia, eu conversava com um conhecido bem mais novo do que eu e dizia que com o tempo a gente tem muitas das certezas desfeitas, contava a ele, advogado recém formado, que a realidade nos dá um choque e desmonta tantas teorias que temos quando mais novos...
Bem típico da geração mais nova que exige o direito de falar, mas entende o dever de ouvir como um ato opressor de uma elite dominante (e blá, blá, blá...mimimi), ele ouvia com ar de enfado enquanto eu, estupidamente, perdia o meu tempo falando coisas que ele só entenderá em uns 15 ou 20 anos.
Eu contava para ele que as certezas se desfazem de uma forma absurda e nos sentimos um pote de dúvidas.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

É tudo "parça", os inimigos são vocês...

Uma cena que marcou essa semana foi a imagem dos senadores, ex-ministros, acusados, acusadores, todos, nos bastidores do impeachment se descontraindo. 
Quando ligavam as câmeras, eles destilavam venenos e agressões verbais, provocações e ataques. Tínhamos a sensação de estar diante de inimigos mortais e que, se não fosse a intercessão de outros, eles se matariam e esquartejariam os corpos dos vencidos com as próprias mãos. 
Quando as câmeras desligavam, todos se confraternizavam como se fossem parceiros de longa data. Como diria a garotada, é tudo parça.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O Facebook é o melhor remédio

Durante anos, as pessoas passaram afundadas em crises de autoestima, achando-se uma porcaria, alguém sem atrativos, um ser desprovido de qualquer coisa que valha a pena ser notada. Isso, às vezes, até era verdade, afinal, se olharmos de perto, não somos as criaturas mais interessantes que conhecemos. Somos ícones encarnados do mais do mesmo sempre. Um ou outro na humanidade consegue destoar dessa terrível sina.
Tudo mudou com o advento das redes sociais. O Facebook trouxe a possibilidade de construir uma vida cheia de viagens, alegrias, conquistas.... o sonho em rede virtual de sermos uma espécie de personagem de cinema. Mas essa euforia passou quando todos viraram grandes protagonistas de filmes B e deixou de ser diferencial mergulhando-nos no banal e cotidiano. Constatamos frustrados que não iria haver Oscar para todo mundo.

sábado, 27 de agosto de 2016

O povo mais desencanado do Brasil

Há muitos anos tenho a felicidade de ir ao Nordeste com relativa frequência e sempre encontrei um povo acolhedor, simpático e acima de tudo desencanado. Esta última característica então tem endereço fixo e certo e se chama Bahia. Em todas as minhas idas a esse estado, sempre constatei a mesma coisa, ô gente boa de desencanada.
Há um país inteiro fazendo piada sobre o jeito preguiçoso de ser do baiano (o que nunca foi verdade, já que sempre constatei que eles trabalham tanto quanto qualquer outro brasileiro) e diante dessa montoeira de piada que fazem sobre os baianos, como eles se comportam? Como eles reagem? Bom, de forma simples.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Etiqueta do Facebook... sempre bom lembrar.

O Facebook é como se fosse uma conversa pública. É como se houvesse duas ou mais pessoas conversando em um espaço público e você ali do lado, como em um ônibus em que você segue viagem escutando a conversa dos outros mesmo que não queira. Quando presta atenção, você curte algumas coisas, comenta (mentalmente) o assunto e, muitas vezes, quando chega em casa compartilha o que ouviu com um amigo ou parente.
Já pensou se você levantasse no meio do ônibus, se dirigisse aos passageiros que conversam e falasse um textão do quanto discorda do que ele está dizendo. Ele perguntaria rudemente quem o chamou na conversa, enfim, quem pediu sua opinião? E você pensaria: sujeito grosso. Sim. E você é uma pessoa sem noção de se meter em uma conversa para a qual não foi chamado.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

As Olimpíadas e os conscientes de ocasião

Então, começam as Olimpíadas. Mais uma.. e pensar que há alguns anos, quando aprovaram o Brasil como sede, a gente pensou: Caramba! Mas está longe! Nossa, nem se se vou estar vivo. Mas se você está lendo, a resposta é sim. Você está vivo. Mas cheque o pulso por desencargo de consciência.
O fato é que o evento desde o início já despertou amor e ódio por toda parte. Não temos hospital decente e queremos ter Olimpíadas, não temos segurança, não temos educação de qualidade, o Brasil está quebrado.. Sim tudo isso é bem verdade, mas o que perpassa nessas contraposições ao evento não é uma indignação contra o evento, mas contra o descaso e incompetência administrativa de uma mesma classe política que vem se reelegendo há décadas. Acho que esse indignação deveria ser guardada para as urnas...

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O médico e a atitude estúpida

Penso que pessoas com dificuldade em interpretação de texto não deveriam ler as linhas a seguir... Não se trata de uma defesa nem do médico nem do José Dirceu...

O que eu acho mais curioso nas redes sociais é o constante desejo de vingança disfarçado de reparação moral (sic). Primeiro, lembro o caso do ex-ministro José Dirceu. O cara tem uma história política e, no final da carreira, quando tudo ia bem, ele deu mole e vazou uma série de sujeiras dele...  Nada estranho ao mundo político, foram coisas como compra de votos e desvio de dinheiro público e outras do gênero. Enfim, ele foi condenado 23 anos (sem contar o tempo de condenação pelo mensalão - mais 10 anos). O cara tem 70 anos, isso significa que ele ficaria preso até 93 anos pelo menos... Eu vi pessoas esbravejando na internet que tinha que mofar na cadeia e morrer lá etc... Considerando que ele deve ter mais uns 10 anos de vida saudável pela frente... é provável que ele fique mais tempo preso do que o tempo que tem de vida. (Aviso de ironia. Sei que não é factual essa afirmativa).

sexta-feira, 29 de julho de 2016

A moça e as vaias - um mundo cada vez mais babaca

Quando digo que chafurdamos em um mar de intolerância (e hipocrisia) nos dias atuais não é exagero. Conheço gente que diz que quem concorda com ele é sensato e consciente, agora, quem discorda é um fascista nojento repulsivo infame que não merece nem ser ouvido. É uma espécie de sub-cidadão de quem se deveria ser destituído qualquer direito a voz. Falei sobre isso no texto anterior (A celebridade e a intolerância). 
Dessa vez, o que me chamou atenção foi o caso da YouTuber/facebooker e atriz Marcela Tavares. Para quem não conhece, ela é atriz, simpática, bonitinha, baixinha, engraçada e tem um jeito histriônico de falar no seu canal...Ela fala gritando e fazendo um escândalo que, para mim, que já virei a casa dos 40, é muito estranho(mas eu assino canal dela...kkk). Mas convenhamos, ela é, boa parte das vezes, bem cômica e tem um público que compra o seu gênero 100%.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

A "celebridade" e a intolerância

"Ergo hypocisis sempre est peccatum mortale."
São Tomas de Aquino

Tempos atrás, houve um assunto nas redes sociais que causou grande “comoção” (Se bem que rede social é reduto de todo tipo de comoção ocasional: as pessoas ficam comovidas, engajadas, postam hashtags, mas em menos de duas semanas retomam sua indiferença e alienação) e não deveria ser levada em conta como referência para nada.
Mas o fato é que o ator Alexandre Frota foi recebido pelo ministro da educação (dia 25 de maio) para apresentar um projeto de escola sem partido.

domingo, 3 de julho de 2016

Consulte seu médico... vai que...

Quem pensa que viver é SER engana-se redondamente. Viver é ESTAR e estar por pouco tempo. Isso é independente de se ter uma visão materialista ou espiritualista. Esta acredita que a vida se prolonga além do corpo, aquela pensa que tudo se acaba com a morte do corpo físico. Entretanto, a vida durante seu período é inexoravelmente ESTAR.
Dito isso, penso que o maior bem que maturidade nos dá é a capacidade de enxergar essa condição. Às vezes, fico vendo pessoas mais novas cultivarem ideologias que alimentam o ódio, a discórdia, a rejeição a quem pensa diferente, o conflito, a doutrinação para formar um legião de propagadores da doutrinas X ou Y. E todo aquele que propõe parar para pensar é visto como uma ameaça ao sonho revolucionário. Vivemos em tempos em que um discurso deve ser assumido como única verdade que liberta. O livre pensar é uma ameaça à ordem.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Meu adorável pleonasmo

(Escrevi este texto tempos atrás e vale a pena ser relido)

As pessoas se horrorizam com expressões como subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro e vai por aí. Eu, sinceramente, não me assusto mais com nada. Nada do que é língua, me é estranho, parodio o filósofo.

Outro dia vi um homem furioso que gritava:
- Sai para fora.
Enquanto o outro, escondido dentro de um bar, a última coisa que pensava era no pleonasmo empregado. Ele gostaria até mesmo de ser paradoxal e sai para dentro.

Entretanto, o que ninguém vê é o nosso pleonasmo de cada dia. Aquele que entra e sai de nossas frases sem que a gente se dê conta e dão até uma sensação de que está tudo bem. Vocês já viram estudos sobre o meio ambiente, preservar o meio ambiente, cuidar do meio ambiente... Peraí. E existe algum ambiente que não é meio? Ou um meio que não é ambiente?

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Chinese food... aperte o cintos os cachorros sumiram.

Aprendemos desde pequeno que a gastronomia mais exótica do mundo é a chinesa. Lá, come-se de tudo, cachorro, rato, escorpião, cobras e aranhas (por favor, sem trocadilho)... E se você ficar de mimimi, eles comem você. O fato é que se o sujeito ficar cheio de frescura num país com um bilhão e meio de pessoas no dia seguinte ele entra no menu.
Aí, vez por outra, vem um pesquisador mostrar que a concentração de proteínas em uma lesma crua é superior a de um bife de picanha. Eu tenho curiosidade de saber se alguém leva isso a sério e substitui a picanha na pedra por uma lesma no mármore. Geladinha e crua... Argh!
Os nossos atletas estão tiveram que superar suas restrições alimentares e readaptar-se ao cardápio oriental durante a Olimpíada por lá em 2008. Olimpíada na China é algo mais ou menos como aquele programa que a Globo passava “NO LIMITE”. O cara corre, nada, se esforça e ainda tem que passar pela prova da comida. Só falta o Zeca Camargo fazendo as honras da casa.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Bem aventurados, bêbados e demais passageiros

Parou o ônibus, lotado e só com uns 2 lugares de bobeira.
Você não acha que aquela morena linda que acabou de entrar no ônibus vai sentar do seu lado não, né? Pois é não vai mesmo. Não sentou.
Andou. Parou o ônibus de novo.
Entrou um bebum e uma dona gordinha cheia de bolsa de mercado. Agora sim pode escolher, o seu colega de viagem acabou de chegar. O bêbado não, o bêbado não... você pede com fervor e em silêncio.
Escolhido.
Você foi sorteado com a dona gordinha cheia de pacotes.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Contos eróticos, duendes e outras lorotas...


Ainda tem gente que acredita naquelas historinhas de um cara cujo carro quebrou subitamente numa região afastada. Então, o sujeito foi procurar ajuda numa casa encontrou duas loiras lindas e ninfomaníacas de seios fartos, usando roupas ínfimas que o convidaram para entrar. Daí ,você sabe o que rola: sexo selvagem entre os três até o dia amanhecer.
Acho que as pessoas que relatam suas experiências eróticas para sessões de contos em revistas ou na internet carregam nas tintas demais. Se fizessem por menos, dava para levar mais a sério.
Vai, me dá uma razão para duas loiras lindas ninfomaníacas com roupas ínfimas me receberem à porta, me convidarem para entrar e subitamente me beijarem e transarem loucamente até o dia amanhecer. Atenção! Elas nunca viram o cara e nunca mais o verão novamente. Tudo isso do nada.. mera simpatia.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Gênios por 3 segundos... Cadê minha platéia?

Às vezes, bate um orgulho de umas coisas tão bestas... A gente está procurando um objeto perdido há anos, aí pensamos: ah.. Está no armário da área de serviço.. Caminhamos triunfante e, ao mesmo tempo, vacilante na certeza inicial. Chegamos lá e o previsível acontece: Não está.

Mas e quando está...? Ah, sentimo-nos um primor de organização e equilíbrio. Dá uma vontade de sair gritando: viu, e depois dizem que eu deixo minhas coisa largadas, uma zona... Ah.. triunfo!

E quando, de forma displicente e sozinhos (isso sempre acontece quando estamos sozinhos) jogamos uma bolinha de papel no cesto há uns 5 metros e a bolinha caprichosamente quica na beirada como se equilibrasse por um segundo e depois tomba suavemente cesto adentro..

Ah.. caraca! Todo mundo pensa: se eu quisesse fazer não fazia... E ninguém aqui para ver isso. Será que a câmera de segurança do escritório pegou? A vida é assim. Passamos décadas nos sentindo mais um na multidão e, no dia em que somos tocados por uma genialidade casual e fugaz, estamos numa arena existencial sem platéia.Por outro lado, quando falamos uma besteira, quando espirramos e molhamos tudo por perto, quando nossa calça se rasga numa abaixada, quando escorregamos e pagamos um micão, tenha certeza, sempre o cerca uma multidão para aqual, se você cobrasse ingresso, dispensaria o seu emprego.

E eu me pergunto:

Onde estão estes infames nos nossos momentos de genialidade casual?

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Um sonho de filme... fique fora disso!

Sonhei que eu era um sujeito estranho, largado pela mulher, desajustado, rebelde e estava em uma investigação, queria vingar a morte de um amigo meu. Meu chefe, um "negão" boa praça e que se compadecia das minhas dificuldades com álcool me olhou, pediu meu distintivo, minha arma e disse:

- John, fique fora disso.

Eu nem me chamo John, mas daí pra frente saquei que era um filme policial passado em Los Angeles... Uau!

Já sei como termina...
Sem estresse daqui para frente.
Respirei aliviado...

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Mesquinharia SA

Acho que o mundo ficou mais mesquinho. Quando eu era criança, as promoções eram: junte 20 tampinhas ou 10 selos de um produto e troque por um bonequinho do filme tal. Hoje, as promoções são junte 20 tampinhas ou 10 selos + 10 reais e troque pelo bonequinho filme tal. Não sei em que ponto da história entrou esta história do dinheiro. Poxa, assim não é promoção! Eu estou comprando um boneco e levando selos para os caras verem que andei bebendo determinado refrigerante.
Não me assusto se um dia encontrar “junte 20 tampinhas ou 10 selos + 10 reais, peça com educação, aguarde o sorteio e, sendo contemplado, troque pelo bonequinho filme tal.

Mas mesquinha mesmo é TV por assinatura. Quem tem Sky sabe disso. Aquele papo de compre o Brasileirão é uma maneira de te fazer engolir um monte de jogos que não te interessam (pode comprar o jogo isolado, mas custa o quase o preço de 50% de ações da empresa). Os filmes que te oferecem são aquele que já estão esquentando lugar na locadora há meses... e o pacote de filmes pelo que você paga a mais passa os filmes que Globo já exibiu umas 10 vezes na sessão da tarde. Ah sim.... e ainda enchem de propaganda nos intervalos das séries. Os caras ganham com o pagamento da assinatura, com a exibição de velharia quase custo zero e com os pacotes de jogos em venda casada que te empurram goela abaixo e ainda ficam repetindo a propaganda do NISSAN Tida e do Palio Adventure o tempo todo. 

Morte aos New Mesquinhos...Eu quero é trocar tampinhas por brindes sem dar dinheiro em troca, assistir só aos jogos do meu time e ver Simpsons sem comerciais de carro...


É... o mundo ficou muito mais mesquinho.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Olimpíadas – a civilidade do combate

Jogos surgiram como metáfora da guerra. Na antiguidade, provávamos que éramos superiores ao outro matando, saqueando e violentando suas mulheres. Em determinado ponto, os gregos, que eram os mais cabeças da época, acharam que esse negócio não estava legal e que estava perdendo a graça. Criaram as Olimpíadas.
Nesse momento, paravam as guerras, as disputas sangrentas, dava-se recesso ao poder judiciário, ao legislativo e os homens disputavam quem jogava um dardo mais longe, quem corria mais, quem pulava mais alto, quem aguentava mais tempo correndo, quem lutava fisicamente melhor, quem era mais forte. Afinal, essas eram habilidades imprescindíveis para os guerreiros.
No fundo, era uma maneira de dizer: "Ó, faz graça com a gente não que neguim aqui corre para caramba, é bom de mira, briga bem e ainda acerta um pedrulho longe para caramba..." Uma sutil intimidação.Mas faltava sangue nisso tudo e a população, superado o período de novidade, enjoou dos jogos e voltou a guerrear.Foi aí que, mais de 15 séculos depois, o Barão de Coubertain, observou que a Europa era o lugar ideal para trazer a idéia dos gregos à tona. Resolveu ressuscitar a tradição na era moderna e relançou as Olimpíadas, mas dessa vez com patrocínio e cobertura de imprensa.O ser humano trouxe de volta a disputa saudável e ainda inseriu outras modalidades como a marcha atlética, aqueles cara que caminham rapidinho com as pernas juntinhas meio que rebolando... Não consigo imaginar em que isso torna um exército mais forte ou respeitado. Mas tudo bem... é invenção moderna.Se bem que imagino que a marcha atlética era uma maneira estratégica de matar os inimigos de rir. Os soldados vinham naquele passinho de perna presa e, quando chegavam ao local, paravam, colocavam a mão na cintura e diziam:- Aí gente, tô acabada, biba!Os inimigos não entendiam nada e eram atingidos por petecas (badmington)... Outra modalidade que me deixa intrigado que graça tem e que sentido faz. Mas enfim,...O espírito Olímpico é isso, fazemos uso de nossa civilidade ao comprovar, sem usar sangue, que somos mais fortes, mais ágeis, mais resistentes... e até mais fresquinhos, leves e faceiros, por que não?Quem foi que disse que isso é defeito?
Em tempo:
Acho marcha atlética um negócio muito esquisito... Parece que um cara chegou e gritou: Gente, se joga! liquidação de necessaire e pochette cor de rosa...! Corre!

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Minhas queridas lendas urbanas


Sem saudosismo da aurora da minha vida (ao estilo de Bilac), mas sabe que, em face ao que tenho visto no novo universo de lendas urbanas, sinto uma ponta de nostalgia. Tempos em que tínhamos medo da loira do banheiro.
- O quê? Você nunca ouviu falar da loira de branco que aparecia no banheiro da escola? Tinha sempre um colega do vizinho do primo de alguém que deu de cara com ela.

Sempre achei que ela fosse parente de uma outra loira que dançou a noite toda com um cara e quando ele a levou para casa... Pasmem: ela morava no cemitério... brrr Caramba! Desse cara nunca mais se obteve notícias... Como ficaram sabendo da história então? Isso é a outra parte do mistério.
Na cidade onde nasci, os mais antigos juravam que um tal seu fulano, filho de dona sicrana, há muito tempo atrás fez pacto com o tinhoso e, nas noites de lua cheia, virava lobisomem. Tem até quem o visse com fio de roupa de vítima preso no dente durante o dia enquanto exibia sua aparência pálida, magra e soturna. Tudo isso somado aos maus hábitos de higiene bucal, é claro.
Na minha adolescência, dezenas de pessoas juravam que o disco da Xuxa, quando ouvido em um volume alto, ao contrário trazia palavras de adoração ao diabo. Nossa, a loirinha fez um pacto com o cão... por isso aquele sucesso todo! Huummm fazia sentido... Eu mesmo, quando a ouvi cantando Ilariê sentia um desejo incontrolável para mandá-la para o os quintos dos infernos... Deve ser isso então. Explicado. E o boneco do Fofão que trazia um punhal para rituais satânicos dentro dele: uma espécie de kit para magia negra. Quantos bonecos do fofão não foram destroçados só para saber se havia o tal punhal.
Eu nunca vi um desses, mas soube do primo de um colega do vizinho de um colega de sala meu que pegou o punhal e ficou transtornado, possuído. Por precaução, eu e um amigo deixamos o Fofão da irmã dele intacto. Não se brinca com essas coisas.
Hoje, temos os catadores de órgãos, os injetores de vírus, os perfumadores loucos, os vendedores de órgão de criancinhas que andam em Kombis, sem falar na nas apavorantes correntes de internet...
Sei lá... o pessoal pega pesado hoje.
Eu queria mesmo era um mega embate: um molequinho transtornado com o punhal do Fofão com a Loira do banheiro... assim, transmitido pela ESPN e pela Sport TV.
Direto do Banheiro da escola.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Hipocrisia, cigarros e outras coisas

Sempre achei que a hipocrisia é um bem social.
Proibimos a maconha, liberamos o cigarro, condenamos a cocaína, aceitamos o álcool. Achamos até engraçado um personagem humorístico que cai pelos cantos e fala besteiras fazendo piadas com a própria desgraça (não a do ator, mas a do personagem). O ministério da justiça reclassifica a novela porque aparece uma moça seminua dançando numa boate às 21 horas. Enquanto isso, o senado libera um senador que comprou empresas usando laranjas, dinheiro sujo, pagou uma amante (aliás, com quem teve uma filha) com dinheiro de empreiteiro e isso passa no jornal das 13 horas.
Não defendo a liberação das drogas, mas a questão é pensar: o que faz o álcool menos droga do que a cocaína e o que faz o cigarro menos droga do que a maconha? Talvez dados técnicos apresentem distinções, mas essas se contrastam com a realidade de que o cigarro e a bebida são muito mais socialmente nocivas do que os seus concorrentes vendidos nas bocas de fumo dos morros (e, hoje, até por playboys de classe média).
Mas, seguindo assim, punindo os peitinhos na TV, liberando as putarias dos políticos não vejo muito perspectiva para aposentar a falsidade (ou pelo menos, dar umas férias sem vencimento para ela). Achando normal o garotinho de 15 anos com o cigarro no dedo que chega a casa bêbado depois da balada e se horrorizando com os garotos de zona sul preso com drogas seguimos rumo ao nada, ou pior, ao tudo de ruim.
Não tenho esperança de que as coisas mudem muito com a liberação das drogas ou mesmo com a proibição do álcool. Acho que tudo demanda uma reformulação de mentalidade que terá como fim tirar nosso rosto de trás dessa máscara chamada HIPOCRISIA.
Certa vez, quando eu dava aulas em ensino médio em uma escola da rede privada, lá pelos idos de 1999, uma vez me vi no meio de uma roda de alunos de 1º ano que contavam sobre um churrasco. A conversa descambou para porres homéricos (papo comum nessa idade). Daí, começaram a relatar os porres de seus pais. Um deles disse:

Caraca, maluco, aí quando eu vi, meu velho tava todo vomitado no churrasco da minha tia. Levamos o cara para o chuveiro e demos um banho daqueles... caraca, maluco. Muita doideira.

Imaginei-me naquela situação, jamais vivida por mim, com meu pai e deprimi só de pensar. Esse fato narrado vindo de um adolescente é normal, pois a idade prima por pouco senso crítico, mas essa atitude vinda de um pai dispensa comentários e se torna autoexplicativa para o que vemos.
Ave, hipocrisia!

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Deixa ver se eu entendi...

Dúvidas 1
Eu pago imposto, o governo pega o meu dinheiro para construir uma estrada, constrói. Pronto, até aqui tudo bem. Aí, ele cede a concessão para uma empresa particular, eu continuo pagando imposto. Bom, até aqui foi. E aí, a empresa cobra para eu usar uma coisa pela qual já paguei e continuo pagando. Certo? É. Acho que eu entendi. Só não achei bacana.

Mas entendi.

Dúvidas 2
Bom, eu posso abater meus gastos com saúde no Imposto de Renda. Aí eu vou ao médico, ele me cobra 80 reais de consulta. Saio de lá com uma lista de remédios. Legal, acho que até aqui deu para acompanhar. Vou a uma farmácia, compro os remédios e gasto 450 reais. Tudo bem?! Bem, aí eu só posso abater os 80 já que os 450 não são vistos como despesas médicas, gastos com saúde. Huuummm... Entendi de novo, mas continuo não gostando.

Dúvidas 3
O problema é o número de reprovações no ensino fundamental na rede pública, certo? Bom, aí o governo aprova uma lei que proíbe reprovar. Ok, até aqui foi. Aí, uma vez que não se pode reprovar, todos são aprovados... É isso mesmo? Bem, então, acabou o problema com alunos reprovados no ensino público. Certo?



P.S.: Cansei de entender. Estou começando a preferir a ignorância.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Coisas nossas, falas nossas


Manias esquisitas dos falantes de português

Somos a terra dos falantes HIPERBÓLICOS. Aqui, as pessoas falam que isso ou aquilo é a oitava maravilha (na verdade só havia até ano passado 7), morremos de fome e continuamos vivos e ficamos carecas por saber algo durante muito tempo e, às vezes, ainda temos cabelo (menos eu, claro)
Mas o mais engraçado é o caso da frase “concordo com você em gênero, número e grau.” Pois é. Gênero e número, tudo bem. Mas GRAU. Bom, aí vai uma aula de graça:

Ao contrário do que trazem algumas gramáticas, grau é mais uma derivação ou como chama MATTOSO, uma derivação é voluntária (derivatio voluntaria). As pessoas flexionam porque querem, não porque “tem que”. A concordância se dá efetivamente com as flexões, não necessariamente com as derivações.

Dessa forma, concordar com o grau é um extremo mesmo, uma hipérbole (um exagero). Corresponderia a dizer:

Um caderninho pequeninho minúsculo

Esquisito, mas expressivo!

Obs.: Acho que a moça da foto exagerou na maquiagem...

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Curtas histórias II - O mal que carrego em mim

Naquele empresa, todos buscavam o sucesso a qualquer custo. Cargos, gratificações, e até quem sabe, um prédio que levasse seu nome como homenagem em vida. Afinal, não se esperaria a morte, pois a vaidade tem que ser alimentada em vida. A morte cessa sua fome, ou a faz vã.
Ele destoava daquele teatro. Não conseguia lutar por cargos, gratificações, honrarias. Sua vaidade já era nutrida pela satisfação plena de ser como se é e não como o meio o queria. Entretanto, o seu modo de ser incomodava e não tardou para que articulassem sua expulsão, afinal, todo o seu desinteresse era a maior manifestação da "soberba de sua humildade". Pois, então, depois de fazerem de sua vida algo perto do inferno por um tempo, eles o expulsaram.
Na saída, contemplavam satisfeitos os passos do homem que se afastava alongando sua sombra. No coração não carregava ódio pelo mal que lhe fizeram, mas a certeza de que saíra como entrara e não caberia rancor contra aqueles que estavam eternamente condenados a serem o que eram.

Moral da história: Não é ruim o mal que fazem conosco, ruim é o que deixamos que esse mal nos faça. Aquele que cultiva a maldade carrega consigo a maior punição que se pode impingir a um espírito: ser o que ele é até o fim dos dias. 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Curtas histórias I - O sinal

Agonizava o bandido com o tiro que recebera. Buscou no bolso da calça o celular com as fotos afetivas que guardava. Sua história estava ali. Teclou com suas últimas forças e clicou no arquivo de foto como que guiado por algo maior e além de sua compreensão. Abriu aleatoriamente as fotos na primeira pasta que tocou. Suas mãos eram guiadas por uma força incompreensível naquele momento.
Apareceu na tela uma foto feita na semana anterior de uma etiqueta de preço de uma prateleira de desinfetante no supermercado. Havia tirado para comparar preço. Clicou de novo. Abriu uma foto de um prego que havia entrado no pneu do carro que havia tirado para mostrar aos amigos o estrago. Não desistiu. Sentia-se guiado por uma presença suprema e abriu outra. A terceira vez seria a marcação da santíssima trindade, o sinal divino. Era nessa tentativa que sua mão lhe guiava. Então surge a sua frente um nude de peitinhos de fora de uma garota que lhe passaram pelo Whatsapp no dia anterior.
... Pensou...

Aquilo era de fato um sinal presente a primeira mensagem: a vida não tem preço e a morte é a grande limpeza da alma.
Suspirou e desprendeu-se do corpo físico rumo ao desconhecido.

Moral da história: Quando a gente quer entender o que desejamos entender, urubu é pomba da paz.

domingo, 27 de março de 2016

Aviso desnecessário

Outro dia vi um daqueles mágicos que fazem e explicam a mágica (êta coisa sem graça!) fazer um truque em que havia uma caixa no meio de duas rampas. De um lado havia uma serra circular de uns 120 cm de diâmetro, de outro, outra serra do mesmo porte. À frente, havia um grande maçarico e, em cima, uma bigorna. O cara entraria na caixa, as serras desceriam dos lados, a bigorna cairia e o maçarico queimaria as laterais mostrando o mágico que não teria sofrido nada.
Antes de começar o truque, o locutor avisou:
- Não tentem fazer isso em casa!

Um aviso muito prudente e bem apropriado, já que a coisa mais comum é uma pessoa ter em casa, duas serras circulares de 120 cm de diâmetro, um maçarico, uma bigorna, duas rampas e uma caixa de madeira do tamanho de uma geladeira...
Eu, por exemplo, guardo essas minhas coisas sempre longe do alcance das crianças, perto dos remédios e dos produtos de limpeza.


quinta-feira, 17 de março de 2016

O artista, o ativista e a baita confusão

As pessoas teimam em confundir as coisas. Sabe aquela história do ator que faz papel de vilão na novela e é hostilizado na rua por aquela tiazinha de idade que não sabe diferenciar o ator do personagem? Pois é... Todo mundo conhece a história de um ator que fez papel de mau e acabou ouvindo uns bons desaforos na rua, não é?
Pensei sobre isso tempos atrás quando vi Chico Buarque sendo hostilizado por alguns caras na saída de um bar no Rio. A pergunta que fica no ar é: pra quê? Ele vai mudar de opinião sendo xingado? O cara que xingou vai receber uma comenda de a pessoa mais consciente do mundo? Alguma coisa vai mudar com esse ato de hostilidade? Não! Perda de tempo, ofensa desnecessária (se é que existe alguma ofensa necessária!?) a um dos maiores ícones da MPB que continua sendo um dos maiores ícones da MPB independente do que ande falando por aí.

segunda-feira, 14 de março de 2016

O texto, o contexto e a má fé

Certa vez, eu conversava com um colega sobre literatura e falava do quanto admirava obras de alguns autores como Nelson Rodrigues. Ele torceu a cara e disse, Nelson Rodrigues é um machista. Fiquei surpreso com a afirmativa, pois pensei que a contextualização do autor era óbvia. Ao que eu completei que sim, que ele era machista, inclusive que Monteiro Lobato, provavelmente, era racista, que Wagner (compositor) era antissemita (Nietzsche também...) e que a bíblia era homofóbica no velho testamento (ainda mais se você focar em Levíticos, um livro escrito no século XV a.C...) Ah sim.. e que Zumbi talvez tenha tido escravos. E qual o problema de se ter tido escravos no século XVII?
Pois é... Retirar o texto e o fato de seu contexto é a maneira mais cruel de não se entender nada e sair propagando sua bela consciência social que o torna o melhor dos seres humanos que já pisaram na terra. Ah sim... E se recusar a acessar a ler o livro por causa da capa.

quinta-feira, 10 de março de 2016

O chato e o mau hálito

Há uma sutil linha que nos permite comparar o chato com o cara que  tem mau hálito. A primeira coisa é o cuidado para se falar do tema com a pessoa em questão e não ser mal entendido ou arrumar um inimigo. Não é legal ter desafetos, mesmo que seja o desafeto de um chato. 
A outra é a ilusão tanto de um (chato) quanto de outro (cara com mau hálito) de que quem sente o efeito de sua presença é só o outro, e no singular mesmo. Nunca no plural. Ambos não reconhecem que tem problemas que incomodam os outros quando eles chegam perto e que, definitivamente, o problema não está com os outros, mas com ele.

sábado, 5 de março de 2016

Vampiros nas redes sociais

Há muitos anos, li sobre vampiros em um artigo de uma revista enquanto esperava em um consultório para ser atendido. Obviamente, não se tratava de sugadores de sangue noturnos das histórias. Era uma reportagem superficial que falava de pessoas que se alimentam da energia dos outros e nem se dão conta da vampirização que fazem. Procurei ler mais sobre o assunto depois daquele dia e comecei a perceber que, realmente, há pessoas que se alimentam da  nossa energia. 
Já percebeu que há pessoas que lhe causam intenso cansaço co breves períodos de convivência? Conversar com elas por 20 minutos equivale a horas de conversa pesada, tensa e terminamos como quem correu uma maratona?

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

De boas, fessô. :-)

Uma vez um aluno comentou comigo: Poxa, professor. Já te conheço há algum tempo e nunca te vi perder a linha, bater boca com aluno, tretar, enfim.. Você é muito zen. E riu.
Aí eu expliquei para ele o seguinte. 

Se eu bato boca com um aluno, eu sou imaturo e ele, um adolescente de 15 anos;
Se eu bato boca com um aluno e jogo na cara que ele não tem leitura para discutir comigo, estou sendo imaturo e arrogante e ele, um adolescente de 15 anos;
Se eu bato boca com um aluno e jogo na cara que ele não tem leitura para discutir, que não é capaz de sustentar uma discussão comigo, estou sendo imaturo, arrogante, prepotente e ele, um adolescente de 15 anos;
Se eu bato boca com um aluno e jogo na cara dele que não tem leitura para discutir, que não é capaz de sustentar uma discussão comigo, que ele tem que amadurecer e pensar mais, estou sendo imaturo, arrogante, prepotente e cego...
- Cego? Interrompeu-me ele.
- Pois é... É que, nesse momento, não consigo ver que, naquela hora, quem está agindo de forma inadequada com a idade sou eu e não ele, que continua sendo um adolescente de 15 anos. Concluí.

O rapazinho riu.
- Fessô, 'cê é "de boas"

É, acho que é por aí mesmo.. concordei.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Algumas boas razões para não se discutir por besteira

Dizem que a vida pode ser representada por números, que a matemática pode dizer muita coisa sobre nosso dia a dia e nos ajudar a entender o mundo que nos cerca e como agimos com nosso tempo.

Partamos da premissa que um homem adulto com 44 anos (eu) dentro da expectativa média de vida de um brasileiro possui mais uns 29 a 30 anos, podendo chegar a um pouco a mais ou um pouco a menos. Esse é o ponto de partida da ideia.

Uma discussão consome em média, entre o tempo que discutimos e o tempo em que pensamos o que falamos ou que deveríamos falar uns 20 minutos (no caso de pessoas mentalmente equilibradas. Óbvio. As doentes ficam pensando dias no que poderiam ter dito e não disseram).

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Central do Brasil e o país de escrevedores


“Digo isto porque tenho medo que, um dia, você também me esqueça...”
Dora, personagem de Fernanda Montenegro no filme Central do Brasil.

Outro dia revi Central do Brasil e penso como é que não foi daquela vez que trouxemos o Oscar para Brasil... Para mim, é a obra de arte do nosso cinema, sinal de amadxurecimento nessa arte jamais visto antes.
Entretanto, ele é o ponto de partida de uma série de reflexões sobre o país que temos e o país que queremos. Central do Brasil foi a grande demonstração de amadurecimento do cinema brasileiro, mostrando que dos arroubos do Cinema Novo, das inovações e óticas engajadas de Júlio Bressani e Glauber Rocha entre outros, brota um cinema maduro, bonito e sensível que constrói a apresentação de nosso perfil cultural ao mundo de maneira clara, lúcida e cada vez menos estereotipada (Não tem mulatas sambando de biquini, homens jogando futebol, baianas rodando a saia e vai por aí).

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Diário de um macho


Aquele era um macho legítimo. Acordava pela manhã, cuspia no chão, arrotava, peidava e fazia aquele som de puxar o ar para dentro com biquinho e dizia "gostoooooosa" quando passava uma mulher. Isso, logo cedo. E logo cedo para ele era na hora do Globo Esporte. Afinal, macho que é macho não acorda antes das 11. Entrava no seu facebook e atualizava com fotos de mulheres nuas (ou seminuas), inseria testes para averiguar a macheza de qualquer um que quisesse se aproximar dele. Afinal, perto dele, ele só queria mulher pelada, mas muito mais do que isso, amigos machos. Mandava piadas para toda a sua rede sobre o que é ser macho, como é bom ser macho, como é supremo ser macho, ser macho é tudo de bom. Queria gritar do telhado a alegria de ser macho, mas isso não era coisa de macho.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Nós educamos uma geração incapaz de ouvir


Aqui fica um mea culpa (expressão latina para se assumir responsabilidade sobre algo) perante todos. Oficialmente nesse ano, após mais de 22 anos de magistério, percebo que a minha geração deixou um torpe legado a geração que nos sucedeu: a incapacidade de ouvir.
Nascemos numa geração (anos 70) em que aprendemos que tínhamos que nos policiar ao dizer algo, pois havia coisas que só poderiam ser ditas entre as 4 paredes de sua casa. E mesmo assim, carecia ter cuidado, pois até as paredes tinham ouvidos e uma discordância política poderia acabar em problemas significativos.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Historietas banais - a bolsa das ideias

Entra um homem em uma fila pequena. Aguarda e chega sua vez. Um atendente anotando em um papel lhe pergunta:

- Em que posso ajudar?

[homem cheio de boas ideias]
- Tenho grandes e boas ideias para buscar o bem comum ? Sei os caminhos as fórmulas para um tudo melhor.

Atendente
- E o que você já fez pelo bem comum?

[homem cheio de boas ideias]
- Ainda nada, ou só o pouco que esteve ao meu alcance, mas pretendo fazer se me derem essa oportunidade. Responde levemente envergonhado, mas firme.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Trocando de lugares

É muito complexo entender onde o desejo de justiça e igualdade proclamado por grupos ideologicamente engajados se confunde com ressentimento e desemboca em vingança contra outra classe. Olho isso com cautela sempre. Parece-me que é da natureza humana a ideia de promover no outro a mesma dor que nos impingiram como se essa dor aplicada ao outro aliviasse a nossa e nos reparasse de alguma forma. Acho que é essa a lógica da pena de morte.

Quando crianças e tomamos um tapa do colega, apressamo-nos em dar outro. Isso não é defesa, é agressão. E quando o colega nos diz não doeu, apressamo-nos novamente em dar outro mais forte até que doa. Isso é um sentimento primitivo de impingir mais dor do que nos foi impingida com a ilusão de se fazer justiça.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Não da guarda, mas anjos "de" guarda...

Sim. Existem anjos "de" guarda. Quanto aos anjos da guarda, não tenho tanta certeza. Acho pouco provável que a espiritualidade tenha colocado alguém de plantão para ficar lhe dando ideias boas o tempo todo e protegendo das furadas em que você entra. Prova disso é que, numa breve lembrança, você deve recordar uma série ideias erradas que teve e que o levaram a umas "encrencas" inimagináveis.
Pois então. Não somos tão especiais assim para termos uma cobertura 24 horas, do tipo seguro de automóvel. Deixar-nos errar faz parte da aprendizagem.
Mas já reparou como, em situações críticas da vida, costuma aparecer alguém para dar uma força. Às vezes, nem sempre do tamanho da força que precisávamos, mas na medida certa para a gente ganhar "galeio" e conseguir energia para cobrir o restante que faltava?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Tretas no Face: um espelho da nossa vaidade

A medida da certeza das nossas ideias é proporcional ao desinteresse que temos de convencer os outros de que estamos certos. Explico. Quanto mais eu tenho certeza de alguma coisa e essa alguma coisa está bem resolvida na minha cabeça, todo discurso de convencimento é uma perda de tempo, ainda mais quando a outra pessoa não está disposta a ouvir (entenda ouvir como parar, pensar, relacionar, entender...)

sábado, 30 de janeiro de 2016

Vivendo e desaprendendo... emburreci mesmo

Às vezes, penso que emburreci ou talvez sempre tenha sido sempre muito burro e não me dado conta de tal fato. A maturidade me faz apostar cada vez mais na segunda hipótese.
Vi o governo divulgar outro dia na TV que liberaria um incentivo para o crescimento da economia de 96 bilhões de reais em 2016. E várias pessoas (do governo, é óbvio) diziam sobre o quanto isso era bom, pois os recursos não viriam dos cofres necessariamente do erário, mas do FGTS, quer dizer, do meu cofre quando fui funcionário da iniciativa privada e todos que ainda o são.
Pois bem. Há coisa de um mês, assistindo a uma discussão de economistas (tanto aliados das ideias do governo quanto contrários) na TV, dados mostravam que o mesmo governo havia cortado 120 bilhões em incentivos para economia nos últimos 12 meses... Isso era um consenso entre eles, independente de suas visões políticas. Suponho que sabiam o que estava falando e que tinham base para suas afirmativas.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Um privilégio para chamar de seu

Muitas vezes, escondemo-nos por trás do que chamamos de direito. Na maioria das vezes, eles são, na verdade, privilégios espúrios desejáveis. Entretanto, criando alguns direitos para restabelecer a igualdade estamos privilegiando um grupo. Isso é uma forma patente de ser desigual. Eis o paradoxo dos paradoxos. Para sermos iguais termos que ser diferentes porque as pessoas são diferentes. Confuso, não?
Recuso-me a mencionar qualquer um dos "direitos" que considero privilégios para não acirrar os ânimos e abrir debates daqueles que tem a eterna pretensão de guardiões do bem e do justo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Da barganha à pirraça - a torpe lógica humana

A relação que o homem possui com o conceito de divindade, muitas vezes, é oscilante entre a ingenuidade das cobranças (Poxa, Deus, eu fui tão bom, porque isso foi acontecer comigo. Fui tão fiel e ganhei isso em troca...) ou troca de favores (Se eu conseguir ganhar na loteria vou ajudar os necessitados, se eu ficar curado, vou à Aparecida do Norte a pé...) e a imaturidade de negação de uma criança contrariada pelos pais ou que, quando não vê as coisas do jeito que ela quer, faz pirraça e diz “eu te odeio”, no caso eu não acredito em você, Deus bobo, feio, cabeça de melão.

No primeiro caso, estão muitos religiosos que fazem de sua relação com a divindade um balcão de negócios. Através de promessas, negocia-se que, se o indivíduo obtiver uma graça, em troca, faz alguma coisa "boa". Por exemplo, se eu conseguir comprar minha casa própria, vou à igreja e acendo uma vela. Ou ainda, se eu conseguir um emprego, vou rezar uma novena durante 7 dias.