domingo, 28 de março de 2010

Série - Mundo corporativo, a vida na empresa - Capítulo I - O messias

"Aquele que crê em mim viverá."
De tempos em tempos, surgem nas empresas, principalmente, nas que estão em crise, os espíritos messiânicos. São consultores, executores, planejadores (sic) e outros -ores que são contratados pela alta chefia para resolver todos os problemas que se arrastam há anos e que todo mundo sabe quais são as atitudes necessárias para resolvê-los. Conclusão, trata-se de pessoas que nos dirão tudo aquilo que já estamos carecas de saber, mas que precisamos que venha alguém de fora dizer para que a gente continue não fazendo. Complicado? É. É sim. Os primeiros momentos dos -ores deixam a chefia encantada com tanta sabedoria, tanta perspicácia, tanta astúcia e experiência em espírito tão genial. Mas com o passar do tempo chega-se a estranha conclusão de que o cara era um bundão, criou mais problemas do que soluções e o dinheiro que economizou gastou-se  pagando a ele. Ou seja, zero a zero. 
As melhores soluções de uma empresa estão nas decisões em conjunto e na capacidade dos líderes em fazer do problema da empresa um problema de todos. Mas isso demanda tempo e habilidade de negociação muito grande e ninguém tem mais tempo para isso. Daí, contratamos nossos personais-messias que chegam com ares de "eu sou a verdade e aquele que crê em mim viverá", ou pelo menos não será mandado embora durante seu reinado.
E os messias se vão depois de se constatarem na empresa que eles não andaram sobre as águas, não multiplicaram nada, não fizeram de água vinho, enfim.. sem milagres rumo a outras bandas onde por alguns meses serão deuses na terra até concluírem por lá o mesmo que se concluiu de onde ele veio. Messias corporativos são eternos nômades.

P.S.: Só me ressinto é de não podermos crucificá-los no final da história... faria de sua passagem, apesar de pouco produtiva, mais divertida para a gente.

quarta-feira, 24 de março de 2010

De frente para o crime - caso Nardoni em metáforas

"Está lá o corpo estendido no chão, em vez de rosto, uma foto de um gol, em vez de reza, uma praga de alguém. E um silêncio servindo de amém./ O bar mais perto de pressa lotou, malandro junto com trabalhador, um homem subiu na mesa do bar e fez discurso pra vereador..."

Há uns dois anos toquei nessa questão e toco de novo. O que leva uma pessoa que trabalha, estuda, tem compromissos sociais etc a deixar sua casa em uma manhã, logo próximo ao horário do almoço, pegar ônibus, metrô, gastar dinheiro, andar, sentir calor com esse tempo maluco ou tomar chuva com as pancadas dessa época do ano a ir para a porta de um fórum só para gritar "justiça, justiça...." Pela televisão vi que havia gente até com banquinho para encontrar um bom lugar de onde pudesse gritar "justiça, justiça", ser filmado pela TV e ser ouvido por quem quer que seja.
Não entendo a motivação disso tudo. Não prego a indiferença, muito pelo contrário, mas essa mobilização me parece algo tão sem sentido, tão sem rumo. Ao chegar em casa, depois de sua manifestação de indignação, ficam indignados também com as atitudes do Dourado no BBB, ou com as traições do Marcos na novela. Trocamos o banquinho pela poltrona, trocamos as câmeras pelo anonimato das paredes de nossa casa e mantemos a torpe "solidariedade" sem sentido que move a tanta gente para a janela de frente pro crime. A música de João Bosco e Aldir Blanc nunca foi tão atemporal.

"Sem pressa foi cada um para o seu lado, pensando numa mulher ou num time. Olhei o corpo no chão e fechei minha janela de frente pro crime. Veio o camelê vender anel, cordão, perfume barato. baiana pra fazer um bom churrasco de gato..."

sábado, 20 de março de 2010

Nomes esquisitos e outras esquisitices

A filha da Baby Consuelo, atual Baby do Brasil e futura Baby X em razão de algum fator numerólogico e seu marido tinham mania de colocar nomes estranhos em seus filhos, coisa como Riroca, Zabelê, Nana Shara... Riroca futuramente veio a trocar de nome para um mais simples e menos comprometedor, Sarah Sheeva (sic).. Porém, não menos esquisito. Não entendo a motivação de buscar nomes tão estranhos para os filhos assim como não entendo porque tanta gente coloca nome de famosos internacionais neles. E o pior, com a grafia do português. O que já apareceu de Vandame da Silva, Chuquinóris de Jesus Oliveira, Maike Tason Benedito da Cruz, Greiciquele da Conceição Souza, Maraia Queri da Aparecida... Diário de classe de escola pública em periferia é uma verdadeira seara dessas coisas esquisitas. E o professor vive aquele eterno dilema na hora da chamada:

- Arnoldi Suánequegue..(??)
- Não professor. é xuasnégue... igual ao "exterminador de futuro" (sic).

A única motivação que eu vejo é uma associação tosca, mas que rende uma boa piada.

- Qual o nome da sua filha?
- Riroca.
- Hã...
- E os dois meninos?
- Ah.. o pequenino é o Riru e o maiorzinho é o Raralho...

Que fixação fálica! Freud explica.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Musiquinhas irritantes de tempos em tempos

De tempos em tempos somos massacrados por uma musiquinha que repete à exaustão nas rádios. Mas assim como o miojo (aquele macarrãozinho sem vergonha que a gente faz para comer quando tem preguiça de fazer uma coisas decente ou de sair de casa para comer algo decente) fica pronto em alguns minutos e logo, logo, enjoa. Assim foi com morango do nordeste (argh! Lembra disso...?) que quando todo mundo pensava que não tinha como piorar foi gravado em ritmo de pagode. "Tô nem aí"... depois de repetida milhões de vezes afundou a autora no ostracismo. Esse foi o maior mérito do hit. Mas e a banda Rouge cantando aquele negócio enrolado assereiê, assereiê... Sumiu e é melhor nem falarmos o nome três vezes senão, diz a lenda, raparece e aí só falando o nome ao contrário para desaparecer. Eu vivi a minha juventude em uma década que pipocou essas modas e, na onda de uma musiquinhas repetitivas, surgia um conjuntinho como Menudo, Tremendo, Dominó e outras coisinhas dessa nattureza que agora eu me esqueci... e era para isso que eram feitos. Serem esquecidos.

E por fim, quanta injustiça da minha parte ir esquecendo da Vanessa da Mata cantando a mais complexa letra da MPB ai, ai, ai, ai, ai ,ai, ai... auê, aauê, ai, ai... Banho de chuva... Sinceramente, banho de chuva quem tomou foi a escova que ela tinha feito... Cara,.. que cabelo é aquele??? Juro que vi na TV a cabecinha de um mico leão dourado saindo de lá.

P.S.: Aliás, vi certa vez as fotos da Claudia Ohana nua e ela não se depila desde a puberdade (Veja que a mesma já é coroa).. quando vi aquela moitona eu pensei: "conheço aquilo ali de algum lugar..."

- Vanessa, que é que 'cê tá fazendo aí mulher...

***
Em tempo: Adoro a voz da Vanessa da Matta. Assim que ela se encontrar no repertório vai ser maravilhoso. Estou torcendo mesmo. Mas quanto ao cabelo, eu não podia perder a piada.

domingo, 14 de março de 2010

Sorteios, mensagens e pilantragrens de toda ordem

De uns tempos para cá, vem aparecendo um monte de mensagem no meu celular com os dizeres “ Sua chance de ganhar um VW Fox, mande uma mensagem para o número 1010 e concorra a um carro. Custo da mensagem 2,99 + impostos.” Eu fico lisonjeado que alguém ou mesmo a Claro ou a OI, tenham se preocupado comigo e façam questão de dizer que sou um dos escolhidos para concorrer a um carro zero. Eu e as outras 12 milhões de pessoas que receberam a mensagem somos gratos por esse tratamento VIP de nossas operadoras de celulares (??).  Entretanto, como nunca conheci ninguém que ganhasse qualquer coisa nesse tipo de sorteio, salvo a dona Maria das Graças Silva, de Conceição de Caparapó-AC, que apareceu o nome na TV, não tive muito ânimo para participar desse sorteio  no qual as minhas chances de ganhar se igualam a de ser atingido por uma esfera de aço lançada de marte em direção à terra. Sendo assim, eu não seria mal educado de mandar esses spammers de celulares fazerem uso retal do dito veículo e, prefiro deixar para outros colegas a oportunidade de ganhar um VW Fox novinho... eram 12.000.000, agora, que eu desisti, restam 11.999.999 pessoas... suas chances aumentaram. Vai que dessa vez a esfera de aço lançada de marte é sua... quer dizer, o VW Fox.

P.S.: Não entendo como isso não é enquadrado como contravenção até hoje..

terça-feira, 9 de março de 2010

Rio: uma cidade mística, mística não, Tempestade

Intitulada como Ajuda do Além, o jornal o GLOBO deu a seguinte reportagem, hoje, 09/03/2010. APÓS TEMPORAL, PAES RENOVA CONVÊNIO COM MÉDIUM DA FUNDAÇÃO CACIQUE COBRA CORAL. (Leia. Contando parece piada). Para quem não sabe essa Fundação presta um serviço gratuito, mas que tem que ter convênio renovado senão não presta o serviço.. (Sei lá.. acho que não entendi isso, mas deixa quieto) e é representada por uma médium que recebe o espírito do cacique Cobra Coral que também já foi, em outras vidas, Abraham Lincoln e Galileu. Essa entidade incorporada possui poderes ao estilo Tempestade do X-Men e pode influenciar o tempo. (Sério! Eles estão falando sério).
Gostaria de prestar meu protesto contra o governo municipal do Rio de Janeiro, pois acho que deveria haver eleição para esse cargo e já apresento minhas indicações:

Para o clima


Para combater o tráfico

Para abrir latas..

Esse último, por exemplo, nos dá a segurança de que seria um funcionário que não iria coçar saco no serviço.


domingo, 7 de março de 2010

Diálogos circulares.

- Arnaldo, tava pensando em sair. Sei lá... dar uma volta.
- Onde você quer ir?
- Ah sei lá.. qualquer lugar. Tô tão sem ideia
- Não tenho idéia também.
- Qualquer lugar mesmo. Escolhe aí.
- Vamos a um cinema, deve ter um filme legal.
- Ah, não! Cinema... não. Prefiro alugar e ver em casa.
- Teatro...
- para ver o que? Tá tão sem peça interessante.
- Ué. Então escolhe qualquer lugar.
- Não escolhe você. Tô sem idéia.
- Huuumm. Vamos a um motel.
- Ai. Você só pensa nisso...
...
- Vamos ao shopping....
- Essa hora não tem mais nada para ver.
- Vamos ao zoo...
- Huum... Que programa de criança!
- Pois é... estou ficando sem idéia
- Sei lá, amor, uma coisa divertida...pensa aí.
- Futebol?
- Não tenho paciência pra estádio.
- Um restaurante?
- É talvez.. escolhe aí...
- Uma pizzaria?
- Ah, não massa não. Eu estou uma anta de gorda...
- Churrascaria?
- Não agüento aquela barulheira.. Vai escolhe aí.. qualquer lugar eu topo. Tô tão sem idéia...
- Lanchonete?
- Não.. Muito chulezinho.. queria uma coisa mais interessante que justificasse eu me arrumar. Eu não me arrumo nunca, né...

Meia hora depois...

- Sabe qual é o nosso problema, Arnaldo? Eu fico nessa casa, trancada, não saio nunca. Você não. Você sai, vai para o trabalho, vê pessoas diferentes... A gente precisa sair, passear.. sugere um lugar.. sei lá,... qualquer um.. me diz e eu topo. Tô tão sem idéia. Se não eu dava uma sugestão, mas poxa, Arnaldo, agora é com você. Eu não tenho que decidir tudo sempre, né

E Arnaldo espumava verde no canto da boca com o corpo largado sobre o sofá.

***

[Em homenagem ao dia 8 de março e à minha esposa Camilla que me tortura com essas coisas, mas por quem eu sou apaixonado e não vivo sem a ela]

quarta-feira, 3 de março de 2010

A culpa, o medo e a estupidez humana

Em tempos de estupidez de reality show, encontrar algumas produções de mídia que massageiam o nosso intelecto é coisa rara. No fluxo contrário a toda boçalidade predominante, tive a oportunidade de assistir a um filme que abre uma ilha de reflexão sobre a culpa e o medo, Tempos de paz, com Tony Ramos, um chefe da alfândega em um Brasil pós-guerra e Dan Stulbach, no papel de imigrante polonês. 
O filme traz uma reflexão que tenho há tempos: até que ponto, a resposta "fiz porque estava cumprindo ordens" é válida? Muitas vezes se faz algo cumprindo ordens porque quem manda não tem a coragem de assumir os atos executados e quanto o executor o faz, quem ordenou quer distância dele pois o mesmo representa tudo aquilo que ele não quer lembrar que pediu para ser feito. O executor se torna descartável, o executor se torna executável.
Dizer que fazemos porque não tivemos escolha é outro equívoco. Sempre há escolha, mas o que há também são os ônus e bonus do que escolhemos. Não estamos dispostos a arcar com os custos, mas as escolhas estão sempre lá, basta que as façamos.
O personagem de Tony Ramos se mescla num sentimento de rudeza, frieza, amargura... essa é a palavra. Ele traz consigo um amargo do mais concentrado fel que a vida plantou-lhe no coração. Um homem sem máscaras esterotipadas dos vilões, porque ele não é um vilão. Ele, Segismundo, é ao estilo do filósofo alemão, demasiadamente humano.
Isso me assusta, mas também me encanta.