sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Conceitos e definições - Por um ano realmente novo

Conviver com jovem o faz manter-se sempre conectado com o jovem que você foi. Envelhecemos e distanciamo-nos da leitura daquilo que um dia teve ideias, concepções, conceitos e definições diferentes do que agora somos.
A sociedade nos oferece modelos do que é ser feliz, do que é ser bem sucedido, do que é ser bom. 
Ser feliz não é um comercial de Claybom em que todos acordam sorrindo e desenham carinhas na superfície lisa da margarina antes de passar no pão. Pessoas costumam acordar amarrotadas e as embalagens já se encontram abertas e totalmente reviradas na superfície.
Sucesso e dinheiro, realmente não são sinônimos. Se seguirmos esta equação dinheiro = sucesso encontraremos numa ponta Bill Gates (ou Warren Buffet) e na outra, pessoas como, por exemplo, Jesus (ou Budha), que até onde se sabe não deveria ter nenhuma lista de bens muito grande a se declarar na receita federal e não pode ser considerado um fracasso. Pessoalmente, acho que ambos estão longe disso.
E, finalmente, ser bom. Bom é um termo não-concluso. Ele pede um complemento. Dizer ser bom é insuficiente para definir pelo menos bom para que ou para quem. Acho que o bom é ser bom, de alguma forma, para todos. Bom filho, bom marido, bom pai, bom colega e acima de tudo, bom para si mesmo.
Carecemos um conceito de mais claro do que é ter sucesso, ser feliz, ser bom pois, em face da diversidade dessas ideias, corremos atrás do próprio rabo. Corremos, às vezes, pegamos, constatamos que é nosso, soltamos, corremos de novo, pegamos, constatamos que é nosso...

Ad infinitum et ad eternitate...

E que todos tenha um 2012 mais claro em seus conceitos e buscas.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Brasil, a 6ª economia do m(f)undo!


Os jornais divulgaram eufóricos, nessa segunda-feira (26), que somos a 6ª economia do mundo. Estamos à frente de países como a Inglaterra, Dinamarca, Suécia, Canadá, Suíça e outros países que deixamos para trás no ranking dos que produzem mais riquezas. Sabe o que isso quer dizer? Que somos a 6ª nação no mundo em capacidade de produção.
Isso também nos coloca no ranking das mais desiguais, já que o crescimento econômico nem de longe acompanha os ganhos sociais em um país que ainda acredita que com esmola se constrói a dignidade de um povo. Bolsas, vales, cotas e outras tantas maneiras de perpetuar políticos em seus cargos junto com suas quadrilhas continuam sendo recurso legítimo por aqui.
A educação, única via para o crescimento e redução das desigualdades, permanece nas mãos de partidos lotedas por aqueles que precisam vender a alma para o capeta a fim de manter o poder. A saúde se arrasta com falta de médico, medicamentos, hospitais, a eterna má distribuição de recursos, desvios, golpes... A segurança cambaleia e obriga a criação da fortalezas nas grandes cidades para que o cidadão possa se encarcerar.
Produzir riquezas sem promover ganhos sociais é o mesmo que não produzir riquezas mantendo a miséria. O Brasil não é o Sudeste de smartphone caro na mão, o sul loirinho de roupas folclóricas e rostinho rosado ou ainda, o centroeste de pickup caras com agroboys curtindo a vida. Olhem para interior do nordeste, de Minas, do Amazonas, do Acre, enfim, olhemos para além dos nossos umbigos para enxergar o Brasil do 6º PIB do planeta.

Por hora, olhemos e oremos pela Inglaterra, pela Suiça, pela Dinamarca, pela Suécia, pelo Canadá que não conseguem produzir mais riquezas do que esse gigante deitado eternamente em berço esplêndido.

Alguma coisa está realmente fora da ordem...

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Disso fomos feitos


Outro dia eu tive a oportunidade de conhecer um trabalho chamado “the n**u project” por intermédio de um amigo meu, o fotógrafo Igor Alecsander, o profissional/artista mais sensível e competente do mundo da fotografia que eu tive o prazer de conhecer pessoalmente. Sugiro que acesso o site para entender melhor o que eu tenho a dizer nas linhas que se seguem (www.thenuproject.com). 
Os ensaios fotográficos são feitos com pessoas, mais exatamente, mulheres. Entretanto, existe um aspecto especial que torna o trabalho impecavelmente perfeito, são mulheres normais. Brancas, negras, morenas, velhas, novas, com cabelos lisos, outras crespos, rijas, flácidas, magras, gordinhas.. enfim, seres humanos normais que se distanciam do padrão mídia de beleza, um padrão efêmero que não nos informa que aquele é um ideal venal do corpo humano. 
Precisamos de trabalhos como esse para lembrar o que somos. Tenho certeza que se os defeitos da alma aflorassem no corpo como as rugas, celulites e estrias, as pessoas se cuidariam muito mais quando agem em seu meio, quando cultivam sentimentos mesquinhos e destrutivos, quando se inebriam de poder e agem como senhores da verdade, deuses na terra. Mas eles não aparecem e ficam ocultos por trás do belo rosto, do corpo duro, das formas rijas...
Enquanto isso, acreditamos no que vemos.
Muitos diriam que é fácil dizer isso quando se passou dos quarenta e o processo de envelhecimento é  visível e irreversível. Eu jamais refutaria tal argumento e ainda o completo: mais fácil do que dizer é entender e isso é um coisa que por mais que eu lhe diga, só o tempo irá lhe ajudar fazê-lo.

***

Em tempo
E por falar em hipocrisia, a palavra n**u deve ser lida sem os asteriscos que constituem um recurso para driblar o rastreamento de "imoralidades" do Dihitt... aliás todo o texto foi alterado para isso, pois foi bloqueado na primeira vez que foi postado. Como se vê, poucas vezes, você puderam ver um post tão pornográfico e imoral como esse.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Natal é tempo de... ter paciência e relaxar


O mundo é um imenso mais do mesmo, mas sempre com sabor diferente. Natal é um exemplo disso. Salvo as confraternizações de final do ano em empresa, gosto de quase tudo. E, mesmo assim, a minha implicância com essas festas é em decorrência da inversão da ordem das coisas. Colegas de trabalho que passam o ano todo te ferrando (tem um termo melhor, mas é grosseiro demais aqui), depois, te oferecem vinho e um jantar. Como assim??? Não é o contrário, primeiro vem o vinho e o jantar e depois.. enfim. Sou muito tradicionalista nessas coisas de relações sociais.
Mas se prepara que aí vem... Roberto Carlos, Xuxa, especiais da TV, árvores iluminadas sendo filmadas, ceias e festas nas novelas e até na Turma (argh!) do Didi. Quando você pensa que acabou, lá vem o ano novo com Faustão, Ivete Sangalo, pessoas de branco, taças de champanha, retrospectiva, fogos em Copacabana, promessas que não serão cumpridas e a virada do ano em várias partes do mundo como se você estivesse realmente interessado em saber como foi a passagem de ano em Sidney que não é a capital da Austrália como muita gente pensa.
E como golpe de misericórdia, começamos o ano na expectativa do Carnaval com os seus pré e pós-embalos carnavalescos dos quais somos salvos somente pelo coelho da Páscoa mais de um mês depois. Serão dias de muito axé, receitas para curar ressaca no jornal Hoje, coberturas do carnaval de rua no Nordeste e desfile no Rio e em São Paulo com um tradicional quebra-pau depois do resultado na terra da garoa onde o couro come antes, durante e depois da festa.
Mas é isso. Eis mais um ano que será do tamanho de sua capacidade de suportar e que trará acima de tudo, oportunidades única de aprender a sobreviver a mais um ano. Tudo isso porque, apesar de tudo, estar por aqui ainda vale bem a pena.
Aproveite!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Esperteza demais atrapalha


Assisti à final do mundial de clubes com a sensação de que não daria para Santos mesmo diante do Barcelona. Como não torço nem para um nem para outro, dessa forma, não faria diferença o resultado do jogo para mim. No fundo, eu sabia que seria um jogo bom de se ver para quem gosta de futebol.
O jogo seguia dando o previsto “ferro no Santos” e um show de bola do Barcelona com Messi à frente da tropa e eu pensava como ainda somos prepotentes quando se fala em futebol por aqui. Os telejornais insistiam em mostrar o retrospecto brasileiro (como se isso influenciasse alguma coisa) e comparar o time do Santos como do São Paulo (1992) e o do Internacional (2006) que, particularmente, eu acho bem superiores ao time do Santos atual. Mas, enfim, mídia é mídia e fazem de tudo para ganhar o torcedor.
Mas o que me chamou mais a atenção foi um lance do jogo, o quarto gol do Barcelona. Messi recebeu a bola, viu-se de cara com o goleiro do Santos e suas pernas se aproximando famintas no lance e teve milésimos de segundos para pensar “toco por baixo e driblo” ou “Me jogo e saio rolando pelo chão da grande área esperando o pênalti”.. Sinceramente, acho que essa segunda possibilidade não lhe passou pela cabeça. Driblou bonito, pulou, mandou para dentro. 4 X 0... Jogo terminado.
Cansei de ver no campeonato brasileiro, jogadores apostando na “caidinha na área”, “roladinha no chão”, “sentadinha com os braços abertos”, “companheiros correndo cima do juiz”. E quando o juiz não caía no golpe, saía sacudindo a cabeça de forma resignada.

Eis o jeitinho brasileiro que, apesar de não dar certo há décadas, ainda vigora por aqui.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Medicina: vocação hereditária?


Nessa época, eu sempre penso na multidão de rapazes e moças que entram nas salas de aula para fazerem o vestibular de instituições privadas pelo país afora. O curso mais procurado ainda é o de Medicina por cujas razões que nem mesmo os alunos sabem ao certo. Já ouvi todos os argumentos possíveis: “porque dá mais dinheiro”, “porque meu pai quer um filho doutor”, “porque minha família só tem médico” e “porque eu sempre quis desde criança”.
Vamos desmistificar as coisas. Primeiro, trabalhei com colegas médicos e percebi que muitos tinham uma vida digna, mas uma carga de trabalho bem pesada e tinham sua vida pessoal, muitas vezes, comprometida por isso. Os meninos sonham é serem dermatologistas de luxo na Barra da Tijuca...
Segundo, o que os pais querem, acreditem, nem sempre é o melhor para você. A não ser que o que ele quer é que você seja saudável e feliz.. Em termos de profissão não se deve permitir que os pais repassem as frustrações para os filhos tornando o que eles não foram.
Terceiro, se todo mundo na sua família é médico, bom para eles. Que tal ser diferente se já tem tanta gente igual? Vai ser advogado, professor, dentista, engenheiro, designer ou nem faça um curso superior já que, acredite, sua felicidade e sucesso não dependem unicamente disso.
Quarto, desde criança você quis ser médico, policial, bombeiro, cantor, artista, super herói, astronauta, cowboy, palhaço, soldado... Você até não lembra, mas quis. Entretanto, as pessoas mudam e esse argumento é fraco para justificar um curso de 6 anos e um investimento de vida desse montante.
É por causa dessa falta de reposta razoável para essa pergunta que temos uma multidão de pessoas sem vocação nenhuma para o exercício de uma profissão que se encontra no limiar do leito e do túmulo, com a vida nossa e de quem amamos nas mãos todos os dias.

Eles ainda não encontraram a resposta para a pergunta...
Enquanto isso... 

Senhor, tende piedade de nós!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Rumo à inexorável fórmula da falência


Há décadas os europeus criaram um sistema social "perfeito" em que as pessoas poderiam envelhecer e manter um padrão de vida por conta do Estado. Teríamos legiões de velhinhos aposentandos em boa idade e gozando a vida com os luxos meritórios de quem trabalhou um vida toda. Seriam multidões de vovôs e vovós fazendo turismos e ajudando a manter filhos e filhas, netos e netas ainda não totalmente inseridos no mercado de trabalho.
Mas os colegas do velho mundo não contavam com uma maldita matemática. Mais pessoas aposentadas, menos contribuintes. O número de aposentados cresceria, as pessoas tendem a ter menos filhos, logo, cada vez menos pessoas novas, mas, por outro lado, cada vez mais velhinhos para o Estado custear. Nada mais do que justo, mas com que dinheiro?
De uma relação de 15 para um, pulou-se de uma relação 4 para um entre contribuinte/aposentado. E agora, José? Antes, 15 pagavam para manter o benefício de um aposentado. Em breve, 2 pagarão para manter um e, logo mais adiante, 1 pagará para manter o benefício de 2.. Como assim? É. Como assim? Não sei.
De um lado o governo cujas contas não fecham, de outro os aposentados com seus direitos adquiridos e de outro, o contribuinte esmagado no meio de uma conta que não fecha.
O Brasil segue por caminhos parecidos ao Europeu, mas por via de programas assistencialistas eleitoreiros. Estamos sobrecarregando a previdência e o Estado com ações que só dão e pouco cobram dos beneficiados. A relação de quem contribui com quem recebe benefício está desigual há décadas e caminhamos para o colapso desse modelo.
E o pior, passaremos da condição de pobres a falidos sem ter passado pelo período europeu de prosperidade. Inauguraremos o plano de desenvolvimento entre pobreza e falência sem a via próspera, sem escalas do modelo mal sucedido no primeiro mundo.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Coisas interessantes de se aprender com pessoas rudes


A convivência com pessoas rudes me ensinou que a rusticidade de suas atitudes e palavras são o produto de uma série de convicções que se arraigaram na sua formação e que fazem com que eles tenham a certeza de que sua grosseria e seu "tato de elefante embriagado" constituem um jeito de ser melhor do que muita gente que fica de “sorrisinho” com os outros.
O sujeito grosseiro acha que esse é um traço de sua personalidade que o torna autêntico em um mundo de dissimulações. Ele tem a certeza que está fazendo um bem ao outro falando o que se passa na cabeça dele, doa a quem doer. Entretanto, nunca faça o mesmo com ele. Certamente, ganhará um inimigo mortal e rancoroso para o resto da vida. O sujeito rude odeia grosseria com ele.
Toda sua estupidez ao tratar o outro é justificada por uma boa razão. Ah, mas fulano foi grosseiro comigo (mesmo que não seja um consenso isso), ah, mas fulano não gosta de mim e já vem me provocando a um tempo (ainda que isso não seja bem verdade), ah, mas eu não estava bem naquele dia. Provocou, levou! (Como se precisasse estar mal algum dia para agir assim), ah mas fulano...Isso me lembra a fábula do lobo e do cordeiro. Afinal, quem é que disse que alguém precisa de motivo quando quer fazer alguma coisa? 
O individuo desprovido de polidez sustenta-se pelo argumento de que era melhor que ele falasse do que outra pessoa o fizesse. Afinal, eu ele é assim: quando gosta, gosta, mas não quando não gosta, não gosta. E demonstra que desconhece o que é tautologia quando fala isso.
Quando lido com pessoas assim, sugiro sutilmente nas entrelinhas que guarde sua sinceridade (sic) para outros, se pretende me magoar com sua maneira de tratar o mundo, fique sabendo que “mentiras sinceras me interessam, me interessam”.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Maturidade é aprender a se apaixonar pelos seus erros


O tempo traz muita coisa para gente. Rugas, cabelos brancos, fragilidades mil decorrentes da idade, mas quem se foca na casca perde a essência das coisas. O tempo me trouxe muita coisa boa, mas a que mais tenho degustado atualmente é a capacidade de me apaixonar por meus erros. Isso não quer dizer que eu queira errar cada vez mais mais para me apaixonar mais. Muito pelo contrário, quero me apaixonar mais para errar menos.
É óbvio que fazemos tudo com o objetivo de não errar, mas só não erra quem não faz e, vez por outra, batemos de cara com o fracasso. Planejamos tudo, executamos e ficamos perplexos e desejoso de saber onde foi que erramos. Às vezes, esquecemos que não fomos nós que erramos, mas coisas que deram errada, pois não controlamos todas as variáveis de uma situação e mesmo aquele 0,0001% pode ter sido o suficiente para colocar tudo a perder.
Lamentamos não ter conseguido passar em um exame. Mas quem foi que disse que as avaliações são 100% idôneas e precisas. Às vezes, caímos na margem de erro ou na margem de má fé. Ficamos triste quando alguém que nós era dado como amigo nos trai ou abandona, mas quem lhe disse que você tinha um amigo? Você nunca o teve. Faltava era oportunidade de isso acontecer. A oportunidade chegou.
Nessas situações, realmente aprendemos. Temos que aprender com o erro, entender que não controlamos 100% de nada e aproveitar a oportunidade que a vida está dando de aprender, uma espécie de aula prática de sobrevivência. Lamentar é uma maneira de demonstrar que a lição não lhe serviu de nada.
E que a vida traga, não os erros, mas quando os encontramos, a oportunidade única de nos apaixonarmos por eles. 

sábado, 19 de novembro de 2011

E agora? Quem paga a conta do Rio?


Já há alguns dias que vazou (ou vaza?) petróleo de uma das plataformas da bacia de Campos. Aparentemente, nada que chegue perto do desastre no Golfo de México há uns anos atrás, nem do derramamento de óleo no Alasca há outro tanto de tempo. Nada que se compare, mas nada que nos exclua dessa possibilidade ou de algo pior. 
Um desastre de grandes proporções nas bacias petrolíferas do estado do Rio seria o suficiente para acabar por muitos anos com toda e qualquer atividade de pesca, turismo e comércio em geral no litoral fluminense. Seria um impacto que, possivelmente, poderia levar o estado a bancarrota, a mais absoluta falência, pois suas contas são do tamanho de sua pujança como unidade federativa.
E, no caso de uma tragédia dessa proporção, quem pagaria a conta do estado? Será que todos os outros estados da federação, inclusive aqueles que não extraem nem uma gota de petróleo e, na maioria das vezes, vivem às custas de verbas federais topariam trabalhar durante alguns anos para manter o setor de pesca, comércio e serviços em geral das regiões afetadas? Huum. Acho que não. Cada um com o seu cada um não é mesmo?
Discutir a mudança nas regras dos royalties só tem espaço na lógica se colocarmos em questão a distribuição de todas as riquezas (naturais ou não) de todos os estado entre todos os outros na mesma medida. Por que não dividir o ouro, ferro e outros metais extraídos de Minas, Pará e Goiás entre outras riquezas naturais com todos também? E por que não partilhar os ganhos de turismo de um estado contemplado pela natureza como Ceará, a Bahia ou Pernambuco com todos: afinal de contas, beleza é recurso natural.  Ignoremos o risco que os estado têm de investir, o risco ambiental etc em nome da hipocrisia política que garante votos junto a massa acéfala. 
Vamos dividir o petróleo por uma questão de justiça? Sim. 

Vamos dividir TUDO de todos os estados por uma questão de justiça.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Passeatas contra a corrupção: circo sem pão no país do rei bufão


Ontem (15/11), em vários lugares do Brasil, ocorreu, mais uma  vez, a passeata contra corrupção que as TVs insistem em focalizar em ângulo fechado para não dar dimensão da vergonha que é isso toda vez que acontece. Meia dúzia de gatos pingados com fantasias simbólicas como roupas pretas, máscaras e, claro estátuas da justiça com dinheiro na mão em uma clara metáfora da corrupção no judiciário.

Mas sabe por que isso não funciona no Brasil e provoca risos histéricos nos corruptos como um grotesco festival de circo decadente?  Não? 

Somos um país corrupto até a raiz dos cabelos, temos a desonestidade entranhada em nosso DNA e cabe a alguns, sonhadores e “insensatos” (talvez), lutar contra essa genética maldita de séculos. A verdade que ninguém quer ouvir ou dizer é que somos um país em que a corrupção incomoda até o ponto em que não somos beneficiados por ela. Todo mundo gostaria de um empreguinho na assembleia legislativa de 8 mil mês para nem dar as caras lá e só receber, todo mundo gostaria de ganhar um concorrenciazinha fácil, todo mundo gostaria de um empreguinho para o filho na prefeitura, tudo em trocar de um apoio político ou de uma boca fechada.

Na iniciativa  privada ou no poder público, erro, no Brasil, não é roubar, erro é não dividir com as pessoas certas. Erro não é fraudar, erro é fazer mal feito. O mundo dos pequenos crimes cotidianos legitimam beber e dirigir, dar dinheiro para policial, comprar recibos para IR, pagar e receber por fora e vai por aí. Tudo plenamente justificado pelo “todo mundo faz assim” ou “ah.. mas se você não fizer assim você não sobrevive”

Em 40 anos de vida, vi pessoas se venderem por tão pouco. Eu mesmo, embora nunca tenha participado dos saques, calei-me sempre para manter um confortável emprego. Ou seja, fui parte de tudo que denigre e destrói o meu país por conta da omissão em nome do meu conforto. Mea culpa... mea maxima culpa. Sou parte disso. Agora, que atirem a primeira pedra....

sábado, 12 de novembro de 2011

Caçando lugares-comuns - mitos da linguagem: ditados


Quem desdenha quer comprar.
Quer dizer que se você olhar um monte de merda no chão e desdenhar, você quer comprar?

Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Se você tem tempo e é imortal, vale a pena esperar.

Devagar se vai ao longe.
Longe é o conceito mais relativo do mundo. Longe de onde?

É de pequenino que se torce o pepino.
E para que eu iria querer um pepino torcido?? Foi só para rimar, né?

Uma andorinha não faz verão.
Se você parar para pensar, nem 100 andorinhas fazem verão. Acredite, isso independe da vontade delas.

Quem com porcos se mistura, farelo come.
Aqui não se considera que há dietas distintas para animais que convivem entre si. Já vi galinhas e cavalos criados com porcos e comendo coisas diferentes de farelo.


sábado, 5 de novembro de 2011

Um golpe de internet - não é piada, é sério

Não existem mais bandidos como antigamente. Recebi um e-mail de fraude outro dia, um daqueles que diz que você tem um débito na receita federal e, sinceramente, fiquei decepcionado. A baixa qualidade no sistema educacional brasileiro já afeta nossos bandidos de internet que comentem crimes contra a ordem e contra a Língua Portuguesa. Esperava-se que os bandidos de internet tivessem um nível cultural melhor, mas fiquei assombrado com mais um email cheio erros de Português. Não me contive, devolvi-o ao golpista com as devidas correções e com uma bibliografia complementar para melhorar sua escrita.
Ainda não obtive resposta...


  1. Suspensão é escrito com S, pois vem do verbo suspender e, normalmente, palavras derivadas de verbos em –DER geram substantivos em S (Por exemplo, Ascender - ascenSão / Proceder - procesSo / Conceder - concesSão / Ceder - cesSão...). Senhor bandido, suspensão não se escreve com Ç, por favor, revise seu texto.
  2. Acento grave indicativo da crase antes de verbo não existe. A crase é o fenômeno de junção entre uma preposição (a) e um artigo (a). Verbos não recebem artigos antes, pois, primeiramente, se o recebem, tornam-se substantivos por um processo de derivação imprópria. Logo, Senhor bandido, a forma é PROVIDÊNCIAS A TOMAR. (sem acento grave) já que o verbo aqui opera com tal (indicador de evento). Além do mais, se ainda considerássemos a possibilidade de ser um susbtantivo, temos que levarem conta que verbos derivam substantivos masculinos e nunca femininos (o falar, o saber, o dizer...) e, como sabemos, senhor bandido, não há crase antes de palavras masculinas.
  3. Senhor bandido, entendi o seu problema de regência (crase) e de ortografia, mas quero acrescentar que o senhor deve prestar atenção às orações adverbiais antecipadas (no caso, uma adverbial condicional), pois elas sempre pedem vírgulas que as separe das orações principais. Ex. Se não funcionar, clique aqui...
    É por isso que o cara virou bandido... a culpa é da educação.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O medo é o tempero de toda a prudência.


Aquele que diz que não tem medo de nada, ou é um idiota, ou é um mentiroso. Desde que nascemos, o medo é o sentimento mais presente  em nossa vida. A grande missão é a aprender a dominar essa avalanche de emoções e pensamentos decorrentes dele para que tal força não nos domine. 
Racionalizar é parte disso, mas o universo racional não afasta o sentimento de nós. Ele nos torna senhor da situação, mas não o elimina. Até porque o medo é o tempero de toda a prudência e, mesmo quando temos certeza de algo, até os últimos instantes, temos medo de que alguma coisa mude os rumos da história. Isso nos faz pisar com cuidado. Isso é bom..
Aquele soldado que, sabendo que iria morrer, levanta e corre de peito aberto contra o inimigo não é um herói, mas um fraco, pois não soube controlar a sensação do medo que nos move antes do desfecho de uma situação. Não soube esperar o fim, abreviou-o no desespero. Ele sabia que correr de peito aberto era a maneira mais rápida de encerrar a angústia, pois essa é a pior de todas as esperas e muitos sucumbem a ela e não ao final. Aguardar o fim é tortura da alma pior do que o próprio fim.
Por isso, não devemos odiar ou rejeitar nossos medos, medo de morrer, medo de fracassar, medo de não ser feliz, medo de... Enfim, medo de tudo aquilo que a vida nos ensina dia-a-dia que é inevitável e legítima a nossa existência.

sábado, 29 de outubro de 2011

Estar com a razão para quê?


Por que as pessoas querem tanto ter razão em qualquer discussão? Parece que ter razão é uma questão de honra mesmo. Como se suas vidas dependessem daquilo. Eu, pessoalmente, detesto discutir e reservo a troca de ideias a pessoas que eu tenho certeza absoluta de que alguma ideia para trocar. Ah.. e sim. Que essa ideia a ser trocada vale o meu tempo.
Sou daqueles que dá um boi para não entrar em polêmica ou discussão e se necessário dá uma boiada para sair dela o mais rápido possível se a entrada tiver sido inevitável. Acho que só os idiotas dão uma boiada para ficar numa briga. Perdem tempo, gastam energia, criam animosidades e, no final das contas, carregam consigo o volátil trófeu do cara que estava com a razão. 
O gostoso do mundo é a certeza de nem sempre estarmos com a razão. E, mesmo quando podemos estar, ficar olhando de fora uma polêmica, com aquele ar entediado de olhar o rio por onde a vida passa (Pra rua me levar - da Ana Carolina) sem se precipitar e nem perder a hora chega a ser divertido.
A verdade é que as pessoas gastam muita energia com discussões que não conduzem a absolutamente lugar nenhum e que, quando conduzem, são lugares em que não queríamos ou em que não vale a pena ficar.
Bom, se você acha que discutir é bom, que não devemos levar desaforo, enfim, que o que vale é a sua opinião, tudo bem. Creio que não vale a pena discutir por isso. 

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Desculpe por te incomodar


Outro dia tive a infeliz oportunidade de precisar diretamente de um serviço público e constatei que décadas se passaram e continuo tendo um padrão ruim, lento, corrupto e ficando com a impressão bem nítida de que eu estou sendo um estorvo na vida daquela pobre criatura concursada que eu, cruelmente, incomodo no meio da tarde em sua repartição. Saio quase pedindo desculpas e por pouco não ouço: - e que isso não se repita!
Talvez eu tenha dado azar.. é comum acontecer isso comigo. Foi um mau dia...
Mas sabe que isso não é só coisa de serviço público, não? Acho que isso é do brasileiro, atender mal mesmo quando pagamos pelo serviço diretamente. Ficamos vários minutos esperando o atendimento ao telefone (já fiquei 54 minutos esperando), ficamos em pé no balcão enquanto o funcionário do cartório conversa com o colega, temos nossas correspondências retornadas porque há carteiros que não gostam de carregar volume e dizem que passaram na sua casa muitas vezes e ninguém atendeu (ainda que você estivesse lá todos os dias, o dia  inteiro). Tudo isso é serviço pago e, normalmente, caro.
Outro dia, comprei um eletrônico pela internet que veio com problema. Liguei para o atendimento e fui atendido em 1 minuto, a atendente não ficou me jogando de setor em setor, relatei o problema só uma vez, eles pediram que enviasse o produto e disseram que eu teria outro logo que eles recebessem a minha postagem. Eles não discutiram o problema ou inventaram desculpas para eu ficar no prejuízo. Simplesmente, mandaram outro produto, trocaram e pronto. Dias depois, ainda ligaram para saber se eu ficara satisfeito com a troca.
Fiquei desconfiado... Não ser enrolado, atendimento direto, ser bem tratado, empresa que se preocupa com o seu problema mesmo depois da compra...huummm NO BRASIL??? Por alguns instantes quase desisti de levar a conversa adiante com o atendente. Devia ser golpe. Belisquei-me algumas vezes, mas, naquele dia, doeu mesmo. Tem alguma coisa errada com aquela empresa.. ah tem... Cuidado com esses caras..

sábado, 22 de outubro de 2011

É possível ter orgulho dos mais bizarros defeitos


Eu sou assim: quando eu gosto, eu gosto; quando eu não gosto, eu não gosto. Outro dia, eu falava em sala de aula aos meus queridos alunos que essa é a frase preferida de todo idiota quando quer chamar a atenção para sua personalidade, quase sempre, pífia, vazia e completamente desinteressante. 
Há gente que grita os próprios defeitos como se fossem traços louváveis de sua personalidade, pessoas que cantam aos quatro cantos do mundo que são possessivos, vingativos, incapazes de perdoar, não aceitam ideias diferentes das suas e são intolerantes ao extremos. Afinal, eles são assim: quando gostam, gostam; mas quando não gostam, não gostam.   
É claro que somos todos verdadeiros poços de defeitos e estamos longe de qualquer perfeição. Aceitar essas falhas de formação do espírito é a primeira parte do processo de mudança. Depois, temos a mais complexa das partes, corrigi-las. Aprender a tolerar, desprender-se, perdoar entre outras coisas é o mais difícil de tudo. Acho que é por isso que algumas pessoas desistiram, transformaram suas deformidades e aleijões  em virtudes e repetem o clássico "eu sou assim".
Sempre que ouço isso, penso que, com certeza, as pessoas não têm dimensão de toda a carga negativa dessas palavras que poderiam ser bem traduzidas por "eu sou assim: tenho um monte de defeitos horríveis, não vou mudar e aceito sofrer e apanhar muito porque não tenho forças para modificar isso"
Eu, por exemplo, sou assim, quando eu gosto, eu gosto; mas quando eu não gosto... Bom, quando eu não gosto, estou sempre aberto para que me deem boas razões para gostar. Inclusive de pessoas que repetem essas sandices de "eu sou assim, quando eu gosto, eu gosto.. e blá, blá, blá...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Erro não é ser honesto, mas esperar honestidade do outro.


Agir de forma honesta o faz sentir como um idiota? Pois é... Eu experimento essa sensação há anos. Convivendo com gente de todo tipo, em algumas situações, aprende-se que comer e coçar é só começar. Até por isso, evito até às últimas consequências (a demissão, por exemplo) a dar a primeira coçada. 
O que vejo é que o dinheiro fácil fascina e entorpece os sentidos e, depois do primeiro, o resto é banal e justificado pela consciência que é a primeira a ser comprada. Há sempre boas razões para se tornar um canalha e elas vêm encabeçadas por argumentos como, “eu mereço esse dinheiro”, “não estou fazendo mal a ninguém”, “existe gente fazendo coisa pior”, “se eu não fizer outro vai fazer...”
A lógica da desonestidade é muito eficiente para o desonesto e ele tem certeza absoluta de que suas atitudes são completamente inofensivas ao meio e legítimas, pois é assim que são as regras do jogo.. Aceite ou caia fora.
Comemorei este ano 40 anos caindo fora e pagando o preço por não possuir uma flexibilidade ética adequada ao modus operandi de alguns locais. Aprendi que não fazer o perfil, muitas vezes, é o maior elogios que podemos receber de um patrão ao ser demitido. Enfim, do mesmo modo que algumas pessoas justificam sua canalhice dizendo que todo mundo faz, assumo esse meu defeito (dificuldade de adequar-me a novas "éticas") dizendo que, afinal, defeitos, todo mundo os tem, não é?

domingo, 16 de outubro de 2011

Diário de um macho - uma breve história da macheza


Aquele era um macho legítimo. Acordava pela manhã, cuspia no chão, arrotava, peidava e fazia aquele som de puxar o ar para dentro com biquinho e dizer "gostoooooosa", logo cedo. E logo cedo para ele era na hora do Globo Esporte. Afinal, macho que é macho não acorda antes das 11. Entrava no seu blogue e atualizava com fotos de mulheres nuas (ou seminuas), inseria testes para averiguar a macheza de qualquer um que quisesse se aproximar dele. Afinal, perto dele, ele só queria mulher pelada, mas muito mais do que isso, amigos machos. Mandava piadas para toda a sua rede sobre o que é ser macho, como é bom ser macho, como é supremo ser macho, ser macho é tudo de bom.
Quando abria a boca falava que o seu negócio era cerveja, mulher, futebol e, claro, ser macho. Como gostava de ser macho. Na academia, ele se realizava, pois ali, se sentia em casa, mulheres de calças justas e machos, muitos machos, como era bom se sentir entrosado com o meio. 
Tinha nojo de filosofia, arte, cultura, música erudita, livros e coisa do gênero, pois, afinal, isso tudo era coisa de viado mesmo e viado ele tratava era com um murro na boca e um chute no peito. Bastava olhar para ele e isso lhe dava as razões de que precisava. Macho que é macho bebe cerveja, assiste ao futebol, dá porrada e só falava de mulher e mesmo assim somente com outros machos. Pois macho que é macho anda com macho, muitos machos, machos fortes, sarados e suados, como ele. 
Um dia, seu irmão, também muito macho (óbvio), encontrou escondida embaixo de sua gaveta, em um fundo falso, uma revista G Magazine e um bilhete escrito “Jorge, você não sabe como dói ter por amizade quem se quer ter por amor. Assinado, Pepê”. O irmão achou estranho, afinal quem era o tal de Jorge que o irmão dele mencionava na dedicatória na capa da revista em letras meio trêmulas? Mas não comentou nada, nunca, com ninguém. Afinal, ficar fuçando nas coisas dos outros era coisa de viadinho e ele não queria decepcionar o seu irmão.

P.S.: E macho que é macho nem se ofende com essa história já que ficar lendo bloguezinho cheio de letrinha, sem figurinha, sem foto de mulher pelada não é coisa de macho.. é coisa de viadinho.

sábado, 15 de outubro de 2011

Rock in Rio e você, nada a ver


A Globo realmente definiu que o Rock in Rio é bom para todo mundo e  fez cobertura durante programas de jornalismo, novelas, programas de receita, programa infantil, enfim, todo lugar é lugar para se falar de Rock in Rio que tem tudo de Rio, mas quase nada de rock. Fico pensando quanto eles estão levando nessa brincadeira por conta dessa lavagem cerebral.
Mas é assim mesmo. Melhor do que aquelas coberturas de tragédias pessoais que ficam sendo repetidas à exaustão com imagens do  local, acompanhamento do julgamento e populares se manifestando indigados nas ruas com coisas que não lhe dizem o menor respeito. Ou, então, do Faustão apresentando a vida dos artista,  focando a câmera no olhinho do convidado para ver se na hora do depoimento de mãe ele vai chorar. 
Enfim, essa é a mídia que, por uma questão de bom senso, também poderia se chamar de mérdia. São homens trabalhando trabalhando 24 horas por dia para fazer você crer que ela e você têm tudo a ver.

E o pior é que tem gente que acredita.. vai ver a galera que aparece sendo entrevistada na cobertura do Rock in Rio.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Luciano Huck e o senso estético em “Lata Velha”


Vez por outra vejo o programa do caldeirão do Huck aos sábados e sempre me pergunto se aqueles caras que ganham os carros consertados tem cara de andar com aquilo na rua.
O sujeito tem um Opala 76 cheio de plastic, enferrujado, banco quebrado, sujeira dentro, motor acabadaço, sem vidro traseiro e só funciona empurrando. O Luciano Huck faz o cara pagar um mico (até aí tudo bem) e entrega o carro reformado. Novinho em folha, motor novo, limpinho, com vidro, pintura nova, pneus novos , vidro fumê, bancos de couro.. MAS (como tudo sempre tem um MAS) o carro vem com som escandaloso, pintado de amarelo canário e verde-limão com labaredas de fogo desenhada no capô, roda de liga leve rebaixadas e luz azul no fundo do carro, farol de milha em cima, do lado e embaixo do carro, bancos de cores diferentes (azul, rosa, lilás e verde limão), alavanca de siri, tapete de bolinhas para o banco do motorista, DVD interno que pisca dezenas de luzes com tela retrátil, vidros laterais com luzes coloridas, luz internas cores lilás, rosa e estroboscópica, adesivos escrito Barretão 2011 - eu vou e A força do meu sucesso é a velocidade da sua inveja ou Não me inveje, trabalhe.
Percebi que, no momento da entrega do carro, um velhinho chorava compulsivamente depois de ter dançando Conga, Conga, Conga vestido de Fred Mercury no palco caldeirão. Era um velhinho pipoqueiro que morava em Nova Iguaçu que não usava o carro por falta de condições e que agora dificilmente poderia usar o carro...
Dessa vez, por falta de condições mesmo.

P.S.: Ao que se sabe o velhinho nunca mais saiu de casa. A Globo não divulgou que teria sido uma súbita crise de pânico que o acometeu. Afinal, pânico é da rede TV e não da Globo.

sábado, 8 de outubro de 2011

O desafio de produzir conteúdo em um blogue


Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego do claustro, na paciência e no sossego. Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Diria Olavo Bilac sobre o ato de escrever numa época em que escrever era realmente um ato solitário, muitas vezes, penoso pelas convenções e penoso como a atividade de um operário que trabalha, teima, lima, sofre, sua.... Esse é o desafio lançado a quem optou por ter um blogue e produzir conteúdo para ele, trocar ideia e sobretudo, no meu caso, sem expectativa de retorno algum. Não vivo, nem pretendo viver disso.
O saco de filó surgiu em 2007 e este ano faz 4 anos de existência em um mundo, a blogosfera, onde não se tem muito por prática ler ou mesmo produzir conteúdos. O que se vê o efeito chupa cabra. Um blogueiro chupa uma reportagem de um site de notícias e mais 20 fazem o mesmo sem mexer em quase nada, nem atribuir ao texto algum tipo de originalidade. Um blogueiro acha algo em um outro blogue e replica ad infinitum. Em razão disso, vemos as mesmas coisas que, poucas vezes, se dão o trabalho de serem replicadas com palavras diferentes.
Produzir conteúdo é um desafio. Requer saber ler, refletir e escrever de forma mais sintética possível sobre algo. Em uma postagem minha há tempos atrás disse que não faço questão de visita, mas sim, de leitores. 10 leitores valem mais do que 1000 visitas para quem não quer monetizar o blogue. Trocar ideias com quem vale a pena trocá-las é uma honra. Esse foi o desafio do saco de filó, numa blogosfera que vale mais o "me segue que eu te sigo", "me visita que eu te visito"...
No saco de filó contínuo longe do estéril turbilhão da rua...

P.S.: De uns tempos para cá surgiu, em algumas comunidades de blogue (como no Dihitt), o famoso "me acaricia que eu te acaricio também", uma série de postagem de louvor aos colegas que têm blogues esperando, obviamente, a recíproca da ação e o voto que promove notícias. Isso é uma maneira de substituir os tão escrotos selos que deram um tempo por aqui... (esse blogue é mara, esse blogue tem qualidade, esse blogue é..argh!)... E ainda tinha regras de uso do selo que o amiguinho recebia! CARACA!! Que descansem em paz os selos.... nos quintos dos infernos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

DNA maldito de uma cidade sem futuro


Cidades assim como pessoas possuem um DNA que, embora não determine com rigidez o que elas serão no futuro, aponta algumas variáveis possíveis de realização. Falo isso porque já viajei quase todo o Brasil e nunca vi alguma localidade conseguir se desviar muito de sua história passada. 
Por exemplo, cidades que se estruturaram sobre riqueza fácil como garimpo se tornaram o reduto da indolência da ineficiência e do desmando característico de terras onde o dinheiro se chuta em cada esquina numa pepita de ouro. Mesmo passado anos e anos, a herança maldita persiste no atraso local. Outra herança desgraçada é a história de escravidão. Cidades que nasceram sob o regime escravagista e ergueram sua riqueza sobre o sangue da exploração dos negros amargam um quadro triste de atraso ainda hoje.
O problema é a mentalidade que se instala e se perpetua geração após geração, a ideia do trabalho como pena, a ideia da exploração com algo legítimo, a ideia do favor que os”coronéis” fazem quando permitem que alguém lhes preste um serviço. Cria-se uma elite indolente e inútil que só é capaz de valorizar a subserviência e a vassalagem dos funcionários, pois toda competência é vista como uma ameaça á ordem estabelecida. Valor tem o que delata, o que mal diz, o que frauda e ludibria, o que trama contra todos em favor do seu senhor, o que vende sua alma e sua dignidade em nome da servidão eterna. Aquele que possui formação, competência e capacidade de questionar é a grande ameaça ao sistema e deve ser banido. Ele representa tudo que não faz o perfil daquele lugar, deve ser banido, tudo que não rasteja aos pés do senhor, é inimigo seu e deve ser afastado...
Difícil de entender, né? Pior do que entender é viver em lugar assim onde o rei está nu enquanto todos admiram sua bela roupa.
Tende piedade de nós!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Agências de notícias do mundo todo divulgam: Walt Disney não morreu


Uma das lendas urbanas mais famosas é a de que Walt Disney teria sido congelado (criogenia) para que, no futuro, pudessem ser aplicadas a ele as novas técnicas para se curar um cancêr no pulmão. Tudo isso parece que começou com um boato em uma revista francesa que se espalhou pelo mundo. Em 1972, 6 anos após a morte do criador de Mickey Mouse, as suas filhas vieram à público para dar um basta nessa palhaçada toda. Embora, ainda hoje, haja muita gente que acredite que ele está congelado em alguma base secreta americana. Mas enfim, existe gente que acredita que o homem não foi à lua, que os atentados do WTC foram obra do próprio governo americano, que Elvis não morreu, que Michael Jackson também não morreu e outras teorias da conspirações que alimentam os cérebros desprovidos de coisas mais interessantes para pensar.
O fato é que meu filho descobriu Walt Disney e sua turma há poucas semanas e, em meio a Max Steel, Backyardigans, Dinotrem, Octonoautas e outras coisas modernas, ele tem dedicado um bom tempo para assistir às classicas e antigas “aventuras de Mickey e Donald”. Sim, aqueles desenhos antigos com cores meio desbotadas que povoaram à infância de muita gente do século passado, como eu. 
Foi assim que, outro dia, peguei-me dando gargalhadas com meu pequeno Daniel (3 anos e meio) assistindo a um clássico episódio em que o Pateta compra um barco e vai praticar esqui aquático com seu filho. Ríamos às gargalhadas, separados por mais de 3 décadas e meia de vida e unidos por um prazer de pai e filho ao se divertirem juntos.
Senti naquele momento que, realmente, Walt Disney não morreu e dará outras provas inquestionáveis disso quando, um dia, meu filho se deitar com o meu neto em uma colchonete espalhada no chão e der risadas gostosas das aventuras de Donald e sua voz de taquara rachada, do pateta e de suas trapalhadas...
E quem disse que Walt Disney precisou de ser congelado para não morrer? Quem disse?

sábado, 24 de setembro de 2011

Por uma questão de lógica, negros e mulheres são seres superiores a brancos e homens?


Há uma falha grotesca de raciocínio daqueles que defendem causas com paixão que lhes excede a lógica. Aprendi nas aulas de filosofia que “todo homem é mortal” (premissa maior), Sócrates é um homem (premissa menor), logo, Sócrates é mortal (conclusão). Isso é lógica.
Entretanto, quando um homem negro (ou uma mulher) ascende ao poder, como foi o caso de Barack Obama (e de Dilma Roussef), grupos étnicos e sexistas comemoram com ardor e louvores de que agora vai ser diferente. Afinal, temos um negro (ou uma mulher) no poder! 
Ora, se todos os homens são iguais, conforme apregoam esses grupos, logo um negro (ou uma mulher) é igual a todos os outros, logo, fará o mesmo que os outros e estará exposto às mesmas fraquezas que os outros brancos que lá estiveram. A história mostra exatamente isso: todos os homens são iguais mesmos em virtudes e defeitos que, felizmente, não escolhem cor de pele ou gênero. 
Se partimos do fato de que um negro ou uma mulher no poder será melhor do que um branco ou um homem, temos a negação da igualdade por pressupor a superioridade de um sobre o outro. Na verdade, o mesmo preconceito de cor ou gênero só que legitimado por outra parte. Ou seja, preconceito é bom quando não somos o objeto deste, ou quando a história nos legitima um direito de resgate ou mesmo vingança por injustiças praticadas algum dia.
Por uma questão de coerência e mesmo lógica, ou se sustenta um discurso racista e sexista ou se admite o mais razoável: seja um homem, uma mullher, um negro, um branco, um hetero ou um homossexual, todos são pessoas exatamente iguais e sujeitos às mesmas vilezas e nobrezas de todos os seres humanos. Somos uma casca que recebe rótulos. Por dentro, a matéria de que somos feitos é a mesma. Não deixe que os olhos o enganem, eles são traidores e entorpecem a razão.   

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Eu adoro as pessoas ruins


Adoro os incompetentes, os canalhas, os mentirosos, os ardilosos, os puxa-sacos e toda espécie de ser humano vil. Longe de serem nocivos, eles funcionam como aquelas doenças que nos tornam mais fortes a tudo.
Trabalhar com um sujeito mau caráter é a certeza de aprender a lidar com seres humanos de toda espécie e esperar tudo deles, mentira, inveja, armação, tramóia e tantas vilezas que só um canalha de verdade é capaz de fazer. É fantástica a maneira como ele o olha e diz que aprende muito com você, que você signfica muito para ele, mas, no fundo, ele o despreza com todo o ódio que se pode ter.
O ardiloso lhe deixa em estado de alerta constante, uma necessidade para a sobrevivência. Ele o ensina que confiança é coisa que nem nos seus dentes você deve ter, pois amigos mesmo assim, de tempos em tempos eles mordem você.
Enfim, essas figuras lúgubres e desprezadas pela história passam por nossas vidas para nos ensinar que o mundo não é feito de clone de Madre Teresa de Calcutá. Muito pelo contrário. Ele nos lembra que somos filhos da mais vil inveja e que só se obtém sucesso por vias torpes. Afinal, quem não rouba ou não herda, não sai da merda.. Ri-se e bafora um charuto imaginário. 
O mais torpe de caráter dos seres humanos sobrevive de pequenas tramóias, sutis mentiras e intrigas cotidianas até o fim de seus dias. E passa por nossa vida nos dando lições de sobrevivência... Ensinando que tudo podemos, basta ter uma fé que redima todos nossos pecados aos domingos.
Sim. Eles passam e nos dão parâmetro para o que nunca devemos nos tornar, essa é a maior de todas as lições, o que jamais devemos nos tornar.
Obrigado a todos os seres desprovidos de ética, moral e consciência que cruzaram meu caminho. Obrigado por me tornarem melhor, mas não menos vigilante.

sábado, 17 de setembro de 2011

Adelina fatalista e a socialização da desgraça

Adelina não poderia se definida como uma pessoa invejosa. Não. Não se tratava disso. Nem tão pouco seria bem classificada como uma pessoa egocêntrica. Muito pelo contrário. Entretanto, corroia-lhe o sentimento de socializar suas desgraças e pequenos infortúnios. Se uma forte dor de garganta lhe atingia, aceitava com resignação, mas a incomodava que aquele mal só estivesse atingindo a ela. E os outros?
Se ficava no trabalho até tarde, aceitava com paciência, mas retorcia-se de ódio quando via as pessoas saindo do prédios ao final do expediente. Enfim, era uma pessoa dada a socialização do infortúnio. Aceitava se lascar, contanto que todos se lascassem junto com ela. Entendia a desgraça como algo que poderia tocar a todos, inclusive a ela. Mas por que só ela? Aceitaria perder alguns dentes, contanto que o mundo fosse feito de banguelas.
Era a socialização da fatalidade. Disso, Adelina não abria mão. 
Num dia de chuva, esperava o ônibus para voltar para casa. Um carro descontrolado subiu a calçada e diante da inevitável iminência do atropelamento, olhou para os lados tentando ver se havia alguém que poderia puxar para ser atropelado com ela. Não havia ninguém e aqueles segundos gastos com isso deixaram-na na impossibilidade de tentar se safar.
O impacto foi fatal.
Sob sua lápide, um epitáfio que somente poucos souberam o real significado: Por que só eu?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Todo poder corrompe, entorpece e deforma a alma


Acho que o grande desafio da alma é expor-se ao pior e continuar sendo o mesmo. Dizem que, se queremos conhecer uma pessoa, devemos dar poder a ela. Nessas situações, o ser humano expõe o que ele tem de pior ou de melhor, varia muito de acordo com o que se tem dentro de si.
Nos últimos tempos, pude constatar quão verdadeira e imutável é essa afirmativa. Seja de origem humilde ou de berço de ouro, a sensação do poder corrompe os valores e entorpece a capacidade discernimento. Valores como amizade, respeito, honradez e palavra se desfazem como éter que evapora e sustenta-se pela alegação de que uma coisa é governar, outra é ser governado.
E, então, baseado numa ética amoral agem como se fossem deuses do Olimpo. Seres eternos sujeitos a paixões e ódios, desejosos de vingança e cheios de prazer pela punição que aplicam. Vivem o momento como se fosse a consagração do eterno. São reis de ocasião, mas esquecem que mesmos alguns reis de direito tiveram fim trágico. E, quando isso ocorre, refugiam-se no sentimento de como as pessoas foram ingratas depois de tudo que eles fizeram por elas. Mas, no fundo, esquecem que tudo o que fizeram foi para eles mesmos e nunca para os outros. Os outros são só um detalhe.
Para quê amigos, basta o poder? Para quê palavra, basta a minha palavra e ela a mim pertence? Altero-a quando bem entender. Para quê o momento se sou senhor do eterno?
Muitos dizem que têm consciência que são temporários nos cargos e funções, mas as ações não condizem com as palavras. O cérebro está entorpecido e distante da razão. Só interessam as estratégias de se perpetuar onde  se está a qualquer custo.
O que lhes passa despercebido é que da parte debaixo do despenhadeiro, as feras aguardam sua queda para, ao cair seu corpo, lacerem seus membros com ferocidade incomum.
Aí, lamentam como foram mal compreendidos.... como são ingratas as pessoas.
É.. as pessoas são ingratas algumas vezes.

sábado, 10 de setembro de 2011

O homem e o gato

Acordou e sentiu que algo estava diferente. Seu corpo estava coberto de pelos longos, seu nariz era agora meio achatado e os bigodes finos e compridos se espalhavam a partir de sua bochecha. Levou as mão em direção ao rosto e constatou que não tinha mãos, mas uma pata cinza e peluda. Parecia um pesadelo e naquele momento, se lançou em busca de um espelho. A pressa era tanta que nem percebera que corria de quatro enquanto um longo rabo em riste fazia sombra na parede. 
Olhou no espelho. Sim. Era um gato. Um gato da raça persa, gordo e peludo.. Por um momento ficou chocado com tudo, mas de súbito acomodava a sua condição. Afinal, poderia ter virado uma barata ou algo pior. Pensava, em sua lógica, agora de gato, haveria algo pior do que uma barata? Sim. Um rato, um ratão cinza de esgoto... já começava a pensar como um gato.
Procurou uma cama, deitou-se na parte contrária a cabeceira, mas não sem afofar o local, alongar as costas com o rabo espichado e se deitar como quem se enrosca em si mesmo. Segundos foram necessários para começar a ronronar levemente. O dia estava frio e o seus sonhos eram povoados de bolinhas de lã e sofás para afiar a unha.
Subitamente, sua esposa entrou no quarto e perguntou: 
- O que você está fazendo na cama deitado igual a um gato?
Levantou a cabeça, abriu somente um dos olhos e com a altivez dos gatos, voltou a ronronar.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Só não me ensinaram o essencial..


Ensinaram-me, na escola, que a esquerda era correta, mas a direita era corrupta. Disseram-me que os livros e os autores de esquerda traziam a verdade sobre os fatos que a direita tentava esconder. Contaram-me que quem matava, torturava, prendia e aterrorizava era a direita, a esquerda agia heroicamente por uma causa, independente de quê e de quem fosse essa causa. E mesmo do que fosse necessário fazer.
Diziam-me que, quando a esquerda chegasse ao poder, aí sim, teríamos igualdade social e um governo atuando pelos interesses do povo. Aí sim, teríamos o retorno ao Éden, mas, dessa vez, sem cobras e sem a impetuosidade da Eva. 
Doutrinaram-me, na escola, a crer que a única salvação era a esquerda. Diziam que os jornais como os da Globo são propagadores da mentira e da infâmia. Entretanto, eu poderia encontrar a verdade nos folhetos mimeografados dos movimentos estudantis ou dos partidos de esquerda. Lá sim, estava a verdade e aquele que a aceitasse teria a vida eterna e poderia carregar um crachá de intelectual.. Mesmo que nunca tivesse lido um livro sequer.
Enfim, incutiram-me a ideia de que só havia inteligência na esquerda. A direita era burra e truculenta.

Só não me ensinaram quem era a esquerda e quem era a direita.

sábado, 3 de setembro de 2011

A bolinada

Tecnicamente falando, aquilo que sentira no ônibus era uma bolinada. Sim. Passaram a mão em sua bunda. Algo impensável para ela com seus 105 quilos distribuídos em 1,55 m e virando a casa dos 50 anos. Mas era o que de fato sentia. Passaram a mão na sua bunda. Ali, naquele ônibus, meio congestionado no corredor. E se fosse sem querer, uma passada casual que viria seguida de um “desculpe”. Mas o "desculpe" não veio. Não. Definitivamente falando, era intencional. Atrás de si, um senhor com uma bíblia velha embaixo do braço, um menina ouvindo música com fones, um jovem com bolsa de supermercado na mão. Descartando a mocinha do fone de ouvido, tanto o jovem quanto o senhor com a bíblia velha poderiam ter trocado o que carregavam de mão, soltado as alças do ônibus e vapt. Passado a mão nela. 
O pensamento corroeu-lhe a alma. Ficava entre a vontade de reagir e uma impotente sensação de despertar desejo novamente. Pois, afinal, apesar de tudo, desejada. Já nem se lembrava mais o tempo que havia entre aquele episódio e o último elogio. Isso se perdera no tempo. Mas, ali, no ônibus, sua bunda era novamente estrela. 
Todavia, era uma afronta, um desrespeito. Precisava tomar uma atitude. Olhava trás em busca de um sinal de quem havia feito aquilo. Mas até agora nada e seu ponto de descida já se aproximava. Desceu olhando para trás com aquele dúvida amargando-lhe.
A partir daquele dia, pegou aquele coletivo mais umas 30 vezes, no mesmo horário, na esperança de descobrir quem a havia bolinado. Procurara sempre no mesmo horário por todo o tempo. Mas nada. Nunca mais viu o rapaz da bolsa, o senhor com a bíblia velha ou mesmo a garota do fone de ouvido.
Levou aquela dúvida para o túmulo.


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O lado bom e o lado ruim de tudo - Reflexões numa hora dessas..

Tudo tem um lado bom e um lado ruim na vida. A grande lição é aprender a ver a dupla face das coisa num mundo que nos mostra que somente um lado é válido. Penso que mesmo as coisas que aparentemente ruins são no fundo boas, pois nos chamam a atenção para o fato de o quanto o mundo é melhor sem elas.

Carnaval
Lado Ruim: sujeira, bebeira, brigas, aumento de acidentes de trânsito e as coberturas da TV aos desfiles, festas de rua e bailes
Lado bom: quando acaba temos a certeza de que aquela porcaria só será feita de novo daqui a 12 meses.

Funk
Lado ruim: barulho e letras de mau gosto que em nada contribuem para nada
Lado bom: Quando desligam, passamos a dar mais valor ao silêncio.

Eleições:
Lado ruim: campanhas eleitorais na TV e no rádio
Lado bom: rir da cara de um monte de candidato que se achava o tal antes e não foram eleitos a nada.

Fazer turismo
Lado ruim: Comprar porcarias caras para guardar, comer coisas estranhas para provar e assistir a espetáculos folclóricos fazendo cara de quem está gostando para não parecer politicamente incorreto. 
Lado bom: Conhecer lugares e hábitos diferentes.

Confraternizações de fim de ano
Lado ruim: confraternizar com quem tentou te ferrar os 364 que antecederam aquele dia e que vai continuar tentando logo que acabar a festa
Lado bom: Um ano me separa de outra festa dessa depois que acaba.

E vai por aí...

sábado, 27 de agosto de 2011

Ninguém vai para o Panamá

Outro dia, no aeroporto, ele esperava seu horário de embarque e ficava distraído olhando os painéis de voos de tempo em tempo.  Entre nomes como Paris, Madrid, New York, Londres e outros, passava insistentemente a chamada do voo para a Cidade do Panamá. Quase como uma súplica. Nesse momento, atentou para o fato de que nunca conhecera ninguém tivesse ido para o Panamá. De lá, só temos notícias do chapéu do Panamá e do Canal do Panamá. Pensou, quem é que vai para o Panamá? Fazer o que no Panamá? Aliás, quem mora no Panamá? e o que estão esperando no Panamá? Lost seria perto do Panamá? Ou o próprio seria Lost?
Compadeceu-se do Panamá. Sentiu vontade e jurou que se tivesse dinheiro sobrando algum dia, iria ao Panamá. Fazer o quê? Sei lá. Dar um alô. Comprar um chapéu, tirar uma foto do canal e dizer: aí, na boa, amigos, vim dar só uma força pra vocês. 
E voltar imediatamente.
Aliás, achou que aquele voo que via no painel do Galeão, deveria ser um voo repleto por pessoas antecipando a essa minha missão humanitária.
Correu para trocar seu bilhete no balcão. Precisava fazer parte daquilo para se sentir melhor.

sábado, 20 de agosto de 2011

O figurinista suicida

Há meses amadurecia a ideia de um suicídio. Mas não queria nada comum, nada de veneno, de tiro, nada de forca. Almejava o brilho e acima de tudo, originalidade. Sua vida como figurinista pedia isso. Era o mínimo que poderia fazer aos fãs que deixaria. Figuristas têm fãs? Repetia a si mesmo. Ele os tinha e ponto final. 
Sobre um mesinha estilo anos 40, vestido de terno e cultivando bigodinho Clark Gable, se discursaria com menções existencialista em meio a uma atmosfera decadente de Nova Iorque pós depressão de 30. Seria o primeiro suícídio temático. Algo para marcar época. Na vitrola, uma antiga Philips de 78 rotações, tocava uma melancólica canção de Cole Porter. 
Preparara tudo durante anos. Comprara os equipamentos e ensaiara o texto escrito para o final. Encarava aquilo tudo como o seu grande espetáculo e, o melhor, com uma única apresentação. Com tudo comprado, delirava ao imaginar os detalhes e num arrobo raro de felicidade, pediu uma comida chinesa para comemorar sozinho a véspera de sua grande avant-première.. Ou melhor dernière, a última mesmo.
Comeu o franguinho colorido com avidez. Adormeceu na expectativa do grande dia.
Lá pelas tantas, acordou suado e com uma cólica que insistia e fazê-lo recurvar. Correu ao banheiro e percebeu que estava sendo acometido por uma terrível diarreia. Entre cólicas e descargas, sentia suas forças se esvaírem. Desidratava cada vez mais e por dois dias viu seu rosto secar, até que, fraco. Tombou.
O discurso e a pompa fora substituído por uma sussurante súplica à foto de Greta Garbo em um cartaz de filme em sua parede.
Cagado não... Cagado não, repetia.
E aí percebeu a merda que tinha feito.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Hipocrisia e cigarro - tudo a ver

Sempre achei que a hipocrisia é um bem social.
Proibimos a maconha, liberamos o cigarro, condenamos a cocaína, aceitamos o álcool. Achamos até engraçado um personagem humorístico que cai pelos cantos e fala besteiras fazendo piadas com a própria desgraça (não a do ator, mas a do personagem). O Ministério da Justiça reclassifica a novela porque aparece uma moça seminua dançando numa boate às 21 horas. Enquanto isso, o senado libera um senador que comprou empresas usando laranjas, dinheiro sujo, pagou uma amante (aliás, com quem teve uma filha) com dinheiro de empreiteiro e isso passa no jornal das 13 horas.
Não defendo a liberação das drogas, mas a questão é pensar: o que faz o álcool menos droga do que a cocaína e o que faz o cigarro menos droga do que a maconha? Talvez dados técnicos apresentem distinções, mas estas se contrastam com a realidade de que o cigarro e a bebida são muito mais socialmente nocivas do que os seus concorrentes vendidos nas bocas de fumo dos morros (e, hoje, até por playboys de classe média).
Mas, seguindo assim, punindo os peitinhos na TV, liberando as putarias dos políticos não vejo muito perspectiva para aposentar a falsidade (ou pelo menos, dar umas férias sem vencimento para ela). Achando normal o garotinho de 15 anos com o cigarro no dedo que chega a casa bêbado depois da balada e se horrorizando com os garotos de zona sul preso com drogas seguimos rumo ao nada, ou pior, ao tudo de ruim.
Não tenho esperança de que as coisas mudem muito com a liberação das drogas ou mesmo com a proibição do álcool. Acho que tudo demanda uma reformulação de mentalidade que terá como fim tirar nosso rosto de trás dessa mascara chamada HIPOCRISIA.
Quando eu dava aulas em ensino médio, uma vez me vi no meio de uma roda de alunos de 1º ano que contavam sobre um churrasco. A conversa descambou para porres homéricos (papo comum nessa idade). Daí, começaram a relatar os porres de seus pais. Um deles disse:

Caraca, maluco, aí quando eu vi, meu velho tava todo vomitado no churrasco da minha tia. Levamos o cara para o chuveiro e demos um banho daqueles... caraca, maluco. Muita doideira.

Imaginei-me naquela situação, jamais vivida por mim, com meu pai e deprimi só de pensar. Esse fato narrado vindo de um adolescente é normal, pois a idade prima por pouco senso crítico, mas essa atitude vinda de um pai dispensa comentários e se torna autoexplicativa para o que vemos.
Ave, hipocrisia!

domingo, 14 de agosto de 2011

Policiais, Ministério Público e a lógica da presidente

Na semana passada, a presidente Dilma, diante de inúmeros escândalos de corrupção no Ministério do Turismo, disparou em seu pronunciamento que era preciso apurar a ação da Polícia Federal nessas investigações. (Hã..?? Como assim?)
Talvez a presidente tenha razão. Os caras roubaram, desviaram, fraudaram e faziam isso há um tempaço. Vivíamos bem sem saber disso. Veio a danada da Polícia Federal e do Ministério Público e expuseram desnecessariamente as pessoas por uma coisa que poderia ser resolvida nos gabinetes e dar no mesmo que vai dar agora. Ou seja, em nada, pois, muitos deles fazem parte da articulação que constitui e mantém o poder hoje.
Ah... Polícia Federal e Ministério Público (isso sem falar na imprensa golpista e subversiva) que insistem em se meter em assuntos dos outros. Era o dinheiro de vocês que estava sendo desviado? (não me venham com essa história de dinheiro público. Vocês sabem que ele não é de vocês) Vocês deixaram de receber salário por causa da ação deles alguma vez? Não. Então sosseguem nos seus bons proventos e se preocupem com coisas mais relevantes. Com tantos traficantes, assassinos, contrabandistas e outros criminosos perigosos soltos e vocês atrás dos rapazes do turismo que só pecaram pela boa fé de confiar em quem não devia. Tenham paciência!
Como em um caso de adultério, o marido, tecnicamente, não é corno até que se saiba. Aí vem alguém e fala... A culpa é da esposa adúltera? Não. É de quem falou.
Fecho com a presidente. Vamos apurar o que andaram fazendo esses caras da PF e do MP. Vamos decretar prisão de preventiva de todos eles e mantê-los afastados da ordem que conduz ao progresso deste país.
Policiais e promotores na cadeia, políticos corruptos do lado de fora... Reina a ordem e a paz na terra de Cabral.

Por favor, agora é sério, parem o mundo que eu quero descer!

sábado, 13 de agosto de 2011

Tragédia em um ato: a insuportável felicidade

Clara era tão feliz, sua vida era tão certinha que, às vezes, dava-lhe uma angústia permeada de um sentimento de compaixão. Como podia ela ser tão feliz em mundo com tanta infelicidade. Como poderia suportar um marido que não tinha amante, não lhe batia, nem ao menos chegava em casa embriagado de madrugada. Mas era isso. Nada lhe restava para lamentar nas reuniões de amigas. Nunca precisara de um ombro para chorar e lhe dizer: Clara, esse homem não te merece. Nada. Nada. 
Nada lhe faltava, amor carinho, atenção, dinheiro... Nada, nada... Os filhos, perfeitos, como a natureza prouvera, eram jóias às quais se dedicava. Já na adolescência, só traziam orgulho para casa. Os filhos das amigas davam os desgostos tradicionais, as rebeldias, as drogas, as más companhias, enfim, o pior da idade. E ela se via relegada ao silêncio quando as mães choravam as suas amarguras. Sentia-se covarde e envergonhada de usufruir de tanta paz no meio de tanto desequilíbrio. Um dia, numa bela manhã de domingo, saiu para fazer uma caminhada, num arroubo de culpa jogou-se debaixo de um caminhão. Morreu no local. Em seu bolso, um bilhete sujo de sangue trazia um recado, últimas palavras, escrito a lápis: morro porque não suporto tanta felicidade.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Pílulas de sabedoria...

Se Cristo vivesse para comemorar Natal, seu dia de aniversário cairia sempre no mesmo dia do Natal e ele viveria o dilema: dois presentes simples ou um presente bom?
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Os produtos com validade até o dia 25 de dezembro de um ano X podem ser consumidos de forma segura até que hora nesse dia?
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Sócrates dizia: Só sei que nada sei. Se ele não sabia nada como é que ele sabia isso?
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Os Corintianos não entenderam: O Pastor gritava "DEUS É FIEL" e não DEUS É DA FIEL"
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Acho que, no fundo, todo chato tem razão. Você discorda? Pois, você está certo.
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Domingo foi projetado para ser um dia deprimente. Acordamos tarde, agüentamos o Didi, suportamos o Faustão, aliviamos nos programas de revista eletrônica (Fantástico) e terminamos com aquelas musiquinhas do Domingo Maior com um filme que já passou mais de mil vezes. Aí constatamos que a Segunda-feira é uma realidade inexorável. E como dói.
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Formatura é igual chulé: só dono que não acha que é tão ruim.
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Uma vez comi um feijão amigo, passei mal e me pergunto até hoje: amigo de quem?
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Um colega comprou um carro azul petróleo... e petroléo é azul onde?
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Se eu sou filho de Deus e Jesus também é, então Jesus não é meu pai, mas meu meio irmão, uma vez que não sou filho de Maria. Entretanto, se Jesus, Deus e o Espírito Santo são a mesma entidade, então eu sou irmão de Deus também. Sendo Deus meu pai também, eu sou meu próprio tio?
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Minha mãe me dizia que dormir sem camisa afastava o anjo da guarda e durante anos suei de pijama. Ao chegar na adolescência, cheguei à conclusão que o calor não compensava e dei aviso prévio para o anjo.
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Se eu correr atrás do prejuízo e alcançar o dito cujo eu resolvo o problema ou pioro?
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Qual motivo me levaria a ter inveja de um cara que cola no vidro traseiro de um Chevette bege um adesivo escrito "Inveja é uma merda" ou "Não me inveje, trabalhe"?

sábado, 6 de agosto de 2011

A prostituta.

Empresário de sucesso, tinha tudo que o dinheiro lhe podia comprar. Mas nunca havia transado com uma prostituta de luxo. Namorara modelos, mulheres de sucesso novas ou mais velhas. Mas uma prostituta de luxo mesmo. Nunca.
O serviço foi contratado pelo telefone com base em fotos de internet e, mal ela entrou em seu flat, ele percebeu que o quanto eram odiáveis os inventores do photoshop. No telefone, ela dissera que talvez demorasse um pouco pois iria se arrumar para ele. Quando abriu a porta, lembrou disso e, por um instante, tremeu ao pensar como ela seria desarrumada. Tomou-lhe, então, o dilema dos dilemas, dispensar o serviço alegando alguma coisa ou, como nos tempos de infância, aceitar para não fazer desfeita. Poxa, tava uma merda, mas ela tinha feito o melhor, se arrumado, se pintado, se perfumado e você iria fazer uma desfeita dessas. Viu a cara de reprovação de sua mãe na hora. 
Vestida ela era ruim, mas nua, dava uma saudade de vê-la vestida que fazia o ruim até parecer nem tão ruim. Sua fé se abalara naquela hora. Nada o tiraria daquela furada.
A conversa foi breve, ela tinha pressa. Despiram-se sem cerimonias. E ele pensava como seria o tempo restante das duas horas de serviço e companhia. Mas ela tinha pressa. Ele se serviu meio que a contragosto e a viu se vestir apressadamente. Ela explicou que o serviço dela era uma gozada ou até duas horas. Ficou surpreso com esse detalhe.
Ele pagou. Despediram-se.
Deitado na cama depois de um minucioso banho pensara que aquele fora o dinheiro mais bem pago que ele já empregara para não fazer mais nada. Sua fé retornava aos poucos nesse momento.