sábado, 29 de outubro de 2011

Estar com a razão para quê?


Por que as pessoas querem tanto ter razão em qualquer discussão? Parece que ter razão é uma questão de honra mesmo. Como se suas vidas dependessem daquilo. Eu, pessoalmente, detesto discutir e reservo a troca de ideias a pessoas que eu tenho certeza absoluta de que alguma ideia para trocar. Ah.. e sim. Que essa ideia a ser trocada vale o meu tempo.
Sou daqueles que dá um boi para não entrar em polêmica ou discussão e se necessário dá uma boiada para sair dela o mais rápido possível se a entrada tiver sido inevitável. Acho que só os idiotas dão uma boiada para ficar numa briga. Perdem tempo, gastam energia, criam animosidades e, no final das contas, carregam consigo o volátil trófeu do cara que estava com a razão. 
O gostoso do mundo é a certeza de nem sempre estarmos com a razão. E, mesmo quando podemos estar, ficar olhando de fora uma polêmica, com aquele ar entediado de olhar o rio por onde a vida passa (Pra rua me levar - da Ana Carolina) sem se precipitar e nem perder a hora chega a ser divertido.
A verdade é que as pessoas gastam muita energia com discussões que não conduzem a absolutamente lugar nenhum e que, quando conduzem, são lugares em que não queríamos ou em que não vale a pena ficar.
Bom, se você acha que discutir é bom, que não devemos levar desaforo, enfim, que o que vale é a sua opinião, tudo bem. Creio que não vale a pena discutir por isso. 

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Desculpe por te incomodar


Outro dia tive a infeliz oportunidade de precisar diretamente de um serviço público e constatei que décadas se passaram e continuo tendo um padrão ruim, lento, corrupto e ficando com a impressão bem nítida de que eu estou sendo um estorvo na vida daquela pobre criatura concursada que eu, cruelmente, incomodo no meio da tarde em sua repartição. Saio quase pedindo desculpas e por pouco não ouço: - e que isso não se repita!
Talvez eu tenha dado azar.. é comum acontecer isso comigo. Foi um mau dia...
Mas sabe que isso não é só coisa de serviço público, não? Acho que isso é do brasileiro, atender mal mesmo quando pagamos pelo serviço diretamente. Ficamos vários minutos esperando o atendimento ao telefone (já fiquei 54 minutos esperando), ficamos em pé no balcão enquanto o funcionário do cartório conversa com o colega, temos nossas correspondências retornadas porque há carteiros que não gostam de carregar volume e dizem que passaram na sua casa muitas vezes e ninguém atendeu (ainda que você estivesse lá todos os dias, o dia  inteiro). Tudo isso é serviço pago e, normalmente, caro.
Outro dia, comprei um eletrônico pela internet que veio com problema. Liguei para o atendimento e fui atendido em 1 minuto, a atendente não ficou me jogando de setor em setor, relatei o problema só uma vez, eles pediram que enviasse o produto e disseram que eu teria outro logo que eles recebessem a minha postagem. Eles não discutiram o problema ou inventaram desculpas para eu ficar no prejuízo. Simplesmente, mandaram outro produto, trocaram e pronto. Dias depois, ainda ligaram para saber se eu ficara satisfeito com a troca.
Fiquei desconfiado... Não ser enrolado, atendimento direto, ser bem tratado, empresa que se preocupa com o seu problema mesmo depois da compra...huummm NO BRASIL??? Por alguns instantes quase desisti de levar a conversa adiante com o atendente. Devia ser golpe. Belisquei-me algumas vezes, mas, naquele dia, doeu mesmo. Tem alguma coisa errada com aquela empresa.. ah tem... Cuidado com esses caras..

sábado, 22 de outubro de 2011

É possível ter orgulho dos mais bizarros defeitos


Eu sou assim: quando eu gosto, eu gosto; quando eu não gosto, eu não gosto. Outro dia, eu falava em sala de aula aos meus queridos alunos que essa é a frase preferida de todo idiota quando quer chamar a atenção para sua personalidade, quase sempre, pífia, vazia e completamente desinteressante. 
Há gente que grita os próprios defeitos como se fossem traços louváveis de sua personalidade, pessoas que cantam aos quatro cantos do mundo que são possessivos, vingativos, incapazes de perdoar, não aceitam ideias diferentes das suas e são intolerantes ao extremos. Afinal, eles são assim: quando gostam, gostam; mas quando não gostam, não gostam.   
É claro que somos todos verdadeiros poços de defeitos e estamos longe de qualquer perfeição. Aceitar essas falhas de formação do espírito é a primeira parte do processo de mudança. Depois, temos a mais complexa das partes, corrigi-las. Aprender a tolerar, desprender-se, perdoar entre outras coisas é o mais difícil de tudo. Acho que é por isso que algumas pessoas desistiram, transformaram suas deformidades e aleijões  em virtudes e repetem o clássico "eu sou assim".
Sempre que ouço isso, penso que, com certeza, as pessoas não têm dimensão de toda a carga negativa dessas palavras que poderiam ser bem traduzidas por "eu sou assim: tenho um monte de defeitos horríveis, não vou mudar e aceito sofrer e apanhar muito porque não tenho forças para modificar isso"
Eu, por exemplo, sou assim, quando eu gosto, eu gosto; mas quando eu não gosto... Bom, quando eu não gosto, estou sempre aberto para que me deem boas razões para gostar. Inclusive de pessoas que repetem essas sandices de "eu sou assim, quando eu gosto, eu gosto.. e blá, blá, blá...

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Erro não é ser honesto, mas esperar honestidade do outro.


Agir de forma honesta o faz sentir como um idiota? Pois é... Eu experimento essa sensação há anos. Convivendo com gente de todo tipo, em algumas situações, aprende-se que comer e coçar é só começar. Até por isso, evito até às últimas consequências (a demissão, por exemplo) a dar a primeira coçada. 
O que vejo é que o dinheiro fácil fascina e entorpece os sentidos e, depois do primeiro, o resto é banal e justificado pela consciência que é a primeira a ser comprada. Há sempre boas razões para se tornar um canalha e elas vêm encabeçadas por argumentos como, “eu mereço esse dinheiro”, “não estou fazendo mal a ninguém”, “existe gente fazendo coisa pior”, “se eu não fizer outro vai fazer...”
A lógica da desonestidade é muito eficiente para o desonesto e ele tem certeza absoluta de que suas atitudes são completamente inofensivas ao meio e legítimas, pois é assim que são as regras do jogo.. Aceite ou caia fora.
Comemorei este ano 40 anos caindo fora e pagando o preço por não possuir uma flexibilidade ética adequada ao modus operandi de alguns locais. Aprendi que não fazer o perfil, muitas vezes, é o maior elogios que podemos receber de um patrão ao ser demitido. Enfim, do mesmo modo que algumas pessoas justificam sua canalhice dizendo que todo mundo faz, assumo esse meu defeito (dificuldade de adequar-me a novas "éticas") dizendo que, afinal, defeitos, todo mundo os tem, não é?

domingo, 16 de outubro de 2011

Diário de um macho - uma breve história da macheza


Aquele era um macho legítimo. Acordava pela manhã, cuspia no chão, arrotava, peidava e fazia aquele som de puxar o ar para dentro com biquinho e dizer "gostoooooosa", logo cedo. E logo cedo para ele era na hora do Globo Esporte. Afinal, macho que é macho não acorda antes das 11. Entrava no seu blogue e atualizava com fotos de mulheres nuas (ou seminuas), inseria testes para averiguar a macheza de qualquer um que quisesse se aproximar dele. Afinal, perto dele, ele só queria mulher pelada, mas muito mais do que isso, amigos machos. Mandava piadas para toda a sua rede sobre o que é ser macho, como é bom ser macho, como é supremo ser macho, ser macho é tudo de bom.
Quando abria a boca falava que o seu negócio era cerveja, mulher, futebol e, claro, ser macho. Como gostava de ser macho. Na academia, ele se realizava, pois ali, se sentia em casa, mulheres de calças justas e machos, muitos machos, como era bom se sentir entrosado com o meio. 
Tinha nojo de filosofia, arte, cultura, música erudita, livros e coisa do gênero, pois, afinal, isso tudo era coisa de viado mesmo e viado ele tratava era com um murro na boca e um chute no peito. Bastava olhar para ele e isso lhe dava as razões de que precisava. Macho que é macho bebe cerveja, assiste ao futebol, dá porrada e só falava de mulher e mesmo assim somente com outros machos. Pois macho que é macho anda com macho, muitos machos, machos fortes, sarados e suados, como ele. 
Um dia, seu irmão, também muito macho (óbvio), encontrou escondida embaixo de sua gaveta, em um fundo falso, uma revista G Magazine e um bilhete escrito “Jorge, você não sabe como dói ter por amizade quem se quer ter por amor. Assinado, Pepê”. O irmão achou estranho, afinal quem era o tal de Jorge que o irmão dele mencionava na dedicatória na capa da revista em letras meio trêmulas? Mas não comentou nada, nunca, com ninguém. Afinal, ficar fuçando nas coisas dos outros era coisa de viadinho e ele não queria decepcionar o seu irmão.

P.S.: E macho que é macho nem se ofende com essa história já que ficar lendo bloguezinho cheio de letrinha, sem figurinha, sem foto de mulher pelada não é coisa de macho.. é coisa de viadinho.

sábado, 15 de outubro de 2011

Rock in Rio e você, nada a ver


A Globo realmente definiu que o Rock in Rio é bom para todo mundo e  fez cobertura durante programas de jornalismo, novelas, programas de receita, programa infantil, enfim, todo lugar é lugar para se falar de Rock in Rio que tem tudo de Rio, mas quase nada de rock. Fico pensando quanto eles estão levando nessa brincadeira por conta dessa lavagem cerebral.
Mas é assim mesmo. Melhor do que aquelas coberturas de tragédias pessoais que ficam sendo repetidas à exaustão com imagens do  local, acompanhamento do julgamento e populares se manifestando indigados nas ruas com coisas que não lhe dizem o menor respeito. Ou, então, do Faustão apresentando a vida dos artista,  focando a câmera no olhinho do convidado para ver se na hora do depoimento de mãe ele vai chorar. 
Enfim, essa é a mídia que, por uma questão de bom senso, também poderia se chamar de mérdia. São homens trabalhando trabalhando 24 horas por dia para fazer você crer que ela e você têm tudo a ver.

E o pior é que tem gente que acredita.. vai ver a galera que aparece sendo entrevistada na cobertura do Rock in Rio.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Luciano Huck e o senso estético em “Lata Velha”


Vez por outra vejo o programa do caldeirão do Huck aos sábados e sempre me pergunto se aqueles caras que ganham os carros consertados tem cara de andar com aquilo na rua.
O sujeito tem um Opala 76 cheio de plastic, enferrujado, banco quebrado, sujeira dentro, motor acabadaço, sem vidro traseiro e só funciona empurrando. O Luciano Huck faz o cara pagar um mico (até aí tudo bem) e entrega o carro reformado. Novinho em folha, motor novo, limpinho, com vidro, pintura nova, pneus novos , vidro fumê, bancos de couro.. MAS (como tudo sempre tem um MAS) o carro vem com som escandaloso, pintado de amarelo canário e verde-limão com labaredas de fogo desenhada no capô, roda de liga leve rebaixadas e luz azul no fundo do carro, farol de milha em cima, do lado e embaixo do carro, bancos de cores diferentes (azul, rosa, lilás e verde limão), alavanca de siri, tapete de bolinhas para o banco do motorista, DVD interno que pisca dezenas de luzes com tela retrátil, vidros laterais com luzes coloridas, luz internas cores lilás, rosa e estroboscópica, adesivos escrito Barretão 2011 - eu vou e A força do meu sucesso é a velocidade da sua inveja ou Não me inveje, trabalhe.
Percebi que, no momento da entrega do carro, um velhinho chorava compulsivamente depois de ter dançando Conga, Conga, Conga vestido de Fred Mercury no palco caldeirão. Era um velhinho pipoqueiro que morava em Nova Iguaçu que não usava o carro por falta de condições e que agora dificilmente poderia usar o carro...
Dessa vez, por falta de condições mesmo.

P.S.: Ao que se sabe o velhinho nunca mais saiu de casa. A Globo não divulgou que teria sido uma súbita crise de pânico que o acometeu. Afinal, pânico é da rede TV e não da Globo.

sábado, 8 de outubro de 2011

O desafio de produzir conteúdo em um blogue


Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego do claustro, na paciência e no sossego. Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Diria Olavo Bilac sobre o ato de escrever numa época em que escrever era realmente um ato solitário, muitas vezes, penoso pelas convenções e penoso como a atividade de um operário que trabalha, teima, lima, sofre, sua.... Esse é o desafio lançado a quem optou por ter um blogue e produzir conteúdo para ele, trocar ideia e sobretudo, no meu caso, sem expectativa de retorno algum. Não vivo, nem pretendo viver disso.
O saco de filó surgiu em 2007 e este ano faz 4 anos de existência em um mundo, a blogosfera, onde não se tem muito por prática ler ou mesmo produzir conteúdos. O que se vê o efeito chupa cabra. Um blogueiro chupa uma reportagem de um site de notícias e mais 20 fazem o mesmo sem mexer em quase nada, nem atribuir ao texto algum tipo de originalidade. Um blogueiro acha algo em um outro blogue e replica ad infinitum. Em razão disso, vemos as mesmas coisas que, poucas vezes, se dão o trabalho de serem replicadas com palavras diferentes.
Produzir conteúdo é um desafio. Requer saber ler, refletir e escrever de forma mais sintética possível sobre algo. Em uma postagem minha há tempos atrás disse que não faço questão de visita, mas sim, de leitores. 10 leitores valem mais do que 1000 visitas para quem não quer monetizar o blogue. Trocar ideias com quem vale a pena trocá-las é uma honra. Esse foi o desafio do saco de filó, numa blogosfera que vale mais o "me segue que eu te sigo", "me visita que eu te visito"...
No saco de filó contínuo longe do estéril turbilhão da rua...

P.S.: De uns tempos para cá surgiu, em algumas comunidades de blogue (como no Dihitt), o famoso "me acaricia que eu te acaricio também", uma série de postagem de louvor aos colegas que têm blogues esperando, obviamente, a recíproca da ação e o voto que promove notícias. Isso é uma maneira de substituir os tão escrotos selos que deram um tempo por aqui... (esse blogue é mara, esse blogue tem qualidade, esse blogue é..argh!)... E ainda tinha regras de uso do selo que o amiguinho recebia! CARACA!! Que descansem em paz os selos.... nos quintos dos infernos.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

DNA maldito de uma cidade sem futuro


Cidades assim como pessoas possuem um DNA que, embora não determine com rigidez o que elas serão no futuro, aponta algumas variáveis possíveis de realização. Falo isso porque já viajei quase todo o Brasil e nunca vi alguma localidade conseguir se desviar muito de sua história passada. 
Por exemplo, cidades que se estruturaram sobre riqueza fácil como garimpo se tornaram o reduto da indolência da ineficiência e do desmando característico de terras onde o dinheiro se chuta em cada esquina numa pepita de ouro. Mesmo passado anos e anos, a herança maldita persiste no atraso local. Outra herança desgraçada é a história de escravidão. Cidades que nasceram sob o regime escravagista e ergueram sua riqueza sobre o sangue da exploração dos negros amargam um quadro triste de atraso ainda hoje.
O problema é a mentalidade que se instala e se perpetua geração após geração, a ideia do trabalho como pena, a ideia da exploração com algo legítimo, a ideia do favor que os”coronéis” fazem quando permitem que alguém lhes preste um serviço. Cria-se uma elite indolente e inútil que só é capaz de valorizar a subserviência e a vassalagem dos funcionários, pois toda competência é vista como uma ameaça á ordem estabelecida. Valor tem o que delata, o que mal diz, o que frauda e ludibria, o que trama contra todos em favor do seu senhor, o que vende sua alma e sua dignidade em nome da servidão eterna. Aquele que possui formação, competência e capacidade de questionar é a grande ameaça ao sistema e deve ser banido. Ele representa tudo que não faz o perfil daquele lugar, deve ser banido, tudo que não rasteja aos pés do senhor, é inimigo seu e deve ser afastado...
Difícil de entender, né? Pior do que entender é viver em lugar assim onde o rei está nu enquanto todos admiram sua bela roupa.
Tende piedade de nós!