sábado, 21 de junho de 2008

É big, é big, é big é big... é hora, é hora, é hora, é hora...

Aniversário é um dia sempre especial. A pessoa sente que acordou mais velho... Subitamente, isso deixa de ser especial no dia em que percebemos que todos os dias acordamos mais velhos.
Quando crianças, contamos os dias para o nosso aniversário como se este fosse uma espécie de marca de chegada em que registramos mais uma volta na corrida da vida.
Somos consumidos pela espera da festa e dos personagens que a povoam: o filho do amigo do seu pai (de quem você não gosta nem um pouco), mas tolera porque o pai dele vai trazer presente. O infame, em represália (parece que estava adivinhando) lhe dá uma blusa.
Para seu desespero, chegam nas mãos de alguns adultos alguns pacotes moles.... Pacotes moles são sempre assustadores. Aos 7 anos de idade ganhar uma blusa é como ganhar um pacote de papel higiênico de presente. Você sabe que vai usar, mas isso não é coisa que se dá de presente.
A festa, aos poucos, se enche com as crianças e com as tradicionais tias velhas que mantêm um padrão digno de uma franquia internacional. Usando vestidos ou saias e blusinhas de viscose, elas chegam sozinhas ou em bandos. Agrupam-se nos cantos das salas atraídas pela TV que passa novela. Passam boa parte da festa conversando entre si, assistindo a novela e reclamando entre dentes das crianças que passam correndo na frente da TV.
Os colegas sem noção dos seus pais também chegam. Aqueles caras ou aquelas mulheres que não casaram, ou são separados e aparecem na festa com a desculpa de prestigiar seu aniversário, mas, na verdade, estão atrás da cerveja que seu pai comprou e de um lugar para falar mal de alguém que trabalha com eles. A frase deles é ...”pois é... hoje, vou dar uma passada na festa do garoto do fulano”.
Não os repila. Normalmente, trazem bons presentes. Brinquedos.
O clima esquenta e o número de incidentes com crianças em um espaço físico tende a aumentar: Sua mãe, sabiamente, decide que é hora do parabéns.
Nessa altura, você já contabilizou alguns presentes bons (brinquedos) e outros não tão bons (roupas) que a sua mãe recebeu com um sorriso no rosto e forçou você a agradecer com um sorriso amarelo. Nossa! Que bom! Ele estava precisando mesmo de um par de meias. Agradece a tia, fulano.
E você agradece. Fazer o quê?
Todos se reúnem, Apagam as luzes. Parabéns tradicional... é big,é big... é hora, é hora..., Ra tim bum... Fulano, fulano...
Mas quando tudo parecia terminado.. eis que um infeliz puxa o famigerado: com quem será, com quem será... vai depender, vai depender... ela aceitou... Nunca soube onde termina essa macaquice, mas sempre a inseri nos meus cálculos como a distância entre mim e o bolo.
Por fim, o constrangedor “primeiro pedaço de bolo”... Momento em que, impossibilitado pela física, somos obrigados a agraciar uma pessoa em detrimento do resto da humanidade...
Uma difícil decisão aos 7 anos de idade... Vai para mãe que já é de praxe. Ela sorri toda boba.
***
Pois... um dia, despertamos e, aos 37 anos, sentimos que acordamos mais velho hoje... e amanhã também.

A festa acabou,
A luz apagou,
E agora, você.
E agora... Drummond.

Ficam as lembranças e uma saudade com gosto de bolo de chocolate comidos com garfinhos de plástico...
Ah sim... Continuo achando abominável o “com quem será...” que sempre atrasa o momento de cortar o bolo.