domingo, 23 de dezembro de 2012

Sabe como vai ser 2013?

Espere que vai ser um ano interessante. Você aprenderá muitas coisas e esquecerá outras tantas. Investirá em novos projetos e ideias e desistirá de outros tantos. Nesse ano, você irá conhecer novas pessoas e nunca mais ver outras. Alguns afetos se tornarão desafetos e você encontrará lealdade onde menos esperava. Assim como deslealdade onde não acreditava haver. Você ganhará dinheiro, mas perderá dinheiro pagando contas, impostos, tarifas, boletos etc. Haverá dias de chuva, outros de sol, engarrafamentos, trânsitos livre embora esses sejam cada dia mais escassos. Pessoas te admirarão, nem que seja por uns instantes e outras te detestaram, às vezes, mais do que por um instante. Falarão bem de você, mas também falarão mal e você irá ouvir pessoas falando bem e falando mal de outras pessoas como alguém falou de você. É um círculo.. é assim. Um ano interessante, mas com gosto de “déjà vu” 
Enfim, o ano de 2013 será exatamente igual a 2012, 2011, 2010, 2009 etc etc... O tempo não passa, nós passamos por ele. Quem entra no ano e sai diferente somos nós e a maneira com que encaramos sempre as mesmas situações. A vida nos dá repetidas oportunidade de aprender com as mesmas coisas sempre. Que seja um ano interessante então...

domingo, 16 de dezembro de 2012

Brasil, um dos piores sistemas de educação do mundo


O Brasil, no critério educação, está em penúltimo lugar em um ranking de 40 países. Atrás de nós só a Indonésia... Foi o que mostrou uma pesquisa encomendada à consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU), pela Pearson, empresa que fabrica sistemas de aprendizado e vende seus produtos a vários países.
Toda vez que alguma agência internacional aponta nosso fracasso em algumas áreas como educação e saúde, logo alguns pesquisadores brasileiros se oriçam e saem em defesa do indefensável. Perguntam como foi feita a pesquisa, quais as fontes, quais as bases, isso não tem validade.. enfim... Há uma preocupação maior em atacar quem fez a pesquisa do que mostrar que eles estão equivocados. Até porque não estão...
Contra fatos não há argumentos.
As perguntas diante dessas situações não devem ser feitas contra as empresas que fazem as pesquisas, mas sim ao nosso governo. Por que nosso professor é tão mal remunerado? Por que não existe uma regularidade de capacitação docente? Por que as escolas têm uma estrutura tão precária? Por que os alunos passam um tempo tão pequeno na escola? Por que escola não oferece atividades que favoreçam a formaçao humana e profissional? Por que os governos que começam se preocupam mais em destruir o que foi feito do que dar continuidade ao que deu certo? Enfim.. por que?
Somos, por fim, um fracasso educacional que os indíces do governo não conseguem camuflar? Esses sim, obscuros, discutíveis e carentes de base que os comprovem face a realidade do nosso ensino. Atingimos essa situação, inclusive, porque nos preocupamos muito mais em encontrar culpados do que solucionar problemas.

Mas ainda nos resta dizer "Chupa, Indonésia" em tom irônico e, no fundo, lastimoso.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Garantias e as meias verdades


Não é verdade dizer que os sistemas de garantia ao consumidor no Brasil não funcionam, mas também não é verdade dizer que os sistemas de garantia ao consumidor no Brasil funcionam como deveriam. Recentemente, precisei trocar a bateria do meu carro na Ford, pois ela apresentava problemas de falha dentro do período de garantia. A concessionária disse que trocava sem problemas, mas precisava retirar a bateria, mandar para fábrica, emitiriam um laudo e mandariam uma nova para meu carro que ficaria parado na oficina de 7  a 14 dias.. por causa de uma bateria. Eu ficaria de férias e justificaria minha falta no serviço com a ordem de serviço da FORD?
Eles cumpriram a garantia, mas criaram condições para que ela se tornasse inviável e que eu fosse obrigado a comprar um bateria que custa uns 130 reais e o cara troca na hora.
Com a Apple, a mesma coisa. Um mac meu deu problema, foi para a autorizada e pediram 15 dias (em média) para identificar o problema, pedir a peça, trocar a peça... e eu ficaria sem computador até lá. Sem poder trabalhar.
A coisa é criada para não desmentir o fabricante quando ele diz que dá garantias, mas para não dar prejuízo para ele também. Ou seja, no final das contas, a coisa existe, mas não funciona do jeito que deveria.
A conversas são sempre as mesmas. Sim. A garantia cobre, mas a fábrica pede prazos e procedimentos que vão tornar completamente inviável o uso dela. 
E agora? Vai dizer que não existe garantia? Vai dizer que é propaganda enganosa... 
Não é não.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Salvos pela desorganização

Que São Paulo é um dos estados mais organizados do país, isso é indiscutível, mas eu acho que eles acabaram pagando por essa organização, pois o crime é mais organizado também. Possivelmente, até mais que o estado como se tem podido ver nos últimos tempos. 
Enquanto eles sofrem ataques de uma facção criminosa que opera como uma máfia nos bastidores do poder público paulista, o governador declara que é exagero, afinal, morre muita gente todo dia numa cidade com tanta gente. Uma declaração fácil de se sustentar quando entre os números estatísticos não consta um filho nosso. Mas é bom não esquecer que todos os "números" têm mãe e os dados sempre doem muito em algum lugar. Enfim, o que eles não querem admitir é que estão há anos num acordo tácito com a máfia paulista. É duro para um estado admitir que pode estar fazendo concessões para poder governar. 
No Rio, não. Somos beneficiados pela nossa natural desordem. O crime reflete o estado. Não há uma facção única como lá, mas um monte de facções que brigam incessantemente entre si e que brigam com as milícias e que brigam entre eles o tempo todo. É uma "autofagia". Ele se devoram mutuamente na sua desordem plena e caos. Tudo isso para a nossa sorte. 
A polícia carioca, muitas vezes, tem a opção de deixá-los se matar e entrar para catar os restos. E não o faz porque na briga do mar com o rochedo que se dá mal é o siri, no caso a população.  Isso sem falar que ela (a polícia) possui um estrutura de combate ao crime moldada em anos de precariedade e reveses. Forjada a ferro e fogo na adversidade se tornou mais forte. Assim é o Rio de Janeiro, um estado que acabou sendo beneficiado por a mais estranha das virtudes. A salutar desordem dos bandidos. 
A PM agradece.

sábado, 24 de novembro de 2012

A vida num roteiro de Hollywood

E se a vida fosse um roteiro de cinema de Hollywood? Então não teríamos decepções amorosas e todas histórias terminariam bem como nas comédias românticas. Em vez de cada um ir para seu lado e acabou, tudo terminaria em um saguão de aerorporto em que um dos dois do casal estaria com olhar perdido de tristeza, quando seu amor lhe cobriria os olhos e revelaria que não foi viajar. A câmera se afastaria e eles se beijariam ao som de uma trilha sonora bem romântica como Endless Love. Se houvesse separação seria até o próximo corte de cena ao som de Someone like you. A seguir se reencontrariam meio sem graça e o fim deixaria no ar o retorno. 
Se assim fosse, os homens maus seria presos no final e apareceriam de uniformes prisionais entrando em penitenciarias e não de toga entrando em tribunais. Os mocinhos terminariam sendo reconhecidos em seu valor e não transferidos de função para não criar mais problemas para seus superiores. O fim, em tom épico, com a trilha sonora de um rapper americano famoso, mostraria um carro se afastando numa estrada em rumo ao desconhecido e não uma repartição cheia de papéis para o mocinho tomar conta. 
Mas a vida não é filme e se a história mostra que, muitas vezes, a ela imita a arte, em nome de uma generosidade, gostaríamos de ser contemplados com happy end, trilhas sonoras e câmera abrindo em plano maior. Pelo menos de vez em quando...
No fundo, fica aquela inveja dos personagens que, pelo menos durante sua vida na tela, sabem o que esperar de suas histórias. 

Na pior das hipóteses, a tristeza poderia se converter em todo mundo em volta dançando e cantado Don`t worry. Be happy ou Everythings gonna be alright... Já era um alento.

sábado, 17 de novembro de 2012

Para que serve o feriadão?

Toda vez que tem um feriadão, surgem aqueles ranzinzas que levantam discursos de quanto o Brasil perde em dinheiro, de quanto os serviços atrasam de como somos indolentes e dados ao “dolce far niente”, o doce prazer da preguiça, de não fazer nada. 
Esses comentários são, além de mentirosos, maquiavélicos. Planejam e desenham uma sociedade (inexistente no mundo) sem feriado e de preferência sem finais de semana e sem férias, voltada para a produção 100% do tempo de sua vida. Afinal, riquezas devem ser produzidas. Para quem? Para o país, para gerar mais impostos, para o patrão? Para o funcionário? Não. Definitivamente, para esse último não. 
Não é verdade que perdemos dinheiro. O fato é que alguns setores como o de sorvete param de produzir picolés, por exemplo, para que o consumo possa aumentar com que está de folga. As fábricas param de produzir geladeiras para que os colegas de comércio das cidades de turismo ganhem mais dinheiro para poder comprar uma geladeira. A indústria de carro para de produzir carro para que o rapaz que trabalhe no hotel aumente seus ganhos e possa juntar dinheiro para comprar um carro. Ninguém perde coisa nenhuma. O Dinheiro não desaparece, como apregoam alguns, só muda seu fluxo. 
As pessoas podem ajustar suas agendas, produções para dias a menos do que o planejado, o dinheiro não deixa de ser gerado, as riquezas continuam a crescer e melhor, de uma maneira mais justa, pois se desloca do conceito de fazer dinheiro e liga-se ao conceito de viver melhor. Pessoalmente, acho esse comentário da perda de riquezas uma visão que só foca no ser humano como um produtor de gerador de dinheiro e esquece que dentro de uma roupa e atrás de uma carteira de trabalho existe um ser humano. 
Feriado serve para as pessoas darem pausas na sua vidas cheias de números, contas, horários e encherem de vida onde antes havia dados estatísticos e cifras. 
Aproveite.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Dúvidas, certezas e outras dúvidas...

Quando somos jovens, trazemos conosco a certeza de que aquela menina linda e supersensual da escola não sai com a gente só porque não temos carro, não temos dinheiro, não temos condição de levá-la a um local que preste para comer algo e bater papo. O tempo é sábio e nos traz a consciência de que tudo aquilo que pensávamos, no fundo, era verdade. A maturidade nos faz perceber que, se fôssemos mulher e nos olhássemos naquelas circunstâncias, também não teríamos razão nenhuma para sair com a gente. E não venha com o papo de riqueza interior. Imagina:

-
A conta é de 65 reais. Apresenta o garçom.
-
Olha seu garçom, dinheiro eu não tenho, mas sou uma pessoa excelente, de caráter, honesta, sincera... espero que o senhor leve isso em conta. Ou melhor.. leve à conta isso.

E a história terminaria com seu pai o pegando na delegacia. O silêncio no carro de volta para casa vai traduzindo a vontade que seu pai tem de estrangulá-lo por causa da vergonha que o fez passar.
O caso é que achamos que, quando formos adultos tudo vai melhorar, mas não sabemos que , quando chegarmos a idade adulta, passaremos a achar que tempo de bom era a adolescência e que tudo não mudou muito, vantagens e desvantagens foram substituídas.
Aos 16, achamos que ninguém nos entende e que o mundo não é justo. Quando adultos, temos certeza disso. O mais legal é que, aos 16, não se imagina como essa certeza é confortante.
Quando somos
teens, os pais pagam nossas contas e achamos que não fazem mais do que sua obrigação, quando adultos, pagamos nossas contas e os credores têm a certeza de que não fazemos mais do que nossa obrigação. Porque, de fato, não o fazemos mesmo.
Aos 18, temos a certeza de que vamos mudar o mundo nem que seja à porrada. Aos 40, descobrimos que o mundo nos deu tanta porrada que nós mudamos.
Passamos a vida substituindo dúvidas por certezas e estas por outras dúvidas... a graça da coisa está aí. Pelo menos, é o que acho até agora... Mas por hora, deixo aberta essa certeza para substitui-las por algumas dúvidas... amanhã

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O bilhete - não se brinca com um cara desses..

Caro amigo,

Desculpa por tudo. Sei que fui duro com você, mas você me deu as costas no momento em que mais precisava. Por isso, fiquei para você como grosso, entrão e outros adjetivos pouco abonadores. Só fui ao show com a galera naquele dia porque você me ofereceu sua entrada no dia anterior. Saiba que lamento por tudo e que aquilo que lhe prometi vai ser cumprido. Sou um homem de palavra e que não guarda rancor, por isso, aquilo que combinei te passar está de pé.

Um abraço para você e quem for da sua família.


***
Então...
Ele leu em silêncio. Transpareceu no semblante um certo pavor...
Preferiu não responder.
Não se brinca com um sujeito desse...

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Então é Natal.. já? Não. Mas bem que podia ser.

Há muito tempo o ano acaba em 31 de dezembro e eu me antecipo acabando em novembro. Especialmente, nesse ano, acabei em outubro. Acho que estou envelhencendo e ficando igual a celular, cada dia minha bateria dura menos. Temo o dia em que meu ano vá acabar lá por junho ou julho. 
Mas esse ano, dou-me o luxo de acabar em outubro, pois, segundo os Maias (e não são os de Eça de Queirós) disseram que a história toda não passa de 21 de dezembro. Sendo assim, antecipei o meu fim de ano. A única coisa que cria um desconforto é que nada vai mudar a realidade. A gente acaba um mês antes, mas o ano segue e teima em acabar em 31 de dezembro. 
Você aí sonhando com o Natal da Xuxa e o Roberto Carlos (alguém sonha com isso?) e o ano se arrastando. Você aguardando a retrospectiva 2012 e o show da virada com o Fausto Silva falando as mesmas gracinhas seguidas de “ô loco meu!” e ano nada de acabar. 
Nessa época do ano, a gente fica igual a técnico de futebol de time que está vencendo em partida final de campeonato: na beira do campo, com os braços abertos, as mãos gesticulando e gritando “acabô”, “acabô”. Mas o ano, esse juiz implacável não ouve nossos apelos. No máximo, nos dá uns feriadinhos meia-boca só para adoçar a espera... 
Não adianta reclamar, o tempo corre a 60 minutos por hora, queira você ou não... Se bem que enquanto tudo se arrasta, nos resta ficar, fazendo o que podemos... 
Acabô! Acabô!...

domingo, 28 de outubro de 2012

Grifes, modas, moléstias e consumismo

Toda vez que eu vejo a propaganda de uma grife chamada Disritmia, eu fico pensando: caramba! Não se trata de uma doença isso? Na verdade, sim, Disritmia é um distúrbio de ritmo cerebral ou cardíaco, por exemplo. Mas em um meio onde a bulimia é cultuada e o visual cadavérico é almejado por muitas modelos não é de se estranhar um nome desse em uma marca de roupa. Nessa história, eu fico pensando e me pego a conjecturar: Já pensou se essa moda pega? É. Colocar nome de doenças/distúrbios em grifes da moda. Teríamos situações inusitadas como duas garotas conversando assim:

- Você viu aquela calça da Epilepsia?
- Aí, amiga, eu vi. Fiquei babando.
- Nossa, quando eu vi no shopping, eu tive um ataque.
- E as blusinha da Esquizofrenia?
- Nossa, achei uma loucura.
- E a sandália da Afasia?
- ... [sem palavras]
- Mas ir ao shopping sem grana é fogo, né?!
- ?
- Só tive grana para comprar uma calça da Diarréia
- Aí, que merda!

***

Enquanto isso, no SP Fashion week, os estilistas desfilam as tendências que iremos usar amanhã...
...nos hospícios e centros de apoio psiquiátrico...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Paranóias batcterianas e virais

Outra dia eu assistia a um programa desses de encher horário pela manhã e os apresentadores discutiam os males que existem no trato incorreto dos panos de prato. Levaram panos de prato para laboratório para constatar que havia milhões de bactérias que poderiam causar outros milhões de males. Mostravam todos os cuidados quase cirúrgicos que devemos ter com os panos de prato. 
Lembrei-me de imediato de um quadro do Fantástico em que um medico só falava de como existem bactérias no seu celular, nas maçanetas, nas paredes, no volante dos carros, nas canetas que usamos, no ar que respiramos, na saliva das pessoas quando elas falam, na roupa que vestimos, nos talheres que usamos, nas calçadas em que andamos, no ônibus em que viajamos, enfim, em tudo que nos cerca. 
Que o mundo é hostil eu já sabia há muito tempo, mas ganhamos subsídios para potencializar essas ideias. Ganhamos alimento para nossa paranóia de cada dia. Daí,  surgirem uns malucos de tempos em tempos que lavam a as mão milhares de vezes por dia ou que só saem de casa com luvas (e máscara) para não tocar em nada. O alimento de toda zuretice vem daí, cabeça fraca + paranóia da mídia = birutice. 
Gastam todo um programa alimentando a ideia fixa e a paranóia, mas não dedicam 5% dele para contar aos colegas que a natureza nos fabricou com um “software” que vem de fábrica instalado chamado sistema imunológico e se esse universo infinito de bactérias e vírus fosse razão para tirar o nosso sono teríamos morrido antes de completar 6 meses de idade. 
E se você leu este texto até aqui quer dizer que seu sistema imunológico funciona. 

Se bem que... Já pensou em quantas bactérias podem existir no teclado desse computador, ou no mouse, ou mesmo nessa cadeira em que sento? Vamos levar para laboratório? 

Não. Obrigado. Deixe-nas aqui. Já até me afeiçoei a elas.

sábado, 20 de outubro de 2012

Triste (e trágica) sina de um país sem heróis


Corre sob os olhos do país o julgamento do mensalão (aquele que o Lula diz que nunca existiu) e, como em um ringue de boxe, de um lado, estão os bandidos, José Dirceu, Marco Valério e seus comparsas, de outro lado, os ministros do supremo. E mesmo dentre eles ainda há os mocinhos e os bandidos. Se é que é possível falar nisso com fronteiras tão claras hoje em dia.
Mas, enfim, desenrola-se a versão judicial dos antigos telecatches, aquelas lutas em que os resultados eram mais ou menos previstos e os narradores definiam quem era o mocinho, aplaudido e amado e os bandidos, odiados e vaiados.
Surge nesse cenário a figura de Joaquim Barbosa, uma espécie de batman afrodescendente brasileiro como o grande herói da mídia (quem tem facebook sabe o que é isso). Um self-made-man, uma história de sucesso apesar de todas as adversidades enfrentadas. Um homem que será louvado per secula seculorum porque condenou uma quadrilha que lesou o país e propagou sua bandalheira aos olhos vistos na certeza de impunidade que viria em razão de seus membros serem amigos do presidente.
Mas, espera aí... Essa não é a função mínima e esperada de um ministro do supremo tribunal do país? Afinal esse é o cargo cargo máximo da Justiça ao qual faz jus por sua moral ilibada, competência notória e pelo qual recebe (e receberá até o final da vida) muito bem... Parece que, no Brasil, isso não é a regra, mas a exceção e por isso, deve ser louvado como suprema virtude um um homem, fazer o que era o mínimo esperado que se fizesse.
Essa é a triste e trágica sina de um país sem heróis, a de louvar o mínimo de alguém no exercício desejado, esperado de sua função. Essa é a triste sina de um país que adota a dignidade como artigo de luxo das cracolândias ao supremo...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar?

Um dos grandes segredos da convivência humana é entender o que podemos pedir do outro. Em estados de entorpecimentos de paixões, perde-se completamente a noção do outro como um individualidade plena de qualidades e defeitos. 
Daí decorre, obviamente, a decepção pelo outro não ser exatamente aquilo que se queria que ele fosse. É engraçado, mas, em 90% das vezes, as pessoas se decepcionam não com as pessoas mas com a imagens que fazem das pessoas para si. A imagem construída de um ser humano é produto das nossas carências e não do que realmente ela é. É resultado nebuloso de uma série de fragilidades nossas que projetamos no outro. 
Dessa forma, por razonabilidade, deveríamos nos decepcionar com nós mesmos e não com os outros. Os outros são os outros e só. Nós esperamos demais, projetamos demais, idealizamos demais... Lembro de uma música do Djavan (Esquinas) em que ele solta a angústia de quem se vê idealizado no processo de percepção humana e diz: “sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar
Eis o desabafo de quem está na outra ponta. A ponta do idealizado, aquele que sabe que tem que ter pra dar, mas não tem o que dar. O fluxo de decepções é mútuo. De um lado, o que espera olhando aquele que é aguardado. E o peso dessa espera que consome os dois lados quando eles se dão conta desse jogo de gato e rato, sem gatos e nem ratos.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O Cego e o oportunista

Sempre digo aos meus alunos que verdade não é nada mais senão aquilo em que a gente resolveu acreditar. Por conta desse movimento de eleições, particularmente, o que considero uma detestável necessidade, mas enfim, uma imprescindível necessidade, vimos essa máxima gritar na nossa cara todos os dias. Para ilustrar isso, sempre uso a ideia de que se alguém olha para o sol e o enxerga verde, ainda que todos ao seu redor demonstrem por A + B que não é verde, seus olhos continuarão a vislumbrar um intenso verde. 
Por vezes, as pessoas seguem vendo verde onde é vermelho, laranja, preto etc, porque, no fundo, para ela é verde e ponto final. Seus olhos não mentem. Entre aceitar o que você diz e o que os olhos dela veem, fica com seus olhos, pois o que você diz é o que o "seus" olhos veem e não os dela. Quem me garante que você não está vendo errado? 
Muitas vezes, quando alguém levanta suas armas para defender um notório canalha (coisa que não é rara na política) esta pessoa está movida por dois sentimentos: o oportunismo, afinal, no geral, ela costuma a ser tão canalha quanto seu defendido ou as coisas que seus olhos veem. Não se trata, nesse último caso, de um mentiroso, mas de alguém que está enxergando exatamente o que ele diz e não adianta fazê-lo retroceder. O seu candidato é do bem, tem boas intenções, não mente, é honesto. Os outros são do mal... enfim... Tudo aquilo que faz parte de sua verdade pessoal, as coisas em que ele optou por acreditar porque essa é a única realidade que consegue ver. 
Àqueles que enxergam (ou pensam que enxergam) caberá sempre a incerteza eterna de saber se o que vemos é o que as coisas são ou o que os nossos olhos insistem em nos mostram que sejam. Caberá sempre a dúvida de qual é o tamanho da nossa cegueira.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Brindemos as nossas derrotas


Aprendi que há algumas coisas na vida, entre tantas, a que não damos nenhum valor, que, longe de serem objetos de revolta e ira, deveriam ser louvadas e benditas. A traição de um “amigo”, a demissão em um emprego, um negócio mal sucedido, um politicamente correto “insucesso”. As pessoas têm tanto horror a derrota que criaram até essa palavra bonita, mas consideravelmente escrota.
Muitos repetem, quando eu jogo, jogo para ganhar. Errado. Jogue para dar o meu melhor e aprender o máximo. Ganhar ou perder é uma consequência disso. É consequência de como encaramos isso. Ninguém, busca a derrota, mas entenda que recebê-la é a grande oportunidade que a vida nos dá de aprender muito.
Na vitória, sente-se a sensação de grupo, de amigos, de lealdade, de um amparar o outro. Na derrota, não. Ela filtra quem fica por perto e, às vezes, nos deixa sozinhos para aprendermos que nesse mundo viemos sozinho e dele partiremos assim. Não é prudente nos amparar demais nos outros. Na vitória, ficamos satisfeitos e entendemos que “em time que está ganhando não se mexe”. Na derrota, não. Somos obrigados a mexer, a rever conceitos, a quebrar a casca e mudar. Na vitória, acordamos no alto da montanha. Na derrota, não temos montanha. Vamos ter que aprender como se faz uma.
Vivemos numa sociedade confusa em relação ao conceito de vitória e derrota. Mistura sucesso com dinheiro, derrota com falência ou instabilidade profissional, enfim, mais dinheiro e notoriedade igual a sucesso; menos dinheiro e ostracismo, derrota. Entretanto, o problema não é o molde social do conceito, mas a sua aceitação dele.
Sendo assim, brindemos as nossas derrotas que nada mais são dos que as grandes oportunidades de crescimento de nosso espírito. Não falo em ser derrotado, mas em aprender a lidar com a adversidade e retirar dela o mais raro e escasso dos perfumes, o da maturidade.

Até porque tirar perfume de rosas é fácil, mas só os grandes mestres da vida são capazes de retirar o mesmo perfume de pedras.

domingo, 23 de setembro de 2012

O filme para adultos (sem noção) ou adolescentes (desesperados)

Sempre gostei muito de cinema. De tudo em cinema mesmo e desde sempre. Quando eu tinha uns 16 anos, a tecnologia de ponta eram os videocassetes com duas ou mais cabeças de leitura e gravação. Para quem não sabe isso era uma espécie de versão pré-histórica dos blue rays de hoje. 
Para um adolescente da época (déc. 80) não havia maior transgressão do que assistir a um filme pornô, na época era, simplesmente, filme de "sacanagem", no vídeocassete. Hoje, esse termo caiu em desuso, pois só se refere ao que é exibido pela TV câmara ou a TV senado, o reduto da mais devassa sacanagem no país. Um dia eu tive essa oportunidade e, meio às escondidas, aluguei um fime nacional que me parecia bem interessante, pois tinha uma história que dava moldura à sacanagem toda. Mais ou menos como, hoje, são os depoimentos de CPI. 
O filme começava com um monte de gente dentro de uma Variant velha meio bege indo para um sítio, o motorista dava trancos violentos no volante e gritava alguns palavrões. Ao chegar no sítio, havia a carcaça de um animal morto e um dos “atores” abaixou ao lado, tirou uma flautinha doce de plástico e começou a tocar. Tocava mal pra cacete e aí percebi que aquele filme era de sacanagem mesmo. Chegando à casa do sítio, um lugar meio lúgubre, começou o rala-e-rola. Quando os caras e as mulheres tiraram a roupa, eu poderia jurar que eles estavam fazendo aquilo por necessidade, que o cachê ali era um café com leite e um pão com manteiga. As moças eram de uma magreza e uma feiúra de dar dó, Já os rapazes, era o contrário, eram de uma feiúra e uma magreza de dar dó. Uma das moças era tão peluda que parece que escondia um gato angorá nos suvacos e na virilha. Eram momentos de horror. Poucas vezes na minha vida vi uma coisa daquele jeito e repetia para mim: caramba, gastei meu dinheiro com essa merda! Sacanagem, sacanagem...! Assisti a mais alguns minutos de filme o suficiente para não entrar em depressão profunda e ao mesmo tempo ter certeza de que aquilo era "aquilo" mesmo. As revistinhas não se mexiam, mas eram mais agradáveis de se ver, pensei. Por muito anos levei esse trauma comigo e perdi completamente o interesse pelos filmes do gênero. Fui superar isso anos depois, mas mesmo assim, ainda sou capaz de apostar que tem gente que ainda trabalha por um lanchinho e pelo vale-transporte.

sábado, 15 de setembro de 2012

Reflexões "sobre" as esteiras ergométricas

Há muitos anos comprei uma esteira ergométrica. É.. daquelas esteiras elétricas que lhe dão a sensação de fila de banco, você anda, mas não sai do lugar. Usei um tempo, cansei, abandonei na casa dos meus pais. Tempos depois trouxe para minha casa onde minha esposa usava com frequência. Ela quebrou, comprei outra que também quebrou.
As esteiras ajudaram muito as minhas roupas ficarem menos amassadas e, no tempo que tive uma em casa, andei consideravelmente menos amarrotado. Abandonei-a solenemente. Entretanto, devido a problemas de saúde no início do ano, acabei tendo que voltar à rotina de esteiras. Desta vez, em uma academia em minha cidade. Cansei entulhar minha casa com esteiras.
O que eu desprezei durante tanto tempo é o papel da esteira nas nossas reflexões. Na esteira, pensamos coisas, organizamos as ideias, fazemos planejamentos e até escrevemos coisas que mais tarde vão virar postagens em blogues. Tudo isso para esquecer que estamos ali. Isso, até hoje, pelo menos para mim, é a melhor estratégia para fazer essa rotina de exercício físicos e romper o sedentarismo.
São 60 minutos de reflexões e abstrações. É mais ou menos como se eu deixasse o corpo lá fazendo caminhada e levasse a alma para um local mais agradável como a cadeira na frente do computador, por exemplo. Enfim, já dominei a técnica e fiquei bom nisso.
Mas sabe que, no fim das contas, quando volto para meu corpo e o encontro suado e cansado, pego-o de volta como uma bolsa que deixei no guarda volumes, vou para casa, tomo um banho e começo meu dia... livre e leve, com quilos e quilos a menos de peso na minha consciência. 
Estranho, mas sabe que a perda de peso mais significativa foi essa. Perdi muitos e muitos quilos de peso na consciência de sedentario rumo a um infarto ou a uma doença que me incapacitaria. Emagrecimento de consciência é uma espécie de efeito colateral das esteiras.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A foto, o photoshop e a funkeira


Outro dia, eu assistia na TV a um programa de entevista em que o Danilo Gentili recebia uma moça que canta funk chamada Valeska Popuzada e, lá pelas tantas, ele tocou numa questão delicada, uma foto no carnaval em que ela aparecia no carro alegórico de uma escola de samba com um bumbum bem deformado. Ela ficou sem graça e disse que aquilo era sacanagem, não era aquilo, mas acabou admitindo que nunca negou que tivesse celulite... enfim, admitiu que é normal.
Mas ao que as pessoas não atentaram é para um fato interessante sobre fotografia. Primeiro, uma bunda daquele tamanho, se não tivesse uma celulite, seria feita de louça e, ao que parece, não é de louça ou já teria quebrado. Outra coisa, e mais importante ainda, ela estava sambando numa trepidação intensa do bumbum. As fotos parecem não ter sido tiradas de longe e nem foram  tiradas com câmeras dessas que se compra no balcão de lojas de eletrodoméstico.
Em ambientes de luz irregular como é o caso das fotos comentadas, o fotógrafo usa fortes flashes que obrigam que o obturador (o buraquinho por onde entra a luz na câmera) abra com muita velocidade. Bingo! Quando o obturador abre e fecha com grande velocidade, por exemplo, ele capta o movimento em uma micro fração de tempo. Para se ter uma ideia, se fotografarmos uma pessoa falando nessas condições, o cara fica com jeito de maluco, boca meio aberta, olhos fechados.. enfim, horroroso. Se o fotógrafo deixar sem o flash, o obturador automaticamente ficará aberto por mais tempo para captar luz e, com uma pessoa se mexendo na frente, vai gerar uma foto borrada.
O que aconteceu ali foi isso uma foto batida de mais próximo, com maior velocidade, pegou o micro momento em que o bumbum e suas naturais celulites estavam subindo e descendo. Daí, aquela imagem esquisita. Quando comentei com minha esposa que havia escrito um texto explicando isso, ela logo atirou: - ê.. você defendendo a bunda da mulher!
Não. De modo algum, só estou explicando um detalhe que para a maioria das pessoas passa completamente despercebido... pois é... apaixonados por fotografia percebem fotos além das bundas.

sábado, 8 de setembro de 2012

A semana do óbvio ululante.. Não me diga!

Segundo o dicionário, o adjetivo "ulutante" significa aquilo que grita, que uiva, que vocifera. Para Nelson Rodrigues, esse era um bom adjetivo para aquilo que está na cara de todo mundo gritando e que ninguém se toca muitas vezes. Pois, então, essa semana foi uma ode ao óbvio ululante. Pessoas públicas foram a mídia para declarar que é relativamente óbvio e, o mais impressionante, é que a mídia dá uma baita cobertura a isso como se estivesse apresentando a última novidade. Até, hoje, realmente não sei se é sério ou se isso é uma grande e genial ironia dos meios de comunicação.
Não sei e não quero arriscar nenhum palpite.

Kelly Key declara...

Não me diga. Eu iria morrer sem sequer imaginar isso. Baba baby baba...

Mulher pera faz o seu corpo a corpo com o eleitorado e dispara...

Mulher pera, mulher pera.. huummm não sei não estou ligando a bunda à pessoa.

Tammy Gretchen confessa....

Você acha??? Olha só.. ela acha.. só acha.

É... Tá faltando assunto na mídia. Daqui a pouco trazem uma Luiza do Canadá de novo só para variar.

domingo, 2 de setembro de 2012

Mais velozes, mais furiosos, menos criativos....


Enquanto isso, numa reunião de roteiro de filmes em Hollywood.

Diretor - Estamos reunidos para elaborar a base do roteiro do novo filme de Velozes e Furiosos. Velozes e furiosos IX. Quero ideias, inovações, novidades, quero romper com as expectativas...
Roteirista 1 - Que tal carros esporte velozes?
Diretor - Boa.. original.
Roteirista 2 - Carros furiosos vermelhos e amarelos e em tons metálicos...
Diretor - ISSO. Como eu não pensei nisso.
Roteirista 3 - Atores fortes e sarados com ar de bad boy e tatuados. Conclui o roteirista esquistão
Diretor - Meus Deus... é isso mesmo. É um novo conceito, uma nova leitura da série...
Roteirista 1- ...mas tem que ter mulheres gostosonas de shortinho e calça justa...
Diretor - Claro. É inovar. Trazer o que não se mostrou até agora.. Boa!
O roterista esquisitão fez muxoxo.
Roteirista 2 - ...e eles tem que ser rebeldes, furiosos.. que tal.. um bando fora-da-lei..
Diretor - Legal, mas não podem ser traficante! Definitivamente. 
Roteirista 2 - Claro que não. Eles são caras maus do bem.. injustiçados pelo sistema.
Diretor - Isso, isso, isso.. Pulava de alegria o diretor com as ideias novas. Mas falta uma história, um enredo... não sei.
Enquanto isso, o rapaz que servia os cafés sentiu-se compelido a dar palpites.
- Que tal vingar um irmão que sofreu uma injustiça ou cometer atos criminosos para salvar um amigo.
O diretor olhou espantando com tamanha criatividade e disse:
- Isso é que é genialidade, criatividade, originalidade... senta aí e me conta Porsche ou Ferrari?
- Ferrari, falou o rapaz triunfante sentado confortavelmente sobre a perna direita do diretor...
- Isso, isso, isso... bradou o chefe dando soquinhos na mesa.
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ironia 
(latim ironia, -ae, do grego eironeía, -as, dissimulação, ignorância) 

s. f. 1. Expressão ou gesto que dá a entender, em determinado contexto, o contrário ou algo diferente do que significa. 2. Atitude de quem usa expressões ou gestos irónicos3. Sarcasmo. 4. Acontecimento ou resultado totalmente diferente do que eram as expectativas (ex.:ironia trágica).

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Um blefe por uma bela história


Toda vez que lhe perguntavam seu nome ele respondia: - Shihum. As sobrancelhas das pessoas se franziam. Ele, então, explicava que Shihum fora um guerreiro chinês da dinastia Ming que durante as lutas de libertação de seu povoado no ano de 1624, deparou-se com um dilema que o colocava entre lutar pela liberdade ou buscar abrigo para os seus filhos nas montanhas. O guerreiro fez um belo discurso enfatizando que a uma vida sem liberdade e fugindo preferia a morte. Depois disso, lançou-se de peito aberto contra os inimigos e como protegido pelos deuses derrubou uma tropa de mais de 100 guerreiros. Obviamente, isso é uma lenda, mas seu nome ainda é cantado em versos épicos da cultura popular da Manchúria como um símbolo da coragem e da liberdade. 
Tanto é assim que o governo comunista baniu de seu calendário as festas dedicadas a lenda de Shihum para que o povo não passasse a cultuá-lo como um ícone libertário e coisa e tal. Coincidentemente, concluía, Shihum significa em chinês arcaico, coração livre ou , em um sentido mais metafórico, aquele que liberta corações almas.
Todos ficavam bestificados com a bela história e lamentavam não terem algo a contar sobre seus nomes que fosse tão bonito e marcante. Algumas vezes, havia até algumas lágrimas diante da narrativa de Shihum, o libertador de corações.
Quando chegava em casa, dona Shirley e seu pai Humberto sempre o ensinavam que mentir era coisa muito feia e inventar histórias era um hábito repreensível. Mas, afinal, que graça teria se ele contasse que seu nome era um pedaço do nome da mãe e outro do pai? E quando alguém conhecia seus pais e associava uma coisa a outra, ele, com ar de enfado e superioridade, simplesmente, comentava: - coincidência, mera coincidência.
Afinal, uma bela história é uma bela história, não é?  

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O violoncelo no canto da sala


Estudei dois anos de violão clássico no Pró-Música em Juiz de Fora e parei, por causa do meu mestrado em Letras. Tempos depois, estudei violoncelo em Valença... mais uns dois anos e parei por causa do doutorado. Tentei retomar os estudos recentemente, mas com dois filhos, casa e trabalho, fica difícil. Enfim, aguardo o momento de retomar mais uma vez e, quem sabe, parar por outra razão.
As pessoas podem dizer que tudo foi uma questão de falta de disciplina e força de vontade e as deixo livres para os julgamentos, mas retruco que não foi. O meu violoncelo repousa em meu escritório no canto, sob um suporte próprio para o instrumento. Todos os dias eu o vejo, todos os dias ele me vê.
Ele fica ali para me lembrar que mesmo que a gente tente e pare, e tente de novo. O importante é continuar. Paradas são vieses estratégicos, perder de vista o que queremos é outra coisa. Isso é desistência, isso é capitular. 
Eu sempre digo a minha esposa que uma das metas de minha vida é me formar em violoncelo em um conservatório musical. Eu sei, ela sabe e ele, canto da da sala, sabe também. Ele não desistiu de mim e nem eu dele. Será aos 50 anos, aos 60 anos, aos 70? Não sei. E nem ele sabe, mas, pacientemente, me aguarda no canto da sala, me espera com seu olhar marrom.
O que mantém a certeza dele sobre minhas promessas é que ele sabe que podemos esquecer de tudo, mas nunca esqueceremos quem somos, nossos sonhos e em que acreditamos. Isso é atemporal.
Enquanto isso, ele me aguarda. 
Deixar os seus "violoncelos" no canto da sala é uma boa receita para nunca se esquecer de quem se é.

domingo, 19 de agosto de 2012

A prática do ócio produtivo


Um sociólogo italiano chamado Domenico De Masi, escreveu há alguns anos um livro intitulado "O ócio criativo" e,  nele, defendia o ócio como ambiente de criatividade uma vez que o trabalho contínuo e metódico conduzem ao desgaste e a pouca produtividade. Li esse livro na época e entendi a mensagem como um alerta para aqueles que acham que produzem alguma coisa porque trabalham 14 horas por dia. E, na época, eu estava entre esse iludidos.
Empresas como a Microsoft ou a Google já entenderam que a capacidade de trabalho de um homem se mede por sua produtividade e essa não tem nada a ver com o tempo que ele fica sentado em um escritório. Veja que posso ter um funcionário que fica 8 horas dia no trabalho (jogando paciência ou lendo facebook) produzindo menos do que outro que fica 3 horas e trabalha com metas de produtividade definidas. 
Vou além. Defendo o ócio "produtivo" não na acepção exata de De Masi, mas no sentido de abrir pequenos momentos e atitudes ócio que funcionam como válvulas de escape (como as válvulas das panelas de pressão). Por exemplo, no meio do trabalho, fazer coisas como jogar paciência, bater papo ou navegar no facebook funciona como uma maneira de aumentar a produtividade pelo alívio da pressão contínua. 
Lógico, não se trata de uma política da empresa incentivar o funcionário a ficar à toa, mas fazê-lo entender que ele vale pelo que produz e não pelo tempo que fica entre ponto de entrada e saída. Por fim, isso é uma postura que devemos adotar para  nosso dia-a-dia. Fazer nada de vez em quando é uma maneira interessante de se fazer alguma coisa. Falta encontrar o equilíbrio nisso e aprender a nos permitir.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O mal resolvido - o dilema do macho


A autoestima masculina não nasce necessariamente no mesmo lugar em que nasce a da mulher. Fomos educados para sermos os donos do poder, o mantenedor, a viga mestra da sociedade. Somos o todo poderoso macho adulto.
Nem tão poderoso, pois estamos submetidos a todas as inetempéries de todos os mortais sejam homens ou mulheres. O poder representado pelo dinheiro e pela dominação sexual pode se esvair com muito mais facilidade do que imaginamos e perdê-los implica um ataque arrasador à autoestima masculina.
Entretanto, muitas vezes, o dilema é a causa da grande perturbação. O dilema de perder o dinheiro, mais palpável, ou o dilema da sexualidade. A sociedade esperava que ele crescesse, casasse, arrumasse filhos e fosse aos domingos almoçar na casa da sogra. Mas nem sempre é assim que funciona. Ele até cresceu, mas juntou com o namorado, criam um Poodle e pensam em adotar uma criança. Bomba!
Quando o homem tem bem resolvida essa questão na sua cabeça, a coisa flui de maneira maravilhosa e não há problemas. Tive colegas de trabalho homossexuais que sempre foram pessoas e profissinais excelentes, não por sua opção, mas porque ela era bem clara para eles. Estava tudo bem resolvido.
Já os mal resolvidos que conheci se tornavam pessoas agressivas, competetivas ao extremo, fofoqueiros, enfim, conseguiam agredir o mundo inteiro porque, no fundo, queriam era se agredir. Não ser o que a mamãe sonhou doía mais nele do que em qualquer outra pessoa.
Enfim, o problema não é a opção sexual, mas a maneira como lidamos com ela. Agora, quando você ouvir um comentário que termina com "bicha enrustida, é foda!"
Isso tem um fundo de verdade inimaginável. 
É foda mesmo.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O mito da mal amada - o drama feminino (e masculino)


Freud já dizia que o desejo do homem é ser objeto de desejo do outro e assim alimentamos nossa vaidade e direcionamos nossa libido. Com base nisso, é fácil entender a mal amada, ou para os mais curtos-e-grossos, a mal comida.
Elas se revelam em ambientes de trabalho ou acadêmicos, pois é o meio que lhes permite projecão e canalização da libido contida em outras áreas. Sendo assim, apesenta um comportamento obsessivo com perfeição e controle de tudo. Além é claro de uma tendência de agredir tudo aquilo que, de alguma formas, lhes ameaça o status ou o poder adquirido. Normalmente, são solteiras ou casadas frustradas e, normalmente, sem filhos...
Tudo isso nasce na rejeição sexual mesmo (no mal comida) uma vez que o sexo, para a mulher, tende a ser mais do que penetração. Envolve afeto e aceitação que passam pelo beijo, o toque de mão, uma conchinha depois da transa.. Sexo, nesse caso, é bem mais complexo do que para o homem que poderia ser reduzido, na maioria das vezes, como penetração, ejaculação e sono.
A mulher que tem essa parte mal resolvida sofre com a perda da autoestima de não se sentir desejada em uma sociedade "animal" em que, culturalmente, é a ela que compete o papel de rejeição do macho. Dessa vez, o macho não a quer. Ele a dispensa em uma inversão de papéis inconcebível.
A libido preciso ser direcionada para algum lugar, pois é uma energia que não se perde e seu compensatório deve ser feito. Dessa forma, toda aquela força se concentra em um aspecto, o profissional, e forma uma personalidade obsessiva e altamente tensional do ambiente. Eis o mal da "mal comida", explicado em parte.
Agora quando você encontrar com aquele pessoa do trabalho que apresenta esse comportamento será mais fácil entender o porquê de tanto azedume... Em parte, começou, em algum momento, na violação do axioma freudiano.

Próximo episódio: O macho mal resolvido 

sábado, 4 de agosto de 2012

Quando a ideologia legitima a violência...

Quando os argumentos cessam,
a violência convence.

Cresci em uma geração que aprendeu que violência de direita é crime, de esquerda, é luta por igualdade. Uma geração que trazia ídolos como Che guevara em uma camiseta de malha vermelha e se esqueciam de que aquela história de endurecer sem perder a ternura era conversa mole para boi dormir, pois, no paredão, chefiado por ele em Cuba, não havia ternura, mas ódio, revanchismo e loucura doutrinária. 
Falo isso, pois toda vez que vejo uma greve como foi a dos caminhoneiros recentemente, fico incomodado com os métodos de “convencimento”. Reinvidicar seus direitos, sejam eles justos ou não (não entro no mérito da questão aqui), é um direito seu, mas até que ponto o exercício do seu direito permite o cerceamento do meu. Vi na TV vários caminhoneiros (contrários à greve) que queriam trabalhar, mas tiveram o caminho bloqueado, o vidro do caminhão quebrado e sofreram ameaças físicas... E viva a democracia autoritarista que é professada pelo sindicatos há décadas. Você tem o direito de participar da greve e se não o exercer, nós o enchemos de porrada e tacamos fogo no seu caminhão... O que você escolhe? Nada como poder escolher, não é não?
Se a polícia tivesse intervindo e baixado a porrada nos líderes do movimento era um ato de violência e autoritarismo, mas se os líderes do movimento obrigam a adesão por meio de violência e coerção, não se trata de uma violência, mas de uma luta por direitos que conduzirão a conquistas para o bem comum... Sim. Entendi.
Quer dizer que dar um murro na cara de alguém não é violência, mas seu um homem de farda da um murro na cara de alguém é... Entendi.
Mas preferiria não ter entendido.

P.S.: E as viúvas do muro de Berlim retrucam que isso foi o que a TV mostra para desmoralizar os mártires do movimento. É verdade, esqueci que as TVs só mostram mentiras. Os únicos meios de comunicação que dizem a mais absoluta verdade são os jornaizinhos do PSOL, do PCB, do PC do B e dos sindicatos.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Todo mundo sempre acha que vale mais


Quando vejo uma greve na TV, sempre penso que ali está um momento desses. Não é dizer que não valemos o que achamos, longe disso, mas é um momento em que, de um lado da mesa, o chefe; de outro, o empregado, disputam os dilemas de quanto você vale, quanto você pensa que vale e quanto os outros acham que você vale.
Ainda sou daqueles que creem que se as pessoas valessem o que pensam, valeria muito a pena comprá-las pelo que valem e vendê-las pelo que acreditam... Ganharíamos uma fortuna em cada negociação. 
O fato é que nessa negociação tem o cara que sabe que você nem vale aquilo tudo, mas lhe convence do contrário e assume seu papel de reinvidicar o seu (o seu leitor) valor. E o que ele ganha com isso? Ganha um aumento no valor dele como defensor das causas de sua classe de valorização do profissional. Esse título lhe oferece uma projeção política, passa a ideia de que ele se preocupa com alguém (além dele, é claro) e lhe bonifica com um cargo poílitico de vereador, deputado ou outra função que lhe permite manter-se bem longe do que ele mais detesta na vida: trabalhar. Afinal, ele nasceu para a política... (sic)
E o mais interessante é que desde que o mundo é mundo sempre foi assim e as pessoas compram esse pacote com a certeza de que ele é o candidato que se preocupa com a causa. Com o tempo, as intenções se revelam, as pessoas se decepcionam e elegem outro mártir da causa que com o tempo se revela e aí.. bom, e aí vocês sabem o resto. 
Enfim, verdade é aquilo em que nos convém acreditar, não é mesmo?

sábado, 28 de julho de 2012

Automedicação: o que há por trás da bondade de branco


O governo, primeiro, proibiu que remédios básicos como análgésicos, antitérmicos, antiácidos etc ficassem mais acessíveís ao consumidor nas gôndolas de farmácia. Tudo isso para evitar a automedicação o grande mal (segundo eles) de todos os males da modernidade. Um hábito terível que mata milhares e milhares de pessoas todos os dias, ou seja, algo muito pior do que as guerras, a AIDS ou o mesmo o câncer... (??).
Nessa semana que passou, a ANVISA voltou atrás. Podem colocar as Aspirinas em local acessível, pois a lei anterior não reduziu o mal do século XXI. E os homens de branco gritaram: isso é um retrocesso, milhões morreram por se automedicarem com seus comprimidos para azia. E os laxantes então.. Isso vai dar merda!
A verdade é que qualquer droga (manipulada ou natural) pode matar. De um quimioterápico a um comprimido de Melhoral ou um chá de boldo, estamos lidando com substâncias que pode levar o indivíduo à morte. Mas fazer uma tempestade em copo d´água por causa disso para obrigar que um enjoo matinal, por exemplo, o leve ao médico me causa mais estranheza do que me percepção de zelo. Imagina se todas as vezes que tivéssemos uma dor de cabeça fossemos ao médico? É lógico, dores persistentes, pedem isso, mas não é esse o caso. Cada enjoo, médico.. cada azia, médico... iria faltar médico.
Essa indignação com o uso de medicamentos simples (não estou falando de antibióticos ou coisas parecidas, claro), as proibições e os discursos inflamados parecem atender muito mais ao fortalecimento do ego e do poder corporativo de uma classe do que de qualquer preocupação com a saúde das pessoas. Parece reforçar aquilo que muitos médicos repetem a seus pacientes, ainda que, muitas vezes, não com essas palavras: Creiam em mim. Eu sou a verdade e a luz e aquele que crê viverá. Eu estou imune a erro e sou a única pessoa no universo capaz de saber o que é bom ou mau para você.
Desculpem, mas isso não cola e essa é uma dor de cabeça com que a classe médica vai ter que conviver para sempre...
Nesse caso, sugiro uma Neosoldina... mas se persistirem os sintomas procurem um médico, tá!?

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Valei-me, meu São Cristóvão! Quem deu a carteira a essa criatura?


Hoje é dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas. Muita gente não sabe, mas eu tenho como hobby a hagiologia, estudo da história da vida de homens santos de acordo com a tradição católica. O que isso tem a ver? Ah sim.. Tem a ver que São Cristóvão tem uma história linguística interessante.  
Assim como muitos santos, talvez ele não tenha existido de fato, mas ficaram como bons exemplos de comportamento cristão em seu personagem pelas lendas que atravessaram o tempo. E talvez, se tenha existido mesmo, não tenha se chamado Cristóvão. 
Cristóvão tem origem no grego em Άγιος Χριστόφορος (alguém consegue ler isso?), e, posteriormente, possui seu correspondente em latim Christophorus, que, numa análise etimológica significa “aquele que leva (faros) Cristo (Christo) em seu coração”. Uma referência óbvia a seu comportamento cristão. Mais tarde, o santo passa a ser representado com o menino Jesus no ombro (assim como muitas imagens trazem-no junto a si para simbolizar o fato de levar Cristo consigo.. Lembra de Santo Antônio?). Da metáfora  de “levar Cristo no coração” para carregar Cristo de um lado para outro surgiu a sua referência de como aquele que conduz alguém fisicamente. Logo, padroeiro dos motoristas. Enfim, é isso. 
No sincretismo religioso das culturas afro, o santo corresponde a Xangô, que até onde sei não tem muita a ver com motoristas ou coisa parecida. Até por que diriam que representar o orixá associado a um motorista de ônibus por exemplo, seria preconceito, discriminação... Uma besteira dos tempo modernos.
Em tempo de engarrafamentos, brigas de trânsito e tanto estresse, precisamos mais de proteção do que nunca. E como dizia a vovó, se canja de galinha e reza nunca fez mal a ninguém, abençoai-nos, São Cristóvão.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Feliz dia do EX-amigo.... Ué? Por que não?


Hoje, se comemorou do dia do amigo. No facebook, pipocaram mensagens de “meus amigos são loucos e não vivo sem eles”, “são irmãos que a vida me deu”, são isso, são aquilo. Fico feliz que as pessoas tenham tantos amigos para sempre ainda que saibamos que o pra sempre sempre acaba. E essa é a única certeza que a vida nos dá.
Entretanto, seguindo minha tradição de pensar diferente para não correr o risco de não estar pensando quando todos pensam igual, quero comemorar o dia do EX-amigo. Esse grande professor que nos ensinou que, por mais que confiemos, por mais que amemos, sempre há um limite para tudo e que interesses pessoais, desejo por poder, dinheiro ou outro símbolo de status são capazes de reverter completamente qualquer valor ético menos sólido. 
O EX-amigo, cujo padroeiro poderia ser São Judas Escariotes, nos deu lições de que nada é eterno e, em condição de encarnado, interesses diversos conspiram para que as pessoas ajam em função de seus interesses pessoais e atropelem todos e tudo que veem pela frente.
Deste grande professor, o EX-amigo, não devemos guardar mágoa, mas uma gratidão por tudo que aprendemos com ele. E, obviamente, a devida distância para que ele não nos dê uma revisão de conteúdo compulsória de tudo que ele é capaz de fazer. 
Lembremos que perdoar é um dever cristão, mas esquecer é uma estupidez humana. 
E viva o EX-amigo!

terça-feira, 17 de julho de 2012

A nossa idade é a idade que a gente tem... e não sejamos ridículos.


Eu ouvi , durante a vida toda, as pessoas dizendo que a idade está na cabeça de cada um. Afirmação que dava a condição de uma pessoa de 40 anos agir como um garoto de 17, pois ele tinha uma cabeça jovem. Quando jovem, eu tinha pouca condição de contestar essa afirmativa assim como outras sem sentido do tipo a voz do povo é a voz de Deus (Acho que só Barrabás achou sensata essa afirmativa). Hoje, aos 41 sinto-me com uma cabeça de 41 dentro de um corpo de 41, vestido como um homem de 41 e fazendo coisas que um homem de 41 que tem dois filhos, esposa e contas faz.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O que faltou aos japoneses nos sobra, cara de pau


O governo japonês divulgou hoje um relatório final sobre os acidentes na usina de Fukushima e o que me impressionou foi a maneira como eles conduziram o processo. Enquanto averiguavam as causas (não para encontrar alguém para Cristo, como fazemos aqui) reconstruíam o país. Reerguiam cidades, estradas, logradouros em geral sem a tradicional roubalheira, burocracia e má fé característica de países como o nosso. Aqui, quando ocorre uma desgraça (como aconteceu em Petrópolis e Friburgo ano passado), os políticos esfregam as mãos e comemoram: - oba! É verba sem licitação para a gente "se arrumar"! E os comerciantes eufóricos sorriem de orelha a orelha: - oba! Vamos vender galões de água de 5 reais por 50.. oba.. Vamos ficar ricos...
Mas enfim....Os japoneses chegaram a conclusão que houve falha humana "cultural" no processo que envolveu as condutas durante o acidente. Concluíram que o Tsunami não pode ser responsabilizado (Como assim??? No Brasil, a seca e as chuvas são as únicas culpadas de tudo. Esses caras têm muito que aprender com o nosso povo...) e que o problema foi cultural mesmo, pois os japoneses são educados para não questionar as ordens de seus superiores, ainda que essa conduza ao desastre.
Enfim, eles teriam que aprender a questionar, ir de choque a uma questão cultural nipônica, a obediência.
Pois bem... Se o tsunami tivesse passado por aqui já teríamos resolvido o problema. O culpado era o Tsunami, as verbas já teriam todas sido desviadas e ajudariam na reeleição dos prefeitos e governadores para os próximos anos, seria aberta uma CPI que os deputados usariam para se promover como bastiões da ordem e moral, mas que não daria em nada e acharíamos um empresário para Cristo que seria demonizado pela imprensa e logo após esquecido. E, por fim, questionar é fácil para a gente. Ainda mais se envolve a ruptura com a inércia decorrente de nossa indolência natural, uma espécie de doença da alma comum por aqui. 
Afinal, para nossa desgraça, isso também é uma questão cultural.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

As pessoas e as outras pessoas


As pessoas querem que a gente odeie outros times que não sejam o nosso, mas não consigo ver inimigos a serem odiados e humilhados, mas gostos diferentes. As pessoas precisam que você compartilhe o que eles consideram belo justo, mas poucas vezes, lhe perguntam qual a sua ideia de belo e justo. As pessoas sentem necessidade de demonstrar algo que nem de longe sejam, mas se esquecem de saber se eu quero ver já que acreditar nem mesmo elas o fazem. As pessoas nos cansam e nem aceitam nosso pedido de tempo para descanso... Só no Vôlei  alguém nos leva a sério.
Acho que no facebook ou no mundo real, cada vez menos presente na vida social de tanta gente, as pessoas desejam que as conheçamos melhor e, para isso, se mostram no que são cada vez menos.
É isso. As pessoas investem para que sejamos cada vez mais idiotas perfeitos, mas esquecem que ninguém é perfeito. Logo, seremos falhos até em nossa estupidez.
E isso talvez ainda seja a esperança que nos resta.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Felizes aniversários nestas datas queridas...


Sempre dei pouca importância às datas comemorativas fossem elas quais fossem. A começar pelo meu aniversário que considero de há muito tempo uma mera formalidade que enche nosso perfil no facebook e Orkut de parabéns de muita gente que não se importa e nunca vai se importar com você, mas que se sente compelida colocar um insosso "parabéns, felicidades" na sua página da rede social.
Há muitos anos, acho que todos os dias são dias muito interessantes e isso esvai toda a graça dos chamados dias especiais. Entretanto, é importante perceber que mesmo entre todos os dias especiais, há um que é mais especial que os outros, que merece pausa, reflexão, cuidado, enfim, merece ser comemorado à moda própria. Pode ser o seu aniversário, o Natal, a Páscoa, o dia dos namorados.. sei lá. Pode ser um dia qualquer que você escolher. Que tal uma segunda-feira?  A odiada segunda-feira...
Sentado no chão brincando com meu filho caçula de bloquinhos de borracha empilhados, entre as risadas dele quando derrubava os blocos e suas caretinhas, entendi que somos o momento que vivemos. Entendi que, hoje, estou ali com ele, brincando, cuidando, mas que, amanhã, posso ser só uma sombra na lembrança dos meninos, uma fotografia numa folha, um retrato 3x4 em um documento envelhecido.
Em face dessa incerteza, tomou-me de assalto, não uma angústia, mas uma intensa vontade de escolher um dia para comemorar.
Escolhi as pessoas, escolhi o dia, desliguei o telefone, não abri a internet, sai por aí com eles para uma festa a quatro (Eu, minha esposa, Daniel, meu mais velho e Bruno, meu caçula). Sai para comemorar o melhor dia que um homem pode ter, o dia de hoje.
O mais é só especulação do que eu talvez nem sequer venha a existir.

Quinta-feira (dia 21), saio por aí para comemorar com eles o melhor 41º aniversário que um homem pode ter. Parabéns para todos nós, nestas datas queridas....

sábado, 16 de junho de 2012

A formatura e o pum


Durante anos como coordenador, diretor, professor etc em instituições de ensino superior tive que suportar as terríveis formaturas. Costumo a denominar isso como momento mais pum da nossa vida social e acadêmica. Afinal, formatura é igual a gases, incomoda todo mundo em volta, só o dono que não acha que seja tão ruim.
Nesse tipo de cerimônia, para o bem de todos, seria interessante se fosse considerado crime hediondo coisas do tipo:

- Discurso citando os coleguinhas (todos os 70, um por um), olhando para trás e fazendo vozinha de Xuxa em depoimento para o fantástico, carinha de choro e tudo mais. E o fulano, heeeiiin... sempre dedicado.... e a Fulana, heeeeiiiinnn, sempre atrasada..;
- discurso de paraninfo longos, expelindo erudição duvidosa e tentando ser engraçado;
- músicas - Campeão, vencedor... We are the champions, Você não sabe o quanto eu caminhei..., Carruagens de fogo, Can't you feel it, Acaboooou, acaboou (E o pior é que não acaba), Tchau, I have to go now, I have to go now... e outras mais que se os seus autores recebessem por direito autoral cada vez que tocassem em formaturas, os mesmos estariam pagando café para o Bill Gates. 
- atraso na entrada de formando. Acreditem.. formando não é noiva. Pode chegar na hora.
- becas quentes e desconfortáveis - ali dentro faz um calor dos infernos em qualquer época do ano.

Enfim, uma tortura para quem está ali, à espera do fim e da festa, dos comes e bebes. 
Olho essas coisas como um passado tão distante na minha história, mas que se aproxima com o crescimento dos meus filhos... dessa eu não vou conseguir fugir. 

Mas vou avisar... se tocar We are the Champions, eu subo palco, dou um acesso de loucura e faço vexame. 

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Doutor é quem fez doutorado... às vezes...


Ter uma graduação antigamente era coisa de luxo. Logo após, ter especialização é que era o bicho. Mas a coisa banalizou e, na década de 90, o governo decidiu deixar correr solto a tal da especialização e focar a atenção no mestrado e doutorado. Aí a coisa ficou séria mesmo. A CAPES apertou até o pescoço e criou um sistema bem rigoroso de controle disso.
Entrar em um Mestrado ou Doutorado na final da década de 90 era o cão chupando manga. Entrentanto, como nem tudo que reluz é ouro, o governo se viu forçado a ampliar o número de vagas e receber todo tipo de trabalho para aumentar o número de mestres e doutores. E aí é que a coisa não fica mais muito séria...
pipocam teses e dissertações apresentadas Brasil afora com temas do tipo: A sexualidade dialética defronte a aporia pós-moderna da legitimação da identidade etno cultural: um estudo do símbolico do mítico regional". Ou seja, enfim,... talvez, sei lá.. bacana...legal né... huummm O trabalho trata de... enfim. sei lá.. porranenhuma. Mas o título é complexo para caramba e quem escreveu deve ser culto e inteligente de montão. Basta isso para o autor já se sentir realizado.
Quando estava no meio acadêmico com mais frequência eu costumava dizer que era a síndrome de carnavalesco cuja fantasia intitula-se "Alegria e glória, apogeu e ascensão apoteótica do deus sol athualpanah na terra dos sacríficios e louvores de Shmirraarum do Império, Arkaraam do oriente."
Enfim, significa... bem..o cara é culto para caramba e deve saber o que está falando.

sábado, 9 de junho de 2012

Liga dos anti-nada (eu sei que não se usa hífen aqui)


Vejo, nos últimos tempos, uma proliferação dos anti-qualquer-coisa: anti-flamenguistas, anti-vascaínos, anti-botafiguenses, anti-governo, anti-oposição, anti-ruralistas, anti-ambientalistas.. Enfim, no fundo, um monte de antipáticos com seus pensamentos antiquados. 
Ser anti-qualquer-coisa, ainda mais sendo anti-time de futebol é uma das coisas mais idiotas que uma pessoa pode encontrar para receber como rótulo. E olha que tem gente aos montes que cola imagem no facebook com seus gritos de ódio a isso, ódio àquilo etc. Só uma cabeça muito vazia e um intelecto muito limitado é capaz de se ocupar de fazer banner para chamar torcedor do fluminense de viado, flamenguista de negro, favelado e ladrão ou botafiguense de pobre, chorão e, esporadicamente, favelado.
É um agrupamento de preconceitos tão escrotos orquestrados por gente que soma à falta de o que fazer uma ausência total de reflexão e mesmo leitura de mundo. Pois é.. "os antis" são assim: cabeças vazias, mas  intestinos lotados que pensam por eles.
Entretanto, no embalo do modismo, deixei as críticas e minha implicância de lado e resolvi criar a liga dos anti-nada. Sou anti-nada, nada me incomoda, ou melhor, não sinto necessidade de externar nenhuma das minhas frustrações sobre ninguém que, com certeza, são do tamanho da minha capacidade de lidar com elas. 
Não sou "anti" nem aos imbecis que são anti-qualquer coisa, pois entendo que a ignorância de não se ter consciência do que se é torna-se uma bênção que a vida deu a algumas pessoas para amenizar a dor de ser o que se é.
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Ah sim... Só para constar. Fiz um uso bem particular do hífen (a ideia é enfatizar o prefixo) no texto por razões estilísticas, mas saiba que:


Usa-se o hífen diante de palavra iniciada por h (anti-horário), se o prefixo terminar com a mesma letra com que se inicia a outra palavra (anti-inflacionário) ou se o prefixo terminar por vogal e a outra palavra começar por "r "ou "s", nesse caso, dobram-se essas letras (antissocial).

terça-feira, 5 de junho de 2012

Facebook, minha carência agora é nossa.


Já reparou como as pessoas andam carentes? Principalmente, no Facebook. Como professor há muitos anos, tenho mais de 1500 contatos e vejo uma enxurrada de publicações de gente nova lamentando estar sozinha, sem ficar com ninguém, chorando por não saber o que é namorar no inverno, implorando por uma atenção, por um carinho ou, que seja, por um breve amasso (assim se dizia na minha época. Palavra velha, né?)
Esse público de choronas (e alguns poucos chorões) lamentosas é composto basicamente por meninas novas que poderiam bem estar longe do computador resolvendo esse problema. Mas não.. estão ali entre lamúrias e postagens de "como estou só... ninguém me quer... não estou pegando ninguém.. ai de mim.. coitada de mim.. não sei o que é um carinho
Entretanto, há também as revoltadas do afeto que dizem coisas do tipo: " estou sozinha porque quero", "estou sozinha porque não tem ninguém ao meu nível e por menos eu não quero". "Aguardo alguém que me mereça". Isso se trata, obviamente, de uma baita mentira e um grito de desespero final. Algo como se dissesse: S.O.S - pelo amor de Deus, me convence de que estou errada e ainda estou "pegável". Alguém, por favor, alguém....
Desculpe-me, mas isso é postagem predominante de moças, pois rapaz com esse papo é muito estranho. Imagine seu colega chegando perto de você, homem, e se abrindo:
- pô, cara, estou assim meio estranho, carente, sentindo falta de braços em torno do meu corpo, mãos dadas, sei lá... Há muito tempo que não fico com ninguém. Sinto falta de uma boca tocando a minha e de dormir de conchinha no inverno...
- Peraí, peraí.... "véi, cê tá dano", véi?
É o mínimo que o cara vai ouvir.

... Caramba! Ô terra de gente carente esse Facebook!