sábado, 30 de agosto de 2008

Carona e fiado, só amanhã.

Para início de conversa...
O foda de dar carona a um desconhecido como gentileza é que a partir da primeira vez se torna obrigação e não gentileza já que o desconhecido, agora, é conhecido. Pode parecer cruel ignorar aquela figura com o dedo polegar em riste naquele movimento de vai e vem, mas veja pelo lado do motorista.
O carro é o templo sagrado de um homem, lá tem as suas coisas, seu cheiro, suas músicas etc. De repente, você cai na loucura de parar e dar carona para alguém. O primeiro problema é que o cara se sente na obrigação de conversar com você como gratidão. Isso acontece em detrimento do fato de você não estar nem um pouco a fim de conversar com ele.

- Pô, valeu mesmo!
E vai acomodando sua mochila no carro. Pronto já te invadiram, agora já era.
- E aí, você faz o quê?
- Professor.
- De quê?
- Português.
- Pô, português é difícil pacas. Cheio de regra...

Bom, agora seguindo o roteiro o cara vai dizer que ouviu dizer que é a língua mais difícil do mundo, que só português tem a palavra saudade e que tem um parente que fez ou faz Letras.

- Ouvi dizer que é a língua mais difícil do mundo. Tem uma prima minha que fez letras... Pó, é a única língua que tem a palavra saudade, né...

Bingo.
Agora, eu penso: peço para ele ver se o pneu de trás está furado e arranco bruscamente deixando-o para trás... Huummm é uma boa!
E o papo continua... cada vez mais desinteressante. Mas o cara tem que fazer uma social com você. E você vai dizer o quê? E aí filho, fica quietinho. Eu te dei carona, mas não estou a fim de papo. Faz um favor e valoriza minha gentileza com a boquinha fechada.
Cara, se você pensou isso você é um monstro... caramba! Que ser humano é você. Cruz credo!
Minha consciência doeu durante muito tempo, mas alguns anos de análise me aliviaram desse mal e hoje lido bem e até já bolei um roteiro de por que não dar carona. Veja bem:

1.estou tirando arrecadação dos transportes coletivos regulares. Não quero ser responsável por demissões nesse setor;
2.esperar no ponto é uma virtude. Não quero prejudicar o processo de evolução daquele pessoa como ser humano;
3.E se for alguém mal intencionado... um assalto, sei lá. Preciso me proteger. Sei lá.. vai que aquela velhinha com bolsas é uma espécie de Jason ou Freddy Gruger....

Diga não sem culpa! Alías, nem digo não...
Passo direto.

Em tempo: Aí você diz: se fosse uma gostosona na beira da pista aí você parava né? Pois é, aí é que não. Sabe como é.... soa como um tipo de vingança do tempo que eu andava a pé e o único sinal de dedo que ela faria para mim seria aquele do dedo médio erguido e os dois do lado abaixados.