Deu no Jornal Estadão - 21/01
Suspensão de cotas na UFSC causa polêmica no Estado
Na segunda, a Justiça determinou que o sistema fosse suspenso na univerdidade porque não foi criado por lei
Suspensão de cotas na UFSC causa polêmica no Estado
Na segunda, a Justiça determinou que o sistema fosse suspenso na univerdidade porque não foi criado por lei
Voltemos à política de cotas...
Ações afirmativas ou interrogativas?
Chega ao Brasil uma política que já é moda nos EUA há uns vinte anos pelo menos: a política de ação afirmativa. Para quem não sabe o que é isso é mais ou menos como a estória do português que chega em casa e pega a mulher o traindo com outro homem no sofá. Indignado, toma uma atitude: vende o sofá. Na verdade, piadas à parte, é fazer a lei chegar onde a justiça social continua a passar longe.
É importante se perguntar constantemente se reservar cotas de vagas para afro-brasileiros (agora não se pode usar outra designação) em universidade e em cargos públicos é uma solução razoável. A exclusão de milhões de brasileiros (aí incluo os negros, mulatos, pardos, brancos e índios) do sistema de ensino assim como das oportunidades no serviço público se dá (muito mais me parece) por uma exclusão nos acessos a meios de formação dignos e que habilitem o indivíduo à competição em condições de igualdade no mercado de trabalho.
O precedente é perigoso e estamos sob o risco de lotearmos o país em nichos étnicos e mesmo sexuais. Há algum tempo, li no jornal que um líder gay na Bahia exigia que o governo reservasse uma cota de vagas para os homossexuais. Já imagino, sancionada tal lei, um candidato a um emprego ser entrevistado:
“Gosta de Gloria Gaynor? Já fez teatro infantil? Foi criado pela avó? É sensível? Acha o Alemão ex-bbb um gato?”
Ou pior ainda, justifica o entrevistador ao candidato que foi rejeitado a uma vaga:
“Seu currículo é muito bom. O fato de você ter se formado em Harvard e falar 4 idiomas faz um diferencial significativo na sua proposta de trabalho, mas infelizmente... você não é gay e temos que preencher a cota gays como manda a justiça.”
“Mas, Sr... Eu nem gosto tanto de mulher assim. Sou solteiro... vê?”
“Não é o suficiente.”
“Uma vez... quando eu era moleque....”
“Não me venha com estórias. O próximo. Interrompe o examinador bruscamente.”
Mas voltando a questão das comunidades afro-brasileiras. E em uma hipotética situação em que dois homens empatam na disputa por um cargo público, um deles mulato com cabelo crespo, outro, mulato, mas com o cabelo cortado rente o suficiente para dificultar a identificação como crespo, mais ou menos, ou quase liso ou mesmo liso. Qual o critério de desempate? Espera-se o cabelo crescer para tomar uma decisão. E quem fez chapinha... como fica?
É lógico que, em uma situação hipotética (e até absurda, mas não impossível) como essa, se expõe o ridículo de tal lei. Entretanto, infelizmente, constatamos que se tenta resolver na caneta o que não se resolveu com trabalho. Não é através de loteamento das instituições para essas classes excluídas que iremos alcançar a melhor distribuição de riquezas e a redução significativa das desigualdades sociais, mas sim através de políticas de investimento na qualidade de ensino e geração de empregos. Ouvimos falar em política de ação afirmativa, mas e quanto aos trabalhos sociais junto às comunidades? Por enquanto, por lá só chegaram algumas ONGs com o patrocínio de estrangeiros. A quem serve essa política do sofá?
Por fim, ficam algumas perguntas no ar:
Por que é que só negros pobres precisam de ajuda? O que fazem os burocratas supor que nosso país é composto só por afro-brasileiros pobres? Será que também não é uma forma de preconceito?
Será que resolve vender o sofá?
Chega ao Brasil uma política que já é moda nos EUA há uns vinte anos pelo menos: a política de ação afirmativa. Para quem não sabe o que é isso é mais ou menos como a estória do português que chega em casa e pega a mulher o traindo com outro homem no sofá. Indignado, toma uma atitude: vende o sofá. Na verdade, piadas à parte, é fazer a lei chegar onde a justiça social continua a passar longe.
É importante se perguntar constantemente se reservar cotas de vagas para afro-brasileiros (agora não se pode usar outra designação) em universidade e em cargos públicos é uma solução razoável. A exclusão de milhões de brasileiros (aí incluo os negros, mulatos, pardos, brancos e índios) do sistema de ensino assim como das oportunidades no serviço público se dá (muito mais me parece) por uma exclusão nos acessos a meios de formação dignos e que habilitem o indivíduo à competição em condições de igualdade no mercado de trabalho.
O precedente é perigoso e estamos sob o risco de lotearmos o país em nichos étnicos e mesmo sexuais. Há algum tempo, li no jornal que um líder gay na Bahia exigia que o governo reservasse uma cota de vagas para os homossexuais. Já imagino, sancionada tal lei, um candidato a um emprego ser entrevistado:
“Gosta de Gloria Gaynor? Já fez teatro infantil? Foi criado pela avó? É sensível? Acha o Alemão ex-bbb um gato?”
Ou pior ainda, justifica o entrevistador ao candidato que foi rejeitado a uma vaga:
“Seu currículo é muito bom. O fato de você ter se formado em Harvard e falar 4 idiomas faz um diferencial significativo na sua proposta de trabalho, mas infelizmente... você não é gay e temos que preencher a cota gays como manda a justiça.”
“Mas, Sr... Eu nem gosto tanto de mulher assim. Sou solteiro... vê?”
“Não é o suficiente.”
“Uma vez... quando eu era moleque....”
“Não me venha com estórias. O próximo. Interrompe o examinador bruscamente.”
Mas voltando a questão das comunidades afro-brasileiras. E em uma hipotética situação em que dois homens empatam na disputa por um cargo público, um deles mulato com cabelo crespo, outro, mulato, mas com o cabelo cortado rente o suficiente para dificultar a identificação como crespo, mais ou menos, ou quase liso ou mesmo liso. Qual o critério de desempate? Espera-se o cabelo crescer para tomar uma decisão. E quem fez chapinha... como fica?
É lógico que, em uma situação hipotética (e até absurda, mas não impossível) como essa, se expõe o ridículo de tal lei. Entretanto, infelizmente, constatamos que se tenta resolver na caneta o que não se resolveu com trabalho. Não é através de loteamento das instituições para essas classes excluídas que iremos alcançar a melhor distribuição de riquezas e a redução significativa das desigualdades sociais, mas sim através de políticas de investimento na qualidade de ensino e geração de empregos. Ouvimos falar em política de ação afirmativa, mas e quanto aos trabalhos sociais junto às comunidades? Por enquanto, por lá só chegaram algumas ONGs com o patrocínio de estrangeiros. A quem serve essa política do sofá?
Por fim, ficam algumas perguntas no ar:
Por que é que só negros pobres precisam de ajuda? O que fazem os burocratas supor que nosso país é composto só por afro-brasileiros pobres? Será que também não é uma forma de preconceito?
Será que resolve vender o sofá?