sábado, 30 de abril de 2011

Por um mundo com mais bullying

O senador Roberto Requião (PR) reclamou de bullying da imprensa, porque o repórter perguntou se ele abriria mão da pensãozinha vitalícia de 24 mil que recebe como ex-governador do Paraná (arrancou o gravador da mão do repórter e ofendeu com palavras incompatíveis com sua função de senador da república). O deputado Jair Bolsonaro reclamou que é vítima bullying da imprensa só porque declarou que negros e homossexuais não são pessoas que não merecem o menor respeito, sequer talvez, sejam pessoas. Mussolini foi vítima de bullying e pendurado em praça pública. Getúlio foi vítima de tamanho bullying que acabou cometendo suicídio. E o bullying que sofreu o ex-presidente collor na época do impeachment? 
Vamos parar com essa babaquice de que essa palavra serve para todo tipo de coisa. Se o objeto do assédio é um homem público que atenta contra moral do cargo que ocupa, que tira proveito, que rouba, que viola às leis, que envegonha o país, quer tira proveito de seu cargo para se arrumar estamos lindando com um bullying com justa causa. Desejo que o CQC, o Pânico, humoristas, imprensa em geral façam da vida desses políticos o inferno na terra.. Renan Calheiros, Sarney, Requião, Bolsonaro e cia. Se esse é o tipo de bullying que eles estão reclamando, lanço aqui a campanha, “Contra políticos, mais bullying
Dessa forma, se o caso é esse, vamos lutar por um mundo com mais bullying.
Se alguém vier e criticar, já sabe né. Vou acusar você de que estou sendo vítima de bullying.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O eterno samba do crioulo doido

Lembro do jornalista Sergio Porto e seu samba do Crioulo doido escrito em 1968 e que contava a história de um sambista que escrevia letras sobre fatos históricos. Em certo ano, decidiriam que o tema seria a atual conjuntura política. Ele saiu juntando os pedaços dos fatos históricos, uma obrigatoriedade nos sambas da época desde o Estado Novo, que conhecia e escreveu um samba que não dizia nada com nada (Se não conhece, veja a letra aqui). Hoje em dia, o Stanislau Ponte Preta, pseudônimo do jornalista seria execrado pela patrulha do politicamente correto e seria obrigado a dizer samba do afrodescente portador de necessidades especiais e ainda assim seria odiado por estar fazendo alusão a um povo oprimido e que deveria ser louvado para se resgatar a dívida dos anos de escravidão e não ironizado em uma paródia símbolo do poder opressor do branco europeu. Fico feliz que ele tenha escrito em outra época, pois foi poupado dessa estupidez.
O fato é que eu lembrei dele ao ouvir no rádio um representante de uma escola de samba (não sei se do Rio ou de São Paulo) que falava sobre seu o tema que era o fogo, fogo que purificava, mas com que a inquisição “queimou Joana D’Arc, que virou santa logo após, Galileu e outros tantos cientistas que também morreram na fogueira.”
Vamos lá, Joana D’Arc foi realmente queimada pela igreja, mas só virou santa em 1920, não foi logo depois. Galileu se retratou com a igreja e não foi queimado. Galileu era cientista, Joana D’Arc, não. E, por fim, não foram outros tantos queimados, pois era comum a retratação, afinal, poucos eram burros o suficiente para se deixar queimar por teimosia. 


segunda-feira, 25 de abril de 2011

São Jorge não merecia isso.. nem a gente.

Nesse último final de semana, houve em minha região a festa dos cavaleiros ou Festa de São Jorge. É uma festa tradicional em que vários cavaleiros e amazonas se reúnem para desfilar pela cidade e espalhar um belo tapete de merda de cavalo pela cidade deixando-a aromatizada com o peculiar odor de urina e estrume durante os dias que se seguem a comemoração. Na ocasião, dá-se a tradição do álcool ao extremo. Os festejantes se embriagam ao limite de seu corpo e, ocasionalmente, espancam os animais com tradicional violência ou mesmo reagem ao mínimo estímulo que, sob o efeito da bebida, justifica que se esfaqueiem ou atirem um nos outros. Isso sem falar nos acidentes de trânsito com animais desgovernados pelas ruas que tornam a ocasião algo marcante na vida de qualquer pessoa que more no local. 
E os festejos correm pelo final de semana com todo tipo de barbaridade e insanidade possível, afinal, é a tradição. E como dizem os politicamente corretos, não devemos julgar as culturas, mas entendê-las, afinal, devemos respeitar as diferenças (sic). 
E ano que vem tem mais tradição...Viva a tradição!?

***
São Jorge não merecia isso.
Nem a gente...


sábado, 23 de abril de 2011

Democracia tutelada é a mais escrota das ditaduras


Eu assistia a um documentário outro dia no History Channel sobre as democracias tuteladas da america latina. Achei essa terminologia ótima para se referir a uma ditadura negociada. Se é que se pode dizer que isso exista mesmo. Tenho cá para mim que ditadura é ditadura e ponto final. Muitas se disfarçam de estados legítimos democráticos, mas se valem do poder econômico para perpetuar o poder. Um exemplo que me chama a atenção é a Venezuela.
Um líder que se elege a custo de poder econômico uma vez que detém a máquina do estado e dela faz o que bem entende, controla a impressa que considera golpista quando discorda dele (impressa golpista... parece que já ouvi isso por aqui no Brasil há bem pouco tempo atrás...) e assume uma postura de candidato a martir de um comunismo morto e enterrado há mais de 20 anos...
Enfim, não existe democracia tutelada. Democracia tutelada é ditadura legitimada.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Poucas coisas realmente importam

O problema é que percebemos isso tarde demais para não nos importarmos com o que não merece nosso desgaste. Outro dia, eu coçava a barriga do meu filho caçula (6 meses) com a barba e o fazia dar gargalhadas. Ele se revirava cada vez que eu fazia barulho com a boca e coçava sua barriga com a barba.
Veio-me este pensamento de súbito. Quando nascemos o que nos é importante é tão básico, tão restrito. Crescemos e desenvolvemos sentimentos de posse, de revanche, de onipotência e perdemos a dimensão de como as coisas que importam são tão poucas, tão próximas.
O que vi nessa vida de pessoas que vendem sua alma por coisas, que cultivam inimizades por orgulho, que compram brigas, batem no peito e dizem que dão uma boiada para não sair da briga como se aquilo fosse algo que valesse a pena, como se aquilo fosse uma virtude a ser cultivada. E desde quando estupidez é virtude? Gente que esquece que não somos um cargo, estamos num cargo e a noite em que estamos pode ser sempre a véspera da que saímos. Pessoas assumem crenças religiosas e políticas e por elas são capazes de brigar, discutir, até matar. Evocam para si a missão de mudar o mundo convencendo as pessoas de que elas estão certas, plenamente certas. Esquecendo o quão desimportante é estar certo em 99,9% das vezes.
Tudo isso por que um dia perdemos a noção de que o que importa, de verdade, é muito pouco.

sábado, 16 de abril de 2011

O bom blefador, a arte de vender o peixe

Se tem uma coisa que eu admiro é um bom blefador. Desde que decidi calar para entender melhor o mundo que me cerca, comecei a ver a admirar esse dom sórdido, mas fascinante. O que mais me encanta, por assim dizer, é a convicção do que se afirma. Consultores são mestres geniais nessa arte. Eles afirmam fatos e dizem que não podem dar mais detalhes pois envolvem outros clientes. Isso encanta, pois ao mesmo tempo que passa o domínio de um saber mágico e misterioso, impressiona pela dimensão ética da atitude dele. Genial, dois pontos numa tacada só.
Essas e outras estruturas de discurso são altamente eficazes. Além de o fato de o blefador contar a seu favor com dois fatores: o seu histórico é desconhecido porque ele vem de fora da instituição, logo, isso o habilita a ter razão em tudo que disser; segundo, sua propaganda chega sempre muito antes dele junto com um cartão que traz coisas como Fulano e Beltrano, consultoria e projetos.
Convenhamos. Veja a credibilidade de alguém que não é do local e ainda traz um cartão escrito consultoria e projetos ltda. Quem duvidaria de alguém com esse currículo. Se ele vier de um grande centro (Rio ou São Paulo), então, temos alguém habilitado para tudo. Um gênio de visão empresarial impressionante que desce do Olimpo para nos deixar sorver de sua sapiência infinita.
Ó, pensamento provinciano, mesmo depois de séculos, por que não nos abandonaste?


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Fuçar no nariz e outras esquisitices: tudo normal

Lembro que, na época da Copa de 2010, causou um grande furor a imagem de um técnico (acho que da Alemanha) tirando meleca do nariz. Foi um frisson terrível, “Olha, ele tirou meleca!”, “Nossa, ele tem meleca no nariz”, “celebridades têm meleca...” Aí, um dia, eu questionei dizendo que todo mundo tem meleca, todo mundo tira meleca... Logo, fui rebatido com um “Nossa, mas na frente de todo mundo? Que nojeira!” 
Bom, deixa eu entender. Quer dizer que meleca na frente dos outros é nojeira. Fechou a porta do banheiro, tirou meleca não é mais nojeira? Dizem que o cara comeu depois.. isso é também outra questão. Sei lá...
Outra coisa foi a questão Sandy no Carnaval. Houve uma indignação coletiva de vê-la como garota propaganda da cerveja Devassa. Tudo bem, eu preferia a Paris Hilton até pelo seu currículo com direito a vídeo na web e tudo mais. Entretanto, gente, a ideia é “todo mundo tem um lado Devassa”. Vai que até gente como a Sandy tem. Achei legal. Criaram em torno da Sandy uma aura de pureza.. sei lá. Vai que ela é normal como todo mundo e além de fazer cocô, xixi, arrotar e soltar pum, ela tem um lado devassa e curte menage a trois, sexo grupal, exibicionismo, lesbianismo, ver vídeo pornográfico hard core... sei lá.. Vai saber.
Afinal, todo mundo tem um lado devasso mesmo que, por mais que se esconda, acaba surgindo sorrateiramente, ainda que seja depois que se fecha a porta do banheiro.


sábado, 9 de abril de 2011

Uma história cabeluda

Zenilda comprava creme, fazia escova, hidratação e tantas coisas mais para ficar com o cabelo liso e brilhante. A natureza lhe fora injusta e, por causa disso, gastava quase todo seu ordenado com a manutenção de um estado apresentável de seu cabelo. O marido não podia fazer-lhe cafuné,  chuva a apavorava mais do que um tiro e uma estranha toca lhe protegia durante o sono de algum amassado ou suor incomodo que botasse a perder as horas de tratamento.
Um dia, em frente a seção de xampus, ela lia o que vinha escrito na parte de trás da embalagem de um deles: Xampu para cabelos crespos, tingidos, quebradiços, ressecados, com pontas, queimados pelo sol, opacos e danificados produtos químicos....
Era esse o shampoo com que ela tanto sonhara....
Mais abaixo, um recado em letras muito pequenas, quase imperceptíveis....
Tem certeza que vale gastar esse dinheiro com um cabelo nesse estado?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A flexibilidade moral e os canalhas de ocasião

Outra dia eu assistia a um filme interessante, Obrigado por fumar (quem não viu, veja!) em que um indivíduo que chefiava o lobby da indústria de tabaco nos EUA vive entre defender o indefensável e a convivência com o filho que começa a construir valores que levará para toda vida. O que me agrada nesse filme é o seu tom nada moralista e sem os finais previsíveis das histórias edificadoras do cinema puritano de alguns diretores americanos. Em determinado momento o filho pergunta ao pai como se pode fazer o que ele faz e se ele (o filho) seria capaz de fazer o mesmo. O pai o responde dizendo que é necessário haver uma certa flexibilidade moral para exercer sua profissão. Essa foi a maneira mais sutil de se referir à falta de caráter que os interesses pessoais nos projetam. Justificar seus atos com a flexibilidade de conceitos inflexíveis é, no mínimo, amoral. Mas não imoral. 
Há coisa na vida que não comportam o meio termo e essa é uma dessas coisas. É como aquele famoso jeito de dizer... “Ele é meio gay”. Desculpem. Mas não dá... Ou melhor. Dá mais não se assume. 
Todos somos canalhas de ocasião, agimos como canalhas em um momento outro da vida e, quando temos o discernimento, procuramos que isso seja a exceção e não a regra de nosso comportamento. Isso sim, nos torna mais humanos e nos dispensa de encontrar em nós uma moral que se flexibiliza e nos torna menos ordinários.  
É como naquela música em que se diz que “quem se diz muito perfeito, na certa encontrou um jeito insosso para não ser de carne e osso”. Afinal de contas, somos humanos e nada do que é humano nos deve ser estranho (Terêncio)

sábado, 2 de abril de 2011

Uma franquia dos infernos

Pensava o Diabo uma maneira de ampliar os seus negócios na terra.  Reunido com sua equipe de demônios-assessores ouviu um deles dizer que o negócio agora era o mercado de franquia. Entretanto, criar uma franquia com a marca Satanás não seria uma boa, o nome está gasto, a marca está batida e mal afamada. O negócio seria criar contratar uma franquia que tivesse boa aceitação. - Jesus... Disse um deles. - Vire essa boca para lá, rapaz. Rebateu outro demoniozinho assessor.
- Não. Ponderou o Tinhoso. Sabe que é uma boa ideia. O investimento inicial é pequeno, não paga imposto, a matéria prima do que se vende é gratuita e, normalmente, quem compra, vai por impulso ou desespero. Não pensa, por que se pensar demais não compra.
- Mas chefe, já existe essa franquia, observou um advogado do diabo.
- E daí, abrimos, espalhamos, captamos dinheiro e eles que entrem na justiça.
- No caso, a divina, não é? Completou um capetinha trainee.
- Que seja!
O negócio prospera a olhos vistos em cada esquina.

Enquanto isso o processo de uso de imagem movida pelo céu rola na justiça eterna.