Mostrando postagens com marcador ambientes corporativos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador ambientes corporativos. Mostrar todas as postagens

sábado, 7 de maio de 2011

As ideias do chefe

Todas as propostas naquela empresa passavam pela quarentena (sic) de 60 dias. A ideia era dada, o chefe, quando ouvia, rejeitava. Às vezes, nem ouvia. 60 dias depois, o patrão convocava uma reunião e apresentava a ideia (dele) genial que havia sido rejeitada 60 dias antes. O defeito principal da ideia apresentada anteriormente ficava claro, a idéia não era a mesma porque, na época, não tinha sido formulada por ele. Esse era o grande pecado que fazia uma estupidez de dois meses atrás ficar a genialidade de hoje.
As sugestões assim se faziam dentro de um cronograma. Se uma coisa era para começar ser implantada em agosto, apresentava-se a idéia dois meses antes, final de maio ou início de junho. Era batata. Em agosto havia a tal reunião em que o chefe apresentaria a ideia que tinha sido rejeitada há dois meses.
Um dia, do nada, consumido pelo estresse, o chefe infartou. Sentiu um formigamento no braço, dor no peito e tchum. Lá se foi o Narciso da corporação. 
Os funcionários que viram o seu corpo sobre a mesa, frio e inerte, não pensaram duas vezes. Acharam a ideia tão boa que resolveram fazer o enterro de imediato, na verdade, houve uma cremação do corpo. 
Afinal, vai que ele resolve ressuscitar daqui a sessenta dias.

sábado, 16 de abril de 2011

O bom blefador, a arte de vender o peixe

Se tem uma coisa que eu admiro é um bom blefador. Desde que decidi calar para entender melhor o mundo que me cerca, comecei a ver a admirar esse dom sórdido, mas fascinante. O que mais me encanta, por assim dizer, é a convicção do que se afirma. Consultores são mestres geniais nessa arte. Eles afirmam fatos e dizem que não podem dar mais detalhes pois envolvem outros clientes. Isso encanta, pois ao mesmo tempo que passa o domínio de um saber mágico e misterioso, impressiona pela dimensão ética da atitude dele. Genial, dois pontos numa tacada só.
Essas e outras estruturas de discurso são altamente eficazes. Além de o fato de o blefador contar a seu favor com dois fatores: o seu histórico é desconhecido porque ele vem de fora da instituição, logo, isso o habilita a ter razão em tudo que disser; segundo, sua propaganda chega sempre muito antes dele junto com um cartão que traz coisas como Fulano e Beltrano, consultoria e projetos.
Convenhamos. Veja a credibilidade de alguém que não é do local e ainda traz um cartão escrito consultoria e projetos ltda. Quem duvidaria de alguém com esse currículo. Se ele vier de um grande centro (Rio ou São Paulo), então, temos alguém habilitado para tudo. Um gênio de visão empresarial impressionante que desce do Olimpo para nos deixar sorver de sua sapiência infinita.
Ó, pensamento provinciano, mesmo depois de séculos, por que não nos abandonaste?


domingo, 28 de março de 2010

Série - Mundo corporativo, a vida na empresa - Capítulo I - O messias

"Aquele que crê em mim viverá."
De tempos em tempos, surgem nas empresas, principalmente, nas que estão em crise, os espíritos messiânicos. São consultores, executores, planejadores (sic) e outros -ores que são contratados pela alta chefia para resolver todos os problemas que se arrastam há anos e que todo mundo sabe quais são as atitudes necessárias para resolvê-los. Conclusão, trata-se de pessoas que nos dirão tudo aquilo que já estamos carecas de saber, mas que precisamos que venha alguém de fora dizer para que a gente continue não fazendo. Complicado? É. É sim. Os primeiros momentos dos -ores deixam a chefia encantada com tanta sabedoria, tanta perspicácia, tanta astúcia e experiência em espírito tão genial. Mas com o passar do tempo chega-se a estranha conclusão de que o cara era um bundão, criou mais problemas do que soluções e o dinheiro que economizou gastou-se  pagando a ele. Ou seja, zero a zero. 
As melhores soluções de uma empresa estão nas decisões em conjunto e na capacidade dos líderes em fazer do problema da empresa um problema de todos. Mas isso demanda tempo e habilidade de negociação muito grande e ninguém tem mais tempo para isso. Daí, contratamos nossos personais-messias que chegam com ares de "eu sou a verdade e aquele que crê em mim viverá", ou pelo menos não será mandado embora durante seu reinado.
E os messias se vão depois de se constatarem na empresa que eles não andaram sobre as águas, não multiplicaram nada, não fizeram de água vinho, enfim.. sem milagres rumo a outras bandas onde por alguns meses serão deuses na terra até concluírem por lá o mesmo que se concluiu de onde ele veio. Messias corporativos são eternos nômades.

P.S.: Só me ressinto é de não podermos crucificá-los no final da história... faria de sua passagem, apesar de pouco produtiva, mais divertida para a gente.