Outro dia eu saía de um shopping onde deixei meu carro logo pela manhã para um compromisso médico. Na saída, entravam vários funcionários para começar a jornada de trabalho. Um deles me chamou atenção, pois repetia várias vezes o sinal da cruz e parecia resmungar algo. Terminado o ritual, entrou e começo seu dia. Tive vontade de segui-lo para ver o que ele fazia lá, mas a pressa foi mais convincente e prossegui para meu compromisso.
À noite, passei por um grupo de pessoas que, vestidos de branco em uma rodovia que me leva até minha casa, colocavam comida, fitas, velas entre baforadas de charuto e alguns resmungos que me lembraram o homem da manhã. Longe de criticar qualquer coisa, senti-me um órfão do universo místico, uma espécie de ser condenado a um mundo de concreto e sangue. Um mundo em que não há resmungos, oferendas, sinais e imagens que te afastem do fatídico destino de toda a ação... o efeito desta.
Do sentimento de orfandade, migrei para a sensação de inveja. Uma inveja pálida e raquítica, mas ainda assim, inveja. Desejo de ter um cordãozinho que me protegesse, um palavra que repetida ad nauseam me desse a certeza de estar imune ou a segurança de delinear meu futuro e meus desejos a partir de uma série de ofertas e negociações que eu fizesse com algo fantástico que abriria os caminhos para mim. Mas não tenho.
Entretanto, encontro-me com outros como eu a quem as fichas só não caíram, mas o subconsciente se delicia com filmes como X-Men, Batman, Homem-Aranha, Harry Potter... Personagens de um mundo fantástico que nos dão a sensação de que há uma alternativa ao mundo de concreto e sangue, nas telas, mas que está lá durante 2 horas e nos permite viver em paz.