sábado, 18 de outubro de 2008

Em nome da tradição, louvemos a estupidez humana.

Será será que será que será que será
Será que essa minha estúpida retórica
Terá que soar, terá que se ouvir
Por mais zil anos?
Podres poderes,
Caetano Veloso


Na Revista Veja desta semana, saiu a história de uma menininha no Nepal que foi proclamada como deusa aos 3 anos. Ela será tratada como deusa (parece aquela musiquinha irritante da Rosana: como uma deusa, você me mantém...) viva até a primeira menstruação, quando retorna à condição de mortal e carrega consigo a maldição de dar azar a qualquer um que venha a se casar com ela.
Para isso, eles se baseiam na mais pura lógica nepalense, mapa astral, sinais de divindade, aura, leituras de vidas passadas.. enfim, ciência, a mais pura ciência da idade antiga. Enfim, isso era a maior moda no ano 10 a.C.

Então, a menininha vive como uma deusa cujos arrotos ou diarréias são o presságio de desgraças infindáveis: algo do tipo, a deusinha está com gases, caiu a bolsa, a deusa está com o nariz escorrendo, sinal de uma grande chuva... e vai por aí.

Qual é o problema?

Pois é, toda vez que se levanta essa bola das tradições, vem sempre um politicamente correto falar que isso, assim como apedrejamento de adúlteras, extração de clitóris, venda de crianças para trabalho escravo, entre outras barbáries pelo mundo, são culturais e que não podemos julgar uma cultura dessa forma, pois culturas são distintas e devem ser respeitadas em sua diversidade.
Aí, em nome disso, mantêm-se também coisas como a tourada, farra do boi (para mim quase a mesma coisa) e um largo rol de coisas estúpidas.
É tradição...
A essa retórica vazia, há um argumento de forte apelo intelectual e humanístico:


Tradição é o escambau!


Até quando destituir uma criança de sua infância em nome da perversão de adultos é tradição? Desde quando apedrejar uma mulher porque julgam-na adultera é tradição, ou mesmo extrair o clitóris porque é negado por "Deus" o prazer à mulher é algo que deva ser cultuado como cultural? Até que ponto, torturar um animal até a morte é um costume que nos engrandece e merece ser mantido?
Até quando será que esta estúpida retórica de "cultural e tradição" vai mascarar o nosso desejo de varrer toda nossa barbárie para debaixo dos tapetes.
Até quando defenderão o direto à estupidez em nome da diversidade e do direito de parecer "intelectual"...?