domingo, 31 de maio de 2009

Pirataria por pirataria.

Há a necessidade de uma definição do que é o conceito de pirataria com exatidão (quantidade, intenção, ação e proveito obtido). Eu, pessoalmente, entendo isso como o ato de reproduzir cópias de uma obra (impressa ou gravada em mídia) sem a autorização do autor e com a clara intenção de vender e ganhar dinheiro com o trabalho intelectual do outro. Há uma distorção no conceito atual e considera-se que o cara que faz a cópia de um CD para a namorada é um bandido que alimenta o crime organizado e lesa o país de forma irreparável. 

Agora, imagina só se cada vez que eu tivesse que presentear um amigo com uma coletânea que eu fiz, eu procurasse um órgão especializado e pagasse todas as guias de direitos autorais. Eu, pessoalmente, deixaria de presentear amigos com isso. E todas as vezes que eu cantasse aquela musiquinha em um karaokê, logo chegasse um representante da associação e me autuasse. No banheiro, a porta seria arrombada e um homem entraria gritando “mão na cabeça” ao me identificar cantando no chuveiro. Afinal, fazia uso de produção intelectual sem pagar a quem lhe era de direito.

O problema é que poucos vêem que o que alimenta a pirataria é um produto de preço incompatível com a realidade. Preço este resultante da carga tributária abusiva e da ganância de alguns empresários que trabalham com margem de lucro desproporcional. O artista mesmo, esse ganha é com show (palavras de Reginaldo Rossi). Nada justifica o custo de um CD por 25 reais... 
Não defendo a pirataria, mas entendo que se deva definir bem o que constitui isso.

Lembro que, certa vez, lá na nos idos da década de 70, meu pai ganhou uma fita que seu amigo copiou com umas músicas... Ele sempre a ouvia no carro quando íamos viajar... 

Nunca imaginei que andei tanto tempo de carro ao lado de um criminoso tão hediondo e que alimentava o crime organizado e lesava o meu país. Mas pelo tempo, acho que o crime dele já prescreveu.

Em tempo
No caso dos livros, é mais complexo ainda. Embora haja editoras que já vendam capítulos separados, a realidade é de uma multidão de alunos que xerocam 10 ou 20 páginas de um livro porque não têm como comprar livros no país dos livros mais caros do mundo. 

Esses piratas infames, bandidos que alimentam a ilegalidade e o crime organizado e lesam o país... ah bandidos... Na próxima prova, eu ferro eles.

domingo, 3 de maio de 2009

Papo de dentista


O rapaz chega na sala de espera. Na parede, quadros baratos, um sofá, uma música ambiente... uma mesinha com uma pilha de revistas de fofoca. Até hoje não entendo por que dentista acha que todo mundo se interessa pelo novo namorado da Ana Maria Braga e das férias da Suzana Vieira em Itaparica. 

Aguarda, aguarda... A porta se abre.

- Bom dia!

- Bom dia!

- Vamos entrar?

Acomoda-se na cadeira. Abre a boca. Prepara-se psicologicamente, pois, daí para frente, alguém assumirá o controle de seu maxilar, de sua salivação e falará coisas que, para quem está do lado de fora, se ouvir, vai pensar mil coisas (“olha, eu vou colocar, se doer eu tiro”, “relaxa que eu vou dar só uma picadinha lá no fundo...”). A conversa começa.

- E aí, tem visto o fulano (um conhecido em comum)?

- agrunfunfgn...

- É. Eu também não tenho visto há um tempo.

- ghurnerghh

- É mesmo. E você também está trabalhando fora?

- rgunoooorgue

- Ah.. ta. É. Aqui não tem muito campo.

- greunhunooonuun.

- É mesmo. Eu sempre falo isso para o meu filho. Mas garoto novo não ouve mesmo.

-gruuuuughuennuumm

- Ah.. deixa eu colocar um sugador aqui.

- huuummm

- Bom, eu vou começar. Se doer você fala que eu tiro.

- huum?

- Mas é isso aí.

- adredgunhiuen...

- É eu penso assim também, conclui o dentista.

 

E a conversa segue por mais uns 30 minutos entre um homem de branco e alguém que, aparentemente, domina um idioma alienígena.

O dentista termina, retira os objetos da boca e te libera para vagar com a boca dormente mundo a fora e, ocasionalmente, mordendo o próprio lábio sem sentir.

Experiência sempre bizarra.