Outro dia, vi em uma reportagem na TV (Profissão repórter) um serviço de acompanhante. Não se tratava de um serviço de sexo delivery, mas de amigo delivery. Um profissional oferecia para vender seu tempo como companhia a pessoas que, simplesmente, quisessem alguém para sair, jantar, conversar, dançar. Enfim, alguém para poder ter como amigo e companhia.
O que me chamou a atenção nisso tudo foi a dimensão do que se tornou a vida de algumas pessoas. Há uma impessoalização da existência que chegamos a ponto de contratar um amigo temporário em face do castelo de solidão que se formou em torno de nós. Os amigos de infância seguem seus caminhos, os filhos crescem e vão embora, os companheiros se afastam voluntariamente ou morrem e quando nos damos conta, eis a solidão que propicia um mercado de amigos de aluguel.
Não há espaço para se avaliar ou recriminar o que é isso, mas cabe uma reflexão de o que fizemos com nossa vida e, principalmente, em cidades grandes, como isso é tão comum, essa solidão SA. Cabe pensar até que ponto nos afastamos para nos proteger e nos isolamos do afeto do outro.
Moro em uma cidade pequena (75 mil habitantes) e ainda temos o costume de ir à casa de amigos a pé, de conversar nas calçadas, de ver o pessoal da terceira idade se aglomerando nas portas dos clubes para bailes. Ainda caminhamos nas ruas com os rótulos de filho do fulano, neto de sicrano... Essa sensação de identificação, parodiando Drummond, mesmo depois que a luz apagou, a festa acabou, acalmam os ânimos de qualquer José.
Dão uma identidade no meio da multidão e dispensam os amigos de aluguel.
Pelo menos por enquanto...