terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Da série ambiente de trabalho VII : o aspirante à pombo correio

Sempre bem informado, Silvonaldo se encarregava de fazer com que qualquer notícia que saísse no cafezinho chegasse aos departamentos da empresa o mais rápido possível. Via aquilo como uma vocação, um destino traçado pelos deuses para ele. A isso somava seus dons de interpretação que davam às histórias um tom épico e fazia de qualquer batidinha de trânsito, um acidente de três carretas, um caminhão tanque, um ônibus escolar... dezenas de mortos e feridos.
Mas o seu maior prazer eram as notícias da empresa, a foice. Toda semana em fim de mês, ele chegava com a mesma conversa:
- Sei não, estão dizendo que vai haver um corte e o chefe já está com todos os nomes na mesa dele.
Outra vez...
- Sei não, dizem por aí que décimo terceiro este ano.. huuum nem pensar...
E variava...
- A firma está quebrada... ouvi dizer que nem sabem se vai haver pagamento no mês que vem.
Era sempre a mesma história e aquilo lhe dava um prazer quase sexual. Mas o fato é que havia pagamento em dia, não havia demissões e o décimo terceiro saía religiosamente antes do Natal...
Um dia se encheram do Sivonaldo e o colocaram na rua.
...
Com uma cartolina ele exibia uma frase na frente do prédio durante aquela tarde.