segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

As coisas têm gosto de quê?

Quando a gente nunca comeu algo, a gente costuma a fazer a célebre pergunta: tem gosto de quê? Ou ainda, parece com o quê?
Na verdade, nada se parece com nada. Rã tem gosto de quê? Putz, sei lá, meio frango, meio peixe, mas não crie expectativas... é diferente dos dois. Gosto é uma percepção intangível para quem não prova e, normalmente, inadequado às palavras de que dispomos no nosso vocabulário.
Pior ainda são os gostos de cheiro. Aquelas coisas que tem o gosto do cheiro de outra. Por exemplo, sempre achei que alguns tipos de maçãs têm gosto de cheiro de Superbonder... vai entender...
Agora há as coisas que tem um gosto tão bom que não encontramos uma palavra que dê conta de tudo que aquilo nos passa. Há sensações que se somam e quando buscamos na memória a cena em si, derretemo-nos na inefável percepção de um mundo sem palavras, mas que guarda significados tatuados na nossa alma.

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Que tal café com pão fresquinhos, em casa de avó, em período de férias no fim de tarde? Lembre... não consigo encontrar algo que defina o que me vem quando penso nisso.
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E caderno novo? O cheiro do caderno novo que combina com a sua letra linda dos primeiros dias... até porque, a partir da segunda semana de aula, retomamos o garrancho do ano anterior.
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Barulho de embalagem de presente em dia de Natal e o cheirinho de plástico do brinquedo novo... Você já sabia há meses o que ia ganhar, mas o culto à espera aumentou sua ansiedade à 10 potência.

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Primeiro dia de aula em escola que você não conhece ninguém. Falta lugar para você colocar a mão, os bolsos não são suficientes, e você é um peixe fora d’água.

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Andar de bicicleta. Você sai meio trêmulo, o guidão vira de um lado para o outro. Finalmente, te soltam e você pedala livremente. Sem curvas é claro... isso é uma segunda etapa.

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A sua primeira caixa de bombom sem restrições ao consumo. Você passou a vida inteira com aquela coisa de não poder comer tudo, aí, um dia, adulto e dono de seu nariz, se vê diante de uma caixa que não lhe oferece restrições. Não aprecie com moderação.
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A primeira ficada (com beijo) e os pensamentos atordoantes. E seu beijar errado? O frio na barriga e a sensação de proibido. Putz... eu raspei o dente...

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A lista é grande:

A primeira viagem sozinho (Desafio e, no fundo, um certo cagaço natural);
O primeiro salário (parece uma fortuna);
Cheirinho do (seu) carro novo (dá vontade de passar para a roupa o cheiro);
Arrependimento da 1ª ressaca (Garrafa na TV dá náusea nesse dia);

De que isso tem gosto?


E, finalmente, as palavras acabam antes de servirem para dizer o que eu precisava dizer...