Chego em casa moído de cansaço, tiro os sapatos que trazem os dedos tão unidos que parecem um massa única de carne. Aos poucos, desvencilho-me dos problemas que arrastei do trabalho para não contaminar o meu sacrossanto lar. Tiro a camisa para fora da calça. Arreganho os dedos dos pés... ahhhhhh
Ligo a Tv e vejo um grupo de pessoas que passou a noite na porta do prédio de um casal que está sendo acusado de assassinar uma menininha, crime bárbaro. O grupo estava sentado em banquinhos, havia levado seu lanche e aguardava ansioso o momento de gritar; assassino, lincha, no ápice desse evento público singular em suas vidas. O casal entrou pela porta dos fundos... ahhhhh, ecoa como um hino de decepção.
No canal seguinte, um grupo de pessoas entra em uma instalação da Cia Vale do Rio Doce e destrói tudo, quebra móvel, interrompe passagem, entoa palavras de ordem contra o imperialismo ianque... morte a George Bush. No jornal impresso do dia seguinte, aparecem em sofás com bandeiras da vitória nas mãos até a chegada da ordem de desocupação de um juiz... Ahhhhh, ele é um agente das classes dominantes, um monstro preconceituoso...
Enquanto isso, um grupo de estudantes bloqueia as portas de um prédio da Petrobrás pedindo que as reservas sejam definidas como patrimônio nacional e não interessa que estejam há abaixo da camada de sal no oceano... Isso é fundo pra caramba! Só podem ser tocadas por mão (sic) brasileiras. Ahhhhhhh ! O petróleo é nosso. Entoam os gritos de ordem. Com mais de 50 anos de atraso.
Vejo que envelheci... ou o tempo me trouxe algo que ainda não sei...
Um dia, disseram-me que quem não é revolucionário aos 20 é insensível, mas quem o é depois dos 35 é um insensato. Quando ouvi essa afirmativa pela primeira vez e era um revolucionário, achei-a absurda, cruel, retrógrada.... Até mesmo, imperialista ianque.
Hoje...., ahhhh...
Hoje, eu arreganho os dedos recém-suados saídos do sapato...
Tava apertado.
Em tempo: Antes que comece o meu linchamento, devo dizer que acho muito importante a participação em todo tipo de movimento. E fico feliz que sempre existam pessoas dispostas a isso como eu o fui um dia. Por favor, façam minha parte, movimentem-se por mim. Eu já me movimentei muito pelos colegas que arreganhavam os dedos espremidos por um dia de trabalho intenso... agora é minha vez... Ahhhhhh! Coisa boa!
Ligo a Tv e vejo um grupo de pessoas que passou a noite na porta do prédio de um casal que está sendo acusado de assassinar uma menininha, crime bárbaro. O grupo estava sentado em banquinhos, havia levado seu lanche e aguardava ansioso o momento de gritar; assassino, lincha, no ápice desse evento público singular em suas vidas. O casal entrou pela porta dos fundos... ahhhhh, ecoa como um hino de decepção.
No canal seguinte, um grupo de pessoas entra em uma instalação da Cia Vale do Rio Doce e destrói tudo, quebra móvel, interrompe passagem, entoa palavras de ordem contra o imperialismo ianque... morte a George Bush. No jornal impresso do dia seguinte, aparecem em sofás com bandeiras da vitória nas mãos até a chegada da ordem de desocupação de um juiz... Ahhhhh, ele é um agente das classes dominantes, um monstro preconceituoso...
Enquanto isso, um grupo de estudantes bloqueia as portas de um prédio da Petrobrás pedindo que as reservas sejam definidas como patrimônio nacional e não interessa que estejam há abaixo da camada de sal no oceano... Isso é fundo pra caramba! Só podem ser tocadas por mão (sic) brasileiras. Ahhhhhhh ! O petróleo é nosso. Entoam os gritos de ordem. Com mais de 50 anos de atraso.
Vejo que envelheci... ou o tempo me trouxe algo que ainda não sei...
Um dia, disseram-me que quem não é revolucionário aos 20 é insensível, mas quem o é depois dos 35 é um insensato. Quando ouvi essa afirmativa pela primeira vez e era um revolucionário, achei-a absurda, cruel, retrógrada.... Até mesmo, imperialista ianque.
Hoje...., ahhhh...
Hoje, eu arreganho os dedos recém-suados saídos do sapato...
Tava apertado.
Em tempo: Antes que comece o meu linchamento, devo dizer que acho muito importante a participação em todo tipo de movimento. E fico feliz que sempre existam pessoas dispostas a isso como eu o fui um dia. Por favor, façam minha parte, movimentem-se por mim. Eu já me movimentei muito pelos colegas que arreganhavam os dedos espremidos por um dia de trabalho intenso... agora é minha vez... Ahhhhhh! Coisa boa!