terça-feira, 28 de agosto de 2012

Um blefe por uma bela história


Toda vez que lhe perguntavam seu nome ele respondia: - Shihum. As sobrancelhas das pessoas se franziam. Ele, então, explicava que Shihum fora um guerreiro chinês da dinastia Ming que durante as lutas de libertação de seu povoado no ano de 1624, deparou-se com um dilema que o colocava entre lutar pela liberdade ou buscar abrigo para os seus filhos nas montanhas. O guerreiro fez um belo discurso enfatizando que a uma vida sem liberdade e fugindo preferia a morte. Depois disso, lançou-se de peito aberto contra os inimigos e como protegido pelos deuses derrubou uma tropa de mais de 100 guerreiros. Obviamente, isso é uma lenda, mas seu nome ainda é cantado em versos épicos da cultura popular da Manchúria como um símbolo da coragem e da liberdade. 
Tanto é assim que o governo comunista baniu de seu calendário as festas dedicadas a lenda de Shihum para que o povo não passasse a cultuá-lo como um ícone libertário e coisa e tal. Coincidentemente, concluía, Shihum significa em chinês arcaico, coração livre ou , em um sentido mais metafórico, aquele que liberta corações almas.
Todos ficavam bestificados com a bela história e lamentavam não terem algo a contar sobre seus nomes que fosse tão bonito e marcante. Algumas vezes, havia até algumas lágrimas diante da narrativa de Shihum, o libertador de corações.
Quando chegava em casa, dona Shirley e seu pai Humberto sempre o ensinavam que mentir era coisa muito feia e inventar histórias era um hábito repreensível. Mas, afinal, que graça teria se ele contasse que seu nome era um pedaço do nome da mãe e outro do pai? E quando alguém conhecia seus pais e associava uma coisa a outra, ele, com ar de enfado e superioridade, simplesmente, comentava: - coincidência, mera coincidência.
Afinal, uma bela história é uma bela história, não é?  

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O violoncelo no canto da sala


Estudei dois anos de violão clássico no Pró-Música em Juiz de Fora e parei, por causa do meu mestrado em Letras. Tempos depois, estudei violoncelo em Valença... mais uns dois anos e parei por causa do doutorado. Tentei retomar os estudos recentemente, mas com dois filhos, casa e trabalho, fica difícil. Enfim, aguardo o momento de retomar mais uma vez e, quem sabe, parar por outra razão.
As pessoas podem dizer que tudo foi uma questão de falta de disciplina e força de vontade e as deixo livres para os julgamentos, mas retruco que não foi. O meu violoncelo repousa em meu escritório no canto, sob um suporte próprio para o instrumento. Todos os dias eu o vejo, todos os dias ele me vê.
Ele fica ali para me lembrar que mesmo que a gente tente e pare, e tente de novo. O importante é continuar. Paradas são vieses estratégicos, perder de vista o que queremos é outra coisa. Isso é desistência, isso é capitular. 
Eu sempre digo a minha esposa que uma das metas de minha vida é me formar em violoncelo em um conservatório musical. Eu sei, ela sabe e ele, canto da da sala, sabe também. Ele não desistiu de mim e nem eu dele. Será aos 50 anos, aos 60 anos, aos 70? Não sei. E nem ele sabe, mas, pacientemente, me aguarda no canto da sala, me espera com seu olhar marrom.
O que mantém a certeza dele sobre minhas promessas é que ele sabe que podemos esquecer de tudo, mas nunca esqueceremos quem somos, nossos sonhos e em que acreditamos. Isso é atemporal.
Enquanto isso, ele me aguarda. 
Deixar os seus "violoncelos" no canto da sala é uma boa receita para nunca se esquecer de quem se é.

domingo, 19 de agosto de 2012

A prática do ócio produtivo


Um sociólogo italiano chamado Domenico De Masi, escreveu há alguns anos um livro intitulado "O ócio criativo" e,  nele, defendia o ócio como ambiente de criatividade uma vez que o trabalho contínuo e metódico conduzem ao desgaste e a pouca produtividade. Li esse livro na época e entendi a mensagem como um alerta para aqueles que acham que produzem alguma coisa porque trabalham 14 horas por dia. E, na época, eu estava entre esse iludidos.
Empresas como a Microsoft ou a Google já entenderam que a capacidade de trabalho de um homem se mede por sua produtividade e essa não tem nada a ver com o tempo que ele fica sentado em um escritório. Veja que posso ter um funcionário que fica 8 horas dia no trabalho (jogando paciência ou lendo facebook) produzindo menos do que outro que fica 3 horas e trabalha com metas de produtividade definidas. 
Vou além. Defendo o ócio "produtivo" não na acepção exata de De Masi, mas no sentido de abrir pequenos momentos e atitudes ócio que funcionam como válvulas de escape (como as válvulas das panelas de pressão). Por exemplo, no meio do trabalho, fazer coisas como jogar paciência, bater papo ou navegar no facebook funciona como uma maneira de aumentar a produtividade pelo alívio da pressão contínua. 
Lógico, não se trata de uma política da empresa incentivar o funcionário a ficar à toa, mas fazê-lo entender que ele vale pelo que produz e não pelo tempo que fica entre ponto de entrada e saída. Por fim, isso é uma postura que devemos adotar para  nosso dia-a-dia. Fazer nada de vez em quando é uma maneira interessante de se fazer alguma coisa. Falta encontrar o equilíbrio nisso e aprender a nos permitir.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O mal resolvido - o dilema do macho


A autoestima masculina não nasce necessariamente no mesmo lugar em que nasce a da mulher. Fomos educados para sermos os donos do poder, o mantenedor, a viga mestra da sociedade. Somos o todo poderoso macho adulto.
Nem tão poderoso, pois estamos submetidos a todas as inetempéries de todos os mortais sejam homens ou mulheres. O poder representado pelo dinheiro e pela dominação sexual pode se esvair com muito mais facilidade do que imaginamos e perdê-los implica um ataque arrasador à autoestima masculina.
Entretanto, muitas vezes, o dilema é a causa da grande perturbação. O dilema de perder o dinheiro, mais palpável, ou o dilema da sexualidade. A sociedade esperava que ele crescesse, casasse, arrumasse filhos e fosse aos domingos almoçar na casa da sogra. Mas nem sempre é assim que funciona. Ele até cresceu, mas juntou com o namorado, criam um Poodle e pensam em adotar uma criança. Bomba!
Quando o homem tem bem resolvida essa questão na sua cabeça, a coisa flui de maneira maravilhosa e não há problemas. Tive colegas de trabalho homossexuais que sempre foram pessoas e profissinais excelentes, não por sua opção, mas porque ela era bem clara para eles. Estava tudo bem resolvido.
Já os mal resolvidos que conheci se tornavam pessoas agressivas, competetivas ao extremo, fofoqueiros, enfim, conseguiam agredir o mundo inteiro porque, no fundo, queriam era se agredir. Não ser o que a mamãe sonhou doía mais nele do que em qualquer outra pessoa.
Enfim, o problema não é a opção sexual, mas a maneira como lidamos com ela. Agora, quando você ouvir um comentário que termina com "bicha enrustida, é foda!"
Isso tem um fundo de verdade inimaginável. 
É foda mesmo.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O mito da mal amada - o drama feminino (e masculino)


Freud já dizia que o desejo do homem é ser objeto de desejo do outro e assim alimentamos nossa vaidade e direcionamos nossa libido. Com base nisso, é fácil entender a mal amada, ou para os mais curtos-e-grossos, a mal comida.
Elas se revelam em ambientes de trabalho ou acadêmicos, pois é o meio que lhes permite projecão e canalização da libido contida em outras áreas. Sendo assim, apesenta um comportamento obsessivo com perfeição e controle de tudo. Além é claro de uma tendência de agredir tudo aquilo que, de alguma formas, lhes ameaça o status ou o poder adquirido. Normalmente, são solteiras ou casadas frustradas e, normalmente, sem filhos...
Tudo isso nasce na rejeição sexual mesmo (no mal comida) uma vez que o sexo, para a mulher, tende a ser mais do que penetração. Envolve afeto e aceitação que passam pelo beijo, o toque de mão, uma conchinha depois da transa.. Sexo, nesse caso, é bem mais complexo do que para o homem que poderia ser reduzido, na maioria das vezes, como penetração, ejaculação e sono.
A mulher que tem essa parte mal resolvida sofre com a perda da autoestima de não se sentir desejada em uma sociedade "animal" em que, culturalmente, é a ela que compete o papel de rejeição do macho. Dessa vez, o macho não a quer. Ele a dispensa em uma inversão de papéis inconcebível.
A libido preciso ser direcionada para algum lugar, pois é uma energia que não se perde e seu compensatório deve ser feito. Dessa forma, toda aquela força se concentra em um aspecto, o profissional, e forma uma personalidade obsessiva e altamente tensional do ambiente. Eis o mal da "mal comida", explicado em parte.
Agora quando você encontrar com aquele pessoa do trabalho que apresenta esse comportamento será mais fácil entender o porquê de tanto azedume... Em parte, começou, em algum momento, na violação do axioma freudiano.

Próximo episódio: O macho mal resolvido 

sábado, 4 de agosto de 2012

Quando a ideologia legitima a violência...

Quando os argumentos cessam,
a violência convence.

Cresci em uma geração que aprendeu que violência de direita é crime, de esquerda, é luta por igualdade. Uma geração que trazia ídolos como Che guevara em uma camiseta de malha vermelha e se esqueciam de que aquela história de endurecer sem perder a ternura era conversa mole para boi dormir, pois, no paredão, chefiado por ele em Cuba, não havia ternura, mas ódio, revanchismo e loucura doutrinária. 
Falo isso, pois toda vez que vejo uma greve como foi a dos caminhoneiros recentemente, fico incomodado com os métodos de “convencimento”. Reinvidicar seus direitos, sejam eles justos ou não (não entro no mérito da questão aqui), é um direito seu, mas até que ponto o exercício do seu direito permite o cerceamento do meu. Vi na TV vários caminhoneiros (contrários à greve) que queriam trabalhar, mas tiveram o caminho bloqueado, o vidro do caminhão quebrado e sofreram ameaças físicas... E viva a democracia autoritarista que é professada pelo sindicatos há décadas. Você tem o direito de participar da greve e se não o exercer, nós o enchemos de porrada e tacamos fogo no seu caminhão... O que você escolhe? Nada como poder escolher, não é não?
Se a polícia tivesse intervindo e baixado a porrada nos líderes do movimento era um ato de violência e autoritarismo, mas se os líderes do movimento obrigam a adesão por meio de violência e coerção, não se trata de uma violência, mas de uma luta por direitos que conduzirão a conquistas para o bem comum... Sim. Entendi.
Quer dizer que dar um murro na cara de alguém não é violência, mas seu um homem de farda da um murro na cara de alguém é... Entendi.
Mas preferiria não ter entendido.

P.S.: E as viúvas do muro de Berlim retrucam que isso foi o que a TV mostra para desmoralizar os mártires do movimento. É verdade, esqueci que as TVs só mostram mentiras. Os únicos meios de comunicação que dizem a mais absoluta verdade são os jornaizinhos do PSOL, do PCB, do PC do B e dos sindicatos.