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domingo, 28 de março de 2021

Escravos de nossas escolhas

O fato é que o caminho que nossa vida toma seja ele bem feliz ou uma desventura absoluta é resultado de nossas escolhas. (imagino que seja duro ler isso quando nessa altura da vida já encontramos todos os culpados que precisávamos para nos isentar de responsabilidade). É claro que, diferente do que querem alguns resumir a condição do homem ao meio em que ele cresceu e as regras da sociedade em que vive, uma reedição infantil do determinismo, somos sim, resultados de nossas escolhas e onde estamos é o resultado de um monte de caminhos que optamos.

O que, de forma alguma, descarta que as escolhas foram movidas por interferências do meio, do momento, de nossa criação, das pressões sociais, sim. Mas nossa história não deixa de ser resultante de uma escolha nossa. Dizer que não temos escolha é uma das maiores falácias do reducionismo comportamental. O que não estamos dispostos é bancar a opção preterida por inúmeros motivos, dano maior, desgaste, desinteresse, imediatismo etc.

Acontece que uma escolha cria cenários e momentos que acabam influenciando (eu disse influenciando e não determinando) nas outras escolhas que se seguem. Lembra da série Breaking Bad? Quem assistiu vai lembrar. As escolhas de Walter White começam a se interligar em contexto e relações. Em um momento, quando se espera que ele vá fazer um discurso de vitimismo do tipo fui impelido pelas circunstâncias, sou uma vítima do sistema, fiz isso porque envolvido em representações sociais que me impeliram a blá, blá, blá… Ele olha nos olhos de sua mulher e diz: sabe por que fiz isso? Por que eu quis. A seguir, ele explica porque ele quis.. item por item.

Mas aí é que está o nível de dignidade e lucidez do personagem. Ele assume as rédeas de sua história e diz: estou nesse lugar porque ele é o resultado de minhas escolhas que, por conseguinte, são o resultado do meu livre arbítrio. Ele poderia ter dito, eu fiz isso porque me sentia diminuído, fracassado, porque tinha câncer, porque queria dar uma vida de fartura a minha família… Mas não. Eu fiz isso porque eu quis. Eu fiz por mim. Assumir um certo egoísmo e a responsabilidade é de uma dignidade e hombridade quase divinas e extremamente raras.

É exatamente isso. Isso é assumir-se por completo e dizer que o seu destino (bom ou mal) é de alguma forma diretamente um resultado das suas escolhas. Onde você está é parte do caminho que você traçou até aí. Quem te traiu, te roubou, te prejudicou, tentou te destruir era parte desse caminho. Tem a cota de responsabilidade deles e você se tivesse escolhido outro caminho haveria outras pedras, não essas, mas outras. Não há caminhos sem pedras.

Todos travam uma batalha pessoal e, independente do caminho, haverá momentos de escolha e as escolhas nos direcionarão a um conjunto de escolhas em uma cadeia infinita que pode ser quebrada, mas obviamente não é simples. Nunca é fácil essa ruptura nem resolve o problema das pedras no caminho e em outras escolhas. Não existe saída desse Samsara, esse ciclo de morte, renascimento… e escolhas.

Sem receita de bolo, sem soluções mágicas, somente com a percepção de que não há como fazer dar certo, porque não existe o certo nesse caso. Há caminhos e encará-los como eles são e nos assumirmos como responsáveis por estarmos ali é a maneira mais saudável de doer menos. Sim. Sempre vai doer, a dor pertence ao mundo, mas nem sempre vai ser sofrido, porque isso já pertence a você. Doer vai, sofrer é você quem escolhe.


***

Hesitei em escrever esse texto porque de certa forma soa acintoso contra tudo aquilo que encontramos na nossa vida para colocar culpa e atribuir nossos fracassos. Inclusive os meus fracassos e os meus culpados devidamente eleitos e embasados em uma lógica impecável e pessoal.


domingo, 21 de março de 2021

O que te ofende de fato?

Existem, no mínimo, 3 EUs na gente que precisam afinar sua convivência: quem eu sou, quem eu penso que sou e quem as pessoas pensam que eu sou

Hoje, as pessoas alimentam as redes sociais com um marketing contínuo para fazer com que o terceiro EU adquira força, o quem pensam que sou. Esse EU é politicamente correto, socialmente engajado, sensível e que tem uma vida no instagram abençoda por Deus… O fato é que, atualmente, há uma conduta obsessiva em vender quem nós queremos que os outros pensem que somos. Isso não é uma crítica, é uma constatação. Afinal cada um sabe de si, cada um sabe onde o sapato aperta.

Mas tudo isso nasce no que pensamos que somos. Na verdade, a imagem que temos do que pensamos que somos. Não. Não somos necessariamente aquilo que queremos que os outros pensam que somos, aquilo é o marketing. Quando estamos conosco, normalmente, o dia todo, nos conhecemos além das postagens. Nas coisinhas do dia a dia, nos nossos atos, nossas decisões, nossas palavras nos mostram parte do que somos e parte do que pensamos que somos. Muitas vezes, violentamo-nos em nossas decisões para agradar os outros… É isso. Aquele ali é o que pensamos que somos. Não somos aquilo.. Aquilo é um misto do que pensamos e do que queremos que alimente aquilo que os outros pensam sobre nós.

No primeiro caso, pagamos um preço por viver um personagem para alimentar um EU fake para nós mesmos e em segundo perdemos a dimensão de que agindo nesse intuito não temos necessariamente o resultado que esperamos. Podemos nos "violentar" 99 vezes para alimentar nosso marketing, mas se falharmos (não atendermos a expectativa do outro) 1 vez, seremos julgados pela falha não pelo conjunto da obra. Diga 99 sim, mas não esqueça que o pode definir seu julgamento pelo outro será um Não que disse.

Costumo dizer que as pessoas só precisam de uma coisa para que você seja odiado, que você exista. Logo, não deixe que o que você pensa que é nem o que deseja que os outros pensem assumam o comando das decisões que movem sua vida. 

E lá no fundo da gaveta, está o EU que você é. Humano, demasiadamente humano que age de acordo com seus interesses, movido por seus anseios (muitas vezes causando repulsa e repreensão dos outros EUs)... Esse EU nada tem a ver com o conceito freudiano de ID. É só um EU legítimo, porém sociável, mas cheio de defeitos, que te critica, que te ofende, que deprime, que o faz se sentir ora fracassado, ora um Deus… Esse Eu é o seu maior amigo e o maior cruel inimigo... esse eu é você mesmo. 

A dor que temos quando nos ofendem chamando de inconsequente, irresponsável, limitado, desonesto, provém muito mais do arranhão que causam nos outros dois EUs do que nesse terceiro, que chamaremos de o EU de FATO. Esse, ouve, ignora quando é mentira ou se cala quando é verdade como se alguém lhe anunciasse o óbvio. A ofensa só reverbera quando ameaça os EUs que vendemos aos outros, inclusive a nós mesmos porque temos medo que mais pessoas (inclusive nós) se convençam daquilo com que nos atacam e desconstruam o que construímos todos os dias com atitudes que contradizem nossos desejos ou com toneladas de fotos nas redes sociais. Anos e anos e trabalho montando um outdoor do que queremos que vejam… Aí vem a indignação com a ofensa e muitas vezes gastamos tempo de vida contra-argumentando com uma pessoa que sabemos não ter o menor controle do que ela  (nem ninguém) pensa sobre nós… podemos falar dias e dias que, se ele não quiser acreditar, vai continuar na mesma. E nós? Bem… Nós perdemos tempo de vida com absolutamente nada e para nada… porque, muitas vezes, sabemos (lá no fundo) que ficamos procurando argumentos para demonstrar o que sabemos não ser verdade mesmo.

O EU de FATO não se ofende nunca porque ele sabe realmente quem somos e que as críticas se dividem entre o óbvio e a calúnia. Ambos inócuos no papel de construir o que de fato ele é.  

A grande busca consiste em encontrar esse EU de FATO, sentar com ele e o assumir com todos os defeitos e qualidade que ele tem, ouvir o que tem a dizer e se aceitar como um ser cheio de imperfeições e que realmente não possui controle sobre o que vão pensar de si independente de o que quer que se faça. 

A grande viagem nossa se dá para dentro de nós. Que se torne um hábito sentar para tomar um café com nosso EU de FATO e entender um pouquinho mais desse que mora dentro de nós e nos faz humano.. demasiadamente humano. Menos escravos do pensar alheio, mais íntegros e verdadeiros.

 

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Ignorando em 3, 2,1... E seja feliz!

Outro dia li um texto sobre a necessidade de ignorarmos as pessoas que nos intoxicam de alguma forma, por exemplo, com seu radicalismo, com sua cegueira ideológica, com sua necessidade de convencer o mundo de que estão certas e, obviamente, de que são fodásticas. Ou, simplesmente, porque gostam de reclamar, fazer fofoca, encher o saco de alguma forma. Enfim, pessoas chatas para cacete que, muitas vezes, nos pulam na frente no dia a dia e com que teremos que lidar porque, de alguma forma, convivemos com elas em casa, no trabalho ou em grupos sociais diversos.
O texto é genial, mas deixa uma coisa no ar, como ignorar sem parecer rude. A vontade que eu tive durante anos era olhar para essas pessoas e dizer: desculpe, mas eu não pedi sua opinião, guarde para você ou para quem quer ouvi-la. Mas isso, reconheço é demasiadamente, rude. Dessa forma, seguem algumas sugestões que podem tornar sua vida mais leve. Pelos menos, funcionou comigo.... e ah, sim... aceito sugestões também.

1. Evite o contato visual ou criar situações interativas de comunicação com o inconveniente. Não quer dizer dar um gelo, não é isso. Fale com ele o mínimo. Cumprimente e seja gentil. Trata-se de não permitir que se crie o canal de comunicação que, muitas vezes, começa no visual e em cumprimentos mais longos. Se ocorrer da passagem em movimento no local onde convivem, acelere o passo. Pressa é sempre uma desculpa tácita.

2. Não adianta expor ao inconveniente o que você pensa sobre ele. Ele não vai mudar porque você pensa que ele é um pé-no-saco. E ainda vai criar um ambiente de animosidade desnecessário e contraproducente. Guarde o que você pensa sobre o cara para você. Evite até de compartilhar com outros colegas.  Até porque, de certa forma, podemos ser chatos para alguém e eu, pelo menos, não estou interessado no que outro pensa sobre mim uma vez que isso é um problema dele e não meu.

3. Fuja dos holofotes. Em caso de reunião, pense muito antes de falar. Veja se alguém não falou o que você iria dizer (repetir o que já falaram só para aparecer é bem escroto) ou se o que você tem a dizer é realmente MUITO necessário. Ir para o holofote atrai a atenção do chato igual a mosca na luz.

4. Só abra algum tipo de conflito quando for EXTRAMENTE necessário. Por exemplo, que envolva um prejuízo financeiro que lhe possa ocorrer ou um grande dano ao seu projeto profissional. Nesses casos, projete 30% dos conflitos ali, mas o grande choque deve ser nos bastidores e não no conflito direto.

5. Aprenda a ficar em silêncio e desenvolver uma vida interior de discussão mais rica. Saiba que da mesma forma que você não tem paciência com algumas pessoas. Pode haver pessoas que o acham desagradável também. Eu nunca perdi por calar na hora em que não deveria falar. Não fale só para pensarem que você é inteligente. Se você precisa disso para que elas se convençam, provavelmente, não o seja.

6. Na interação compulsoriamente  presencial oral, esquive-se. Nada incomoda mais alguém que quer aparecer em cima de você do que fazer uma interação, ser ouvido e, logo após, haver uma mudança brusca de assunto. Mas primeiro ouça. Depois viole máxima de relevância com outra pessoa envolvida na interação. Se está só você e o inconveniente, ouça (quanto mais falar, melhor) e ao final diga algo como: Então tá. 'té mais. Quem fala muito espera retorno proporcional, ser lacônico mata de raiva. Adoro essa técnica...

7. Na interação em redes sociais, ignore com seus recursos nativos. Às vezes, o inconveniente acha que sua Timeline é vitrine do ego dele. Aí resta apagar os comentários que é como dizer de forma sutil: não lhe perguntei nada. Guarde sua opinião para quando eu quiser ouvir ou insira em sua Timeline onde seus amigos quererão ler. Em segundo nível, crie uma lista e exclua da suas publicações o indesejável. E, em última instância, bloqueie. A primeira bloqueada é meio traumática, mas depois é até gostoso.

Ninguém diz que é fácil, mas toda prática requer tempo. Às vezes, coçamos de vontade de responder a altura coisas idiotas ou desagradáveis que ouvimos, mas pense: vai mudar o mundo? Não. Vai mudar pessoa? Não mesmo. Vai mudar a situação para melhor? Acredito que não. Se você respondeu sim a todas as perguntas, provavelmente o chato é você.

É claro que há casos e casos, mas, sinceramente, 95% das vezes entramos em tretas que não vão se resolver dessa forma e com pessoas com quem não vale nada a pena. Perda de tempo absurda como se o tempo fosse algo inesgotável.


E se a pessoa chegou até esse fim de texto e comentará: ignorando o texto em 3, 2, 1..., não entendeu  que é ignorar. Uma das definições do que é ignorar é não tomar conhecimento por ter desprezo ou indiferença. Aliás, por favor, nesse caso, se pretende isso, ignore. Farei o mesmo.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Hipocrisia, cigarros e outras coisas

Sempre achei que a hipocrisia é um bem social.
Proibimos a maconha, liberamos o cigarro, condenamos a cocaína, aceitamos o álcool. Achamos até engraçado um personagem humorístico que cai pelos cantos e fala besteiras fazendo piadas com a própria desgraça (não a do ator, mas a do personagem). O ministério da justiça reclassifica a novela porque aparece uma moça seminua dançando numa boate às 21 horas. Enquanto isso, o senado libera um senador que comprou empresas usando laranjas, dinheiro sujo, pagou uma amante (aliás, com quem teve uma filha) com dinheiro de empreiteiro e isso passa no jornal das 13 horas.
Não defendo a liberação das drogas, mas a questão é pensar: o que faz o álcool menos droga do que a cocaína e o que faz o cigarro menos droga do que a maconha? Talvez dados técnicos apresentem distinções, mas essas se contrastam com a realidade de que o cigarro e a bebida são muito mais socialmente nocivas do que os seus concorrentes vendidos nas bocas de fumo dos morros (e, hoje, até por playboys de classe média).
Mas, seguindo assim, punindo os peitinhos na TV, liberando as putarias dos políticos não vejo muito perspectiva para aposentar a falsidade (ou pelo menos, dar umas férias sem vencimento para ela). Achando normal o garotinho de 15 anos com o cigarro no dedo que chega a casa bêbado depois da balada e se horrorizando com os garotos de zona sul preso com drogas seguimos rumo ao nada, ou pior, ao tudo de ruim.
Não tenho esperança de que as coisas mudem muito com a liberação das drogas ou mesmo com a proibição do álcool. Acho que tudo demanda uma reformulação de mentalidade que terá como fim tirar nosso rosto de trás dessa máscara chamada HIPOCRISIA.
Certa vez, quando eu dava aulas em ensino médio em uma escola da rede privada, lá pelos idos de 1999, uma vez me vi no meio de uma roda de alunos de 1º ano que contavam sobre um churrasco. A conversa descambou para porres homéricos (papo comum nessa idade). Daí, começaram a relatar os porres de seus pais. Um deles disse:

Caraca, maluco, aí quando eu vi, meu velho tava todo vomitado no churrasco da minha tia. Levamos o cara para o chuveiro e demos um banho daqueles... caraca, maluco. Muita doideira.

Imaginei-me naquela situação, jamais vivida por mim, com meu pai e deprimi só de pensar. Esse fato narrado vindo de um adolescente é normal, pois a idade prima por pouco senso crítico, mas essa atitude vinda de um pai dispensa comentários e se torna autoexplicativa para o que vemos.
Ave, hipocrisia!

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Deixa ver se eu entendi...

Dúvidas 1
Eu pago imposto, o governo pega o meu dinheiro para construir uma estrada, constrói. Pronto, até aqui tudo bem. Aí, ele cede a concessão para uma empresa particular, eu continuo pagando imposto. Bom, até aqui foi. E aí, a empresa cobra para eu usar uma coisa pela qual já paguei e continuo pagando. Certo? É. Acho que eu entendi. Só não achei bacana.

Mas entendi.

Dúvidas 2
Bom, eu posso abater meus gastos com saúde no Imposto de Renda. Aí eu vou ao médico, ele me cobra 80 reais de consulta. Saio de lá com uma lista de remédios. Legal, acho que até aqui deu para acompanhar. Vou a uma farmácia, compro os remédios e gasto 450 reais. Tudo bem?! Bem, aí eu só posso abater os 80 já que os 450 não são vistos como despesas médicas, gastos com saúde. Huuummm... Entendi de novo, mas continuo não gostando.

Dúvidas 3
O problema é o número de reprovações no ensino fundamental na rede pública, certo? Bom, aí o governo aprova uma lei que proíbe reprovar. Ok, até aqui foi. Aí, uma vez que não se pode reprovar, todos são aprovados... É isso mesmo? Bem, então, acabou o problema com alunos reprovados no ensino público. Certo?



P.S.: Cansei de entender. Estou começando a preferir a ignorância.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Sobre a oportunidade de ser vítima


Existe uma diferença entre ser vítima e fazer-se de vítima. O primeiro caso decorre de ser atingido por algo alheio a nossa vontade e estar passível a danos decorrentes disso, o segundo trata de obter situação proveitosa da condição de paciente escondendo a inércia que caracteriza o ser humano no geral. Enfim, não queria ter sido vítima. Claro! Ninguém o quer, mas se gera dividendos aproveitemos o momento.

Toda vítima carece de nosso apoio no momento em que sofre os efeitos do que lhe ocorreu. Esse suporte dura o tempo da recuperação para que se retome o caminho. O tempo deve ser sempre o estritamente necessário para não permitir que do fato se brote o vício. Aquele que se faz de vítima nada mais merece do que o desprezo que se dá aos oportunistas que veem a sua grande virtude no fato de ser atingido por um infortúnio e não poder "fazer nada" (sic). O eterno conforto de atribuir a tudo e todos a responsabilidade de seus azares. Eles se tornam, assim, atores co-adjuvantes de sua própria história. Sempre terceiras pessoas em um discurso que deveria ser em primeira.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Adão e a carteira de trabalho

E tudo começou em Genesis 3:1-24. Adão vacila, cai na conversa da Eva, come a maçã, comete o pecado, Deus paga geral e os expulsa sendo taxativo: "No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás" (Gênesis 3:19). Resumindo, Adão e Eva viviam às custas de Deus no Paraíso, o casal pisou na bola e foram os dois expulsos sendo condenados a trabalhar e pagar as próprias contas. Deus os lançou para fora do jardim do Eden penalizando-os a lavrar a terra de que foram feitos.
Condenados? Penalizados a trabalhar?

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Tem "caboco" que polemiza tudo

Moro na divisa com Minas Gerais, mas minha cidade fica no Estado do Rio de Janeiro, Valença. Por aqui, somos mais mineiros do que fluminenses (aquele que nasce no Estado do Rio), e isso, longe de ser um problema, é uma característica que define nossa identidade cultural de forma bem marcante.
Comemos/fazemos comida mineira, temos uma arquitetura semelhante à de cidades mineiras e sotaque semelhante aos dos vizinhos do outro lado da fronteira. Meu /s/é sibilante, tão sopradinho que, às vezes, parece que a gente sopra vela de aniversário quando está falando. Tive um colega de trabalho que dizia que quando via Valença-RJ, pensava ser incoerente. Ele achava que caía melhor se fosse Valença-MG. Concordo com ele.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O mal resolvido - o dilema do macho da espécie

A autoestima masculina não nasce necessariamente no mesmo lugar que nasce a da mulher. Fomos educados para sermos os donos do poder, o mantenedor, a viga mestra da sociedade. Somos "o todo poderoso macho adulto".
Nem tão poderoso, pois estamos submetidos a todas as intempéries de todos os mortais sejam homens ou mulheres. O poder representado pelo dinheiro e pela dominação sexual pode se esvair com muito mais facilidade do que imaginamos e perdê-los implica um ataque arrasador à autoestima masculina.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A cômoda poltrona da “vítima”, a inversão dos papéis

Vivemos em uma triste e esquizofrênica era em que ser vítima é o sonho inconsciente de muitos que, enquadrados em uma minoria (sic) podem invocar para si direitos de proteção do estado e legitimação de qualquer asneira que ele fizer. Trabalhei com um cara, certa vez, que fazia muita besteira no ambiente de trabalho e toda vez que o acuavam ele disparava: fazem isso porque eu sou X.

sexta-feira, 1 de março de 2013

A blogueira, Deus-Fidel e a liberdade esquecida

Passei por uma banca da rodoviária no Rio na quarta-feira e vi a capa da VEJA. Sim. Eu vi a capa da veja e confesso ainda que isso coloque minha credibilidade intelectual toda por terra uma vez que vivemos em uma época que, para ser intelectual e politizado, basta dizer que se odeia a VEJA. Não precisa ser nem alfabetizado direito, basta dizer: odeio a VEJA. Mas eu pequei e li a capa da VEJA. Mea culpa, mea culpa... Se disser odeio a Globo, então... Garante uma coluna em um jornalzinho universitário com título sugestivo tipo "luta vermelha" com foicinha e martelinho. Ah sim.. Que pode ser visualizado no iPad. Atroz contradição.
A reportagem principal trata da blogueira cubana Yoani Sánchez com o título A BLOGUEIRA QUE ASSUSTA A TIRANIA. Essa mulher ficou conhecida mundialmente por denunciar as mazelas do regime cubano, um regime político que é visto pela esquerda-radical-doutrinária como o novo Eden, tudo é perfeito e o que dá errado por lá é culpa dos EUA. Sem exceções... o inferno são, definitivamente, os outros. 
O que me surpreendeu foi a violência e autoritarismo com que foram feitas as manifestações. Gritos, invasão de sala, restrição de acesso, ou seja, violando-se toda a liberdade de expressão de alguém que cometeu o maior dos crimes: discorda de Deus-Fidel. Para os manifestantes, todo aquele que discorda da verdade absoluta comunista é um agente americano anti-sonho-comunista, mas aquele que concorda garante vaga no panteão dos “santos” da causa vermelha. Um lugar confortável ao lado de Stalin, Trotstky, Lenin, Hugo Chavez e outras entidades desprovidas de todo o erro e pecado. 
As pessoas substituem uma religião por outra e não se dão conta que a que criticam por que cega, é tão nociva quanto a nova que cala. 
Entretanto, eles esqueceram que se fosse lá, em Cuba, o seu paraíso pessoal, uma manifestação como aquela, terminaria em prisão, agressão, repressão e represálias diversas... Questionados sobre isso, alguns manifestantes disseram que, em Cuba, eles não precisariam fazer essa manifestação. 

Isso é verdade, afinal, reprimir quem pede liberdade de expressão, por lá, é monopólio do estado.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O mal resolvido - o dilema do macho


A autoestima masculina não nasce necessariamente no mesmo lugar em que nasce a da mulher. Fomos educados para sermos os donos do poder, o mantenedor, a viga mestra da sociedade. Somos o todo poderoso macho adulto.
Nem tão poderoso, pois estamos submetidos a todas as inetempéries de todos os mortais sejam homens ou mulheres. O poder representado pelo dinheiro e pela dominação sexual pode se esvair com muito mais facilidade do que imaginamos e perdê-los implica um ataque arrasador à autoestima masculina.
Entretanto, muitas vezes, o dilema é a causa da grande perturbação. O dilema de perder o dinheiro, mais palpável, ou o dilema da sexualidade. A sociedade esperava que ele crescesse, casasse, arrumasse filhos e fosse aos domingos almoçar na casa da sogra. Mas nem sempre é assim que funciona. Ele até cresceu, mas juntou com o namorado, criam um Poodle e pensam em adotar uma criança. Bomba!
Quando o homem tem bem resolvida essa questão na sua cabeça, a coisa flui de maneira maravilhosa e não há problemas. Tive colegas de trabalho homossexuais que sempre foram pessoas e profissinais excelentes, não por sua opção, mas porque ela era bem clara para eles. Estava tudo bem resolvido.
Já os mal resolvidos que conheci se tornavam pessoas agressivas, competetivas ao extremo, fofoqueiros, enfim, conseguiam agredir o mundo inteiro porque, no fundo, queriam era se agredir. Não ser o que a mamãe sonhou doía mais nele do que em qualquer outra pessoa.
Enfim, o problema não é a opção sexual, mas a maneira como lidamos com ela. Agora, quando você ouvir um comentário que termina com "bicha enrustida, é foda!"
Isso tem um fundo de verdade inimaginável. 
É foda mesmo.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O mito da mal amada - o drama feminino (e masculino)


Freud já dizia que o desejo do homem é ser objeto de desejo do outro e assim alimentamos nossa vaidade e direcionamos nossa libido. Com base nisso, é fácil entender a mal amada, ou para os mais curtos-e-grossos, a mal comida.
Elas se revelam em ambientes de trabalho ou acadêmicos, pois é o meio que lhes permite projecão e canalização da libido contida em outras áreas. Sendo assim, apesenta um comportamento obsessivo com perfeição e controle de tudo. Além é claro de uma tendência de agredir tudo aquilo que, de alguma formas, lhes ameaça o status ou o poder adquirido. Normalmente, são solteiras ou casadas frustradas e, normalmente, sem filhos...
Tudo isso nasce na rejeição sexual mesmo (no mal comida) uma vez que o sexo, para a mulher, tende a ser mais do que penetração. Envolve afeto e aceitação que passam pelo beijo, o toque de mão, uma conchinha depois da transa.. Sexo, nesse caso, é bem mais complexo do que para o homem que poderia ser reduzido, na maioria das vezes, como penetração, ejaculação e sono.
A mulher que tem essa parte mal resolvida sofre com a perda da autoestima de não se sentir desejada em uma sociedade "animal" em que, culturalmente, é a ela que compete o papel de rejeição do macho. Dessa vez, o macho não a quer. Ele a dispensa em uma inversão de papéis inconcebível.
A libido preciso ser direcionada para algum lugar, pois é uma energia que não se perde e seu compensatório deve ser feito. Dessa forma, toda aquela força se concentra em um aspecto, o profissional, e forma uma personalidade obsessiva e altamente tensional do ambiente. Eis o mal da "mal comida", explicado em parte.
Agora quando você encontrar com aquele pessoa do trabalho que apresenta esse comportamento será mais fácil entender o porquê de tanto azedume... Em parte, começou, em algum momento, na violação do axioma freudiano.

Próximo episódio: O macho mal resolvido 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Valei-me, meu São Cristóvão! Quem deu a carteira a essa criatura?


Hoje é dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas. Muita gente não sabe, mas eu tenho como hobby a hagiologia, estudo da história da vida de homens santos de acordo com a tradição católica. O que isso tem a ver? Ah sim.. Tem a ver que São Cristóvão tem uma história linguística interessante.  
Assim como muitos santos, talvez ele não tenha existido de fato, mas ficaram como bons exemplos de comportamento cristão em seu personagem pelas lendas que atravessaram o tempo. E talvez, se tenha existido mesmo, não tenha se chamado Cristóvão. 
Cristóvão tem origem no grego em Άγιος Χριστόφορος (alguém consegue ler isso?), e, posteriormente, possui seu correspondente em latim Christophorus, que, numa análise etimológica significa “aquele que leva (faros) Cristo (Christo) em seu coração”. Uma referência óbvia a seu comportamento cristão. Mais tarde, o santo passa a ser representado com o menino Jesus no ombro (assim como muitas imagens trazem-no junto a si para simbolizar o fato de levar Cristo consigo.. Lembra de Santo Antônio?). Da metáfora  de “levar Cristo no coração” para carregar Cristo de um lado para outro surgiu a sua referência de como aquele que conduz alguém fisicamente. Logo, padroeiro dos motoristas. Enfim, é isso. 
No sincretismo religioso das culturas afro, o santo corresponde a Xangô, que até onde sei não tem muita a ver com motoristas ou coisa parecida. Até por que diriam que representar o orixá associado a um motorista de ônibus por exemplo, seria preconceito, discriminação... Uma besteira dos tempo modernos.
Em tempo de engarrafamentos, brigas de trânsito e tanto estresse, precisamos mais de proteção do que nunca. E como dizia a vovó, se canja de galinha e reza nunca fez mal a ninguém, abençoai-nos, São Cristóvão.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

As pessoas e as outras pessoas


As pessoas querem que a gente odeie outros times que não sejam o nosso, mas não consigo ver inimigos a serem odiados e humilhados, mas gostos diferentes. As pessoas precisam que você compartilhe o que eles consideram belo justo, mas poucas vezes, lhe perguntam qual a sua ideia de belo e justo. As pessoas sentem necessidade de demonstrar algo que nem de longe sejam, mas se esquecem de saber se eu quero ver já que acreditar nem mesmo elas o fazem. As pessoas nos cansam e nem aceitam nosso pedido de tempo para descanso... Só no Vôlei  alguém nos leva a sério.
Acho que no facebook ou no mundo real, cada vez menos presente na vida social de tanta gente, as pessoas desejam que as conheçamos melhor e, para isso, se mostram no que são cada vez menos.
É isso. As pessoas investem para que sejamos cada vez mais idiotas perfeitos, mas esquecem que ninguém é perfeito. Logo, seremos falhos até em nossa estupidez.
E isso talvez ainda seja a esperança que nos resta.

domingo, 8 de abril de 2012

Vaidades das vaidades.. tudo é vaidade


Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, que faz debaixo do sol? 
Eclesiastes 1:3

O vaidoso é um idiota (no sentido helênico da palavra aquele que só pensa em si mesmo) por natureza. Não falo da vaidade que quer deixar a si mesmo mais bonito, mais novo, mais forte, mais chique, enfim, mais qualquer coisa que agrade aos olhos. Falo do vaidoso estúpido que faz tudo na espera do agradecimento, do reconhecimento, das placas, dos títulos, das honras... Trabalhei em lugares em que as pessoas faziam lobby para colocarem seus nomes em prédios e salas antes de terem ao menos morrido.  Coisa que aliás, por desfeita, não fizeram até hoje para se fazer jus à homenagem. Conheci, na minha vida, pessoas que adulavam chefes para receberem um título qualquer de qualquer coisa só para ter uma cerimônia de honra e entrega de plaquinhas. Lidei com professores que adotavam uma postura de bajulação com alunos para não ficarem de fora das homenagens das festas de formaturas... Ao fim, plaquinhas, musiquinha “ao mestre com carinho”...
Vi, nesse mundo, almas que se alimentam de elogios, nomes, títulos e pompas que escondem o imenso vazio que trazem. Muitos desses, por essas terras andam, deixam seus nomes em prédios, ruas, estabelecimentos, praças e até cidades e, nesse rastro de suas vaidades, nos fazem até esquecer os canalhas que foram em vida. Afinal, a morte redime a tudo, já diziam os romanos.
Sem estender-me em elucubrações, talvez essa seja a real intenção em vida de sua sede por notoriedade e reconhecimento. Cobrir com placas e louvores tudo que ele não fez, tudo que ele não foi.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Sem condições de viver em sociedade


Eu até entendo (mas não justifico) uma pessoa, em um ato de descontrole, matar a outra. Uma briga, uma arma, uma discussão, uma ameaça, um confronto, um descontrole, um tiro, um morto. Isso é o ser humano. Agir por impulso sob forte emoção. Depois ver a besteira que fez.
Entretanto, o que me assusta não são esses casos, mas aqueles premeditados. Recentemente, vi um caso nos jornais de um casal que planejou, comprou o álcool, comprou a corda, comprou o isqueiro, escolheu o melhor momento, aproximou-se de um morador de rua, amarrou-o a um poste, jogou álcool e ateou fogo em seu corpo. 
Houve também o casos dos moradores de rua de Brasília que vêm sendo assassinados. Tiros na cabeça. Simples, fácil e rápido. Uma amostra da evolução no processo de execução em uma cidade que nos anos 90 teve por tradição queimar moradores de rua vivo. Pois sim.. até os carrascos evoluem.
Não entendo (e muito menos justifico) uma pessoa planejar, se organizar, adquirir os recursos necessários, preparar, colocar o plano em ação, enfim, estruturar em detalhes a sua barbárie com requintes e cuidados que deixariam Jack, o estripador, parecendo um animador de festa infantil.
Há coisas na vida que não possuem explicação, nem perdão. Trata-se de pessoas completamente inaptas ao convívio social. Seres desequilibrados e dotados de um potencial de maldade que os torna uma ameaça ao meio. Infelizmente, como solução, só mesmo uma cela com uma pequena portinha para passar um prato de comida e não oferecer ameaça aos carcereiros.

Agora, se tem mais gente achando normal agir assim, eu assumo: eu é que não tenho mais condição de conviver em sociedade.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A capacidade de mobilização em prol de uma cidade

Em 22 de janeiro de 2011, a revista nrote-americana Newsweek publicou uma reportagem sobre cidades nos EUA que apresentavam um declínio de população. Entre elas havia a cidade de Grand Rapids no estado de Michigam. Concluía o repórter: Grand Rapids not just sick, it's dying, Grand Rapids Não está só doente, está morrendo. 
Em tempos de tribunais em moda, cabia um processo de danos morais que alegasse que a cidade sofreu um dano de imagem que gerou um prejuízo de milhoes de dólares. Isso sem falar em milhares de cartas e emails desaforados para a imprensa e, por fim, a declaração da jornalista que escreveu a matéria como “personna non grata” pela câmara de vereadores.
Entretanto, não foi isso que aconteceu. No último dia 22 de maio, eles mobilizaram recursos, patrocínio e muitas pessoas e setores da cidade para fazer um clip da música American Pie, de Don Mc Lean (um clássico dos anos 60). Li no kibe loco e fui atrás de mais informações sobre o clipe. Fiquei impressionado com a capacidade de mobilização deles.
Em um anti-americanismo completamente fora de contexto são tecidas milhões de críticas aos americanos. Crítica de muita gente que nunca botou os pés nos EUA e só fala do que ouviu falar. Quando estive lá aprendi que era um país como qualquer outro, cheio de qualidades e defeitos. Porém, duas coisas me chamaram atenção: eles possuem um senso de coletividade e uma capacidade de mobilização que talvez nunca vejamos por aqui.
Fiquei com vontade de conhecer Grand Rapids.
Experience Grand Rapids.. It sounds great now...

Vale a pena assistir

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A flexibilidade moral e os canalhas de ocasião

Outra dia eu assistia a um filme interessante, Obrigado por fumar (quem não viu, veja!) em que um indivíduo que chefiava o lobby da indústria de tabaco nos EUA vive entre defender o indefensável e a convivência com o filho que começa a construir valores que levará para toda vida. O que me agrada nesse filme é o seu tom nada moralista e sem os finais previsíveis das histórias edificadoras do cinema puritano de alguns diretores americanos. Em determinado momento o filho pergunta ao pai como se pode fazer o que ele faz e se ele (o filho) seria capaz de fazer o mesmo. O pai o responde dizendo que é necessário haver uma certa flexibilidade moral para exercer sua profissão. Essa foi a maneira mais sutil de se referir à falta de caráter que os interesses pessoais nos projetam. Justificar seus atos com a flexibilidade de conceitos inflexíveis é, no mínimo, amoral. Mas não imoral. 
Há coisa na vida que não comportam o meio termo e essa é uma dessas coisas. É como aquele famoso jeito de dizer... “Ele é meio gay”. Desculpem. Mas não dá... Ou melhor. Dá mais não se assume. 
Todos somos canalhas de ocasião, agimos como canalhas em um momento outro da vida e, quando temos o discernimento, procuramos que isso seja a exceção e não a regra de nosso comportamento. Isso sim, nos torna mais humanos e nos dispensa de encontrar em nós uma moral que se flexibiliza e nos torna menos ordinários.  
É como naquela música em que se diz que “quem se diz muito perfeito, na certa encontrou um jeito insosso para não ser de carne e osso”. Afinal de contas, somos humanos e nada do que é humano nos deve ser estranho (Terêncio)

sábado, 5 de março de 2011

O inusitado do inusitado, colocando toda uma geração a perder

Minha profissão me traz coisas interessantes e quando acho que já vi de tudo, sempre tem um pouco mais para se ver. Quando acho que esgotou o repertório de coisas esdrúxulas, eis que vem sempre mais uma. Sou professor e diretor em uma instituição de ensino superior. Lido com alunos de diversos níveis sociais e origens e o que mais me chama a atenção é como estamos educando uma classe média alta que chega aos cursos para aqueles de maior poder aquisitivo.
Encaram jogar tinta e intoxicar um colega que vai parar no hospital como normal, uma brincadeira. Veem como uma farra saudável (sic) passar fezes e urina com água de esgoto na cara dos calouros, pois é assim mesmo que se faz com quem entra. Acham bacana ameaçar alunos novos de agressão exigindo dinheiro... Acham a barbárie normal e parte da sociedade. Roubar e extorquir é parte da tradição.
Entender isso demanda entender a origem desses alunos. Não é raro o caso de pais que vem aos diretores pedir o que se pode fazer pelo seu filho que ficou reprovado porque apesar de só estudar e ter dinheiro dos pais à vontade, além de, normalmente, um carro novo, não consegue fazer com o mínimo de decência e dignidade a única tarefa que lhe compete na vida, naquele momemnto, e ficam reprovados ou em dependência. Entendo isso como algo ligado a duas razões: falta de caráter, pois não dá valor a oportunidade que tem ou burrice mesmo. Qualquer uma das duas o deveria excluir do lugar que ocupa.
Já vi situações de pais que foram atrás de policiais para oferecer dinheiro para não autuar os filhos por algum crime num insensato ato de demonstração de que a lei é para o pobres, a eles, filhos do dinheiro, tudo pode. Essa é a elite de nosso pais, os futuros médicos, dentistas, veterinários.... Lamentavelmente, assisto a essa nau de insensatos impotente, com a depressão dos que veem as coisas rumarem para o pior dos caminhos.