sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Adão e a carteira de trabalho

E tudo começou em Genesis 3:1-24. Adão vacila, cai na conversa da Eva, come a maçã, comete o pecado, Deus paga geral e os expulsa sendo taxativo: "No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás" (Gênesis 3:19). Resumindo, Adão e Eva viviam às custas de Deus no Paraíso, o casal pisou na bola e foram os dois expulsos sendo condenados a trabalhar e pagar as próprias contas. Deus os lançou para fora do jardim do Eden penalizando-os a lavrar a terra de que foram feitos.
Condenados? Penalizados a trabalhar?
Pois é, mas foi assim que a sociedade acidental aprendeu a ver o trabalho, uma condenação, uma pena, um castigo. O trabalhador sempre se verá como vítima de uma disciplina e uma exploração de alguém sobre ele. Em tempos de todos somos vítimas de alguma coisa, o trabalho é só mais um jugo sob os coitadinhos de carreira.
Sempre me incomodou muito essa visão. O trabalho, para mim, é algo que sempre me motivou a melhorar, estudar. Algo que me move e me permite obter um reconhecimento da sociedade em que me insiro.  Quero e preciso ser útil ao meio em que estou. Isso tudo me dá relevância para assumir meu papel social. Sobretudo, é o meu trabalho que coloca comida na mesa de minha família e que nos dá a dignidade e independência impagável dos que andam com a cabeça erguida.
Uma vez alguém me disse que eu só louvo o meu trabalho porque é um trabalho intelectual e dignamente remunerado. Só que se esquecem de que eu não vim de família com muitos recursos. Pai , mecânico, e mãe, dona de casa, que criaram os filhos com dificuldade (principalmente, financeira - entre comprar casa e nos dar condições de estudar, ficaram com a segunda opção) e muito, mas muito trabalho. A maior herança que meus pais me deixaram é essa dimensão do que o trabalho dá. Nos tempos de mestrado e doutorado, foram anos de muito, mas muito estudo mesmo. Sem finais de semana, sem passeios, sem férias, poupando dinheiro, no início, comendo sanduíche que levava de casa para a UFRJ sem grana para comprar algo para beber (entalava a massa de pão na garganta) e, muitas vezes, estudando em xerox emprestada. E agradeço por cada privação que, longe de me fazer mais um revoltado que acredita que a sociedade me deve milhares de coisas e odiando quem consegue alguma coisa, me fez forte e com grande senso de dignidade.

Segunda-feira é sempre um dia maldito para maioria das pessoas porque começa o trabalho, levantar cedo é sempre algo ruim quando se imagina que é mais um dia de trabalho. Eis a síndrome de Adão. Bom, não sou assim. Adoro segunda, porque é mais um dia de trabalho e adoro acordar cedo para trabalhar, porque, afinal, é mais um dia de trabalho. 

Em tempo: Hoje, com certeza Adão não estaria desamparado e haveria um programa governamental para lhe conceder alguma bolsa, afinal, eles estavam agora em situação de vulnerabilidade, fora do paraíso, desempregado e com 3 filhos (Abel, Caim e Sete).

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