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domingo, 23 de maio de 2021

O Scar nosso de cada dia

Para quem não lembra ou não conhece, Scar é o irmão de Mufasa, tio do Simba do filme o rei leão. Sim, é aquele desenho da Disney e que fez muitas gerações ficaram com os olhos cheios d'água e que foi baseado na obra de Shakespeare, uma espécie de releitura ou como alguns chegaram a dizer: Shakespeare para crianças.

Mas o que poucos sabem que é que tanto na obra do dramaturgo inglês quanto no desenho da Disney, temos um retrato da alma humana e nos defrontamos com o fato que a única coisa que alguém precisa para nos fazer o mal é estarmos vivos. É lógico, se isso se soma a dinheiro, poder ou simplesmente ao egoísmo de ter o seu prazer atendido e ao vislumbre da impunidade do "se dar bem sem danos", a pergunta não é mais por que fazer? Mas, por que não fazer? Sempre seguida do raciocínio legitimador de que se fosso o outro, ele faria o mesmo.

No cinema, o vilão conduz as coisas para a morte de Mufasa e completa o seu plano culpando Simba da morte do pai porque Scar quer assumir o trono e, na ficção, até que ele se dá mal no final. O que nem sempre ocorre na vida real. Alguns poderiam dizer que ele era produto de uma construção social (Uma picaretagem intelectual da pós modernidade que legitima o ilegitimável. Uma espécie de reedição fuleira do mito do bom selvagem) de culto ao poder, mas em resumo, Scar era uma mau caráter e alguém cujo egoísmo era a energia geradora das ações.

A questão é que os Scars e os personagens de Shakespeare não se escondem nos livros e nas telas de cinema, eles dividem ambiente de trabalhos, frequentam mesmos círculos. São pessoas marcadas por algo mais nocivo do que maldade, o egoísmo, a fonte de toda a maldade. A fonte que legitima TUDO em nome do prazer pessoal.

Não há receita para lidar com essas pessoas, mas um caminho a se trilhar é saber que elas existem e admitir sem panos quentes que essa pessoa pode ser um colega, um vizinho, um familiar… Assim como na fábula do escorpião e do sapo, eles vão te picar, porque, afinal, é sua natureza. Aceitar a natureza do outro é se permitir não conviver, não se abrir, medir as palavras e, sobretudo não confiar. Tudo isso sem culpa por pensar ser um ato de retaliação ou hostilidade, mas por tratar-se de uma atitude legítima de autoproteção.

Aprender a dizer não, não quero, não vou, não posso, não te fazem ser alguém pior e também, acreditem, não interfere em nada no quanto as pessoas vão te amar. Não deixe que seu medo de não aceitação conduza suas decisões. Nunca se esqueça de que o número de SIM não vai se levado em conta no julgamento que fazem de você, mas sim o NÃO que você deu que definirá, de forma draconiana como irão te julgar. Não tenha medo de que não gostem de você. Não se esqueça de que a única coisa que as pessoas precisam para isso é que você exista. Muitas vezes só precisam de um empurrãozinho.. uma fofoca, um gesto, uma palavra mal entendida ou um não.

Se afastar de quem te intoxica ou ameaça de alguma forma não é um gesto de rancor, mas uma ação de autoproteção e garantidora da sua paz, um bem que não tem preço.

Scars rondam o nosso dia a dia e não pense que você está imune a eles, afinal, você atende o requisito básico: você existe.  Mas a boa notícia nisso tudo é que a escolha do quanto eles podem ter acesso a você é sempre sua.


quinta-feira, 7 de abril de 2016

Curtas histórias II - O mal que carrego em mim

Naquele empresa, todos buscavam o sucesso a qualquer custo. Cargos, gratificações, e até quem sabe, um prédio que levasse seu nome como homenagem em vida. Afinal, não se esperaria a morte, pois a vaidade tem que ser alimentada em vida. A morte cessa sua fome, ou a faz vã.
Ele destoava daquele teatro. Não conseguia lutar por cargos, gratificações, honrarias. Sua vaidade já era nutrida pela satisfação plena de ser como se é e não como o meio o queria. Entretanto, o seu modo de ser incomodava e não tardou para que articulassem sua expulsão, afinal, todo o seu desinteresse era a maior manifestação da "soberba de sua humildade". Pois, então, depois de fazerem de sua vida algo perto do inferno por um tempo, eles o expulsaram.
Na saída, contemplavam satisfeitos os passos do homem que se afastava alongando sua sombra. No coração não carregava ódio pelo mal que lhe fizeram, mas a certeza de que saíra como entrara e não caberia rancor contra aqueles que estavam eternamente condenados a serem o que eram.

Moral da história: Não é ruim o mal que fazem conosco, ruim é o que deixamos que esse mal nos faça. Aquele que cultiva a maldade carrega consigo a maior punição que se pode impingir a um espírito: ser o que ele é até o fim dos dias. 

quarta-feira, 14 de março de 2012

Sem condições de viver em sociedade


Eu até entendo (mas não justifico) uma pessoa, em um ato de descontrole, matar a outra. Uma briga, uma arma, uma discussão, uma ameaça, um confronto, um descontrole, um tiro, um morto. Isso é o ser humano. Agir por impulso sob forte emoção. Depois ver a besteira que fez.
Entretanto, o que me assusta não são esses casos, mas aqueles premeditados. Recentemente, vi um caso nos jornais de um casal que planejou, comprou o álcool, comprou a corda, comprou o isqueiro, escolheu o melhor momento, aproximou-se de um morador de rua, amarrou-o a um poste, jogou álcool e ateou fogo em seu corpo. 
Houve também o casos dos moradores de rua de Brasília que vêm sendo assassinados. Tiros na cabeça. Simples, fácil e rápido. Uma amostra da evolução no processo de execução em uma cidade que nos anos 90 teve por tradição queimar moradores de rua vivo. Pois sim.. até os carrascos evoluem.
Não entendo (e muito menos justifico) uma pessoa planejar, se organizar, adquirir os recursos necessários, preparar, colocar o plano em ação, enfim, estruturar em detalhes a sua barbárie com requintes e cuidados que deixariam Jack, o estripador, parecendo um animador de festa infantil.
Há coisas na vida que não possuem explicação, nem perdão. Trata-se de pessoas completamente inaptas ao convívio social. Seres desequilibrados e dotados de um potencial de maldade que os torna uma ameaça ao meio. Infelizmente, como solução, só mesmo uma cela com uma pequena portinha para passar um prato de comida e não oferecer ameaça aos carcereiros.

Agora, se tem mais gente achando normal agir assim, eu assumo: eu é que não tenho mais condição de conviver em sociedade.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Tragédia no Rio - solidariedade rimando com oportunidade

Quando acontece uma desgraça anunciada como essa das chuvas no Rio de Janeiro, as TVs se apressam em mostrar o lado bom das pessoas, a solidariedade, a mão amiga (sic) e, por alguns instantes, até chegamos a acreditar que as pessoas realmente se redimiram de toda a sua maldade e indiferença com relação ao próximo. Saramago define o ser humano assim: metade maldade, metade indiferença e, logo no início do livro Ensaio sobre a Cegueira, um homem ajuda o outro que acabou de ficar cego e, quando se assegura de sua cegueira, aproveita para roubar-lhe o carro. Essa é a metade do ser humano que nos deixa com saudade da indiferença.
A tragédia que se abateu sobre o Rio foi palco disso tudo. Alguns hotéis (dos medianos aos cabeças de porcos) elevaram seus preços ao máximo para poder ganhar com aqueles que não conseguia ir para casa por causa dos alagamentos, alguns vendedores de água potável, alimentos e demais produtos do gênero aumentaram o preço de seus produtos ao topo do possível para ganhar com a impossibilidade de deslocamento. Enquanto isso, entre os escombros se acumulam policiais, bombeiros, pessoas em busca de parentes, pertences e outras tantas pessoas se valem da situação de caos para tomar posse do que está sujo de lama, mas que guarda algum valor venal.
Esse é o ser humano. 
Lembro uma vez que presenciei um acidente de caminhão e, enquanto o veículo se encontrava virado e o motorista sangrava, uma horda de miseráveis se apressava em catar a carga de latas de cerveja que havia tombado... o homem sangrava e o cheiro de óleo se espalhava com o de cerveja no ar. 
Ecce homo.... eis o homem que me deixa com saudade da metade indiferença de nossa espécie.