O problema é que percebemos isso tarde demais para não nos importarmos com o que não merece nosso desgaste. Outro dia, eu coçava a barriga do meu filho caçula (6 meses) com a barba e o fazia dar gargalhadas. Ele se revirava cada vez que eu fazia barulho com a boca e coçava sua barriga com a barba.
Veio-me este pensamento de súbito. Quando nascemos o que nos é importante é tão básico, tão restrito. Crescemos e desenvolvemos sentimentos de posse, de revanche, de onipotência e perdemos a dimensão de como as coisas que importam são tão poucas, tão próximas.
O que vi nessa vida de pessoas que vendem sua alma por coisas, que cultivam inimizades por orgulho, que compram brigas, batem no peito e dizem que dão uma boiada para não sair da briga como se aquilo fosse algo que valesse a pena, como se aquilo fosse uma virtude a ser cultivada. E desde quando estupidez é virtude? Gente que esquece que não somos um cargo, estamos num cargo e a noite em que estamos pode ser sempre a véspera da que saímos. Pessoas assumem crenças religiosas e políticas e por elas são capazes de brigar, discutir, até matar. Evocam para si a missão de mudar o mundo convencendo as pessoas de que elas estão certas, plenamente certas. Esquecendo o quão desimportante é estar certo em 99,9% das vezes.
Tudo isso por que um dia perdemos a noção de que o que importa, de verdade, é muito pouco.