domingo, 31 de outubro de 2010

Hipocrisia nossa de cada dia, nos dai hoje..

Sempre achei que a hipocrisia é um bem social.
Proibimos a maconha, liberamos o cigarro, condenamos a cocaína, aceitamos o álcool. Achamos até engraçado um personagem humorístico que cai pelos cantos e fala besteiras fazendo piadas com a própria desgraça (não a do ator, mas a do personagem). O ministério da justiça reclassifica a novela porque aparece uma moça seminua dançando numa boate às 21 horas. Enquanto isso, o senado libera um senador que comprou empresas usando laranjas, dinheiro sujo, pagou uma amante (aliás, com quem teve uma filha) com dinheiro de empreiteiro e isso passa no jornal das 13 horas.
Não defendo a liberação das drogas, mas a questão é pensar: o que faz o álcool menos droga do que a cocaína e o que faz o cigarro menos droga do que a maconha? Talvez dados técnicos apresentem distinções, mas estas se contrastam com a realidade de que o cigarro e a bebida são muito mais socialmente nocivas do que os seus concorrentes vendidos nas bocas de fumo dos morros (e, hoje, até por playboys de classe média).
Mas, seguindo assim, punindo os peitinhos na TV, liberando as putarias dos políticos não vejo muito perspectiva para aposentar a falsidade (ou pelo menos, dar umas férias sem vencimento para ela). Achando normal o garotinho de 15 anos com o cigarro no dedo que chega a casa bêbado depois da balada e se horrorizando com os garotos de zona sul preso com drogas seguimos rumo ao nada, ou pior, ao tudo de ruim.
Não tenho esperança de que as coisas mudem muito com a liberação das drogas ou mesmo com a proibição do álcool. Acho que tudo demanda uma reformulação de mentalidade que terá como fim tirar nosso rosto de trás dessa mascara chamada HIPOCRISIA.
Quando eu dava aulas em ensino médio, uma vez me vi no meio de uma roda de alunos de 1º ano que contavam sobre um churrasco. A conversa descambou para porres homéricos (papo comum nessa idade). Daí, começaram a relatar os porres de seus pais. Um deles disse:

Caraca, maluco, aí quando eu vi, meu velho tava todo vomitado no churrasco da minha tia. Levamos o cara para o chuveiro e demos um banho daqueles... caraca, maluco. Muita doideira.

Imaginei-me naquela situação, jamais vivida por mim, com meu pai e deprimi só de pensar. Esse fato narrado vindo de um adolescente é normal, pois a idade prima por pouco senso crítico, mas essa atitude vinda de um pai dispensa comentários e se torna autoexplicativa para o que vemos.
Ave, hipocrisia!


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Congresso aprova lei da imprensa responsável - censura branca

HÁRIDOs DIAS
DE BRASÍLIA


Na última sexta-feira (22), foi aprovado o projeto de lei Chávez-Morales, um projeto que, segundo afirmam seus autores, pretende promover uma imprensa responsável e aliada à causa do povo. O projeto prevê a instalação de uma comissão de notáveis que irá avaliar o grau de relevância e interesse do Estado e do Povo sobre todas as informações que forem veiculadas pela mídia cabendo a estes membros do conselho o direito de veto da informação veiculada e cancelamento das atividades de órgãos de imprensa que ferirem as bases constituídas do estado com intento à subversão da ordem. A esses processos estarão submetidas as TVs, Revistas, Jornais, rádios e sites de internet para o qual será criado um sistema integrado de informação (SisInfo) que estará vinculado à Casa Civil e ao Gabinete de assuntos estratégicos da república. O projeto aprovado ainda prevê a criação do programa Juventude Nacional Socialista (JNS) que permitirá a formação e conscientização dos jovens com a causa comum e o bem do Estado e tem por objetivo combater e denunciar aqueles que, por trás da bandeira democrática tentam atacar as verdades sociodemocratas do bolivarianismo do terceiro milênio. Medidas como essa se somam ao projeto em discussão no senado "Guerreiros da Terra” que visa preparar os movimentos rurais para tomarem, se necessário com a força, o que lhes é direito, as terras improdutivas. Os órgãos de imprensa ainda não se manifestaram com relação ao projeto, pois já estão enquadrado na nova lei e esse tipo de atitude caracteriza ato de subversão e antipatriotismo passível de medidas legais.

O líder do governo na câmara, deputado Asdrúbal Venceslau (PJC-AC) afirmou não há necessidade dessa imprensa subversiva em um país cujo governo reflete os anseios de seu povo. Os formadores de opinião são as próprias pessoas e suas consciências de quanto esse país avançou nos últimos anos e vai continuar avançando ainda mais.


ATENÇÃO!
A notícia acima é uma grande mentira, mas o que vai fazê-la continuar a ser é a seriedade com que encaramos o que se passa sob os nossos olhos. Orai e vigiai.... sempre.

sábado, 23 de outubro de 2010

Serra ou Dilma: a guerra dos emails..

Em tempos de campanha presidencial eu me assusto com o número de pessoas que, entra ano, sai ano, assume a coisa como uma questão pessoal. Outrora com os adesivos espalhados por todos os lados, hoje pela internet através de arquivos de Powerpoint, emails-corrente, piadinhas, comparações absurdas, eles buscam levar a todos os cantos a palavra de fé de seu candidato. Algo como aquele que crê em Serra (ou Dilma) viverá. Há muitas pessoas próximas que eu considerava primarem pelo mínimo de bom senso e racionalidade e que me surpreendem com email, muitas vezes, em tom ameaçador de vote em Dilma, pois Serra é do mal. E de outro lado, vote em Serra, Dilma é do mal. Faltam argumentos inteligentes e sobra passionalidade nesses emails, isso, de ambos os lados. Muitas pessoas infestaram seus orkuts com os nomes Dilma ou Serra nas suas fotos de perfil ou em seus álbuns e espalharam frases que refletem sua paixão pelo seu candidato, como se isso, certamente a fizesse uma pessoa melhor, ou pelo menos diferente.
A princípio, essas pessoas que encaram a luta por seu candidato como uma cruzada contra os infiéis me davam a impressão de que eles me achavam um completo imbecil manipulável. Quando comecei a ler que no final dos emails vinha sempre uma determinação para repassar para todos de minha lista passei a ter certeza que eles me consideravam um imbecil manipulável.

Quem vai ganhar? Não sei. Quem vai perder? Os de sempre.. nós, eleitores.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Só um louco para querer ter filhos...

Só um louco para colocar filhos no mundo. Um mundo em que se perde quem se ama porque há pessoas que acham normal beber e dirigir carros em alta velocidade. Um lugar em que as pessoas consideram fora de moda não usar drogas e acham normal dar dinheiro para policial para se livrar de delitos. Um planeta em que se destrói por dinheiro aquilo que nem o dinheiro vai conseguir repor em milhares de anos. Um mundo em que se tenta impor vontades filosóficas ou religiosas aos outros e ignora-se o sublime dom divino que nos foi dado: o livre-arbítrio.
Só um insano para dar ao mundo um ser que irá sofrer estresse, ter medo, trabalhar para ganhar dinheiro, juntar dinheiro e pagar impostos muito além dos serviços que o governo oferece. Pois é esse o mundo de loucos que faz de bandidos vítimas da sociedade e de vítimas, criminosos e responsáveis pela barbárie da violência urbana. Um mundo estranho em que se dá auxílio social revestido de bondade, mas que, no fundo, traz a alma da escravidão e da servidão eleitoral. Uma tentativa desesperada de realizar o sonho do poder político eterno. Enfim, um mundo em que me resta como opção de voto Dilma e Serra.

Só um louco para colocar um filho no mundo.

Por outro lado, só um louco para perder a oportunidade de ver seu filho dizer que te ama quando mal você está acordado pela manhã.

Muito prazer, eis um louco que aqui escreve. Louco pela segunda vez.. nasceu o irmão do meu Daniel, o meu Bruninho, hoje (dia 19/10/10).

sábado, 16 de outubro de 2010

Despedidas - dos trens e do excesso de bagagem

As despedidas são incômodas  porque, na verdade, o que são despedidas senão “um até breve” mais prolongado? Na vida, tudo é como uma estação, partimos, chegamos, partimos de novo e entre uma partida e outra sempre restam acenos. 
Em uma plataforma, sempre há acenos, partidas e chegadas... o “além disso” é excesso.
Ao subir no vagão, deixamos saudades aos que ficaram na estação, seguimos viagem, e ao descermos, deixamos outras saudades que se vão com o afastar da máquina nos trilhos. Mas a vida é assim mesmo, feita de máquinas, trilhos e distâncias.... o mais continua sendo excesso.
Durante o tempo embarcado no trem, se constroem laços que vão além do tempo entre uma parada e outra. São laços afetivos com que se amarram os minutos na cumplicidade dos problemas, nas soluções, nas indignações, nas situações em si... O que passa disso.. também é excesso.
Então, um dia, a estação final se aproxima para alguns passageiros, o trem pára, e, dessa vez, somos que eu ficamos por aqui... Descemos nessa plataforma e levamos conosco só a lembrança das paisagens que vimos na janela.
Lembranças são as bagagens mais genuínas que temos.
O que carregamos além... 
...é excesso.

Outros trens nos esperam...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ah.. Insensatez... Mundo moderno!

Vivemos em um mundo que não prima muito pela sensatez. Recentemente, um pastor radical americano se propôs a queimar cópias do Corão, o livro sagrado muçulmano, no dia 11 de setembro para manifestar repúdio aos atentados promovidos por extremistas islâmicos contra os EUA nessa data. Isso é um ato de insensatez uma vez que se está lidando com um povo que considera plenamente normal apedrejar uma mulher por “acusação” de adultério, explode bombas em troca de um paraíso na terra e sonha em construir uma bomba atômica para varrer Israel do mapa. Agora, convenhamos, construir uma mesquita e um centro cultural islâmico perto de onde era o World Trade Center é, no mínimo, impensável. Trata-se é uma atitude que vai além da insensatez absoluta. Perdoem-me os coleguinhas politicamente corretos e multiculturais, mas liberdade de expressão é o cacete. Há um ponto em que a tolerância deve ceder a dor de quem perdeu um ente naquele evento que não foi publicamente recriminado pela comunidade islâmica, pelo contrário, em muitos lugares foi saudado como bravata heróica. 
Colocar uma mesquita perto do marco zero do WTC seria mais ou menos (guardada as devidas proporções) como erguer um monumento neonazista em Israel, em plena Tel-Aviv. Brilhoso, iluminado e amplo, monumento ao terceiro reich e Adolf Hitler, o estadista de toda uma nação alemã.

Ah, Insensatez, que você fez, coração mais sem cuidado... diria Tom Jobim, o compositor, não o aeroporto (esse último não diria nada mesmo).

sábado, 9 de outubro de 2010

No próximo desastre sou eu quem vou.

Em vez de rosto uma foto de um gol
Em vez de uma reza uma praga de alguém
E um silêncio servindo amém.

Lembro que meu pai comentava que, certa vez, o meu tio mais novo ficou indignado porque houve um acidente em minha cidade e ele não estava com o meu pai quando passara pelo local, mas sim o seu irmão mais velho. No ápice da indignação, o garotinho soltou: Tá bom, mas no próximo acidente sou eu quem vou com você.
Só entendi essa indignação anos depois quando despertei para o fato de que as pessoas nutrem um prazer mórbido pela desgraça. Perdi a conta do número de vezes que engastalhei no trânsito porque houve um acidente e, longe de afogar a via, o que arrastava o tráfego era o tesão com que as pessoas olhavam pela janelinha e, num espetáculo de horror, comentavam os detalhes. Se havia cabeças esfaceladas, a descrição vinha seguida de espasmos faciais que davam um tom teatral ao ocorrido. Se não havia nada no local ficava um ahhh de frustração como se o espetáculo para o qual se preparavam tivesse sido cancelado.... Ahhhh.
Eu, um alienígena por opção, sempre me esquivava desse mórbido prazer. Gatos e cachorros atropelados acabam com meu dia... Certa vez, já fiquei de baixíssimo astral por causa de um cachorro atropelado na Dutra e olha que eu não fui o responsável... eu só passei segundos depois. Tempo suficiente para ver o animal agonizando.
Mas segue o circo dos horrores.
Pessoas sussurram no ônibus. Outras narrativas se mesclam. Acidentes piores vistos por eles ou por pessoas que eram colegas dos colegas deles. Mais sangue, mais miolos, corpos em ferragens... O ônibus se afasta e o trânsito flui. Os temas cotidianos voltam e a temática do acidente só será retomada durante o telejornal da noite que mostrar o desastre e o sujeito contar com orgulho de medalhista olímpico que passou ali na hora que aconteceu. Ou que quase pegou aquela van minutos antes... e persiste assim o prazer de quase morrer.
Como é bom quase morrer!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Redimindo a segunda-feira

O Garfield odeia segunda-feira, eu não. Vítima de injustiças sociais e culturais, a segunda-feira é considerada o primeiro dos dias.... e o pior deles. Espera aí.. primeiro é domingo, mas só porque você fica à toa vendo Faustão, você considera que a grande vilã da semana é a segunda, mas esquece que segunda tem trabalho, mas não tem Faustão e isso já era o suficiente para louvarmos este dia da semana.
Na segunda, começaremos um regime e ficaremos mais magros, começaremos a economizar dinheiro e ficaremos mais ricos (ou menos individados), seremos outra pessoa (igualzinha a essa que você vê, mas bem melhor)... Voltaremos para a academia. Claro. Você já viu alguém tomar uma decisão importante em sua vida numa quinta-feira. Quinta-feira é o dia mais sem graça da semana. Segunda e terça têm gosto de “foi dada a largada”, quarta é o dia das falta de expectativas... meio de semana. Você não está no início nem no final... é o meio mesmo (tanto que os alemães a chamam de Mittwoch – meio da semana), a sexta é a reta final, sábado é dia do bagaço... Estou um bagaço. Domingo é o falso apogeu do ócio. Mas e a quinta-feira....Essa não.. Ô dia sem graça!

“Oi, fulana, quinta-feira começo uma nova dieta!” Diz a mocinha ao encontrar a colega na rua.

Não dá para acreditar em quem começa dietas na quinta-feira. Dia de dieta é segunda. Que credibilidade tem alguém que começa a malhar na quinta-feira?  Vai parar logo. Sexta então, nem se fala.. Na sexta ninguém começa nada. No máximo, terminam-se as coisas que se começaram na segunda, arrastando-se para o sábado como quem cambaleia em direção a um precipício. Se a segunda for um primeiro dia de mês e um primeiro dia de ano.. Nossa! Você não imagina a mística que isso tem.
O grande vilão, para mim, é domingo. 
Começa com aquela sensação ilusória de ócio eterno. Enche a manhã com programas que tornam a cama muito mais interessante. Almoçamos tarde enquanto passa turma do Didi e ninguém presta atenção, constatamos que o filme da TV é o inédito (neste mês) Independence Day, esperamos pelo futebolzinho redentor e a globo só passa jogos de times a que não te interessam assistir. Vem o infame Faustão, o insosso Fantástico e a terrível musiquinha dos filmes que vem depois do Fantástico. Aquilo é um réquiem da depressão, não porque amanhã seja segunda-feira, mas porque o domingo acabou e mais uma vez foi a coisa mais sem graça do mundo.
O grande vilão é o domingo.

Em tempo:
Viva a tv por assinatura... mas ainda assim. Domingo é domingo e ponto final.
Ainda bem que tem uma segunda depois.
A propósito, nasci numa segunda... minha mãe começou a ser mãe na segunda.. viu? Certinho.

sábado, 2 de outubro de 2010

Gênios por 3 segundos... Cadê minha platéia

Às vezes, bate um orgulho de umas coisas tão bestas... A gente está procurando um objeto perdido há anos, aí pensamos: ah.. Está no armário da área de serviço.. Caminhamos triunfante e, ao mesmo tempo, vacilante na certeza inicial. Chegamos lá e o previsível acontece: Não está.
Mas e quando está...? Ah, sentimo-nos um primor de organização e equilíbrio. Dá uma vontade de sair gritando: viu, e depois dizem que eu deixo minhas coisas largadas, uma zona... Ah.. triunfo!
E quando, de forma disciplicente e sozinhos (isso sempre acontece quando estamos sozinhos) jogamos uma bolinha de papel no cesto há uns 5 metros e a bolinha caprichosamente quica na beirada como se equilibrasse por um segundo e depois tomba suavemente cesto adentro.. Ah.. caraca! Todo mundo pensa: se eu quisesse fazer não faria... E ninguém aqui para ver isso. Será que a câmera de segurança do escritório pegou?
A vida é assim. Passamos décadas nos sentindo mais um na multidão e, no dia em que somos tocados por uma genialidade casual, estamos numa arena existencial sem platéia.
Por outro lado, quando falamos uma besteira, quando espirramos e molhamos tudo por perto, quando nossa calça se rasga numa abaixada, quando escorregamos e pagamos um micão, tenha certeza, sempre o cerca uma multidão que se você cobrasse ingresso, dispensava o seu emprego.
E eu me pergunto:
Onde estão estes infames nos nossos momentos de genialidade casual?