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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Saudade tem gosto de café em fim de tarde

Acordara naquela manhã com o gosto na boca da saudade que as pessoas nos deixam quando partem. E, em nome de matar essa saudade, repeti um ritual que me trazia as coisas boas à memória.
Passei na padaria onde há muitos anos comprava os pães para o café da tarde, comprei dois pães, um queijo mineiro e caminhei para minha casa, coincidentemente, hoje, tão próxima daquele comércio como fora outrora a casa de minha avó  para onde eu levava os pães e queijos que ali buscava.
Preparei o café da tarde, coloquei os pães na mesa, a manteiga, o queijo… Senti o cheiro do café, a manteiga amolecida pelo calor dos dias quentes, as cascas do pão que se quebravam e enchia a mesa com seus farelos.
O cheiro, o gosto, o fim de tarde.. e uma cadeira vazia. As sensações me trouxeram minha avó de volta com seu jeito esporrento e me chamando de preto. Tomamos um café, contei da minha vida, falei das histórias, das conquistas, dos fracassos. Mas dessa vez, ela me olhava quieta com um sorriso que me trazia paz… Não precisava dizer nada. Só a sua presença bastava para me fazer tão feliz. E ela ali estava.
Comi os pães, bebi o café, belisquei pedaços de queijo depois do pão terminado. Quando virei a última xícara, ela já tinha ido embora. Por razões que as tinha com certeza, não quis a solenidade de uma despedida, de mais uma despedida.
É impressionante como as nossas memórias se constroem a partir do que sentimos, o cheiro, o gosto, a luz de fim de tarde, tudo isso  me permitiu (e me permite) tomar um café com a minha avó que nos deixou há mais de 20 anos.
Essa é a grande prova de que não morremos, seremos sempre um cheiro, um gosto, uma luz de fim de tarde dentro das memórias de alguém, até que isso tudo, como uma gota de tinta se dilua em um universo de água. Mas até lá, seremos sempre uma invocação de uma sensação em um fim de tarde de verão

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Uma gaveta de memórias



"Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim"
(Paralamas do  Sucesso, Tendo a Lua)


Janeiro é mês de revirar gavetas em buscas de lixo de papel para começar o ano no zero a zero com a rotina. Eu revirei as minhas, rasguei meus papéis e descobri no meio de tantos clipes, papéis, lápis quebrado, canetas que nem escrevem mais, um monte de pedaços de saudade. Notas fiscais que lembram uma compra, um momento, o primeiro colchão de casal. Romântico, não? Pois é. Era um Orthobon que custou... ah.. não importa. O que me ficou foi o passeio ao shopping para comprá-lo.
Há fotos que contam histórias de alunos-amigos ou amigos-alunos, tudo é uma questão do lado  que se olha. De amigos que ficaram e outros que morreram ainda que estejam “vivos”. Papel de bala e um guardanapo de companhia de aviação. Uma borracha velha e um monte de cartões de natal que teimam em morar na minha gaveta há anos. Em tempos de internet, eles não querem sair medo de bullyings dos emails. Não lhes tiro a razão.
Juntei meus cacos, rasguei meus trapos, poupei os mais entranhados na minha história. Os outros rasguei para não ocupar volume nem no meu cesto de lixo, nem em mim. Os que ficaram na gaveta, viram-me fechá-la lentamente com a promessa de voltar a vê-los ano que vem. Numa outra faxina de janeiro... A casa fica bem melhor assim.
Te vejo em 2013, Janeiro.

sábado, 16 de outubro de 2010

Despedidas - dos trens e do excesso de bagagem

As despedidas são incômodas  porque, na verdade, o que são despedidas senão “um até breve” mais prolongado? Na vida, tudo é como uma estação, partimos, chegamos, partimos de novo e entre uma partida e outra sempre restam acenos. 
Em uma plataforma, sempre há acenos, partidas e chegadas... o “além disso” é excesso.
Ao subir no vagão, deixamos saudades aos que ficaram na estação, seguimos viagem, e ao descermos, deixamos outras saudades que se vão com o afastar da máquina nos trilhos. Mas a vida é assim mesmo, feita de máquinas, trilhos e distâncias.... o mais continua sendo excesso.
Durante o tempo embarcado no trem, se constroem laços que vão além do tempo entre uma parada e outra. São laços afetivos com que se amarram os minutos na cumplicidade dos problemas, nas soluções, nas indignações, nas situações em si... O que passa disso.. também é excesso.
Então, um dia, a estação final se aproxima para alguns passageiros, o trem pára, e, dessa vez, somos que eu ficamos por aqui... Descemos nessa plataforma e levamos conosco só a lembrança das paisagens que vimos na janela.
Lembranças são as bagagens mais genuínas que temos.
O que carregamos além... 
...é excesso.

Outros trens nos esperam...