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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Saudade tem gosto de café em fim de tarde

Acordara naquela manhã com o gosto na boca da saudade que as pessoas nos deixam quando partem. E, em nome de matar essa saudade, repeti um ritual que me trazia as coisas boas à memória.
Passei na padaria onde há muitos anos comprava os pães para o café da tarde, comprei dois pães, um queijo mineiro e caminhei para minha casa, coincidentemente, hoje, tão próxima daquele comércio como fora outrora a casa de minha avó  para onde eu levava os pães e queijos que ali buscava.
Preparei o café da tarde, coloquei os pães na mesa, a manteiga, o queijo… Senti o cheiro do café, a manteiga amolecida pelo calor dos dias quentes, as cascas do pão que se quebravam e enchia a mesa com seus farelos.
O cheiro, o gosto, o fim de tarde.. e uma cadeira vazia. As sensações me trouxeram minha avó de volta com seu jeito esporrento e me chamando de preto. Tomamos um café, contei da minha vida, falei das histórias, das conquistas, dos fracassos. Mas dessa vez, ela me olhava quieta com um sorriso que me trazia paz… Não precisava dizer nada. Só a sua presença bastava para me fazer tão feliz. E ela ali estava.
Comi os pães, bebi o café, belisquei pedaços de queijo depois do pão terminado. Quando virei a última xícara, ela já tinha ido embora. Por razões que as tinha com certeza, não quis a solenidade de uma despedida, de mais uma despedida.
É impressionante como as nossas memórias se constroem a partir do que sentimos, o cheiro, o gosto, a luz de fim de tarde, tudo isso  me permitiu (e me permite) tomar um café com a minha avó que nos deixou há mais de 20 anos.
Essa é a grande prova de que não morremos, seremos sempre um cheiro, um gosto, uma luz de fim de tarde dentro das memórias de alguém, até que isso tudo, como uma gota de tinta se dilua em um universo de água. Mas até lá, seremos sempre uma invocação de uma sensação em um fim de tarde de verão

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Redimindo a segunda-feira

O Garfield odeia segunda-feira, eu não. Vítima de injustiças sociais e culturais, a segunda-feira é considerada o primeiro dos dias.... e o pior deles. Espera aí.. primeiro é domingo, mas só porque você fica à toa vendo Faustão, você considera que a grande vilã da semana é a segunda, mas esquece que segunda tem trabalho, mas não tem Faustão e isso já era o suficiente para louvarmos este dia da semana.
Na segunda, começaremos um regime e ficaremos mais magros, começaremos a economizar dinheiro e ficaremos mais ricos (ou menos individados), seremos outra pessoa (igualzinha a essa que você vê, mas bem melhor)... Voltaremos para a academia. Claro. Você já viu alguém tomar uma decisão importante em sua vida numa quinta-feira. Quinta-feira é o dia mais sem graça da semana. Segunda e terça têm gosto de “foi dada a largada”, quarta é o dia das falta de expectativas... meio de semana. Você não está no início nem no final... é o meio mesmo (tanto que os alemães a chamam de Mittwoch – meio da semana), a sexta é a reta final, sábado é dia do bagaço... Estou um bagaço. Domingo é o falso apogeu do ócio. Mas e a quinta-feira....Essa não.. Ô dia sem graça!

“Oi, fulana, quinta-feira começo uma nova dieta!” Diz a mocinha ao encontrar a colega na rua.

Não dá para acreditar em quem começa dietas na quinta-feira. Dia de dieta é segunda. Que credibilidade tem alguém que começa a malhar na quinta-feira?  Vai parar logo. Sexta então, nem se fala.. Na sexta ninguém começa nada. No máximo, terminam-se as coisas que se começaram na segunda, arrastando-se para o sábado como quem cambaleia em direção a um precipício. Se a segunda for um primeiro dia de mês e um primeiro dia de ano.. Nossa! Você não imagina a mística que isso tem.
O grande vilão, para mim, é domingo. 
Começa com aquela sensação ilusória de ócio eterno. Enche a manhã com programas que tornam a cama muito mais interessante. Almoçamos tarde enquanto passa turma do Didi e ninguém presta atenção, constatamos que o filme da TV é o inédito (neste mês) Independence Day, esperamos pelo futebolzinho redentor e a globo só passa jogos de times a que não te interessam assistir. Vem o infame Faustão, o insosso Fantástico e a terrível musiquinha dos filmes que vem depois do Fantástico. Aquilo é um réquiem da depressão, não porque amanhã seja segunda-feira, mas porque o domingo acabou e mais uma vez foi a coisa mais sem graça do mundo.
O grande vilão é o domingo.

Em tempo:
Viva a tv por assinatura... mas ainda assim. Domingo é domingo e ponto final.
Ainda bem que tem uma segunda depois.
A propósito, nasci numa segunda... minha mãe começou a ser mãe na segunda.. viu? Certinho.