quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Salvos pela desorganização

Que São Paulo é um dos estados mais organizados do país, isso é indiscutível, mas eu acho que eles acabaram pagando por essa organização, pois o crime é mais organizado também. Possivelmente, até mais que o estado como se tem podido ver nos últimos tempos. 
Enquanto eles sofrem ataques de uma facção criminosa que opera como uma máfia nos bastidores do poder público paulista, o governador declara que é exagero, afinal, morre muita gente todo dia numa cidade com tanta gente. Uma declaração fácil de se sustentar quando entre os números estatísticos não consta um filho nosso. Mas é bom não esquecer que todos os "números" têm mãe e os dados sempre doem muito em algum lugar. Enfim, o que eles não querem admitir é que estão há anos num acordo tácito com a máfia paulista. É duro para um estado admitir que pode estar fazendo concessões para poder governar. 
No Rio, não. Somos beneficiados pela nossa natural desordem. O crime reflete o estado. Não há uma facção única como lá, mas um monte de facções que brigam incessantemente entre si e que brigam com as milícias e que brigam entre eles o tempo todo. É uma "autofagia". Ele se devoram mutuamente na sua desordem plena e caos. Tudo isso para a nossa sorte. 
A polícia carioca, muitas vezes, tem a opção de deixá-los se matar e entrar para catar os restos. E não o faz porque na briga do mar com o rochedo que se dá mal é o siri, no caso a população.  Isso sem falar que ela (a polícia) possui um estrutura de combate ao crime moldada em anos de precariedade e reveses. Forjada a ferro e fogo na adversidade se tornou mais forte. Assim é o Rio de Janeiro, um estado que acabou sendo beneficiado por a mais estranha das virtudes. A salutar desordem dos bandidos. 
A PM agradece.

sábado, 24 de novembro de 2012

A vida num roteiro de Hollywood

E se a vida fosse um roteiro de cinema de Hollywood? Então não teríamos decepções amorosas e todas histórias terminariam bem como nas comédias românticas. Em vez de cada um ir para seu lado e acabou, tudo terminaria em um saguão de aerorporto em que um dos dois do casal estaria com olhar perdido de tristeza, quando seu amor lhe cobriria os olhos e revelaria que não foi viajar. A câmera se afastaria e eles se beijariam ao som de uma trilha sonora bem romântica como Endless Love. Se houvesse separação seria até o próximo corte de cena ao som de Someone like you. A seguir se reencontrariam meio sem graça e o fim deixaria no ar o retorno. 
Se assim fosse, os homens maus seria presos no final e apareceriam de uniformes prisionais entrando em penitenciarias e não de toga entrando em tribunais. Os mocinhos terminariam sendo reconhecidos em seu valor e não transferidos de função para não criar mais problemas para seus superiores. O fim, em tom épico, com a trilha sonora de um rapper americano famoso, mostraria um carro se afastando numa estrada em rumo ao desconhecido e não uma repartição cheia de papéis para o mocinho tomar conta. 
Mas a vida não é filme e se a história mostra que, muitas vezes, a ela imita a arte, em nome de uma generosidade, gostaríamos de ser contemplados com happy end, trilhas sonoras e câmera abrindo em plano maior. Pelo menos de vez em quando...
No fundo, fica aquela inveja dos personagens que, pelo menos durante sua vida na tela, sabem o que esperar de suas histórias. 

Na pior das hipóteses, a tristeza poderia se converter em todo mundo em volta dançando e cantado Don`t worry. Be happy ou Everythings gonna be alright... Já era um alento.

sábado, 17 de novembro de 2012

Para que serve o feriadão?

Toda vez que tem um feriadão, surgem aqueles ranzinzas que levantam discursos de quanto o Brasil perde em dinheiro, de quanto os serviços atrasam de como somos indolentes e dados ao “dolce far niente”, o doce prazer da preguiça, de não fazer nada. 
Esses comentários são, além de mentirosos, maquiavélicos. Planejam e desenham uma sociedade (inexistente no mundo) sem feriado e de preferência sem finais de semana e sem férias, voltada para a produção 100% do tempo de sua vida. Afinal, riquezas devem ser produzidas. Para quem? Para o país, para gerar mais impostos, para o patrão? Para o funcionário? Não. Definitivamente, para esse último não. 
Não é verdade que perdemos dinheiro. O fato é que alguns setores como o de sorvete param de produzir picolés, por exemplo, para que o consumo possa aumentar com que está de folga. As fábricas param de produzir geladeiras para que os colegas de comércio das cidades de turismo ganhem mais dinheiro para poder comprar uma geladeira. A indústria de carro para de produzir carro para que o rapaz que trabalhe no hotel aumente seus ganhos e possa juntar dinheiro para comprar um carro. Ninguém perde coisa nenhuma. O Dinheiro não desaparece, como apregoam alguns, só muda seu fluxo. 
As pessoas podem ajustar suas agendas, produções para dias a menos do que o planejado, o dinheiro não deixa de ser gerado, as riquezas continuam a crescer e melhor, de uma maneira mais justa, pois se desloca do conceito de fazer dinheiro e liga-se ao conceito de viver melhor. Pessoalmente, acho esse comentário da perda de riquezas uma visão que só foca no ser humano como um produtor de gerador de dinheiro e esquece que dentro de uma roupa e atrás de uma carteira de trabalho existe um ser humano. 
Feriado serve para as pessoas darem pausas na sua vidas cheias de números, contas, horários e encherem de vida onde antes havia dados estatísticos e cifras. 
Aproveite.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Dúvidas, certezas e outras dúvidas...

Quando somos jovens, trazemos conosco a certeza de que aquela menina linda e supersensual da escola não sai com a gente só porque não temos carro, não temos dinheiro, não temos condição de levá-la a um local que preste para comer algo e bater papo. O tempo é sábio e nos traz a consciência de que tudo aquilo que pensávamos, no fundo, era verdade. A maturidade nos faz perceber que, se fôssemos mulher e nos olhássemos naquelas circunstâncias, também não teríamos razão nenhuma para sair com a gente. E não venha com o papo de riqueza interior. Imagina:

-
A conta é de 65 reais. Apresenta o garçom.
-
Olha seu garçom, dinheiro eu não tenho, mas sou uma pessoa excelente, de caráter, honesta, sincera... espero que o senhor leve isso em conta. Ou melhor.. leve à conta isso.

E a história terminaria com seu pai o pegando na delegacia. O silêncio no carro de volta para casa vai traduzindo a vontade que seu pai tem de estrangulá-lo por causa da vergonha que o fez passar.
O caso é que achamos que, quando formos adultos tudo vai melhorar, mas não sabemos que , quando chegarmos a idade adulta, passaremos a achar que tempo de bom era a adolescência e que tudo não mudou muito, vantagens e desvantagens foram substituídas.
Aos 16, achamos que ninguém nos entende e que o mundo não é justo. Quando adultos, temos certeza disso. O mais legal é que, aos 16, não se imagina como essa certeza é confortante.
Quando somos
teens, os pais pagam nossas contas e achamos que não fazem mais do que sua obrigação, quando adultos, pagamos nossas contas e os credores têm a certeza de que não fazemos mais do que nossa obrigação. Porque, de fato, não o fazemos mesmo.
Aos 18, temos a certeza de que vamos mudar o mundo nem que seja à porrada. Aos 40, descobrimos que o mundo nos deu tanta porrada que nós mudamos.
Passamos a vida substituindo dúvidas por certezas e estas por outras dúvidas... a graça da coisa está aí. Pelo menos, é o que acho até agora... Mas por hora, deixo aberta essa certeza para substitui-las por algumas dúvidas... amanhã

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O bilhete - não se brinca com um cara desses..

Caro amigo,

Desculpa por tudo. Sei que fui duro com você, mas você me deu as costas no momento em que mais precisava. Por isso, fiquei para você como grosso, entrão e outros adjetivos pouco abonadores. Só fui ao show com a galera naquele dia porque você me ofereceu sua entrada no dia anterior. Saiba que lamento por tudo e que aquilo que lhe prometi vai ser cumprido. Sou um homem de palavra e que não guarda rancor, por isso, aquilo que combinei te passar está de pé.

Um abraço para você e quem for da sua família.


***
Então...
Ele leu em silêncio. Transpareceu no semblante um certo pavor...
Preferiu não responder.
Não se brinca com um sujeito desse...