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domingo, 20 de junho de 2021

Entre o útero e o túmulo

Costumo dizer que a vida é um trajeto sinuoso (e tortuoso) entre duas proparoxítonas: o útero e o túmulo. Também comparo a uma viagem de avião que sabemos como termina, mas não sabemos onde vai haver escala ou conexão e, só reconhecemos que há um voo que é medido pelo combustível que temos na aeronave e, de verdade, não fazemos ideia de quanta gasolina ainda há. É isso…

Sem manuais de instrução, você vai seguindo viagem e aprendendo a pilotar a aeronave enquanto ela voa. O fato é que quanto mais pilotamos, mais entendemos sobre ela. É claro que sempre será insuficiente para compreender a complexidade disso tudo. E claro também que é um conhecimento muito pessoal e quase intransferível, mas ainda assim, na véspera de completar 50 anos, resolvi compartilhar algumas observações. Vão ajudar a tornar viagens mais fáceis…. creio que não. Mas é mais a catarse mesmo de um homem que hoje está mais perto da proparoxítona final.

1. Não barganhe com a vida. De forma macro, as coisas vão acontecer em um fluxo alheio a sua vontade. Pessoas boas morrem de câncer, canalhas vivem até 100 anos, pessoas boas passam na miséria, canalhas vivem na fartura.. isso vai acontecer. É assim. A lei do retorno beira uma farsa que criamos para nos consolar quando nos ferramos na mão de alguém. Não é assim que a banda toca.

2. O maior beneficiado da sua boa conduta é você mesmo. Não vai haver troféu no fim da corrida ou pódio de chegada e beijo de namorada. Você já ganhou seu prêmio agindo assim e deixando de ser mais um fdp em um mundo com tantos.

3. Amar não é fazer com que o outro tenha uma vida sem dores ou sofrimento. Tipo o pequeno Príncipe colocando uma cúpula em volta da rosa. Isso é frustrante e impossível. Amar mesmo é respeitar o caminho de cada um e, no final, auxiliar se as coisas derem errado sem dizer o "viu, eu te disse" 

4. Se você fez algo por alguém para jogar na cara depois seria melhor não ter feito. Se você pretende jogar na cara algo que fez para obter algum benefício do outro, não faça. Isso é desonesto. Você sabe que está vendendo afeto/atenção. Só o outro é que, às vezes, não sabe que está comprando. 

5. As pessoas são o que elas são. O grande desafio é saber o que elas são. Você vai passar uma vida nessa leitura e, quando entender uma parte, elas mudam e você retorna ao ponto quase zero. É frustrante, mas é assim que rola.

6. Não nutra grandes expectativas com relação aos outros. É melhor receber mãos cheias quando esperávamos vazias do que vazias quando esperávamos cheias. Mas, nunca se esqueça, leve as suas mãos sempre cheias. A essência do outro não pode corromper a sua.

7. Todo mundo é capaz de tudo. O que as pessoas vão avaliar é a relação custo benefício e o momento. O que lidamos é com a relação do TUDO é possível, mas nem tudo é provável... pelo menos não naquele momento, não naquele contexto.  

8. As pessoas não conseguem, no geral, enxergar muito além do que gira em torno de seus interesses pessoais. É assim mesmo. Não cabe julgamento aqui. O exercício de ver além do que nos convém (e interessa) é o trabalho de uma vida. E aprendemos isso em doses homeopáticas.

***

Proparoxítonas são chamadas de palavras esdrúxulas e nada mais caprichoso da vida do que se colocar a vida entre as duas. Faz a gente pensar.

***

Se gostou do texto, compartilhe. É sempre bom descobrir pessoas que param para pensar um pouco mais sobre essa loucura que é estar vivo no mundo atual.

domingo, 4 de abril de 2021

Não estamos no comando de quase nada

Isso para não dizer de nada mesmo e arruinar suas esperanças de uma vez. Estar vivo é não estar no comando de quase nada. Planejar não faz o menor sentido então? A resposta para isso é SIM e NÃO. Nós planejamos para saber onde mudar, mas planejar esperando que todo o universo conspire a seu favor é alimentar a frustração eterna em uma relação de troca que não existe. Você pode planejar tudo perfeitamente, mas um contratempo que acontecerá 1 minuto após ler esse texto mudar tudo. Aliás, mudar toda a sua vida.

Pronto. Joguei um balde de água fria em toda sua expectativa que os livros de autoajuda conspiraram para formar durante décadas em você como essa de um universo que conspira a nosso favor. Não. O universo não tem um acordo com você. 

Temos aqui o conceito de carma que precisa ser um pouco ajustado não para uma ideia de quem promove uma boa ação gera uma boa ação ou que uma má ação gere resultados nocivos para si. O que ocorre é que o fluxo das coisas no universo segue uma trajetória com vários fatores interveniente que não controlamos. É claro que uma boa ação, uma conduta honrada e digna lhe coloca numa trajetória em que as possibilidades de algo dar muito errado é bem reduzida, mas, lembre-se, isso não o torna jamais imune ao infortúnio. Afinal, ele atinge o ímpio e o justo, não é? O universo não barganha. Entenda sempre isso

Planeje e trace caminhos dignos, mas não espere receber o cordão da imunidade que lhe livrará de todos os males. Não. Não é assim que banda toca e entender isso é assumir que o bem que fazemos ou os planos que traçamos são nossos e não do universo. Quase 100% das boas ações e dos planos que fazemos ocorrem dentro da gente e não fora. E não queira que o mundo faça parte dos seus projetos, uma vez que, por mais que compartilhe com os outros, eles são, no fundo, só seus.

Somos só um humano vivendo dentro de um corpo humano em um universo com mais 7 bilhões de pessoas vivendo dentro de só um corpo humano cada um. Entendeu? Viu como é complicado se todo mundo tiver que ser cooptado pelos projetos alheios. Eu sei... É claro que existem projetos coletivos, mas por trás de todos os projetos coletivos há projetos individuais de existência. E isso não é ruim... isso é humano.

Dessa forma, planejar é uma maneira de gerir a sua existência com uma sensação mais segura (que não pode ser dispensada) de que algo segue sob controle, pois, o sentimento de estar feito pipa ao vento retira-nos a segurança e estabilidade emocional tornando-nos escravos do contexto (ainda vou falar sobre isso aqui). A zona de conforto é o nosso lugar de sonho. Apesar do discurso coach motivacional de que temos que sair da zona de conforto. A verdade é que praticamente ninguém quer largar seu emprego que o remunera justamente e lhe dá segurança para vender artesanato na rua… sem saber se o dinheiro que ganhou hoje paga o almoço de amanhã ou o lugar para dormir. O desconforto existencial, a incerteza absoluta (afinal tudo é de certa forma incerto) causam um desgaste absurdo no ser humano e reduzem a qualidade de vida. Pode ser romântico o largar tudo... mas são pouquíssimos que querem e menos ainda os que conseguem isso.

É claro que há exceções. Sim, elas existem. Mas de quantos estamos falando em 7 bilhões de pessoas? Convenhamos que essas exceções nem de longe configuram um mínimo padrão humano. O fato é que buscamos um certo controle de que nos próximos tempos teremos o que comer, onde dormir, onde ser tratado caso fiquemos doente, enfim, buscamos a zona de conforto para os próximos tempos mesmo sem saber se teremos os próximos tempos. Afinal não estamos no controle de quase nada… Lembra?

O que nos resta então? 

Resta localizarmo-nos no tempo em que estamos. No tempo da respiração, no tempo do batimento cardíaco, na pausa momentânea em que percebemos que estamos vivo. Coisa rara para a maioria das pessoas. Nesse momento, planejamos, desenhamos, avaliamos, mas depois de dada essa concessão, retornamos ao presente que, no final das contas, é a única coisa palpável que temos. Muitas pessoas vivem tanto no futuro que sofrem por coisas que talvez nunca venham a viver. Sofrem por um mundo que talvez nunca exista ou mesmo que nunca exista daquela forma.

Temos para nós, na verdade, um presente efêmero, quase imperceptível, fugaz, mas que verdadeiramente, é a única coisa que a vida nos permite acessar. Então... respire.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

O ímpio, o justo e o chato ressentido

Uma vez eu li em algum lugar que o infortúnio atinge o ímpio e o justo. Na verdade, não faz mesmo sentido questionarmos por que uma pessoa boa ou má sobre um infortúnio. No caso do bom, vemos como uma injustiça (ou uma provação), no caso do mau, vemos como um castigo. Entretanto, quando "essas regras" são violadas e alguém ruim é beneficiado com algo e alguém bom é penalizado com um infortúnio questionamos as coisas como se houvesse um acordo nosso com o universo. 

A sabedoria popular vem com as pérolas de "vaso ruim" não quebra ou "era tão bom que Deus o chamou para o seu lado.... Mas precisava dar um câncer para trazer o cara bom para seu lado... Penso se Deus não teria métodos mais suaves. De repente até convocar, na boa.. Quem se negaria a um pedido de Deus... não precisava do câncer.

Mas piadas a parte, o fato é que vaso ruim quebra sim, assim como o vaso bom. As coisas na vida atendem a uma aleatoriedade absoluta. Claro, se você passou a vida fumando e bebendo para caramba, problemas de fígado e pulmão no fim da existência podem ser uma possibilidade a se considerar. Salvo isso, aceite que você está na mão do palhaço. Ter saúde, ser feliz, ter uma família, ser honesto, justo, dedicado, leal não te eximem da possibilidade de escorregar em casa cair de mal jeito e ficar tetraplégico.

Ou então, Deus olhar e falar: Olha, esse cara é tão justo leal, honesto... estou precisando aumentar meu staff com gente assim... então... estava pensando numas coisas aqui.... só não decidi ainda se vai ser no sangue, na próstata ou no cérebro... 

Assim como o que é  cara traficante, bandido, adúltero, desonesto, assassino, mentiroso pode viver até os 100 anos gozando de plena saúde, em sua família e com dinheiro. 

É isso... não devemos associar nossa conduta a nenhum infortúnio que nos atinja, nem a ausência deles. A vida é uma sequência de fatos relativamente controláveis e as nossas ações devem ser focadas em sermos pessoas melhores para nós mesmos. Uma espécie de egoísmo do bem... faço porque é certo e me faz bem. Nesse sentido, sua maior recompensa chega imediatamente a sua ação. Estar bem... 

Quando assinamos promissórias com a vida na espera de benefício alimentamos frustrações e nos tornamos eternos "chatos ressentidos" com acordos tácitos que não foram feitos. 

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Se você fizer o bem... bom pra você. Ponto final

 Vivemos barganhando com o mundo. Se eu fizer o bem, o mundo irá me devolver esse bem. Lamento te informar que não. O mundo lhe dará o que ele quiser. E, no fundo, até bem feito para você deixar de ser interesseiro.

Genial essa tira humorística do site http://www.willtirando.com.br/
A autoajuda surgiu como uma espécie de praga disseminando coisas desse tipo "faça o bem e receberá de volta" enquanto, na verdade, você pode ser alguém extremamente altruísta e as pessoas agirem de forma egoísta com você. Bom, é assim mesmo. Uma coisa não implica a outra.

Esse tipo de pensamento encontrou terreno fértil no nosso meio, pois já negociávamos (desde sempre) com Deuses e santos na expectativa de obter algum benefício. Eu faço jejum, Deus olha e pensa: vou ajudar aquela pessoa, poxa, ela passou dias sem comer como preceito. Vou dar uma força! Vapt, casa própria. O santo olhava e dizia, "nossa, aquela moça vem acendendo centenas de velas... Vou arrumar um marido para ela". Vapt, marido. Negociamos há séculos com entidades para obter algum benefício de alguma natureza. Foi fácil se adaptar ao papo do feedback do universo.

Agora, negociamos com o universo. Saiba uma coisa, faça as coisas porque são justas e corretas e não espere nada em troca. Isso já é a sua maior recompensa: agir corretamente. Você sempre foi um bom filho e teve uma ingratidão dos seus pais. Tudo bem... é assim mesmo. Você sempre foi um bom amigo e ainda assim foi traído pelos seus mais próximos. Parabéns! Bem-vindo ao mundo. É assim que funcionam as coisas por aqui. As pessoas são dessas... fazem dessas coisas.

Quem foi ingrato é responsável por 20% do seu sofrimento... os outros 80% estão em você que nutriu expectativas em razão de suas boas ações. Aprenda a fazer as coisas pelo mero prazer de fazer e de senso de correção. Sim.. é certo. Faça-o. Esqueça esse papo de universo te devolver. O universo, a vida, os outros não te devem nada e, no fundo, não estão nem aí para você. 

Isso não é pessimismo, mas sim, entender as coisas como elas são e não como você gostaria que elas fossem. A grande parte de nossos sofrimentos não vêm das coisas, mas das expectativas que criamos em torno de como deveriam ser.

Entender isso torna o caminho mais suave.


segunda-feira, 25 de maio de 2020

Pensei nisso outro dia... a vida é uma pia cheia de louça suja quando se mora sozinho

A vida é como uma pia cheia de louça quando você mora sozinho. Você olha aquela bagunça, fica desanimado, mas sabe que você vai ter que arrumar aquela zona porque nada é mais seu do que aquela bagunça toda. Essa reflexão veio de minha pia cheia de louças...


domingo, 18 de junho de 2017

Essa tal felicidade sempre clandestina

Esse é o título de um livro de Clarice Lispector. Passei anos sem entender ao certo o que era exatamente isso, quando aos quase 46 anos, constato que toda felicidade é clandestina. Podemos entender que clandestino é todo aquela que  entra sem ser autorizado e, costuma a sair sorrateiro sem denunciar sua condição. A felicidade assim o é.
Há dias em que acordamos com uma invasão de felicidade injustificada. Uma sensação de "tudo-vai-bem" que a gente, acostumado a essa ausência se pergunta: o que vai bem? E se questiona, às vezes, que toda felicidade é alienante. No fim, esquece de curtir aquela sensação clandestina que invadiu nossa alma. Tenho medo que tenhamos desaprendido a ser felizes.
A felicidade também mora na memória. Muitas vezes, recordamos uma viagem, um encontro, um amor, umas palavras que nos fazem assomar enorme sensação de felicidade. Essa também é clandestina, mas que chegou porque, voluntariamente, deixamos as portas abertas e dissemos: olha, está aberta a porta. Se quiser dá uma passadinha, fica à vontade.
Outro dia, me peguei com as portas da memória abertas de uma viagem recente e a felicidade não titubeou, entrou pelos olhos, deu um pulo no coração, me inundou e vazou pelos olhos em que entrou. Porque felicidade é assim: quando volta senta me mesma cadeira que deixou vazia.
Por isso é preciso estar atento, desperto, pois, muitas vezes, não percebemos sua entrada perdidos na correria do dia a dia e se o fazemos, abandonamos a oportunidade de permitir que ela nos revisite em formas de momentos. Acordei assim, com as portas semiabertas e ela entrou enquanto dirigia (ela nunca escolhe hora para isso) e fui tomado de um prazer imenso. Deixei-a entrar, permiti que mostrasse imagens, histórias, músicas, gestos que um dia me fizeram muito feliz. E fui feliz de novo..
Precisamos aprender a lidar com essa tal felicidade, essa desejada clandestina que entra não sei quando, fica não sei onde e sai não sei por quê...
Por via das dúvidas, pelo menos eu, sigo com a porta entreaberta caso ela passe por aqui.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Viver é a arte de se reinventar a cada curva

Nunca estamos prontos. Na vida, somos sempre uma obra inacabada. Quando pensamos que os planos estão todos traçados e que somos um carro preparado para percorrer todo um caminho sem maiores percalços, vem uma curva e nos joga para fora para lembrar que não existem estradas sem curvas, que não se formam bons motoristas em estradas tranquilas. E de fato, estamos aqui para nos formarmos como bons condutores. Enfim, a curva é necessária.
E daí, nós nos inventamos novamente e traçamos outra trajetória, construímos outro carro e amparando-nos em nossa resiliência. Superamos a dor, as perdas e retomamos a estrada até encontrar outra curva que nos jogue para fora porque a única coisa que é certa, nessa estrada, é a curva. Mas sempre dirigimos como se fosse uma eterna reta.
Viver é isso. É se reinventar curva após curva. A grande aprendizagem dessa jornada é se reinventar quando tudo acaba, quando a gente termina.
Quero crer que toda dor, toda aprendizagem nos conduz a um caminho único que é o do aprimoramento espiritual, que toda dor realmente vem do desejo de não sentirmos mais dor um dia. A dor pela qual optamos é produto da nossa ânsia de não mais senti-la. (Estranho, né? Mas faz sentido) Estar vivo é isso, um exercício masoquista em busca da libertação. Mas a dor, assim como a curva, é inerente a estrada. Sempre existirá.
Então, que a vida não nos poupe da dor, mas que com ela nos traga a sabedoria. Porque sofrer é inevitável, mas aprender é uma opção. E que vida nos traga as suas curvas.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Nossa adorável ignorância

Certo dia, eu conversava com um conhecido bem mais novo do que eu e dizia que com o tempo a gente tem muitas das certezas desfeitas, contava a ele, advogado recém formado, que a realidade nos dá um choque e desmonta tantas teorias que temos quando mais novos...
Bem típico da geração mais nova que exige o direito de falar, mas entende o dever de ouvir como um ato opressor de uma elite dominante (e blá, blá, blá...mimimi), ele ouvia com ar de enfado enquanto eu, estupidamente, perdia o meu tempo falando coisas que ele só entenderá em uns 15 ou 20 anos.
Eu contava para ele que as certezas se desfazem de uma forma absurda e nos sentimos um pote de dúvidas.

domingo, 3 de julho de 2016

Consulte seu médico... vai que...

Quem pensa que viver é SER engana-se redondamente. Viver é ESTAR e estar por pouco tempo. Isso é independente de se ter uma visão materialista ou espiritualista. Esta acredita que a vida se prolonga além do corpo, aquela pensa que tudo se acaba com a morte do corpo físico. Entretanto, a vida durante seu período é inexoravelmente ESTAR.
Dito isso, penso que o maior bem que maturidade nos dá é a capacidade de enxergar essa condição. Às vezes, fico vendo pessoas mais novas cultivarem ideologias que alimentam o ódio, a discórdia, a rejeição a quem pensa diferente, o conflito, a doutrinação para formar um legião de propagadores da doutrinas X ou Y. E todo aquele que propõe parar para pensar é visto como uma ameaça ao sonho revolucionário. Vivemos em tempos em que um discurso deve ser assumido como única verdade que liberta. O livre pensar é uma ameaça à ordem.

sábado, 5 de março de 2016

Vampiros nas redes sociais

Há muitos anos, li sobre vampiros em um artigo de uma revista enquanto esperava em um consultório para ser atendido. Obviamente, não se tratava de sugadores de sangue noturnos das histórias. Era uma reportagem superficial que falava de pessoas que se alimentam da energia dos outros e nem se dão conta da vampirização que fazem. Procurei ler mais sobre o assunto depois daquele dia e comecei a perceber que, realmente, há pessoas que se alimentam da  nossa energia. 
Já percebeu que há pessoas que lhe causam intenso cansaço co breves períodos de convivência? Conversar com elas por 20 minutos equivale a horas de conversa pesada, tensa e terminamos como quem correu uma maratona?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Algumas boas razões para não se discutir por besteira

Dizem que a vida pode ser representada por números, que a matemática pode dizer muita coisa sobre nosso dia a dia e nos ajudar a entender o mundo que nos cerca e como agimos com nosso tempo.

Partamos da premissa que um homem adulto com 44 anos (eu) dentro da expectativa média de vida de um brasileiro possui mais uns 29 a 30 anos, podendo chegar a um pouco a mais ou um pouco a menos. Esse é o ponto de partida da ideia.

Uma discussão consome em média, entre o tempo que discutimos e o tempo em que pensamos o que falamos ou que deveríamos falar uns 20 minutos (no caso de pessoas mentalmente equilibradas. Óbvio. As doentes ficam pensando dias no que poderiam ter dito e não disseram).

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Historietas banais - a bolsa das ideias

Entra um homem em uma fila pequena. Aguarda e chega sua vez. Um atendente anotando em um papel lhe pergunta:

- Em que posso ajudar?

[homem cheio de boas ideias]
- Tenho grandes e boas ideias para buscar o bem comum ? Sei os caminhos as fórmulas para um tudo melhor.

Atendente
- E o que você já fez pelo bem comum?

[homem cheio de boas ideias]
- Ainda nada, ou só o pouco que esteve ao meu alcance, mas pretendo fazer se me derem essa oportunidade. Responde levemente envergonhado, mas firme.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Eu queria ser só professor

Educadores são masoquistas por natureza.
Na maioria das vezes, eu queria ser só professor. Sabe, como aquele cara que é de outro ofício e dá aulas por bico, para completar a renda. Mas a vida é assim. Muitas vezes, é impositiva nos seus caminhos. A gente nasce e se forma professor, mas tem gente que teima em ser educador. Ser educador é ruim, porque educador apanha, se frustra, sofre, e lima e sua e teima... e cansa.. Não. Aí é que está o problema, apanha, mas não cansa. Fica doendo e a alma nem acabou de doer da pancada anterior e lá vem outra.

sábado, 24 de novembro de 2012

A vida num roteiro de Hollywood

E se a vida fosse um roteiro de cinema de Hollywood? Então não teríamos decepções amorosas e todas histórias terminariam bem como nas comédias românticas. Em vez de cada um ir para seu lado e acabou, tudo terminaria em um saguão de aerorporto em que um dos dois do casal estaria com olhar perdido de tristeza, quando seu amor lhe cobriria os olhos e revelaria que não foi viajar. A câmera se afastaria e eles se beijariam ao som de uma trilha sonora bem romântica como Endless Love. Se houvesse separação seria até o próximo corte de cena ao som de Someone like you. A seguir se reencontrariam meio sem graça e o fim deixaria no ar o retorno. 
Se assim fosse, os homens maus seria presos no final e apareceriam de uniformes prisionais entrando em penitenciarias e não de toga entrando em tribunais. Os mocinhos terminariam sendo reconhecidos em seu valor e não transferidos de função para não criar mais problemas para seus superiores. O fim, em tom épico, com a trilha sonora de um rapper americano famoso, mostraria um carro se afastando numa estrada em rumo ao desconhecido e não uma repartição cheia de papéis para o mocinho tomar conta. 
Mas a vida não é filme e se a história mostra que, muitas vezes, a ela imita a arte, em nome de uma generosidade, gostaríamos de ser contemplados com happy end, trilhas sonoras e câmera abrindo em plano maior. Pelo menos de vez em quando...
No fundo, fica aquela inveja dos personagens que, pelo menos durante sua vida na tela, sabem o que esperar de suas histórias. 

Na pior das hipóteses, a tristeza poderia se converter em todo mundo em volta dançando e cantado Don`t worry. Be happy ou Everythings gonna be alright... Já era um alento.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

A mais difícil de todas as aprendizagens


Tenho aprendido a duras penas a ter paciência e, nessa aprendizagem, tenho contemplado melhor um monte de coisas que passam despercebidas a todos nós. Preocupamo-nos em aprender um ofício, uma lida, um conteúdo, mas tudo isso requer a aprendizagem primeira da paciência. Requer entender que tudo tem seu tempo e o que mata é a ansiedade.
O que mata é morrer de véspera com aquilo que ainda nem aconteceu. É sofrer por antecedência  com coisas que, muitas vezes, nem vão acontecer, mas que, na nossa cabeça, fazem parte de um planejamento e de uma visão de futuro que não temos. Mas insistimos em ter... é. Não temos isso.
Aprender a viver um dia de cada vez tem sido a minha mais difícil aprendizagem. A luta para entender que cada dia tem o seu mal. E basta. Não traga o mal de outros dias para hoje. Temos que entender que o amanhã cuidará de si mesmo.
Aprendi duas línguas além da minha língua mãe, aprendi a ser professor, fiz um mestrado, um doutorado, aprendi inúmeras coisas eu doeram menos do que aprender que os dias são unidades que se sucedem uma após outra e não dá para sofrer antes do dia de amanhã, porque ele chegará com suas dores e alegrias.
Tudo isso, na inexorável velocidade de 60 minutos por hora.
Queira você ou não.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quem disse que isso aqui é seu?


A maior ilusão da vida é a de pertencimento. Achamos que pertencemos a um grupo, a uma nação, a uma raça, a um clã, enfim, nós pertencemos ao mundo e aos pequenos mundos que existem nele. Acreditamos, na outra via dessa mão, que o mundo nos pertence, que são nossos os filhos, os amigos, a mulher/marido, os parentes, o emprego, os títulos, os carros, imóveis tudo. E, nesse fluxo, vivemos como se a nossa vida fosse eterna, como se fôssemos ser donos de tudo o tempo todo para sempre.
O problema é que a vida é mais curta do que se imagina e, a nós, nem o nosso corpo pertence. Ele é matéria orgânica no aguardo de ser consumida por vermes. Nem seus olhos, que, nesse momento, servem para ler este texto são seus. A vida lhe deu o direito de usá-los por um tempo que está em aberto. Pode ser de meses, anos ou décadas. Mas ele não é seu. Eles não lhe pertencem. Assim são todas as coisas.
A maioria das inimizades e desavenças em nossa existência são decorrentes de brigas que temos porque alguém ameaça nos tomar aquilo que não é nosso (e nunca será). Aliás, nem é dele (de quem quer tomar). Nessa ânsia de resguardar tudo isso que não me pertence (títulos, cargos, dinheiro, bens, etc...), matamos aquilo que realmente nos é de direito, o afeto que cultivamos. Isso sim é nosso de verdade e levamos mesmo depois que os vermes devorarem o nosso último pedaço de carne putrefacta.
Desprezamos esse afeto, ignoramos nossa finitude, agarramo-nos ao sentido de pertencimento a um mundo em que podemos ser tudo, menos parte dele. Estamos nele, de passagem, por um tempo cruelmente não determinado, exatamente para que possamos aprender o quanto não lhe pertencemos.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O tolo orgulho de macho. Episódio: O Mirradinho


Com o esfriar do casamento e o amornar da cama, Ariovaldo começara há algum tempo com propostas quase perversas para sua esposa. Lá pelas tantas, dera de insistir em variar, buscar caminhos e entradas diferentes para o prazer. (Se é que você me entende) O excesso de filmes pornográficos estava virando sua cabeça e vez por outra ele retornava ao assunto. 
- E aí? Vamos tentar hoje?
- Ariovaldo, não inventa. Não quero. Não gosto.
- Opa! Isso eu não sabia. Como assim “não gosto”? Então você já experimentou com outro?
E as insistências de Ariovaldo prosseguiam nos dias seguintes.
- Quer dizer que com outro pode. Comigo, que sou marido, não pode? É... Veja como são as coisas...
E toda noite era a mesma novela.
- Amor, se doer eu paro.
- Nãããõoo! Já falei.
Ele fazia muxoxo e ficava de bico durante dias.
Um dia, numa insistência daquelas, ela disparou.
- Olha, Ariovaldo. Não quero fazer com você porque tenho medo. Você é muito grande, longo, avantajado.. enfim.. Tenho muito medo disso. O meu ex era mirradinho, curto, fino.. não me assustava em nada.
O marido ficou parado por uns instantes. Assimilou cada palavra daquela revelação tão íntima. Virou para o lado e dormiu com um sorriso discreto. 
Durante meses não tocou mais no assunto. Certo dia, após ser demitido do emprego, chegou em casa com a autoestima em baixa, sentia-se o menor dos homens. Estranhamente voltou a insistir com a mulher de novo naquela tara. Queria porque queria. A mulher percebeu a intenção e repetiu o não seguido das justificativas dadas antes.. 
Ele se virou para o lado e dormiu com um sorriso no rosto. Coitado do mirradinho.... “mirradinho”, pensava com tom de desdém, ele, o grande, o longo, a avantajado.
E ela também dormia... aliviada. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

É difícil ser pai, né, pai?


Outro dia, eu brincava com o meu filho de 4 anos, Daniel, e lá pelas tantas eu perguntei se ele sabia quem era a razão da minha vida. Ele não pensou e respondeu de cara: - Sei sim. Eu e o Bruno (o meu caçula). Ele me deu um beijo e disse que me amava e achava que devia ser difícil ser pai. Eu respondi que não era fácil, mas era uma coisa que mais dava sentido à minha vida. E voltamos a brincar.
Ser pai no sentido mais amplo da palavra é dividir o meu tempo com ele e entender que eles fazem parte das minhas prioridades. É sentar no chão para brincar, sair para comprar coisas juntos, conversar como gente grande, jogar videogame, brigar na hora de brigar, pedir desculpas quando nos excedemos e dar exemplos bons o tempo todo. Eles nos observam mais do que imaginamos e isso, às vezes, assusta.
Antigamente, o pai-padrão contribuía com o esperma e ali encerrava sua participação direta na paternidade. No mais, botava dinheiro em casa enquanto as mães eram as responsáveis pela educação dos filhos. A coisa, hoje, mudou. A minha geração de pai é mais comprometida e vemos isso nos shopping e pracinhas.
Temos que ter tempo para o trabalho, para o estudo, para a esposa, para os filhos... Quando sobra um pouquinho para a gente, aí sim, aproveitamos e... Damos para os filhos, pois a vida ao lado deles assume um sentido sem o qual não saberíamos mais viver.
É, Daniel, é difícil ser pai.. mas todos os dias agradeço essa oportunidade que você e seu irmão me deram de entender o que é esse nunca contentar-se de contente, esse cuidar que se ganha em se perder. Esse tão contraditório a si que é mesmo o amor.