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domingo, 16 de maio de 2021

É... Não tem nenhum sentido mesmo

A grande pergunta da vida  "qual é o sentido da vida?" talvez possa ser respondida com um simples "o sentido da vida é que ela não tem sentido nenhum". E o mais impressionante disso é que isso não é uma constatação depressiva, melancólica, niilista ou de alguém que desistiu da vida em razão de tomar muita pancada. Não. É uma constatação plena de euforia e esperança.

O fato é que passamos a vida toda buscando um sentido e achando que é ser um bom profissional, um bom marido, um homem bem sucedido financeiramente, ser feliz, ser saudável, ser um bom pai… Enfim, passamos boa parte da vida correndo atrás do rabo e, quando pegamos (instante raro e momentâneo), ficamos com a sensação do "tá, e daí"... "Há outros sentidos ou posso ficar aqui com o rabo entre os dentes bem satisfeito com o que consegui?" Largamos o rabo e recomeçamos a caçada com a certeza de que, agora, o rabo, com nome diferente que atribuímos, é o verdadeiro sentido da vida. 

Um adendo aqui... Há um livro de um autor americano chamado Daniel Klein cujo título é Every Time I Find the Meaning of Life, They Change It - Cada vez que eu encontro o sentido da vida, eles mudam - muito interessante. Bom, o nosso raciocínio aqui segue bem por essa linha. Vamos lá.. retomemos.

Ser bom profissional, bom pai, bem sucedido, no fundo não faz muito sentido como fim, mas com tudo que construímos como meio. Até porque, no meio dessa caça, os sentidos mudam, desistimos, mudamos, refazemos… e o sentidos mudam porque ele não é da vida. Ele é nosso e nós sim, mudamos. Nós os criamos, atribuímos, nós os mudamos.

A vida, como tudo, não possui uma essência. Ela é um vazio que nos separa entre o útero e o túmulo. Por isso, o grande sentido é atribuir, nesse interregno, sentidos que rompam a confortável sensação da inércia natural do ser. A linguagem reflete isso quando dizemos "a vida passa". Aí é que está… ela não passa. Nós é que somos compelidos a passar enquanto ela se mantém estática como uma estrada sem tamanho conhecido que nos conduz entre as duas inexoráveis proparoxítonas (o útero e o túmulo).

O sentido não está na religião, na família, no trabalho, em uma guerra ou em uma luta por um mundo melhor, o sentido está onde eu puser e quando eu retirar, não existe mais. Veja pessoas que sofreram grandes perdas e depois disso dizem que a vida perdeu o sentido. Não. Ela nunca teve, ela é um vazio e o que se chama de sentido perdido é um sentido atribuído que como outros não são inerentes à vida, são nossos. E como senhor deles, podemos mudar, mover, retirar, ajustar ou mesmo desistir. E dizemos que a vida perdeu sentido. Não. A vida não perdeu… Ela nunca teve. Você, sim.

Dessa forma, o grande sentido dessa vida é encontrar, ressignificar, mudar sentidos para que o dia seguinte gere expectativa e não tédio, desalento e apatia. Quando vamos fazer uma grande viagem, ao deitarmos à noite, o sentido de tudo é aquela viagem e vivemos as etapas em função daquele momento que vai passar e pedir novos sentidos.

A vida ganha sentido quando entendemos que ela, por si só,  não tem nenhum e atribui-los é o X da questão. O X é sabermos que cada dia é uma grande viagem e se preparar e esperar sua chegada é o único sentido tangível.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quem disse que isso aqui é seu?


A maior ilusão da vida é a de pertencimento. Achamos que pertencemos a um grupo, a uma nação, a uma raça, a um clã, enfim, nós pertencemos ao mundo e aos pequenos mundos que existem nele. Acreditamos, na outra via dessa mão, que o mundo nos pertence, que são nossos os filhos, os amigos, a mulher/marido, os parentes, o emprego, os títulos, os carros, imóveis tudo. E, nesse fluxo, vivemos como se a nossa vida fosse eterna, como se fôssemos ser donos de tudo o tempo todo para sempre.
O problema é que a vida é mais curta do que se imagina e, a nós, nem o nosso corpo pertence. Ele é matéria orgânica no aguardo de ser consumida por vermes. Nem seus olhos, que, nesse momento, servem para ler este texto são seus. A vida lhe deu o direito de usá-los por um tempo que está em aberto. Pode ser de meses, anos ou décadas. Mas ele não é seu. Eles não lhe pertencem. Assim são todas as coisas.
A maioria das inimizades e desavenças em nossa existência são decorrentes de brigas que temos porque alguém ameaça nos tomar aquilo que não é nosso (e nunca será). Aliás, nem é dele (de quem quer tomar). Nessa ânsia de resguardar tudo isso que não me pertence (títulos, cargos, dinheiro, bens, etc...), matamos aquilo que realmente nos é de direito, o afeto que cultivamos. Isso sim é nosso de verdade e levamos mesmo depois que os vermes devorarem o nosso último pedaço de carne putrefacta.
Desprezamos esse afeto, ignoramos nossa finitude, agarramo-nos ao sentido de pertencimento a um mundo em que podemos ser tudo, menos parte dele. Estamos nele, de passagem, por um tempo cruelmente não determinado, exatamente para que possamos aprender o quanto não lhe pertencemos.