domingo, 29 de agosto de 2010

Oração singela de um pai apaixonado (e preocupado)

Peço a vida sabedoria
Sabedoria para ser digno da vida que me confiaram
Para ser justo sem ser rígido
Para dobrar quando necessário for
E manter-me firme mesmo quando o coração vacilar


Para que eu crie um homem

Um homem digno
E que empregue suas mãos no trabalho
Sua consciência no outro
E, na sua alma, se talhe o mais sólido caráter

Que eu dê a essa vida que me entregaram
A dignidade e a crença
Não a fé cega que cala o homem e escraviza
Mas a fé no homem
Que ergue o mundo e faz dele um lugar melhor
Amém


P.S.Retornei a essa questão porque tenho visto tanta coisa desanimadora como educador. Meninos riquinhos achando que, porque pagam faculdade cara, podem tudo com qualquer um. E pais endossando o discurso da barbárie, dando dinheiro para policial para alimentar a impunidade dos monstros que pariram, desculpando a desonestidade e estupidez de suas crias, acreditando que o mundo só serve para servi-los. E os filhos reproduzem esse discurso porque são o espelho da imbecilidade dos pais.. Tenho andado desanimado... muito desanimado... Olho meu pequeno Daniel, penso em tudo que estou passando para ele e esbarro no medo, no medo do ser humano que estão deixando para o mundo. Não sei se teremos um mundo melhor, mas acho pouco provável com tantas pessoas piores que tenho visto. Não volto mais a esse assunto. Já deu.. Foi só um desabafo final.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Que exemplo deixamos para nossos filhos?

Os filhos espelham os pais. Antes de ser pai, sempre achei que isso fosse filosofia barata. Mas tenho tido inúmeras razões para acreditar que a coisa vai além das palavras.
Outro dia, durante uma aula em que eu explicava o que pressupomos e o que subentendemos em um texto. Eu disse que é possível, na frase “Maria parou de fumar”, pressupor que Maria fumava, com base na expressão “parou de”. Então, perguntei por que as pessoas achavam que Maria parou de fumar. As opiniões foram várias: tinha força de vontade, porque sofria de problemas respiratório, porque se sentia discriminada, enfim, cada um opinava e criava um subentendido com base no que tinha como vivência pessoal.
Foi nisso que uma aluna disse que Maria parou de fumar porque tinha uma filha pequena. Questionada com a relação entre parar de fumar e ter um filho pequeno ela explicou que ela (a aluna) fumava e que decidiu parar de fumar quando viu sua filha brincando com uma caneta, como se fosse um cigarro. Isso explicou tudo.
Fui pensando nisso durante o caminho para casa. Uma hora de volante dá pra mastigar muita idéia. No dia seguinte, em casa, sentei para ler o jornal como sempre o faço nas minhas curtas horas vagas. O meu pequeno Daniel (de dois anos e meio) se aproximou, pegou um dos cadernos do jornal (Valor Econômico) arrastou para o quarto dele. Não sem antes dizer: papai, eu qué lê.
Cheguei de mansinho no quarto e simultâneo ao Barney que passava na TV, o meu menininho me imitava com o jornal aberto e dizia: esse é o A, esse é o O.... esse é D de Daniel...
Com um sorriso que se espalha na alma, entendi tudo. Entendi e me pesou como toneladas a responsabilidade saber o que podemos deixar para nossos filhos.


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Eu tenho medo é das boas intenções...e outras meias verdades

Meia verdade é de fato uma meia mentira. Sempre repito isso nas aulas de semântica. Quando dividimos uma realidade ao meio e rotulamos como uma "meia verdade", estamos escondendo a grande meia mentira que ela traz consigo.
Em tempos de eleição, de Criança Esperança, de Amigos da Escola, fico me perguntando quanto de boa intenção existe por trás das boas intenções. Das promessas de campanha, dos milhões investidos em propaganda para se ganhar um salário que multiplicado pelos meses que o cara vai estar no cargo, não cobre 20% do que foi gasto. Altruísmo em excesso? 
Das doações que ajudam as crianças, mas enriquecem as operadoras de telefonia, enchem os cofres do governo e são depositadas numa conta da UNICEF (sic). E quem paga a festa? A globo? Saí tudo no 0800 por conta dela? É tanta bondade que me pesa na consciência desconfiar.
E o velhinho aposentado que vai a escola dar aula de música de graça o que dispensa o governo de investir um centavo na formação docente, mas com a manutenção da arrecadação tributária mantida. Que bela fórmula: menos gastos + receita mantida = maior lucro.. lucro sim! Alguém lucra com isso.
Tenho acordado meio descrente de certas coisas, ou mais desconfiado.. mais mineiro do que sempre.. e não do que nunca já que o sou mais do que outra coisa.
Concluo com uma observação que fizeram outro dia depois de um papo entre amigos na saída do trabalho: As más intenções não me assustam. Eu tenho medo mesmo é das boas intenções. Essas sim, me dão até arrepio.

P.S. Afinal, como dizia minha avó, delas o inferno está cheio.

domingo, 8 de agosto de 2010

Mãe, cheguei bem. Te amo.

[não sou de poesias, mas essa foto ficou tão linda que inspirou]


O que é que você espera mulher?
Espera menino?
Que chega às pressas e estabanado
Derruba as coisas a frente e ao lado.
O que espera mulher?


Espera menino?
Moleque levado que fala enrolado
E torce a língua para falar mamãe?


Ainda esperando mulher?
O garoto sapeca 
Ruidoso da breca
Ou seria levado breca?
Não importa. O fato é que espera menino.


Espera mesmo menino?
Que um dia crescido
Com ar decido e mochila nas costas
Chega e lhe diz:
- Tô indo viajar, mãe. Beijos
 E contrariada, mas resignada
Vê bater a porta.


E então...
Deixa o corpo cair no sofá...
Espera menino
Esperando o menino ligar.

[O nome dela é Camilla, minha esposa, e espera nosso segundo menino. Vai se chamar Bruno.]

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Ódio e intolerância em nome de Deus

Tenho poucas oportunidades de ler blogs, mas sempre que o tenho, faço com prazer. Gosto de ver o que pensam e escrevem e, principalmente, como escrevem alguns blogueiros. Outro dia, passeava pelo DiHITT, uma rede social de blogueiros, e me deparei com uma série de blogs (não vou promovê-los aqui dando nome) com significativa projeção entre os usuários e que pregavam através de artigos que gays eram os responsáveis pela AIDS, que eram responsáveis pelas doenças venéreas e que tinham desequilíbrio mental, por isso, apresentavam o maior índice de suicídio. Os dados eram sempre duvidosos ou de fontes questionáveis, mas estavam sempre lá. E no final, sempre a mensagem. Deus não gosta de gays, por isso criou o homem e a mulher. 
Não sou gay, não tenho parentes gays (não que eu saiba), mas tenho (e sempre tive) alguns colegas de trabalho gays. Aliás, bons profissionais e que não se aproximam nem de longe do estereótipo evangélico do aidético, doente mental suicida rejeitado por Deus.
O fato é que algumas pessoas se arrogam uma espécie de procuração para falar e assinar em nome de Deus e saem despejando as suas frustrações, inclusive sexuais, sobre todos e tudo. Dedicam-se a atacar com feroz fervor como se num grito interno sufocasse sua sexualidade confusa e reprimida e o ataque abrandasse a dor de não ser o que se queria ser, de se viver o que se queria viver.
Não acredito que gays sejam aidéticos, doentes mentais suicidas rejeitados por Deus, aliás, acredito que se existe um Deus, ele teve a sabedoria de dar uma vida para cada um para que cada um tomasse conta da sua e fizesse menos julgamentos. E, por fim, para arrematar, mandou o filho dele para a terra para ensinar que acima de qualquer coisa deve haver um sentimento forte entre os homens: amor e, consequentemente, a  TOLERÂNCIA daqueles que sabem amar o próximo.


Em tempo: Quando a sexualidade do outro nos incomoda a fim de nos mobilizarmos é sinal de que há algo incômodo com a nossa sexualidade. Isso é para se pensar.

Em tempo 2: ah sim.. o mesmo preconceito que se "justifica" contra gays aponta suas armas, a seu tempo, para negros, pobres, judeus, ciganos, suburbanos... Preconceito é ódio enlatado no peito e só muda de alvo...