Há meses amadurecia a ideia de um suicídio. Mas não queria nada comum, nada de veneno, de tiro, nada de forca. Almejava o brilho e acima de tudo, originalidade. Sua vida como figurinista pedia isso. Era o mínimo que poderia fazer aos fãs que deixaria. Figuristas têm fãs? Repetia a si mesmo. Ele os tinha e ponto final.
Sobre um mesinha estilo anos 40, vestido de terno e cultivando bigodinho Clark Gable, se discursaria com menções existencialista em meio a uma atmosfera decadente de Nova Iorque pós depressão de 30. Seria o primeiro suícídio temático. Algo para marcar época. Na vitrola, uma antiga Philips de 78 rotações, tocava uma melancólica canção de Cole Porter.
Preparara tudo durante anos. Comprara os equipamentos e ensaiara o texto escrito para o final. Encarava aquilo tudo como o seu grande espetáculo e, o melhor, com uma única apresentação. Com tudo comprado, delirava ao imaginar os detalhes e num arrobo raro de felicidade, pediu uma comida chinesa para comemorar sozinho a véspera de sua grande avant-première.. Ou melhor dernière, a última mesmo.
Comeu o franguinho colorido com avidez. Adormeceu na expectativa do grande dia.
Lá pelas tantas, acordou suado e com uma cólica que insistia e fazê-lo recurvar. Correu ao banheiro e percebeu que estava sendo acometido por uma terrível diarreia. Entre cólicas e descargas, sentia suas forças se esvaírem. Desidratava cada vez mais e por dois dias viu seu rosto secar, até que, fraco. Tombou.
O discurso e a pompa fora substituído por uma sussurante súplica à foto de Greta Garbo em um cartaz de filme em sua parede.
Cagado não... Cagado não, repetia.
E aí percebeu a merda que tinha feito.