domingo, 3 de julho de 2016

Consulte seu médico... vai que...

Quem pensa que viver é SER engana-se redondamente. Viver é ESTAR e estar por pouco tempo. Isso é independente de se ter uma visão materialista ou espiritualista. Esta acredita que a vida se prolonga além do corpo, aquela pensa que tudo se acaba com a morte do corpo físico. Entretanto, a vida durante seu período é inexoravelmente ESTAR.
Dito isso, penso que o maior bem que maturidade nos dá é a capacidade de enxergar essa condição. Às vezes, fico vendo pessoas mais novas cultivarem ideologias que alimentam o ódio, a discórdia, a rejeição a quem pensa diferente, o conflito, a doutrinação para formar um legião de propagadores da doutrinas X ou Y. E todo aquele que propõe parar para pensar é visto como uma ameaça ao sonho revolucionário. Vivemos em tempos em que um discurso deve ser assumido como única verdade que liberta. O livre pensar é uma ameaça à ordem.
Pessoas que fazem questão de ter para si a razão (arrogância), que tem certeza de suas ideias (intransigência), que se sentem parte de uma luta maior para mudar o mundo (megalomania) são almas doentes que estão afundadas dentro de um universo esquizofrênico que eles mesmos criaram e que possui verdades que não se abalam mesmo diante de qualquer fato que se faça presente. O mundo é quadrado! Sim, por que sim, e o que a ciência mostra, se for contrário ao que pensam, é uma manipulação ideológica de uma elite dominante do planeta. Se for a favor, é um endosso de sua razão e de sua paranoia messiânica.
Mas aí... ser é estar, não é?
Pois é, e estar por quanto tempo? Não sei.
Até que, um dia, em uma visita ao médico, o exame de rotina nos mostre um câncer que nos corrói (eu não sei se tenho um que me corrói silenciosamente nesse momento... e não se assuste, mas nem você sabe também) e que vai nos colocar em uma quimioterapia sofrendo mais com o tratamento do que com a doença. E, muitas vezes, no final, para nada. Ou que o mal cardíaco que herdamos de nossos antepassados se manifeste com um formigamento no braço, uma dor no peito, ninguém perto para ajudar... pronto. Não estamos mais. Ou que o marginal que nos espera na esquina já tenha sua arma engatilhada e aqueles serão os últimos momentos de estadia por aqui. A bala passa pelo peito queimando. Em pouco tempo, o pulmão se enche de sangue, você golfa sangue... e morre afogado no que o manteve vivo por todo esse tempo.
Faça um esforço de imaginar seu coração parando, sua angústia, seu medo, o frio que vai chegando, a visão que vai se esvaindo... imagine os últimos segundo como serão e tudo que você gostaria de ter a chance de refazer.
Mas ainda assim, se sua imaginação ainda não foi capaz de mostrar como são tortuosas algumas atitudes, faça consultas ao médico com frequência. A vida sempre dá um jeito de ensinar o que se recusa a aprender.

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