Pronto. Joguei um balde de água fria em toda sua expectativa que os livros de autoajuda conspiraram para formar durante décadas em você como essa de um universo que conspira a nosso favor. Não. O universo não tem um acordo com você.
Temos aqui o conceito de carma que precisa ser um pouco ajustado não para uma ideia de quem promove uma boa ação gera uma boa ação ou que uma má ação gere resultados nocivos para si. O que ocorre é que o fluxo das coisas no universo segue uma trajetória com vários fatores interveniente que não controlamos. É claro que uma boa ação, uma conduta honrada e digna lhe coloca numa trajetória em que as possibilidades de algo dar muito errado é bem reduzida, mas, lembre-se, isso não o torna jamais imune ao infortúnio. Afinal, ele atinge o ímpio e o justo, não é? O universo não barganha. Entenda sempre isso.
Planeje e trace caminhos dignos, mas não espere receber o cordão da imunidade que lhe livrará de todos os males. Não. Não é assim que banda toca e entender isso é assumir que o bem que fazemos ou os planos que traçamos são nossos e não do universo. Quase 100% das boas ações e dos planos que fazemos ocorrem dentro da gente e não fora. E não queira que o mundo faça parte dos seus projetos, uma vez que, por mais que compartilhe com os outros, eles são, no fundo, só seus.
Somos só um humano vivendo dentro de um corpo humano em um universo com mais 7 bilhões de pessoas vivendo dentro de só um corpo humano cada um. Entendeu? Viu como é complicado se todo mundo tiver que ser cooptado pelos projetos alheios. Eu sei... É claro que existem projetos coletivos, mas por trás de todos os projetos coletivos há projetos individuais de existência. E isso não é ruim... isso é humano.
Dessa forma, planejar é uma maneira de gerir a sua existência com uma sensação mais segura (que não pode ser dispensada) de que algo segue sob controle, pois, o sentimento de estar feito pipa ao vento retira-nos a segurança e estabilidade emocional tornando-nos escravos do contexto (ainda vou falar sobre isso aqui). A zona de conforto é o nosso lugar de sonho. Apesar do discurso coach motivacional de que temos que sair da zona de conforto. A verdade é que praticamente ninguém quer largar seu emprego que o remunera justamente e lhe dá segurança para vender artesanato na rua… sem saber se o dinheiro que ganhou hoje paga o almoço de amanhã ou o lugar para dormir. O desconforto existencial, a incerteza absoluta (afinal tudo é de certa forma incerto) causam um desgaste absurdo no ser humano e reduzem a qualidade de vida. Pode ser romântico o largar tudo... mas são pouquíssimos que querem e menos ainda os que conseguem isso.
É claro que há exceções. Sim, elas existem. Mas de quantos estamos falando em 7 bilhões de pessoas? Convenhamos que essas exceções nem de longe configuram um mínimo padrão humano. O fato é que buscamos um certo controle de que nos próximos tempos teremos o que comer, onde dormir, onde ser tratado caso fiquemos doente, enfim, buscamos a zona de conforto para os próximos tempos mesmo sem saber se teremos os próximos tempos. Afinal não estamos no controle de quase nada… Lembra?
O que nos resta então?
Resta localizarmo-nos no tempo em que estamos. No tempo da respiração, no tempo do batimento cardíaco, na pausa momentânea em que percebemos que estamos vivo. Coisa rara para a maioria das pessoas. Nesse momento, planejamos, desenhamos, avaliamos, mas depois de dada essa concessão, retornamos ao presente que, no final das contas, é a única coisa palpável que temos. Muitas pessoas vivem tanto no futuro que sofrem por coisas que talvez nunca venham a viver. Sofrem por um mundo que talvez nunca exista ou mesmo que nunca exista daquela forma.
Temos para nós, na verdade, um presente efêmero, quase imperceptível, fugaz, mas que verdadeiramente, é a única coisa que a vida nos permite acessar. Então... respire.
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