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domingo, 6 de junho de 2021

Insaciável querer e a frustração

Outro dia eu lia sobre o que é felicidade, uma pergunta que o homem se faz desde sempre. No texto, o autor resumia a felicidade como um estado de paz interior constante, um bem estar prolongado que decorre da lucidez emocional, da capacidade de estar bem com você mesmo a maior parte do tempo. Algo muito longe da busca insaciável por momentos de satisfação que promovem um efeito de prazer momentâneo que se dilui com grande rapidez como se fosse uma droga ingerida.

O problema é que a sociedade alimenta o ideal de felicidade vendido nas novelas e nas propagandas. Felicidade é casar e ter filhos morando numa casa em que a esposa fica abanando a mão para se despedir das crianças que vão para a escola. Isso, depois de um café da manhã harmonioso que termina com um beijo na testa, um sorriso e um "vou indo que estou atrasado, querida".

Resumem felicidade a dinheiro, muito dinheiro e contradizem milhões de pessoas que vivem com pouco, mas trazem consigo uma aura de felicidade legítima. Diriam alguns, são alienados. Mas seriam eles ou nós os alienados?

A busca pela felicidade momentânea no mundo moderno (e que a mídia tanto divulga, pois, ela quer te convencer que sua felicidade está atrelada ao que querem te vender) promove, na verdade, duas coisas: o cansaço e a frustração. O cansaço, pois seguimos em um insaciável querer em que nunca nada nos satisfaz. Quando conseguimos uma coisa, aquela satisfação dura somente pouco tempo, uma vez que sempre há algo mais a se querer ali na frente que já queremos. Isso provoca um exaurimento de energia vital decorrente de nunca estar satisfeito de verdade. 

O segundo efeito é a frustração. São fornecidos a nós modelos de felicidade como roupa pronta e algumas pessoas realmente conseguem atingir esse modelo (ou algo bem próximo) e, inevitavelmente, nos pegamos nos comparando com fulano tem uma família feliz, com sicrano é bem sucedido e, a partir daí, fazemos uma mensuração do "nosso fracasso". Aí nasce a imensa frustração de não ter tido sucesso algum.

Esse é o problema. A medida do fracasso ou do sucesso nunca é tangível por índices, pois esses conceitos são externos a nós mesmos enquanto o êxito real é o cultivo da vida interior em um estado de paz e lucidez emocional (eu sei o que sinto, de onde vem e entendo a dimensão que permito que isso deve ter na minha vida). É importante entender que a régua que mede meu sucesso não é as postagens do Instagram onde todos são felizes, onde todos são bem sucedidos e, na verdade, onde todos pintam a tela para mostrar aos outros a imagens que querem que eles vejam.

Enquanto muitas vezes, talvez, olhem outras postagens e pensem: como fulano tem uma família feliz, como sicrano é bem sucedido…. preciso, talvez…. quem sabe…. postar mais na praia.


domingo, 18 de junho de 2017

Essa tal felicidade sempre clandestina

Esse é o título de um livro de Clarice Lispector. Passei anos sem entender ao certo o que era exatamente isso, quando aos quase 46 anos, constato que toda felicidade é clandestina. Podemos entender que clandestino é todo aquela que  entra sem ser autorizado e, costuma a sair sorrateiro sem denunciar sua condição. A felicidade assim o é.
Há dias em que acordamos com uma invasão de felicidade injustificada. Uma sensação de "tudo-vai-bem" que a gente, acostumado a essa ausência se pergunta: o que vai bem? E se questiona, às vezes, que toda felicidade é alienante. No fim, esquece de curtir aquela sensação clandestina que invadiu nossa alma. Tenho medo que tenhamos desaprendido a ser felizes.
A felicidade também mora na memória. Muitas vezes, recordamos uma viagem, um encontro, um amor, umas palavras que nos fazem assomar enorme sensação de felicidade. Essa também é clandestina, mas que chegou porque, voluntariamente, deixamos as portas abertas e dissemos: olha, está aberta a porta. Se quiser dá uma passadinha, fica à vontade.
Outro dia, me peguei com as portas da memória abertas de uma viagem recente e a felicidade não titubeou, entrou pelos olhos, deu um pulo no coração, me inundou e vazou pelos olhos em que entrou. Porque felicidade é assim: quando volta senta me mesma cadeira que deixou vazia.
Por isso é preciso estar atento, desperto, pois, muitas vezes, não percebemos sua entrada perdidos na correria do dia a dia e se o fazemos, abandonamos a oportunidade de permitir que ela nos revisite em formas de momentos. Acordei assim, com as portas semiabertas e ela entrou enquanto dirigia (ela nunca escolhe hora para isso) e fui tomado de um prazer imenso. Deixei-a entrar, permiti que mostrasse imagens, histórias, músicas, gestos que um dia me fizeram muito feliz. E fui feliz de novo..
Precisamos aprender a lidar com essa tal felicidade, essa desejada clandestina que entra não sei quando, fica não sei onde e sai não sei por quê...
Por via das dúvidas, pelo menos eu, sigo com a porta entreaberta caso ela passe por aqui.

domingo, 27 de novembro de 2016

"Felicidade": é preciso vigiar sempre


Felicidade é um momento rápido e fugaz, do tipo  de uma partícula dessas que a ciência descobre de vez em quando e avisa: eis a menor partícula já vista no universo. Até que se descobrirá, amanhã ou depois, outra menor. Definitivamente, felicidade não é um lugar, é uma fração de existência que nos obriga a estar atentos para hora que ela passa, pois quando percebemos, já se foi e é passado.

É preciso vigiar, é preciso estar sempre atento.
Às vezes, nós a encontramos nas memórias. Ela também fica lá em forma de tudo que foi e também na forma do que não foi, mas a gente queria tanto que tivesse sido. E, por alguns instantes, desejamos que mesmo a maior mentira que nos feriu tanto nos permitisse que a congelássemos no último segunda antes de descobri-la (congelar enquanto nos era uma doce verdade) e que nos fazia tão feliz. Mas a felicidade é fugaz, se foi e começou e acabou naquele segundo. Depois, só nos resta a nossa história que carregamos na algibeira.
Por isso é preciso vigiar a cada instante.

É como aquele flor no concreto que passamos no caminho para algum lugar. Se não prestarmos atenção e olharmos para baixo ou para o lado, esquecermos por alguns instantes aonde queremos chegar, ela fica lá. Por um segundo, pois alguns minutos, durando um pouquinho mais do que o tal pedaço de átomo. Mas a cada passo nosso adiante, ela vira um pedaço do passado...

Que só nos resta carregar na algibeira....


sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Conceitos e definições - Por um ano realmente novo

Conviver com jovem o faz manter-se sempre conectado com o jovem que você foi. Envelhecemos e distanciamo-nos da leitura daquilo que um dia teve ideias, concepções, conceitos e definições diferentes do que agora somos.
A sociedade nos oferece modelos do que é ser feliz, do que é ser bem sucedido, do que é ser bom. 
Ser feliz não é um comercial de Claybom em que todos acordam sorrindo e desenham carinhas na superfície lisa da margarina antes de passar no pão. Pessoas costumam acordar amarrotadas e as embalagens já se encontram abertas e totalmente reviradas na superfície.
Sucesso e dinheiro, realmente não são sinônimos. Se seguirmos esta equação dinheiro = sucesso encontraremos numa ponta Bill Gates (ou Warren Buffet) e na outra, pessoas como, por exemplo, Jesus (ou Budha), que até onde se sabe não deveria ter nenhuma lista de bens muito grande a se declarar na receita federal e não pode ser considerado um fracasso. Pessoalmente, acho que ambos estão longe disso.
E, finalmente, ser bom. Bom é um termo não-concluso. Ele pede um complemento. Dizer ser bom é insuficiente para definir pelo menos bom para que ou para quem. Acho que o bom é ser bom, de alguma forma, para todos. Bom filho, bom marido, bom pai, bom colega e acima de tudo, bom para si mesmo.
Carecemos um conceito de mais claro do que é ter sucesso, ser feliz, ser bom pois, em face da diversidade dessas ideias, corremos atrás do próprio rabo. Corremos, às vezes, pegamos, constatamos que é nosso, soltamos, corremos de novo, pegamos, constatamos que é nosso...

Ad infinitum et ad eternitate...

E que todos tenha um 2012 mais claro em seus conceitos e buscas.