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sábado, 20 de agosto de 2011

O figurinista suicida

Há meses amadurecia a ideia de um suicídio. Mas não queria nada comum, nada de veneno, de tiro, nada de forca. Almejava o brilho e acima de tudo, originalidade. Sua vida como figurinista pedia isso. Era o mínimo que poderia fazer aos fãs que deixaria. Figuristas têm fãs? Repetia a si mesmo. Ele os tinha e ponto final. 
Sobre um mesinha estilo anos 40, vestido de terno e cultivando bigodinho Clark Gable, se discursaria com menções existencialista em meio a uma atmosfera decadente de Nova Iorque pós depressão de 30. Seria o primeiro suícídio temático. Algo para marcar época. Na vitrola, uma antiga Philips de 78 rotações, tocava uma melancólica canção de Cole Porter. 
Preparara tudo durante anos. Comprara os equipamentos e ensaiara o texto escrito para o final. Encarava aquilo tudo como o seu grande espetáculo e, o melhor, com uma única apresentação. Com tudo comprado, delirava ao imaginar os detalhes e num arrobo raro de felicidade, pediu uma comida chinesa para comemorar sozinho a véspera de sua grande avant-première.. Ou melhor dernière, a última mesmo.
Comeu o franguinho colorido com avidez. Adormeceu na expectativa do grande dia.
Lá pelas tantas, acordou suado e com uma cólica que insistia e fazê-lo recurvar. Correu ao banheiro e percebeu que estava sendo acometido por uma terrível diarreia. Entre cólicas e descargas, sentia suas forças se esvaírem. Desidratava cada vez mais e por dois dias viu seu rosto secar, até que, fraco. Tombou.
O discurso e a pompa fora substituído por uma sussurante súplica à foto de Greta Garbo em um cartaz de filme em sua parede.
Cagado não... Cagado não, repetia.
E aí percebeu a merda que tinha feito.

sábado, 6 de agosto de 2011

A prostituta.

Empresário de sucesso, tinha tudo que o dinheiro lhe podia comprar. Mas nunca havia transado com uma prostituta de luxo. Namorara modelos, mulheres de sucesso novas ou mais velhas. Mas uma prostituta de luxo mesmo. Nunca.
O serviço foi contratado pelo telefone com base em fotos de internet e, mal ela entrou em seu flat, ele percebeu que o quanto eram odiáveis os inventores do photoshop. No telefone, ela dissera que talvez demorasse um pouco pois iria se arrumar para ele. Quando abriu a porta, lembrou disso e, por um instante, tremeu ao pensar como ela seria desarrumada. Tomou-lhe, então, o dilema dos dilemas, dispensar o serviço alegando alguma coisa ou, como nos tempos de infância, aceitar para não fazer desfeita. Poxa, tava uma merda, mas ela tinha feito o melhor, se arrumado, se pintado, se perfumado e você iria fazer uma desfeita dessas. Viu a cara de reprovação de sua mãe na hora. 
Vestida ela era ruim, mas nua, dava uma saudade de vê-la vestida que fazia o ruim até parecer nem tão ruim. Sua fé se abalara naquela hora. Nada o tiraria daquela furada.
A conversa foi breve, ela tinha pressa. Despiram-se sem cerimonias. E ele pensava como seria o tempo restante das duas horas de serviço e companhia. Mas ela tinha pressa. Ele se serviu meio que a contragosto e a viu se vestir apressadamente. Ela explicou que o serviço dela era uma gozada ou até duas horas. Ficou surpreso com esse detalhe.
Ele pagou. Despediram-se.
Deitado na cama depois de um minucioso banho pensara que aquele fora o dinheiro mais bem pago que ele já empregara para não fazer mais nada. Sua fé retornava aos poucos nesse momento.

sábado, 12 de dezembro de 2009

O dono da história

Cada um conta sua história de uma maneira muito particular. Dizem que um autor só conta histórias passadas no Leblon, outro, em São Paulo, já o outro, no Nordeste. O fato é que somos o que escrevemos e escrevemos a realidade em que vivemos. Dessa forma, cada um narra um mesmo evento de seu ponto de vista. É isso que torna o mundo muito menos tedioso. Afinal de contas, tudo que havia para ser dito, já o foi. O que nos resta é dizer de maneira diferente.
Por exemplo, imaginemos a história da Branca de Neve e os sete anões.
Se ela fosse contada pelo Manoel Carlos, com certeza, Branca de neves se chamaria Helena e moraria no Leblon. Se fosse o Silvio de Abreu os sete anões morariam no Brás ou no Bexiga e teriam um sotaque muito esquisito e gesticulariam uma barbaridade quando estivessem falando. Se fosse escrita por Aguinaldo Silva, Branca de Neve teria um romance gay com a bruxa má e um dos anões seria viciado em maçãs envenenadas só para criar polêmica.

Numa novela mexicana, Branca de Neve seria uma menina de rua maltrapilha, mas que, na verdade, seria filha de um grande milionário, teria uma madrasta ruim à beça e um irmão desconhecido por quem se apaixonaria sem saber. No final, morreria antes de qualquer chance de ser feliz.

Mas se a história fosse contada por Nelson Rodrigues, os anões teriam um desejo secreto de ter relações sexuais com a Branca de Neve que se sentia meio mãe deles e sentia culpa por causa disso. Eles trabalhariam na floresta como funcionários públicos, não se chamariam Dunga ou Feliz, mas Almeida, Palhares, Oliveira e teriam uma casinha num bosque próximo para encontros amorosos.

Nas letras de um roteirista de Hollywood, Branca de neve, ao ser vista morta pelo príncipe, teria aos seus pés um homem que jurava vingança. O chefe do príncipe encantado, um homem sisudo e misterioso, olharia para ele e diria: John, fique fora disso. Mas o príncipe não desistiria e descobriria uma conspiração para matar sua parceira e concluiria sua vingança.
Mas e se fosse narrada em Cuba, Fidel mandaria prender a bruxa ianque símbolo do imperialismo e a condenaria por tráfico de maçã, pois, na ilha, não há macieiras. E na Venezuela, com certeza, os anões trabalhariam em um poço de petróleo.

E no Brasil...?
Bem, no Brasil , a Branca de Neve seria levada pelos anões a um posto do SUS. Os anões esperariam horas para serem atendidos e descobririam que ela deveria ser transferida para outro hospital porque ali não tinha leito para atender pacientes intoxicados. A bruxa teria um processo aberto na ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) por venda de alimento estragado e daria declarações no Fantástico que estava providenciando a substituição do lote. O príncipe chegaria atrasado e ficaria muito frustrado ao saber que o super plano de saúde que ele fez não inclui futuras esposas com as quais viesse a viver feliz para sempre.



terça-feira, 12 de agosto de 2008

O saco contou... Caso de polícia - amanhã o saco atualiza geral...

O Det. Wardrobe investigava se havia algum relacionamento entre um dos envolvidos no caso, pois havia suspeita de que naquela casa tinha um corredor que dava para o quarto e para a sala ao mesmo tempo. Investigou todos os móveis nos aposentos e concluiu que o único que havia presenciado o crime não poderia lhe prestar informações. Era um criado que estava no quarto da frente.

Mas o criado era mudo.

Rack, rack, rack... Ria o criminoso em um dos cômodos da casa enquanto detetive batia a porta da sala desiludido.