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sábado, 19 de maio de 2012

Memórias de um idiota confesso


Durante muito tempo na vida, achei que trabalhar de segunda de manhã até as 18 horas de sábado era motivo de vangloriar-se. Contava isso com o peito cheio de orgulho e completava com coisas do tipo “não tenho tempo nem para almoçar, engulo qualquer coisa e pronto”. Sentia imensa satisfação em relatar que atendia mais de 20 telefonemas por dia e me faltava tempo para ir ao banheiro. (Ah... isso me rendeu problemas nos rins que tive que vir a tratar depois.)
Achava o máximo olhar uma agenda lotada e terminar o dia com ela mais lotada ainda. Num ato de extremo desprendimento em nome do comprometimento profissional, dizia que mal via a meus filhos durante a semana... E isso era o discurso daquele que se sacrifica em nome do conforto (entenda dinheiro) para família.
Um dia alinhei os baldes e saí chutando. Comecei a bater de frente com tudo que me violentava e com todas as conivências com as quais não mais estava disposto a conviver. Era uma maneira de interromper esse processo, pois como uma droga, eu já não conseguia mais largar. O resto se deu naturalmente.
Aprendi a duras penas que sacrifícios precisam de objetivos, que discursos servem para nos enaltecer e expressar uma abnegação que não temos, que objetivos nobres são desvirtuados por quem manipula aqueles que acreditam e, por fim, tudo que é ruim, tudo que te destroi, tudo e todos que representam um freio em sua evolução como ser humano precisam ser expurgados, extraídos.
Assim como o são os tumores. Não existe cirurgia sem dor, sem pós-operatório, sem resquícios... mas precisa ser feito.
Quando ouço alguém com o mesmo discurso que eu sustentava há uns anos atrás sempre penso:
- Seria tão bom se ele se livrasse dos seus tumores.
Mas só o tempo dá a cada um a dimensão de suas mazelas... só tempo.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A origem - episódio I - A inveja


Tenho pensado muito sobre a origem das coisas, principalmente dos sentimentos e atitudes. Dos mais nobres aos mais mesquinhos, todos eles surgem de algum lugar, crescem sob algumas condições e se expandem conforme a oportunidade que lhe aparece. 
O primeiro que me despertou a atenção foi a inveja. Não aquela inveja do olho gordo que fazia os antigos usarem figas penduradas no pescoço. Falo da inveja que deseja o mal do outro e que trabalha para isso com palavras, articulações e atos discretos de destruição do outro.  Afinal, o que envenena e contamina é o que sai pela boca, pois brota no coração.
Percebi que esse sentimento se origina na descrença em si mesmo, na baixa autoestima (aliás, percebo que muitos sentimentos destrutivos nascem aqui). Diante da descrença de ser capaz, resta o rancor pela capacidade alheia. Como se fosse uma raiva da vida que concede (??) ao outro a habilidade de conquistar as coisas que o invejoso pensa não conseguir, pensa não ter sido privilegiado com o dom (??) do outro. 
Restam-lhe, então, duas atitudes: a resignação e aceitação de seu destino ou a ação para se vingar (??) daquele que tem tudo enquanto ele, coitado, não tem nada. A partir daí, vale a maledicência, a articulação para prejudicar, a sabotagem cotidiana, mas nunca o confronto. O invejoso não confronta o invejado, pois este é o seu objeto de ódio, mas ao mesmo tempo, seu objeto de desejo. Todo ataque a ser feito deve ser indireto e qualquer ação destrutiva deve ser encabeçada por frases do tipo “não, eu não tenho nada contra o fulano. Até gosto dele.”
Nisso, ele não mente. Ele gosta mesmo. Deseja o muito e, na impossibilidade de ter seu objeto de desejo, trabalha para destruí-lo. Tudo isso para que ninguém o tenha ou o possa desejar também.

terça-feira, 17 de abril de 2012

O problema está com quem bate


Sempre ouvia minha amada e saudosa avó dizer que o mal feito fica pra quem faz e não para quem recebe. Lá na minha tenra idade, achava uma besteira isso. Afinal, a porrada dói em quem apanha e não em quem bate. Entretanto, foram necessários uns vinte a trinta anos para que entendesse que se dói em quem apanha, também cura em quem apanha. Já quem bate prossegue batendo. Acumulando desavenças, desforrando suas frustrações e suas doenças da alma nos outros. Quem bate segue doente, não cura.
O sujeito que ofende com palavras, com atitudes é assim por sua natureza. O ofendido é só mais um na sua lista, uma situação ocasional, esporádica. O ofensor não, ele prossegue sua rota de agressão, pois sua alma doente precisa agredir. A ferida que ele traz aberta não fecha, a doença que ele carrega não cura e ainda o consome sem ele perceber.
Achar que ele não é penalizado com isso é tolice. Ele é, só não o sabe. As pessoas se afastam, as pessoas o suportam, as pessoas só se aproximam por interesse já que se não for para se tirar um proveito, não vale a pena aguentá-lo. Os que ficam no seu entorno aguardam as viradas de mesa para, no devido momento, dar o troco, a porrada de volta. E assim perpetuam-se as eternas mazelas da alma humana.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Hipocrisia e cigarro - tudo a ver

Sempre achei que a hipocrisia é um bem social.
Proibimos a maconha, liberamos o cigarro, condenamos a cocaína, aceitamos o álcool. Achamos até engraçado um personagem humorístico que cai pelos cantos e fala besteiras fazendo piadas com a própria desgraça (não a do ator, mas a do personagem). O Ministério da Justiça reclassifica a novela porque aparece uma moça seminua dançando numa boate às 21 horas. Enquanto isso, o senado libera um senador que comprou empresas usando laranjas, dinheiro sujo, pagou uma amante (aliás, com quem teve uma filha) com dinheiro de empreiteiro e isso passa no jornal das 13 horas.
Não defendo a liberação das drogas, mas a questão é pensar: o que faz o álcool menos droga do que a cocaína e o que faz o cigarro menos droga do que a maconha? Talvez dados técnicos apresentem distinções, mas estas se contrastam com a realidade de que o cigarro e a bebida são muito mais socialmente nocivas do que os seus concorrentes vendidos nas bocas de fumo dos morros (e, hoje, até por playboys de classe média).
Mas, seguindo assim, punindo os peitinhos na TV, liberando as putarias dos políticos não vejo muito perspectiva para aposentar a falsidade (ou pelo menos, dar umas férias sem vencimento para ela). Achando normal o garotinho de 15 anos com o cigarro no dedo que chega a casa bêbado depois da balada e se horrorizando com os garotos de zona sul preso com drogas seguimos rumo ao nada, ou pior, ao tudo de ruim.
Não tenho esperança de que as coisas mudem muito com a liberação das drogas ou mesmo com a proibição do álcool. Acho que tudo demanda uma reformulação de mentalidade que terá como fim tirar nosso rosto de trás dessa mascara chamada HIPOCRISIA.
Quando eu dava aulas em ensino médio, uma vez me vi no meio de uma roda de alunos de 1º ano que contavam sobre um churrasco. A conversa descambou para porres homéricos (papo comum nessa idade). Daí, começaram a relatar os porres de seus pais. Um deles disse:

Caraca, maluco, aí quando eu vi, meu velho tava todo vomitado no churrasco da minha tia. Levamos o cara para o chuveiro e demos um banho daqueles... caraca, maluco. Muita doideira.

Imaginei-me naquela situação, jamais vivida por mim, com meu pai e deprimi só de pensar. Esse fato narrado vindo de um adolescente é normal, pois a idade prima por pouco senso crítico, mas essa atitude vinda de um pai dispensa comentários e se torna autoexplicativa para o que vemos.
Ave, hipocrisia!

quarta-feira, 30 de março de 2011

O homem do amendoin e as oportunidades

Outro dia, eu me encaminhava para o meu médico em Volta Redonda, mas como tinha ainda uns 20 minutos para dar a hora da consulta. Logo, eu resolvi passar em uma lanchonete para comer um salgado ou algo assim. Comi meu salgado e, quando me dirigia ao caixa para pagar, senti alguém que tocava em meu braço e falava algo enrolado. Virei-me para ele e percebei que era um rapaz de seus 20 e poucos anos mais ou menos. Aparentemente, ele sofrera um tipo de paralisia cerebral que o deformara bem. Sua aparência era feia e sua voz confusa. Tocava com um saquinho de amendoin em meu braço e pedia para que comprasse um para ajudá-lo. Recebi o troco e dele retirei 50 centavos para o rapaz. Afastei-me. Olhei para trás e o vi tocar em outras pessoas pedindo o mesmo. Trajava roupas rotas e um pouco sujas. 
Abri o saco de amendoin e cada vez que comia um, pensava sobre o que a vida havia dado àquele homem. Um saquinho de amendoin que, possivelmente, ele comprava por 20 centavos e vendia por  50 para ganhar 30 centavos por saquinho. Cada amendoin me dava a dimensão do que a vida havia dado a ele. Um saquinho de amendoin e um mal que só a morte aplacaria.
Contei essa história a uma aluna de Medicina que se dizia desestimulada a estudar e queria trancar. A aluna, uma mulher de seus 30 anos, muito bonita, com excelente situação financeira, saudável, inteligente...
Ao final da história, ela chorou... ela entendeu que a vida não havia lhe dado somente um saquinho de amendoin.
O homem do saquinho de amendoin tinha cumprido sua missão e, agora, devia estar tocando outro braço oferecendo amendoin sem saber que havia tocado um coração há quilômetros de distância. 

segunda-feira, 14 de março de 2011

Tsunami no Brasil: cada um tem o desastre natural que lhe reservam

Até agora a estimativa de mortes no Japão é de mais de 3000 pessoas entre vítimas do tsunami e do terremoto em si. Digamos que a contagem final chegue a umas 10 ou 20 mil pessoas numa perspectiva pessimista. Nada se compara ao desastre das centenas de milhares de pessoas que morrem todos os anos no Brasil porque não recebem tratamento médico adequado, em acidentes de trânsito por falta de leis que sejam cumpridas como devem ser ou em tantas situações que refletem que criamos uma classe política que se preocupa, primeiramente, em enriquecer e fazer o mesmo aos seus e depois em criar estratégias para se perpetuar no poder.
Diriam que somos culpados e temos os políticos que merecemos, pois nós os elegemos. Nós quem? Com certeza, se está falando da legião de miseráveis que sobrevive aos trancos e barrancos com as bolsas governamentais que objetivam a manutenção da miséria útil, aquele que mantém o coma, mas não deixa doente morrer.
Seria interessante saber uma estatística das mortes diretas e indiretas que nossos políticos assinam embaixo quando só defendem leis que atendem aos seus interesses e ignoram a missão de representar o povo que os elegeu.
A ideia é exatamente essa, cada um tem o tsunami que lhe cabe. No Brasil, um desastre, mas nada natural.