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sexta-feira, 20 de abril de 2012

A origem - episódio I - A inveja


Tenho pensado muito sobre a origem das coisas, principalmente dos sentimentos e atitudes. Dos mais nobres aos mais mesquinhos, todos eles surgem de algum lugar, crescem sob algumas condições e se expandem conforme a oportunidade que lhe aparece. 
O primeiro que me despertou a atenção foi a inveja. Não aquela inveja do olho gordo que fazia os antigos usarem figas penduradas no pescoço. Falo da inveja que deseja o mal do outro e que trabalha para isso com palavras, articulações e atos discretos de destruição do outro.  Afinal, o que envenena e contamina é o que sai pela boca, pois brota no coração.
Percebi que esse sentimento se origina na descrença em si mesmo, na baixa autoestima (aliás, percebo que muitos sentimentos destrutivos nascem aqui). Diante da descrença de ser capaz, resta o rancor pela capacidade alheia. Como se fosse uma raiva da vida que concede (??) ao outro a habilidade de conquistar as coisas que o invejoso pensa não conseguir, pensa não ter sido privilegiado com o dom (??) do outro. 
Restam-lhe, então, duas atitudes: a resignação e aceitação de seu destino ou a ação para se vingar (??) daquele que tem tudo enquanto ele, coitado, não tem nada. A partir daí, vale a maledicência, a articulação para prejudicar, a sabotagem cotidiana, mas nunca o confronto. O invejoso não confronta o invejado, pois este é o seu objeto de ódio, mas ao mesmo tempo, seu objeto de desejo. Todo ataque a ser feito deve ser indireto e qualquer ação destrutiva deve ser encabeçada por frases do tipo “não, eu não tenho nada contra o fulano. Até gosto dele.”
Nisso, ele não mente. Ele gosta mesmo. Deseja o muito e, na impossibilidade de ter seu objeto de desejo, trabalha para destruí-lo. Tudo isso para que ninguém o tenha ou o possa desejar também.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ECCE HOMO, Simplesmente o homem

A nossa sociedade se apóia sobre um princípio equivocado das coisas, a ideia de que coisas são somente boas ou ruins. As novelas acabam sendo um meio para enfatizar essas ideias. O homem mau é mau em tudo, já o bom, é tão bom que chega a ser idiota. Mocinhos são bons, mas ingênuos e tolos, vilões são muito maus, mas inteligentes e fascinantes. Fazer mocinho para um ator me parece uma espécie de castigo. Vilão, um prêmio.
O nome disso é maniqueísmo, filosofia sobre a qual se planta a sociedade moderna ocidental. É inconcebível pela nossa formação lidar com a ideia de que bem e mal não são atribuíveis a seres humanos, mas a ações que acabam gerando o efeito bom para uns e mau para outros. Como atribuir como maldade o ato de roubar mantimentos doados para vítimas da enchente, ou dos comerciantes que multiplicaram o preço da água por dez para aproveitar a demanda ocasionada pelo desastre. Eles simplesmente pensaram somente em si mesmos e na oportunidade de obter proveito do seu próximo. E a dor do próximo? Que próximo? Responderiam eles cegos aos que lhe rodeavam.
Enfim, aprendemos a ver o ser humano como uma embalagem com o rótulo que se encontra desvinculado de suas ações normais. Somos homens, nem bom nem maus, outrossim, egoístas. Movemos nossas ações em função de obter benefício próprio e daí a inobservância de que há outras pessoas no mundo que podem ser prejudicadas por nossos atos.
Eis o homem. Saramago define o homem como metade maldade, metade indiferença. Eu substituíra maldade por egoísmo.

Dica para o fim de semana:
Se você não assistiu ao filme Ensaio sobre a cegueira, assista. Se já assistiu, assista de novo.