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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar?

Um dos grandes segredos da convivência humana é entender o que podemos pedir do outro. Em estados de entorpecimentos de paixões, perde-se completamente a noção do outro como um individualidade plena de qualidades e defeitos. 
Daí decorre, obviamente, a decepção pelo outro não ser exatamente aquilo que se queria que ele fosse. É engraçado, mas, em 90% das vezes, as pessoas se decepcionam não com as pessoas mas com a imagens que fazem das pessoas para si. A imagem construída de um ser humano é produto das nossas carências e não do que realmente ela é. É resultado nebuloso de uma série de fragilidades nossas que projetamos no outro. 
Dessa forma, por razonabilidade, deveríamos nos decepcionar com nós mesmos e não com os outros. Os outros são os outros e só. Nós esperamos demais, projetamos demais, idealizamos demais... Lembro de uma música do Djavan (Esquinas) em que ele solta a angústia de quem se vê idealizado no processo de percepção humana e diz: “sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar
Eis o desabafo de quem está na outra ponta. A ponta do idealizado, aquele que sabe que tem que ter pra dar, mas não tem o que dar. O fluxo de decepções é mútuo. De um lado, o que espera olhando aquele que é aguardado. E o peso dessa espera que consome os dois lados quando eles se dão conta desse jogo de gato e rato, sem gatos e nem ratos.

sábado, 13 de agosto de 2011

Tragédia em um ato: a insuportável felicidade

Clara era tão feliz, sua vida era tão certinha que, às vezes, dava-lhe uma angústia permeada de um sentimento de compaixão. Como podia ela ser tão feliz em mundo com tanta infelicidade. Como poderia suportar um marido que não tinha amante, não lhe batia, nem ao menos chegava em casa embriagado de madrugada. Mas era isso. Nada lhe restava para lamentar nas reuniões de amigas. Nunca precisara de um ombro para chorar e lhe dizer: Clara, esse homem não te merece. Nada. Nada. 
Nada lhe faltava, amor carinho, atenção, dinheiro... Nada, nada... Os filhos, perfeitos, como a natureza prouvera, eram jóias às quais se dedicava. Já na adolescência, só traziam orgulho para casa. Os filhos das amigas davam os desgostos tradicionais, as rebeldias, as drogas, as más companhias, enfim, o pior da idade. E ela se via relegada ao silêncio quando as mães choravam as suas amarguras. Sentia-se covarde e envergonhada de usufruir de tanta paz no meio de tanto desequilíbrio. Um dia, numa bela manhã de domingo, saiu para fazer uma caminhada, num arroubo de culpa jogou-se debaixo de um caminhão. Morreu no local. Em seu bolso, um bilhete sujo de sangue trazia um recado, últimas palavras, escrito a lápis: morro porque não suporto tanta felicidade.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Por que algumas pessoas gostam tanto de discutir e polemizar?

Depois de 3 anos de blogue, posso dizer que já vi quase de tudo por aqui na blogosfera, adquiri público leitor e blogs preferidos que leio com frequência, mas nem sempre tenho oportunidade de tecer os comentários que merecem, por isso, calo-me e continuo a apreciar cada um deles. Aqui no saco de filó já deu de tudo.
Aprendi a perceber que a necessidade de polemizar surge em razão da premissa de que somos feitos de carne, ossos e ideias. Sim, as ideias são partes indissociáveis da natureza humana. Podemos perceber isso quando algumas pessoas religiosas ou mesmo apaixonadas por um partido político são questionadas ou sentem que, no texto escrito, há algo que macule a sua paixão-ideia.
Como alguém que vê a iminência de um membro amputado, luta, debate-se, ofende, agride, puxa o braço, sacode as pernas, grita, ataca, enfim, age de maneira instintiva e natural à ameça que se afigura. As ideias, como esses membros, são parte de si que, se cortadas, doem, ferem, sangram, mutilam.
Daí, o espírito belicoso de disputa, a necessidade de apresentar sua ideia como maior do que as dos outros, de afirmar a sua ideia como o único caminho, como única verdade, como única luz. Muitas vezes, agem numa tentativa de convencer a si mesmo mais do que aos outros (mas isso é conversa para outra postagem).
A iminência da perda de um pedaço de si provoca a cegueira e aguça os instintos de defesa como se estivessem em risco de morte. Mas não se está.
Pessoas que cultivam em si frustrações, complexos, questões mal resolvidas tendem a se agarrar a ideias como maneira de compensar e legitimar a lacuna que essas situações deixam. Compensar através da sublimação, compensar através da construção em um universo metafísico o que não se é em um universo físico. Por natureza, assumem a luta por uma ideia religiosa ou um partido político como se a sua vitória no campo das ideias fosse representar uma mudança para si ou mesmo para os outros. Não conseguem perceber que são instrumentos ingênuos na mão de quem sempre vence o jogo, instrumentos úteis e ingênuos que disputam um jogo que sempre perdem.