quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Enfermagem de verdade, ofício para poucos

Leciono no curso de enfermagem há alguns anos e me faltou, nesse tempo, oportunidade dizer aos meninos e meninas de lá como eu os admiro. Muito alunos de alguns cursos da área de saúde querem é desfilar com jalequinho branco para todo mundo dizer: olha, lá vai um futuro “dr”. Hã.. como assim doutor? Bom, mas isso é outra história.
Os enfermeiros não. Raramente os vemos desfilando de jaleco embora no ambiente de trabalho usem as mesmas roupas que os “doutores”. (Hã..? Como assim de novo? Ah deixa pra lá.) O enfermeiro é uma espécie de médico a quem não cabem as glórias e o status dos homens de branco. Afinal, eles fazem o serviço pesado. Limpam cocô, tratam feridas purulentas, colocam sonda, carregam idosos quase desmontando as peças de tão debilitados, tiram sangue, recolhem urina e fezes, limpam o vômito e no meio dos excrementos humanos não há espaço para a glória. Quando muito gratidão, mas não glória.
Isso é vocação. Cuidar do próximo no sentido mais amplo da sua palavra, no sentido de ser as mãos que limpam e recuperam quando as suas mãos não mais atendem a essa função. Isso é doação. No final do expediente, os jalequinhos brancos  ficam pendurados no local de trabalho, pois eles sabem que jaleco não é roupa de grife e que rua é ambiente infectado para se desfilar com roupa que frequenta local com pessoas, muitas vezes, frágeis e expostas a todo tipo de infecção.
Não esperam o muito obrigado, não aguardam o rótulo de doutor, até porque, por sensatez, sabem que  doutor é quem cursou doutorado e não quem só fez a faculdade e se veste de branco.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O tolo orgulho de macho. Episódio: O Mirradinho


Com o esfriar do casamento e o amornar da cama, Ariovaldo começara há algum tempo com propostas quase perversas para sua esposa. Lá pelas tantas, dera de insistir em variar, buscar caminhos e entradas diferentes para o prazer. (Se é que você me entende) O excesso de filmes pornográficos estava virando sua cabeça e vez por outra ele retornava ao assunto. 
- E aí? Vamos tentar hoje?
- Ariovaldo, não inventa. Não quero. Não gosto.
- Opa! Isso eu não sabia. Como assim “não gosto”? Então você já experimentou com outro?
E as insistências de Ariovaldo prosseguiam nos dias seguintes.
- Quer dizer que com outro pode. Comigo, que sou marido, não pode? É... Veja como são as coisas...
E toda noite era a mesma novela.
- Amor, se doer eu paro.
- Nãããõoo! Já falei.
Ele fazia muxoxo e ficava de bico durante dias.
Um dia, numa insistência daquelas, ela disparou.
- Olha, Ariovaldo. Não quero fazer com você porque tenho medo. Você é muito grande, longo, avantajado.. enfim.. Tenho muito medo disso. O meu ex era mirradinho, curto, fino.. não me assustava em nada.
O marido ficou parado por uns instantes. Assimilou cada palavra daquela revelação tão íntima. Virou para o lado e dormiu com um sorriso discreto. 
Durante meses não tocou mais no assunto. Certo dia, após ser demitido do emprego, chegou em casa com a autoestima em baixa, sentia-se o menor dos homens. Estranhamente voltou a insistir com a mulher de novo naquela tara. Queria porque queria. A mulher percebeu a intenção e repetiu o não seguido das justificativas dadas antes.. 
Ele se virou para o lado e dormiu com um sorriso no rosto. Coitado do mirradinho.... “mirradinho”, pensava com tom de desdém, ele, o grande, o longo, a avantajado.
E ela também dormia... aliviada. 

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Palavras esquistas e seus referentes


Tem gente que tem horror a palavrão. Eu não. Acho que um palavrão bem dado e na hora certa alivia, desestressa, te coloca no eixo e no controle da situação (Foi o Leandro Hassum que disse isso e é verdade). O que me incomoda são as palavras estranhas. 
Nos últimos anos, desenvolvi um critério para avaliar o que é estranho e seu grau de estranheza (pelo menos para mim). Palavras de origem indígena que parecem ser pronunciadas por um índio fanho. Cauã, Inoã, anhanguera, pindamonhangaba, por exemplo. Essa última, as crianças só devem aprender a falar depois dos 5 anos de idade... palavra legal, mas grande e muito nasalizada.
As palavras que parecem ritmos também são bem estranhas. Lembro que a Gretchen cantava uma música Conga, conga, conga... Eu achava esquisitíssima essa música (os gritinhos dela também eram esquisitíssimos). E, há alguns anos, tinha um conjunto que cantava uma música chamada "Assereye" (sei lá se é assim que se escreve)... Outro dia, vi que tem uma música chamada kuduru (ou um ritmo chamado kuduru, também sei lá se é isso mesmo...). 

Cheguei à conclusão que Gretchen nem era tão estranha assim...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Uma gaveta de memórias



"Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim"
(Paralamas do  Sucesso, Tendo a Lua)


Janeiro é mês de revirar gavetas em buscas de lixo de papel para começar o ano no zero a zero com a rotina. Eu revirei as minhas, rasguei meus papéis e descobri no meio de tantos clipes, papéis, lápis quebrado, canetas que nem escrevem mais, um monte de pedaços de saudade. Notas fiscais que lembram uma compra, um momento, o primeiro colchão de casal. Romântico, não? Pois é. Era um Orthobon que custou... ah.. não importa. O que me ficou foi o passeio ao shopping para comprá-lo.
Há fotos que contam histórias de alunos-amigos ou amigos-alunos, tudo é uma questão do lado  que se olha. De amigos que ficaram e outros que morreram ainda que estejam “vivos”. Papel de bala e um guardanapo de companhia de aviação. Uma borracha velha e um monte de cartões de natal que teimam em morar na minha gaveta há anos. Em tempos de internet, eles não querem sair medo de bullyings dos emails. Não lhes tiro a razão.
Juntei meus cacos, rasguei meus trapos, poupei os mais entranhados na minha história. Os outros rasguei para não ocupar volume nem no meu cesto de lixo, nem em mim. Os que ficaram na gaveta, viram-me fechá-la lentamente com a promessa de voltar a vê-los ano que vem. Numa outra faxina de janeiro... A casa fica bem melhor assim.
Te vejo em 2013, Janeiro.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Onde o crime compensa


Nos últimos tempos, tem pipocado Brasil afora alguns grupos de consultoria na área empresarial de todas as formas. Inclusive alguns que têm à frente políticos que prestam assessoria/consultoria a empresas que precisam de uma ajudinha. Mas ajudinha para quê?
Muitas dessas “empresas” possuem executivos à sua frente muito bem qualificados e estruturas que funcionam. Então ajudinha para quê? Para crescer, diriam alguns. Mas se existem pessoas com competência suficiente para gerir o negócio com resultados, qual seria o viés para crescer acima do normal dentro da legalidade? Que fórmulas mágicas trazem esses consultores que ninguém sabe e só eles guardam como segredo?
É simples. O que muitas empresas querem é um serviço que as prepare para gastar menos mantendo a receita e isso se dá através de corte de gasto máximo (comprometendo a qualidade sempre) e sonegação aberta via fraudes fiscais. Dessa forma, alguns profissionais de “consulting” como muitos se autodenominam se tornou um especialista em economia-porca e crime fiscal. Só não sabe isso quem nunca atuou em cargo de chefia em uma instituição privada.
No caso de o profissional ter ligações com o governo, é pior ainda, pois envolve uso de informações privilegiadas e tráfico de influência, coisas descaradamente praticadas de Norte a sul no Brasil. Criou-se no País uma ramificação do crime que vale a pena e que se encontra escondida nas brechas da lei, uma atividade profissional que se especializou no desenvolvimento do delito legal, da infração escondida nas entrelinhas de uma legislação mal elaborada e/ou mal intencionadas.
Sei que há gente séria no meio e fico feliz quando encontro com um que não tenha um histórico passível de enquadramento no código penal.
O crime, no Brasil, ainda vale a pena... Depende de onde.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A pirataria e a hipocrisia nossa de cada dia


A hipocrisia é o que torna suportável a convivência entre humanos e, ao mesmo tempo, o que nos torna mais humanos na acepção mais plena da palavra. Nos últimos tempos, vejo alguns colegas de internet, internautas comuns, assumirem uma postura radical contra tudo que se copia da internet sem pagar direitos autorais, de um programa a uma foto. Comparam a pirataria a um crime como tráfico de drogas, contrabando, roubo a mão armada ou coisa parecida.
Eu me pergunto se houvesse um programa que destruísse todos computadores que possuem algum software pirata ou uma música ou imagem que não recolheu direitos autorais quantos computadores restariam na internet? 
É importante, antes de começar a conversar sobre pirataria, definir o que é pirataria. Pessoalmente, entendo como o uso de produto intelectual que não é de sua autoria para obter dinheiro decorrente de venda a terceiros. Ou seja, o colega que me passa um arquivo de mp3 não é um perigoso pirata que a ameaça o planeta e a sociedade judaico-cristã-ocidental. Ele não está lucrando com isso. Esse é o problema número um: controlar o conceito de pirataria.
Outra coisa, cópia incomoda porque não arrecada. Por conta de alguns, a ideia seria que pagássemos uma taxa cada vez que ouvíssemos uma música. Alegam que tira emprego do músico copiar. Tira não. Músico ganha mesmo é com show, muitos músicos menos conhecidos nunca viram a cor de direitos autorais ou viram uma pequena parcela do que tinham direito. Isso tira é arrecadação fiscal num país que acha normal vender um CD por mais de 25 reais.
Não estou defendendo cópia ilegal. Estou chamando você à reflexão.
Para aqueles que assumem um discurso radical contra toda e qualquer forma de pirataria, torçam para que nunca inventem um programa destruidor de computadores como eu falei.

Ah sim... Dentro da lógica vigente, quando comentar esse texto, uma produção intelectual de minha autoria, solicito que façam a citação e depositem em minha conta o valor de 0,50 por comentário falado e 1,00 por formato escrito. Os meus direitos autorais agradecem.

Em tempo: Pirataria sozinha não tira emprego. O que tira emprego é juros altos, carga tributária abusiva, mau uso do dinheiro público, corrupção, encargos trabalhistas pesados... enfim, há mais coisas na lista dos vilões.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Adesivos no carro: foi Deus quem me deu e família feliz...


Pessoalmente, eu detesto adesivos no meu carro. No meu, só tem os do estacionamento dos locais onde eu trabalho senão eles não me deixam entrar ou pior, toda vez, tenho que ficar explicando porque meu carro não tem adesivo. 
Quando a gente compra um produto da Apple, ganha uma maçãzinha para colar em algum lugar. Já vi gente que comprou a maçãzinha no camelô só para colar em algum lugar e todos pensarem que ele tem alguma coisa Apple. Nem que seja só a vontade de ter um produto da Apple.
Os adesivos religiosos é que ganharam espaço. Em época de crise, o camarada sai agarrando até em fio desencapado e isso fica claro no vidro do seu carro. Deus é fiel, Foi Deus quem me deu,, o Senhor é meu pastor e vai por aí. Há também os adesivos de apoio político que, muitas vezes, refletem uma procupação em não perder alguma vantagem ou mesmo a expectativa de obter alguma no futuro.
Temos também o adesivo da família feliz. Aquele com papai, mamãe, filhinho, filhinha e animais de estimação. Acho esse informação muito útil. É legal saber que o cara da frente tem 3 filhos, uma esposa, um cachorro, um gato e um papagaio e coloca todo mundo dentro daquele Pálio duas portas. Como ele faz isso? Sei lá.
O nome disso é efeito manada. Ou seja, um cola, todo mundo cola. Sinceramente, essa manada não me leva. O ser humano tende a agir assim. É como se houvesse um comportamento padrão a ser promovido pelo seu meio ao estilo “faça o que o seu mestre/vizinho mandar/fizer”.
Sinceramente, não critico, não sou ranzina, sou observador e observar minha espécie é a maneira mais interessante de entender o comportamento que leva desde os grandes fracassos de mobilização em massa até o grande sucesso de alguns regimes autoritários. Todos seguindo atrás de algo sem pensar, mas movido pelo fato de que o cara da frente está indo. E o cara da frente indo porque tem um à frente dele indo também...

Eis o homem...

sábado, 14 de janeiro de 2012

O que 2011 me trouxe? A percepção do poder..


Sinceramente, não sei. 
Possivelmente, o mesmo que 2010, 2009, 2008.. e vai por aí. Na verdade, eu vim acumulando uma série de aprendizagens e experiências que me fizeram mudar de ideia sobre algumas leituras de mundo. E a minha grande mudança foi com relação ao que eu pensava sobre poder e dinheiro. 
Eu tinha comigo que o que movia a “puxada de tapete”, “traição”, a falsidade e outras tantas coisas comuns em ambiente de trabalho era o dinheiro. Aquelas gratificações que recebemos associadas aos salários e que engordam os ganhos. Mas 2012 veio para me mostrar que quem trabalhava com vistas à gratificação era eu e não muitos dos meus colegas que ou já tinham dinheiro, ou a gratificação que recebiam era tão pífia que não compensava o esforço.
Eu sempre deixei claro que amor eu tenho pela minha esposa e meus filhos, por instituições, eu tenho compromisso profissional e respeito. Sou contratado, cumpro meu dever de forma eficiente e vou embora. É assim.
Mas o que compensava, então, a essas pessoas se não era o dinheiro? 
Poder. Pode parecer ingenuidade minha, mas nunca imaginei que as pessoas se entorpecessem disso como de uma droga e quando se encontram inebriadas são capazes de fazer qualquer coisa para não perder a posição. Convivi com pessoas com quem já convivia há anos e, quando elas provaram do poder, mudaram completamente. Tornaram-se outra pessoa capaz de tudo, tudo mesmo, para não ficar longe mais do suave veneno que as nutria. O dinheiro sequer era colocado em questão.. O que enlouquecia era o poder. 
Eu as percebi mudando de forma, de voz, de valores, enfim, se “monstrificarem” como o “Smeagol”, personagem de senhor dos anéis que se torna um monstro deformado pelo poder do anel.
Sinceramente, eu não sei se elas sempre foram aquele monstro, porém, adormecido, ou se eu estava diante de uma metamorfose completa. 

Vi pessoas que se foram da minha vida de vez depois que optaram por se transformar de algo que um dia admirei e respeitei em monstruosas deformidades. Não lamentei.. percebi que nunca tive amigos ali, tratava-se de uma leitura errada minha, que era tudo uma questão de tempo. 
E o tempo chegou..

E que venham outros tempos que coloquem à prova as minhas leituras de mundo.
E que venha 2012 com suas aprendizagens.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

É difícil ser pai, né, pai?


Outro dia, eu brincava com o meu filho de 4 anos, Daniel, e lá pelas tantas eu perguntei se ele sabia quem era a razão da minha vida. Ele não pensou e respondeu de cara: - Sei sim. Eu e o Bruno (o meu caçula). Ele me deu um beijo e disse que me amava e achava que devia ser difícil ser pai. Eu respondi que não era fácil, mas era uma coisa que mais dava sentido à minha vida. E voltamos a brincar.
Ser pai no sentido mais amplo da palavra é dividir o meu tempo com ele e entender que eles fazem parte das minhas prioridades. É sentar no chão para brincar, sair para comprar coisas juntos, conversar como gente grande, jogar videogame, brigar na hora de brigar, pedir desculpas quando nos excedemos e dar exemplos bons o tempo todo. Eles nos observam mais do que imaginamos e isso, às vezes, assusta.
Antigamente, o pai-padrão contribuía com o esperma e ali encerrava sua participação direta na paternidade. No mais, botava dinheiro em casa enquanto as mães eram as responsáveis pela educação dos filhos. A coisa, hoje, mudou. A minha geração de pai é mais comprometida e vemos isso nos shopping e pracinhas.
Temos que ter tempo para o trabalho, para o estudo, para a esposa, para os filhos... Quando sobra um pouquinho para a gente, aí sim, aproveitamos e... Damos para os filhos, pois a vida ao lado deles assume um sentido sem o qual não saberíamos mais viver.
É, Daniel, é difícil ser pai.. mas todos os dias agradeço essa oportunidade que você e seu irmão me deram de entender o que é esse nunca contentar-se de contente, esse cuidar que se ganha em se perder. Esse tão contraditório a si que é mesmo o amor.