sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ECCE HOMO, Simplesmente o homem

A nossa sociedade se apóia sobre um princípio equivocado das coisas, a ideia de que coisas são somente boas ou ruins. As novelas acabam sendo um meio para enfatizar essas ideias. O homem mau é mau em tudo, já o bom, é tão bom que chega a ser idiota. Mocinhos são bons, mas ingênuos e tolos, vilões são muito maus, mas inteligentes e fascinantes. Fazer mocinho para um ator me parece uma espécie de castigo. Vilão, um prêmio.
O nome disso é maniqueísmo, filosofia sobre a qual se planta a sociedade moderna ocidental. É inconcebível pela nossa formação lidar com a ideia de que bem e mal não são atribuíveis a seres humanos, mas a ações que acabam gerando o efeito bom para uns e mau para outros. Como atribuir como maldade o ato de roubar mantimentos doados para vítimas da enchente, ou dos comerciantes que multiplicaram o preço da água por dez para aproveitar a demanda ocasionada pelo desastre. Eles simplesmente pensaram somente em si mesmos e na oportunidade de obter proveito do seu próximo. E a dor do próximo? Que próximo? Responderiam eles cegos aos que lhe rodeavam.
Enfim, aprendemos a ver o ser humano como uma embalagem com o rótulo que se encontra desvinculado de suas ações normais. Somos homens, nem bom nem maus, outrossim, egoístas. Movemos nossas ações em função de obter benefício próprio e daí a inobservância de que há outras pessoas no mundo que podem ser prejudicadas por nossos atos.
Eis o homem. Saramago define o homem como metade maldade, metade indiferença. Eu substituíra maldade por egoísmo.

Dica para o fim de semana:
Se você não assistiu ao filme Ensaio sobre a cegueira, assista. Se já assistiu, assista de novo.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ode ao puxa-saco

Trabalhador incansável
Com o saco do patrão
Sempre com a mão ocupada
Se ele espirra, traz um lenço
Usando a outra mão
E de uma só sacada
Seca o ranho nessa ação.

Em Natal, festividades,
Sempre tem um presentinho
E pra manter sua sina
Baba os ovos direitinho.

Pergunta sobre a família
Pede notícias da sogra
Manda lembranças para filha
Bons augúrios lhe joga

Concorda sempre com o chefe
Discordar nem pensar
Aceita tudo que é dito
Morre de medo de suspeitar
Que o chefe tão amado
Pode vir a sonhar
Que ele, capacho querido
Resolveu raciocinar

Mas sempre mal entendido
Pelo resto dos colegas
Que o julgam só manter o emprego
Porque empenhou suas pregas

Mas no fundo poucos conhecem
O peso de sua labuta.
És tu, ó puxa-saco de merda...
Um tremendo injustiçado.

P.S.: Pensou que eu iria dizer "filho da puta" hein?
Não disse, mas serve. Fique à vontade para rimar.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Viver é desafiar o inexorável fluxo da mediocridade

Drummond dizia que Chega um tempo em que não adianta morrer, chega um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação. Mas isso de certa forma me assusta, quando aos quarenta descobrimos mais da vida do que gostaríamos de saber e que não sabíamos aos vinte porque não teríamos muito desejo de chegar aos 40 se soubéssemos. Fico pensando o que virá aos 60 que não sei agora e que talvez me desanime de chegar aos sessenta se soubesse. E aos 60, o que haverá aos 80... Melhor não saber.
O cotidiano massacra o homem com a sua resumida existência de trabalhar, comer, dormir, ir ao banheiro... O fato é que quando nos damos conta vemos que extraído pouco disso o que nos resta é essa rotina que nos reduz a bestas metódicas. Perdemos (ou nem conseguimos) o refinamento que poderia nos tornar mais sensíveis pela música, pela arte, pela reflexão filosófica, pela percepção mais ampla do que nos cerca. E, muitas vezes, seguimos, comendo, trabalhando, dormindo, indo ao banheiro... Todos cercados de bestas (no sentido de animais de carga sem capacidade de refletir) que fazem o mesmo e nos dão a certeza de que isso é o que viver.
Sem mistificação entendemos como na música de Raul Seixas que a verdade do universo é a prestação que vai vencer. Esse é o problema de desmistificar a vida. 
Eu , particularmente, sou partidário da mais doces das mentiras a menos amarga das verdades. Até porque, se eu nunca souber que se trata de uma mentira, para mim, ela nunca terá sido tal. Mentiras sinceras me interessam, me interessam... (Valeu, Cazuza!)
E depois de amanhã é segunda-feira e retomamos o trabalhar, o comer, o dormir, o ir ao banheiro nosso de cada dia.
À exceção dos vagabundos, dos anoréxicos, dos insones e das pessoas com prisão de ventre que teimam em subverter a ordem natural da existência imperiosa.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O que Amy Winehouse e Facebook têm em comum?

São fenômenos do que chamo de mídia reversa (falem mal, mas falem de mim). São famosos porque são escândalos, e não por que trazem bons exemplos ou mesmo inovações. Amy é, sinceramente, uma chata com aquela coisa de "rehab". A melhor palavra que tenho para defini-la é BIZARRA. Uma espécie de cria estática de Ozzy Osborne com Marylin Manson decadente. Há uma cantora chamada Joss Stone que, pessoalmente, eu acho muito mais interessante (além de linda) do que ela e não tem os holofotes que ela ostenta. Será que para bombar vai ter que fazer um vídeo em celular fumando crack? Para mim, não. Joss Stone, de boca fechada, já vale a pena ficar só olhando mesmo. Cantando hipnotiza.
Já o facebook é um orkut de classe média. Para alguns, o orkut virou aquela coisa de favelão com montoeiras de gente esquisita ostentando sua bizarrice. O facebook surgiu como uma opção até meio elitista de rede social (até quando?) E veio recheado de escândalos e tramas mostrados em filmes como aquele sobre o cara que inventou essa rede de relacionamento. De repente, a mídia só fala em facebook e você começa a receber um monte de convite dos amigos (ex-orkuts) para criar um perfil. Confesso, até eu fiz o meu. Mas continuo com meu lotezinho lá no favelão do orkut...rs
Em suma, nem um nem outro tem nada de absurdamente extraordinário que justifique sua repercussão atual na mídia.

P.S.: Saiba que não vejo Orkut como favelão, mas já ouvi isso de alguns colegas.


sábado, 29 de janeiro de 2011

As mentiras dos gordinhos e dos turistas de Cabo Frio

Queria entender por que é que os gordinhos e os turistas de Cabo Frio mentem tanto. O turista vai para Cabo Frio, aluga casa em grupo, compra pacote sei lá... Na semana da viagem, a meteorologia anuncia chuva o dia todo. Mas ele vai, afinal, já pagou tudo. É aí que vem a mentira que nada mais é do que não dar o braço a torcer que foi dinheiro perdido porque choveu pra cacete todos os dias e ele ficou trancado. 

- Que nada, choveu só um pouquinho sábado de manhã depois abriu um sol danado.

Comentário 1: No Brasil todo choveu pesado (inclusive em Cabo Frio), somente em cima do nosso amigo abriu um sol lindo que o acompanhou até a praia enquanto os outros turistas olhavam com inveja embaixo de seus guarda-chuvas.

Outra classe que se apega a mentira é o gordinho para não dar admitir o descontrole de hábitos alimentares. Poucos são os gordos que admitem que comem muito. Afirmam que comem igual a um passarinho e esquecem que um passarinho com até duas vezes o peso do próprio corpo. Talvez, aí esteja um confissão subliminar. Todos afirmam com a maior cara de pau que não sabem por que engordam, afinal, eles só comem UM biscoito de água e sal e bebem UM copo d'água por dia... Deve ser tiróide! Concluem.

Comentário 2: UM biscoito de água e sal e um copo d'água por dia matariam um passarinho de desnutrição e, com certeza, não são os responsáveis pelos seus 150 Kg.

Eu só tive um amigo gordinho que admitia abertamente que acabava com um vidro pequeno de maionese por lanche que ele fazia e foi ele que levantou essa bola de que gordo mente muito. 
Até agora busco um turista de Cabo Frio que admita que foi dinheiro jogado fora aquele pacote de feriado que ele pagou, mas está difícil de achar.


Atenção! Este é um texto de humor e não tem por objetivo ofender, denegrir, atingir, criticar nem gordinhos, nem turistas de Cabo Frio (categoria na qual me encontro). A explicação é absurda, mas momentaneamente necessária.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Senso crítico? Pra quê? - Um novo ensaio sobre a cegueira.

Em 2010, eu vi a consolidação de um fanatismo que me assustou: o fanatismo político. As pessoas estão encarando partidos como se fossem uma doutrina de vida a ser seguida cegamente. Fazem discurso sustentando o insustentável e nomeiam inimigos com base em divergências de opiniões. Vi colegas com boa formação e inteligentes se dedicarem ao spam de emails com os louvores de um partido e de um líder. Vi a cegueira como creio muitos viram durante a ascensão do nazismo e do fascismo no século passado. Vi liberdade de imprensa ser combatida com o rótulo de "imprensa golpista". Esqueceram que em um regime democrática, resposta a imprensa se dá na justiça comum e não por tentativas de decretos de censura.
Vivemos em tempos democráticos e isso me dá uma certa tranquilidade nessa questão, pois não vislumbro um golpe de estado no horizonte. Entretanto, impressionou-me o número de pessoas inteligentes (sic - muitos mestres e doutores em suas áreas de conhecimento) que abriram mão do pensamento e do senso crítica para defender posturas e ações de um partido X como se só houvesse uma verdade. Uma única maneira de pensar, a do partido, e quem crê nos programas sociais e doutrinários do partido encontrará a luz. Salve, ó grande lider, que é a verdade e a luz, e aquele que crê em ti viverá para sempre. O mais é "imprensa golpista" e elementos subversivos reacionários que querem corromper a ordem de um estado perfeito. Inimigos da nação.. Brasil, ame-o ou deixe-o. Eu já ouvi esse discurso, mas não dessas bocas.
Isso me assusta na medida em que vejo pessoas abrindo mão do seu senso crítico. A história nos mostra que essas histerias coletivas só conduziram as nações à ruína. Não creio que será nossa caso, mas, por via das dúvidas, vamos seguir as palavras do Zeca Pagodinho: É um olho no gato e outro no peixe fritando.


sábado, 22 de janeiro de 2011

O orkut é a última oportunidade do feio ficar bonito

Retratos 3x4 são, por excelência, esquisitos. Quando vamos tirar fotos desse tipo, o fotógrafo deveria ser sincero e perguntar: você quer ficar com cara de maluco, sonolento ou assustado? É. Porque 3x4 só te dá essas opções. Fico pensando que até mulheres lindas como a Ana Hickmann devem ter ficado com cara de maluca, sonolenta ou assustada no documento da carteira de identidade.
Já no orkut, tudo mudou. As pessoas ficam mais belas, mais simpáticas, mais mais... Até aquelas fotos teens das meninas com o braço esticado com a câmera na mão e fazendo bico de beijinho ou pose ou qualquer coisa na frente do espelho ficam um primor de beleza. O contato ao vivo, às vezes, é o que nos causa profunda estranheza. Quem é feio fica normal, quem é normal fica bonito, quem é bonito fica impressionantemente lindo. Eu sei disso porque eu fiquei com cara de normal no meu orkut (pelo menos eu achei)
Entretanto, se o cidadão ou a cidadã fica feio no orkut, aí meu amigo, não tem jeito. Se apega com Deus e pede uma chance na próxima encarnação porque, nessa, é caso perdido. 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

BBB é a melancia pós-moderna da mídia. Entenda o porquê.

Não sei porque as pessoas se impressionam com as mesmas coisas todo ano no BBB. A presença de um afrodescente com jeito de modelo que vai sair logo nos paredões iniciais é certo. Entrou na cota, sai cedo mesmo. Ou alguém acredita naquelas votações do BBB, ou acha que as edições de vídeo não são feitas para isso. Há sempre um homossexual assumido e um que vai assumir durante o programa para dar audiência. Ele dirá de forma sutil que não se situa bem e que já sentiu interesse por rapazes. Receberá apoio do gay assumido e simpatia do público com seu drama pessoal.
Agora, está rolando na internet um vídeo pornô da tal de Maria (Meg) e um vídeo de webcam do transexual operado Ariadna. Não vou botar o link aqui porque acho uma baita baixaria escrota... o Vídeo pornô? Não. O BBB. O vídeo pornô é bem básico, já vi coisa bem mais legais. Aliás, odeio vídeo de webcam.. fica aquele visual de quadro a quadro e só um doente consegue se excitar com aquilo.
E o mais impressionante é que todo mundo fica com cara de "AHHHH..." quando aparece isso de um BBB. Gente, acorda! O pessoal que está lá, só por admitir a exposição de sua vida daquela forma, já demonstrou que faz qualquer coisa para aparecer. Dá declarações bombásticas (sic), faz twitcam pornô, tira fotos eróticas para sites baratos, declara coisas absurdas, dá entrevista sobre preferências sexuais.. isso dá mídia e, em face da ausência total de talentos deles, é o que lhes garante os 15 minutos de fama e o ostracismo eterno (salvo raras exceções, claro)
O BBB é a melancia pós-moderna em rede nacional.. sempre tem um idiota pronto para a colocar no pescoço.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Desastres das enchentes e carnaval, todo ano tem.

O problema das catástrofes no Brasil é que elas sempre ocorrem antes do carnaval. Todos ficam indignados até começar a aparecer a globeleza com aquela musiquinha chata para cacete, as reportagens sobre como curar a ressaca, as coberturas do carnaval na Bahia (que se colocar um vídeo de 1990 é a mesma coisa que hoje), a apuração das escolas de samba (Dez, nota dez... bateria: Dez, nota dez - com aquela voz cavernosa do locutor). Daí, todo mundo esquece desabamento, enchente, construção irregular em encosta e tocam sua vida como se nada tivesse acontecido há algumas semanas antes. Vivemos um ano de absoluta paz em uma país sem esses problemas de enchentes e chuvas.
Mas aí vem o Natal, vêm as festas de final de ano e vêm as chuvas de janeiro com suas já tradicionais desgraças. Então, questionamo-nos sobre quem deixou construir em área de risco, sobre por que a população não foi avisada em tempo hábil, por que a defesa civil não estava equipada, o que fizeram das verbas liberadas no ano anterior... Quem é o culpado por tanta dor? A indignação toma conta do país e se mescla a dor das famílias que enterram seus filhos, pais, irmão, mulheres etc. O país chora suas vítimas da imprevidência nacional...
Isso até começar a aparecer a mulata que dança com o corpo pintado. Um sinal de que é hora de esquecer e cair na folia... na tela da TV no meio desse povo, a gente vai se ver na Globo...
Uma solução para isso seria marcar o carnaval para antes das tragédias, por exemplo, em dezembro ou novembro. Assim as pessoas teriam um ano para não esquecer e cobrar que fossem tomadas medidas com relação a isso.
O maior problema no Brasil não é estrutural ou financeiro, é cultural. Gostamos demais do pão e circo com que compram nossa consciência.