quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Senso crítico? Pra quê? - Um novo ensaio sobre a cegueira.

Em 2010, eu vi a consolidação de um fanatismo que me assustou: o fanatismo político. As pessoas estão encarando partidos como se fossem uma doutrina de vida a ser seguida cegamente. Fazem discurso sustentando o insustentável e nomeiam inimigos com base em divergências de opiniões. Vi colegas com boa formação e inteligentes se dedicarem ao spam de emails com os louvores de um partido e de um líder. Vi a cegueira como creio muitos viram durante a ascensão do nazismo e do fascismo no século passado. Vi liberdade de imprensa ser combatida com o rótulo de "imprensa golpista". Esqueceram que em um regime democrática, resposta a imprensa se dá na justiça comum e não por tentativas de decretos de censura.
Vivemos em tempos democráticos e isso me dá uma certa tranquilidade nessa questão, pois não vislumbro um golpe de estado no horizonte. Entretanto, impressionou-me o número de pessoas inteligentes (sic - muitos mestres e doutores em suas áreas de conhecimento) que abriram mão do pensamento e do senso crítica para defender posturas e ações de um partido X como se só houvesse uma verdade. Uma única maneira de pensar, a do partido, e quem crê nos programas sociais e doutrinários do partido encontrará a luz. Salve, ó grande lider, que é a verdade e a luz, e aquele que crê em ti viverá para sempre. O mais é "imprensa golpista" e elementos subversivos reacionários que querem corromper a ordem de um estado perfeito. Inimigos da nação.. Brasil, ame-o ou deixe-o. Eu já ouvi esse discurso, mas não dessas bocas.
Isso me assusta na medida em que vejo pessoas abrindo mão do seu senso crítico. A história nos mostra que essas histerias coletivas só conduziram as nações à ruína. Não creio que será nossa caso, mas, por via das dúvidas, vamos seguir as palavras do Zeca Pagodinho: É um olho no gato e outro no peixe fritando.


sábado, 22 de janeiro de 2011

O orkut é a última oportunidade do feio ficar bonito

Retratos 3x4 são, por excelência, esquisitos. Quando vamos tirar fotos desse tipo, o fotógrafo deveria ser sincero e perguntar: você quer ficar com cara de maluco, sonolento ou assustado? É. Porque 3x4 só te dá essas opções. Fico pensando que até mulheres lindas como a Ana Hickmann devem ter ficado com cara de maluca, sonolenta ou assustada no documento da carteira de identidade.
Já no orkut, tudo mudou. As pessoas ficam mais belas, mais simpáticas, mais mais... Até aquelas fotos teens das meninas com o braço esticado com a câmera na mão e fazendo bico de beijinho ou pose ou qualquer coisa na frente do espelho ficam um primor de beleza. O contato ao vivo, às vezes, é o que nos causa profunda estranheza. Quem é feio fica normal, quem é normal fica bonito, quem é bonito fica impressionantemente lindo. Eu sei disso porque eu fiquei com cara de normal no meu orkut (pelo menos eu achei)
Entretanto, se o cidadão ou a cidadã fica feio no orkut, aí meu amigo, não tem jeito. Se apega com Deus e pede uma chance na próxima encarnação porque, nessa, é caso perdido. 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

BBB é a melancia pós-moderna da mídia. Entenda o porquê.

Não sei porque as pessoas se impressionam com as mesmas coisas todo ano no BBB. A presença de um afrodescente com jeito de modelo que vai sair logo nos paredões iniciais é certo. Entrou na cota, sai cedo mesmo. Ou alguém acredita naquelas votações do BBB, ou acha que as edições de vídeo não são feitas para isso. Há sempre um homossexual assumido e um que vai assumir durante o programa para dar audiência. Ele dirá de forma sutil que não se situa bem e que já sentiu interesse por rapazes. Receberá apoio do gay assumido e simpatia do público com seu drama pessoal.
Agora, está rolando na internet um vídeo pornô da tal de Maria (Meg) e um vídeo de webcam do transexual operado Ariadna. Não vou botar o link aqui porque acho uma baita baixaria escrota... o Vídeo pornô? Não. O BBB. O vídeo pornô é bem básico, já vi coisa bem mais legais. Aliás, odeio vídeo de webcam.. fica aquele visual de quadro a quadro e só um doente consegue se excitar com aquilo.
E o mais impressionante é que todo mundo fica com cara de "AHHHH..." quando aparece isso de um BBB. Gente, acorda! O pessoal que está lá, só por admitir a exposição de sua vida daquela forma, já demonstrou que faz qualquer coisa para aparecer. Dá declarações bombásticas (sic), faz twitcam pornô, tira fotos eróticas para sites baratos, declara coisas absurdas, dá entrevista sobre preferências sexuais.. isso dá mídia e, em face da ausência total de talentos deles, é o que lhes garante os 15 minutos de fama e o ostracismo eterno (salvo raras exceções, claro)
O BBB é a melancia pós-moderna em rede nacional.. sempre tem um idiota pronto para a colocar no pescoço.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Desastres das enchentes e carnaval, todo ano tem.

O problema das catástrofes no Brasil é que elas sempre ocorrem antes do carnaval. Todos ficam indignados até começar a aparecer a globeleza com aquela musiquinha chata para cacete, as reportagens sobre como curar a ressaca, as coberturas do carnaval na Bahia (que se colocar um vídeo de 1990 é a mesma coisa que hoje), a apuração das escolas de samba (Dez, nota dez... bateria: Dez, nota dez - com aquela voz cavernosa do locutor). Daí, todo mundo esquece desabamento, enchente, construção irregular em encosta e tocam sua vida como se nada tivesse acontecido há algumas semanas antes. Vivemos um ano de absoluta paz em uma país sem esses problemas de enchentes e chuvas.
Mas aí vem o Natal, vêm as festas de final de ano e vêm as chuvas de janeiro com suas já tradicionais desgraças. Então, questionamo-nos sobre quem deixou construir em área de risco, sobre por que a população não foi avisada em tempo hábil, por que a defesa civil não estava equipada, o que fizeram das verbas liberadas no ano anterior... Quem é o culpado por tanta dor? A indignação toma conta do país e se mescla a dor das famílias que enterram seus filhos, pais, irmão, mulheres etc. O país chora suas vítimas da imprevidência nacional...
Isso até começar a aparecer a mulata que dança com o corpo pintado. Um sinal de que é hora de esquecer e cair na folia... na tela da TV no meio desse povo, a gente vai se ver na Globo...
Uma solução para isso seria marcar o carnaval para antes das tragédias, por exemplo, em dezembro ou novembro. Assim as pessoas teriam um ano para não esquecer e cobrar que fossem tomadas medidas com relação a isso.
O maior problema no Brasil não é estrutural ou financeiro, é cultural. Gostamos demais do pão e circo com que compram nossa consciência.


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Tenho preguiça de discordar de você

Quando somos adolescentes, discordamos até daquilo com que concordamos só para ter o prazer de discordar. Com o tempo, perdemos essa mania de achar cabelo em ovo o tempo todo. É uma necessidade de auto-afirmação característica da idade. Claro que alguns não superam isso e passam a vida inteira agindo com se fossem adolescentes, mas isso já é a tal da síndrome de Peter Pan.
O fato é que admito que, hoje, tenho uma preguiça enorme de discordar. Argumentar, falar, buscar ponto de base para seu raciocínio, aguardar que o outro entenda, conduzir a lógica da argumentação... enfim, se não for algo que pague as minhas contas. Desisto antes de começar e concordo para não esticar a conversa. Muitas vezes, minha concordância vem expressa num silêncio sepulcral e uma onomatopéia sem nenhum sentido do tipo: éééé.... Não se trata do verbo ser, é simplesmente: éééé..... com um ar desanimado e que vai se esvaindo preguiçosamente nos pouco segundos que tem de vida.
Se opinião da pessoa é algo estapafúrdia a ponto de comprometer a sua reputação ou reputação de outro, penso qual o grau de comprometimento que eu tenho com essa pessoa. Se esse grau for suficiente para eu abrir mão de meu silêncio (e de minha onomatopéia preguiçosa) eu tento mostra a ela que existem outras maneiras de ver a mesma coisa. Se ela insistir no equívoco, desisto e solto o meu célebre e definitivo: ééé...
Não preciso (e nem quero) convencer ninguém de que uma religião é melhor do que a outra, de que um partido é melhor do que o outro, de que essa filosofia é melhor do que aquela. Não quero te convencer de nada, nem mesmo de que essa minha maneira de ver as coisas é a melhor.
Bom, se você concorda comigo, fico feliz de encontrar alguém que já se cansou também de bater boca. Se não concorda comigo...
Ééé....

sábado, 8 de janeiro de 2011

A gente faz M... é nas coisas simples

Cheguei a conclusão disso quando percebi que as últimas cagadas que fiz foram em coisas simples como um adoçar um café, estacionar o carro e coisas do gênero. A Changeller explodiu por causa de um anel de vedação que deu problema e não porque esqueceram ver se vazava combustível ou não. Isso todo mundo checa, mas anelzinho de vedação que vai falhar só depois que voa não, ninguém checa. (Mas deveria, né)
Às vezes, damos show de perícia no volante durante um dia todo, mas na hora de estacionar, botamos tudo a perder quando damos uma "lenhada" do para-lama  na pilastra ou uma arranhada brava da roda de liga leve no meio fio. Pronto. O sentimento de culpa nos bate e nos sentimos o mais incompetente dos motoristas do mundo.
O fato é que quando uma ação se torna banal, desligamos o controle de qualidade e agimos com base no piloto automático. Daí as grandes cagadas. Veja os motoristas de táxi, ônibus e caminhão, por exemplo. Fazem a mesma coisa todos os dias, daí, mais propensos as mesmas cagadas todos os dias.
Até que tento dar um ar especial para para as ações a fim de que saiam bem feitas, mas é difícil ficar atento e ansioso para estacionar o carro ou colocar a quantidade certa de açúcar e café na xícara para não entornar. Ninguém fica ansioso para isso. Fica?
Entretanto, uma coisa eu aprendi. A única maneira de não bater aquela neurose do "será que eu fechei a porta" é tornar aquilo um ato único. Olhe para a maçaneta, introduza a chave, gire e retire. Veja cada momento. Faça prestando atenção e não automaticamente. 
Não tem erro. Entretanto, se você ainda tiver dúvida se fechou a porta, aí , meu amigo, vai se tratar que seu caso extrapola os parâmetros da normalidade.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Empatia é sintonizar na alma do outro

É impressionante como há pessoas que não conseguem ficar felizes ou mesmo empáticos ao que de bom acontece ao outro. Quando ouvem uma coisa que, de alguma forma, fez bem ao que lhe é próximo. Sentem uma raiva disfarçada e um rancor que escorre por palavras como: enquanto você estava assim, eu estava assim.. bem pior. Ou você faz assim, mas para mim as coisas são assim. 
São pessoas, muitas vezes, inteligentes que são incapazes de dizer: nossa, que bom! Fico feliz por você.
Nunca entendi esse rancor de algumas pessoas, mas tive grandes lições com as com que convivi na minha vida. A principal é a de aprender a ficar feliz com a felicidade do outro. Aprendi que se o outro compartilha algo comigo e traz em suas palavras alguma satisfação, essa satisfação me contamina e fico satisfeito também.
Ficar feliz com as próprias conquistas é muito fácil. Exercício de vida é se abrir para ficar feliz com as conquistas dos outros.
Penso que a estrada de todos nós é longa, mas levo numa boa que, se ainda há muita ladeira para eu subir, essa pelo menos eu já deixei para trás.
Bem para trás.
Feliz 2011! Para todos nós.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Senso incomum nacional - reveillon!

Senso comum é, como todos já devem saber, a ideia de que uma coisa vale para todos sempre ao mesmo tempo. Todo brasileiro gosta de futebol e samba, todo baiano come acarajé, todo nordestino adora forró, todo carioca vive na praia, todo paulista só sabe trabalhar e ir para Praia Grande nos feriados. 
Acreditem! Compactuar com esse pensamento é desistir de pensar por conta própria. Digo isso pois sou vítima de um senso comum terrível. Festa boa é aquele cheia de gente, muita bebida e música alta. Odeio muvucas, música alta e gente embriagada falando cuspindo. Ou seja, odeio reveillon e carnaval.
E digo ainda que o reveillon é pior, pois vem gente que você nunca viu te beijar, abraçar e dar feliz ano novo com se te conhecessem há anos. E a contagem regressiva... que coisa escrota! Estamos em horário de verão.. Conto quando? Uma hora depois para ficar mais certinho? E aquele montoeira de gente colorida acreditando fielmente que branco traz paz, calcinha vermelha traz paixão, roupa amarela traz dinheiro... Olha só pessoal: branco suja fácil, calcinha vermelha é lingerie de pomba-gira e amarelo vai te deixar igual a um sinal luminoso já que é a cor mais visualizável pelo olho humano. No mais, nada muda.
E o show da virada.. cara, que merda é aquela todo ano igual cheia de música baiana e conjuntinhos "teen" que fizeram sucesso no ano que terminou? E afinal de contas, quantas Ivetes Sangalos possui a Bahia? O estado que mais produz "Ivetes Sangalos" no mundo...
De uns anos para cá, muitos hotéis fazendas e locais de turismo do gênero estão produzindo pacotes para esse público com aversão ao senso comum. Ou seja, sem música alta, sem bebedeira, sem muvuca.. com muita tranquilidade, espaço para crianças, natureza... coisas do gênero.
Sinto-me como o Brasil em 1500.. acabo de ser descoberto. 


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Daniel e a água

Às vezes, a ingenuidade de um comentário diz tudo que seria politicamente incorreto expressar em mil palavras. Meu filho (quase 3 anos) costuma sentar ao meu lado para ver TV. E fica lá, quietinho, até durante os comerciais. Ele, que gosta muito de água (praia, piscina..), ficava sempre prestando atenção naqueles comerciais que promovem as afiliadas da Globo pelo Brasil. Em um comercial, tocava uma musiquinha regional chatíssima e só mostrava lago, rio, praia de rio, mais lago, mais praia de rio... só isso. Cada vez que aparecia, ele dizia: papai, água... aparecia outra vez um rio e ele repetia. Lá pelas tantas, ele, que já só tinha visto e repetido água para descrever a cena, olha para mim e em tom de pergunta: papai, água? Como quem diz: água de novo, nesse raio de lugar só tem água?
É... Três anos é pouco para explicar para ele que sim. Só tem água.
Ah.. e que dá um prejuízo milionário para a federação manter um estado que arrecada tão menos do que custa.
Mas isso ele vai ter tempo para entender melhor.

É, filho, só tem água..