sábado, 20 de novembro de 2010

Manifesto do homem branco quarentão classe média

Fala-se de crise da menopausa para mulheres, fala-se de direitos da infância e defende-se com afinco os idosos. Luta pelos direitos dos animais, dos sem terra, dos índios, dos afrodescentes, das ararinhas azuis e do jacaré de papo amarelo. Mas o fato é que há uma espécie que, entra ano sai ano, entre governo e sai governo, tem o seu couro arrancado para manter partidos políticos no poder: é o homem branco quarentão de classe média, doravante, HBQCM. 
Normalmente com um bom nível de formação, o HBQCM é encontrado trabalhando durante o dia e alguns durante a noite também. Possuem hábitos poucos saudáveis e por conta da jornada de trabalho pesada para ganhar dinheiro e ainda sustentar a carga tributária do Estado, ele está sujeito a problemas cardíacos que costumam a encurtar sua existência de contribuinte mais cedo.
Quando conseguem tempo para fazer exercício, são desprovidos de preocupações estéticas, fazem-no para evitar o infarto. Eles têm dentro da sociedade nossa dois direitos bem definidos e defendido por todos: o direito de trabalhar em 3 turnos sempre que possível e o direito de pagar 1/3 do que ganham para o Estado. Sendo esse segundo, um direito pessoal e intransferível.
Se divertem pouco, não tem direito a vagas especiais nem cota de nada em lugar algum. Não podem furar fila, nem seus processos são julgados com nenhuma prioridade. Aposentam-se mais tarde do que todos, se viverem até lá, e, se tiverem sorte, conseguem tocar o barco até o fim de seus dias em sua casa financiada pela caixa em suaves 240 prestações.
O HBQCM é encontrado em saunas de clubes e peladas de fim de semana. Com suas barriguinhas estilo caneta de liquid paper bebem água resfolegando no intervalo de uma pelada e outra e acabam indo para o bola murcha do fantástico um dia.
O HBQCM que cai na real aprende que duas garotas de 18 ou19 anos olhando para ele de longe é sinal de que elas estão achando-o com cara de pai/tio de alguma amiga delas ou, se você é professor, você deu aulas  para elas e não está lembrando. Se houver uma abordagem de conotação sexual, prepare para ouvir as palavras: "completa é 200 reais e não beijo na boca de cliente, tio."
Enfim, o HBQCM, esse injustiçado e esquecido da sociedade cuja lembrança do governo por ele só se dá uma vez por ano e tem prazo até abril, senão paga multa sobre o imposto devido.

Marcelo
39 anos, 5 meses.
HBQCM assumido de uma vez

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Por que algumas pessoas gostam tanto de discutir e polemizar?

Depois de 3 anos de blogue, posso dizer que já vi quase de tudo por aqui na blogosfera, adquiri público leitor e blogs preferidos que leio com frequência, mas nem sempre tenho oportunidade de tecer os comentários que merecem, por isso, calo-me e continuo a apreciar cada um deles. Aqui no saco de filó já deu de tudo.
Aprendi a perceber que a necessidade de polemizar surge em razão da premissa de que somos feitos de carne, ossos e ideias. Sim, as ideias são partes indissociáveis da natureza humana. Podemos perceber isso quando algumas pessoas religiosas ou mesmo apaixonadas por um partido político são questionadas ou sentem que, no texto escrito, há algo que macule a sua paixão-ideia.
Como alguém que vê a iminência de um membro amputado, luta, debate-se, ofende, agride, puxa o braço, sacode as pernas, grita, ataca, enfim, age de maneira instintiva e natural à ameça que se afigura. As ideias, como esses membros, são parte de si que, se cortadas, doem, ferem, sangram, mutilam.
Daí, o espírito belicoso de disputa, a necessidade de apresentar sua ideia como maior do que as dos outros, de afirmar a sua ideia como o único caminho, como única verdade, como única luz. Muitas vezes, agem numa tentativa de convencer a si mesmo mais do que aos outros (mas isso é conversa para outra postagem).
A iminência da perda de um pedaço de si provoca a cegueira e aguça os instintos de defesa como se estivessem em risco de morte. Mas não se está.
Pessoas que cultivam em si frustrações, complexos, questões mal resolvidas tendem a se agarrar a ideias como maneira de compensar e legitimar a lacuna que essas situações deixam. Compensar através da sublimação, compensar através da construção em um universo metafísico o que não se é em um universo físico. Por natureza, assumem a luta por uma ideia religiosa ou um partido político como se a sua vitória no campo das ideias fosse representar uma mudança para si ou mesmo para os outros. Não conseguem perceber que são instrumentos ingênuos na mão de quem sempre vence o jogo, instrumentos úteis e ingênuos que disputam um jogo que sempre perdem.



sábado, 13 de novembro de 2010

O que aprendi com atual pax romana

De uns tempos para cá, está cada vez mais difícil falar de qualquer coisa em uma postagem, pois existe uma polícia ideológico-partidária que está sempre pronta a explodir em agressividade com comentários que começam com observações do tipo: quem é você? Burguês revoltado, você não sabe o que fala, você não sabe o que é voltar a comer carne depois de anos (sic),... Enfim, qualquer manifestação de pensamento crítico é atacada com ferocidade, ódio e passionalidade exacerbada.
Tempos difíceis de obscurantismo e restrição de senso crítico. Tempos de uma só opinião, de uma só verdade e de cegueira. Nem no período das ditaduras se viu tamanha guerra santa contra qualquer um que pense o contrário do pensamento dominante.
A coisa assumiu uma proporção que me amedronta. Evito todas as postagens que toquem em questão política, mas a polícia ideológica cerca as palavras proibidas (por eles) e sempre encontra no meio do texto algo que possa ser apontado como ofensivo ao pensamento dominante e à essência do neobolivarianismo verde e amarelo. Hoje, só se pode pensar e viver conforme o que determina a vigilância ideológica. Não duvido que, em breve, livros que trazem “heresias” contra o pensar determinado sejam queimados em praça pública e milícias se promovam caça aos hereges que tentam subverte a ordem pensando o contrário do que se determina.
Tenho medo das nuvens que se aproximam e, por conta disso, a partir da agora, só falo de amenidades, de barquinhos, violões, mar...

Em tempo: Desculpem pelo meu passado burguês, amigos da polícia ideológica, vocês estão certos em tudo. Eu me converti e na crença que vocês querem que eu tenha encontrei a verdade e a luz. Vida longa ao grande líder, vida longa ao partido.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Presidente ou presidenta? Dilma será o quê?

Alguns órgãos oficiais, que nem de longe podem ser denominados autoridades para falar sobre Língua Portuguesa, se apressam em emitir as opinões mais estapafúrdias possíveis se valendo em argumentos que, longe de embasarem a teses, provocam risos nos estudiosos do idioma.
O fato é que presidente é um substantivo cujo gênero pode ser definido como Comum de Dois, ou seja, prestam-se a definir tanto ao sexo masculino como feminino mudando-se apenas o seu dêitico (artigo ou pronome que o antecede). Seguem estes exemplos palavras como dirigente, assistente, pedinte, contribuinte, presidente entre outros casos. Todos esses casos se assemelham em sua formação por serem compostos por um radical verbal (dirig-, assist-, ped-, contribui-, presid-) mais o sufixo –nte que indica aquele que exerce a ação de algo.
Dessa forma, não existe o termo presidenta, assim como não existe o termo assistenta, contribuinta, dirigenta, pedinta e outros. O fato de Dilma ser a primeira mulher presidente do Brasil não justifica a flexão já que outras mulheres foram dirigente, assistente, pedinte, contribuinte e nem por isso se fez necessária a flexão nominal de gênero onde ela não existe.
Mais uma vez, pipocam pessoas emitindo opinião sobre assuntos que desconhecem ou sobre o qual sabem muito pouco. O grande problema com relação à língua é exatamente esse, muita gente acha que, porque fala, sabe sobre ela.

Veja bem, eu, por exemplo, tenho dentro de mim um monte de órgãos que uso todos os dias, mas não me considero um especialista em nenhum deles e me sinto desconfortável em emitir opiniões técnicas sobre os mesmos.

----- X ------
Em razão de alguns comentários agressivos, quero deixar claro que não me revoltei com o resultado das eleições, que não tenho nada contra Dilma Roussef, mas que gostaria de suscitar uma questão lingüística e não política. Sei que esse tema (política) mexe com paixões e resguardo-me o direito de publicar comentários que se atentem à discussão lingüística.


Prof. Marcelo Leite
Doutor em Língua Portuguesa pela UFRJ

sábado, 6 de novembro de 2010

Musiquinhas irritantes que invadem nossa cabeça

De tempos em tempos somos assolados por um fenômeno cíclico: as musiquinhas irritantes que se repetem na nossa cabeça. Outro dia, fui vítima daquela irritante “papanamericano” seguida das escrotas coreografias que pululam no you tube. A musiquinha é chata para caramba, mas se me recordo em histórico recente não é a mais chata, nem a mais invasiva delas. Lembro do “Tô nem aí” de uns 6 anos atrás mais ou menos, ou pior, a Vanessa da Mata cantando uma música que se denominava “Ai, ai, ai”. Aquilo só se assemelhou em lavagem cerebral compulsória aquela tal de Assereiê, da falecida banda Rouge. Meu Deus!
Mas nada para sofrer invasão mental mais agressiva do que musiquinhas infantis. Basta que você tenha irmão pequeno, filho, sobrinho, enteado, ou seja lá o que for, que, vez por outra, você se pega cantarolando galinha pintadinha e digo mais, quando atinjimos o ponto de saturação das musiquinhas começamos a fazer paródias e continuações aplicadas às letras. Isso é um estágio avançado, caso para um médico especialista no assunto.
Várias vezes já me peguei cantando “língua de fora, abana o rabo, levanta a perna e faz xixi... au, au, au, au ,au, au...” Mas isso é uma questão muito pessoal, não vou abri-la aqui. Até porque tenho que sair...
Tenho médico marcado.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O palhaço: entre o assustador, o decadente e o depressivo

Palhaço é, definitivamente, uma coisa assustadora. Meu filho de 2 anos e pouco adora a dupla Patati e Patatá e tive que aprender a lidar com meus temores e repulsas por conta disso. Quando me vejo, sou obrigado a assistir  a uma hora daquele show de horrores até o meu pequeno dormir.
Acho que isso tudo vem de duas coisas que trago na memória: um filme de Stephen King chamado It e da lembrança que tenho de circo em minha infância. No filme de terror, um palhaço sobrenatural causava mortes em uma localidade. Os dentes do palhaço me apavoram e eu repetia pra mim que aquilo era ficção, era só um filme. Isso me assustava lá no início da década de 80, quando eu ainda era pré-adolescente.
Outra coisa que me deprime em palhaços é a decadência que eles me trazem à mente. Certa vez, apareceu um circo em minha cidade. Lonas velhas, cordas rotas, roupas surradas e artistas com cara de fome. O rapaz que fazia um palhaço, com suas piadas velhas e sem graça, teimava em cair sentado em busca de uma risada da platéia. Ele também vendia os ingressos, cuspia fogo e apresentava o espetáculo, enfim, a absoluta face da decadência. Isso me deprimia.
Mas volto ao Patati e Patatá, que apesar de me trazerem as horrorosas lembranças são bem alimentados, coloridos, bem pagos e divertem uma platéia de crianças de classe média. Pois é..o oposto de minhas lembranças. Tenho tentado superar minhas implicâncias em nome do meu pequeno Daniel... mas tá difícil.

Em tempo: Sempre penso que a qualquer momento um deles pode matar uma criancinha daquelas. Por via das dúvidas não deixo meu filho chegar perto.

Galeria do Horror - os 5 mais:
It (do Filme. O da foto acima)
Bozo (Bizarro...)
Ronald MacDonald (tem cara de pervertido)
Krust (dos Simpson. Esse é pervertido mesmo)
Selvagem cor de Rosa (assistente de palco do Krust)

domingo, 31 de outubro de 2010

Hipocrisia nossa de cada dia, nos dai hoje..

Sempre achei que a hipocrisia é um bem social.
Proibimos a maconha, liberamos o cigarro, condenamos a cocaína, aceitamos o álcool. Achamos até engraçado um personagem humorístico que cai pelos cantos e fala besteiras fazendo piadas com a própria desgraça (não a do ator, mas a do personagem). O ministério da justiça reclassifica a novela porque aparece uma moça seminua dançando numa boate às 21 horas. Enquanto isso, o senado libera um senador que comprou empresas usando laranjas, dinheiro sujo, pagou uma amante (aliás, com quem teve uma filha) com dinheiro de empreiteiro e isso passa no jornal das 13 horas.
Não defendo a liberação das drogas, mas a questão é pensar: o que faz o álcool menos droga do que a cocaína e o que faz o cigarro menos droga do que a maconha? Talvez dados técnicos apresentem distinções, mas estas se contrastam com a realidade de que o cigarro e a bebida são muito mais socialmente nocivas do que os seus concorrentes vendidos nas bocas de fumo dos morros (e, hoje, até por playboys de classe média).
Mas, seguindo assim, punindo os peitinhos na TV, liberando as putarias dos políticos não vejo muito perspectiva para aposentar a falsidade (ou pelo menos, dar umas férias sem vencimento para ela). Achando normal o garotinho de 15 anos com o cigarro no dedo que chega a casa bêbado depois da balada e se horrorizando com os garotos de zona sul preso com drogas seguimos rumo ao nada, ou pior, ao tudo de ruim.
Não tenho esperança de que as coisas mudem muito com a liberação das drogas ou mesmo com a proibição do álcool. Acho que tudo demanda uma reformulação de mentalidade que terá como fim tirar nosso rosto de trás dessa mascara chamada HIPOCRISIA.
Quando eu dava aulas em ensino médio, uma vez me vi no meio de uma roda de alunos de 1º ano que contavam sobre um churrasco. A conversa descambou para porres homéricos (papo comum nessa idade). Daí, começaram a relatar os porres de seus pais. Um deles disse:

Caraca, maluco, aí quando eu vi, meu velho tava todo vomitado no churrasco da minha tia. Levamos o cara para o chuveiro e demos um banho daqueles... caraca, maluco. Muita doideira.

Imaginei-me naquela situação, jamais vivida por mim, com meu pai e deprimi só de pensar. Esse fato narrado vindo de um adolescente é normal, pois a idade prima por pouco senso crítico, mas essa atitude vinda de um pai dispensa comentários e se torna autoexplicativa para o que vemos.
Ave, hipocrisia!


quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Congresso aprova lei da imprensa responsável - censura branca

HÁRIDOs DIAS
DE BRASÍLIA


Na última sexta-feira (22), foi aprovado o projeto de lei Chávez-Morales, um projeto que, segundo afirmam seus autores, pretende promover uma imprensa responsável e aliada à causa do povo. O projeto prevê a instalação de uma comissão de notáveis que irá avaliar o grau de relevância e interesse do Estado e do Povo sobre todas as informações que forem veiculadas pela mídia cabendo a estes membros do conselho o direito de veto da informação veiculada e cancelamento das atividades de órgãos de imprensa que ferirem as bases constituídas do estado com intento à subversão da ordem. A esses processos estarão submetidas as TVs, Revistas, Jornais, rádios e sites de internet para o qual será criado um sistema integrado de informação (SisInfo) que estará vinculado à Casa Civil e ao Gabinete de assuntos estratégicos da república. O projeto aprovado ainda prevê a criação do programa Juventude Nacional Socialista (JNS) que permitirá a formação e conscientização dos jovens com a causa comum e o bem do Estado e tem por objetivo combater e denunciar aqueles que, por trás da bandeira democrática tentam atacar as verdades sociodemocratas do bolivarianismo do terceiro milênio. Medidas como essa se somam ao projeto em discussão no senado "Guerreiros da Terra” que visa preparar os movimentos rurais para tomarem, se necessário com a força, o que lhes é direito, as terras improdutivas. Os órgãos de imprensa ainda não se manifestaram com relação ao projeto, pois já estão enquadrado na nova lei e esse tipo de atitude caracteriza ato de subversão e antipatriotismo passível de medidas legais.

O líder do governo na câmara, deputado Asdrúbal Venceslau (PJC-AC) afirmou não há necessidade dessa imprensa subversiva em um país cujo governo reflete os anseios de seu povo. Os formadores de opinião são as próprias pessoas e suas consciências de quanto esse país avançou nos últimos anos e vai continuar avançando ainda mais.


ATENÇÃO!
A notícia acima é uma grande mentira, mas o que vai fazê-la continuar a ser é a seriedade com que encaramos o que se passa sob os nossos olhos. Orai e vigiai.... sempre.

sábado, 23 de outubro de 2010

Serra ou Dilma: a guerra dos emails..

Em tempos de campanha presidencial eu me assusto com o número de pessoas que, entra ano, sai ano, assume a coisa como uma questão pessoal. Outrora com os adesivos espalhados por todos os lados, hoje pela internet através de arquivos de Powerpoint, emails-corrente, piadinhas, comparações absurdas, eles buscam levar a todos os cantos a palavra de fé de seu candidato. Algo como aquele que crê em Serra (ou Dilma) viverá. Há muitas pessoas próximas que eu considerava primarem pelo mínimo de bom senso e racionalidade e que me surpreendem com email, muitas vezes, em tom ameaçador de vote em Dilma, pois Serra é do mal. E de outro lado, vote em Serra, Dilma é do mal. Faltam argumentos inteligentes e sobra passionalidade nesses emails, isso, de ambos os lados. Muitas pessoas infestaram seus orkuts com os nomes Dilma ou Serra nas suas fotos de perfil ou em seus álbuns e espalharam frases que refletem sua paixão pelo seu candidato, como se isso, certamente a fizesse uma pessoa melhor, ou pelo menos diferente.
A princípio, essas pessoas que encaram a luta por seu candidato como uma cruzada contra os infiéis me davam a impressão de que eles me achavam um completo imbecil manipulável. Quando comecei a ler que no final dos emails vinha sempre uma determinação para repassar para todos de minha lista passei a ter certeza que eles me consideravam um imbecil manipulável.

Quem vai ganhar? Não sei. Quem vai perder? Os de sempre.. nós, eleitores.