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segunda-feira, 30 de junho de 2014

E aí? Está lembrado de mim?

Não tem nada mais desconcertante do que alguém o abordar na rua do nada e perguntar: E aí, fulano? Quanto tempo? Se bem que tem coisa pior sim... é ele perguntar: E aí, está lembrado de mim?
Em alguns minutos nos sentimos o maior pulha do universo. Um canalha, um ingrato desmemoriado que não se lembra do nome de uma pessoa que efusivamente saiu de onde estava, caminhou até nós e com um sorriso nos lábios no saudou. É.. nos saudou, mas perguntou a única coisa que não poderia ter perguntado. 
Não se pergunta isso aqui a ninguém. 
Seguimos, então, naquele joguinho falso de ficar ali no papo meio vazio tentando buscar referências, sugestões.

terça-feira, 18 de março de 2014

O tempo e as jabuticabas - Rubem Alves

[Nunca publiquei um texto no Saco de Filó, em 7 anos, que não fosse meu. Mas esse texto de Rubem Alves é tão perfeito que eu queria que fosse meu. E publico dando os devidos créditos]

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. 
não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Rótulos, para que te quero?


Vejo como é engraçada essa necessidade do ser humano de identificação com alguma coisa, uma ideologia, um grupo, uma tendência, enfim, uma qualquer coisa que o torne diferente, fazendo-o igual aos outros. Eis o grande paradoxo: a buscar da diferenciação sendo cada vez mais igual aos outros.
E batem no peito: sou comunista, sou capitalista, sou ateu, sou cristão, sou negro, sou branco, sou homo, sou hetero, sou um time de futebol, sou X, mas não sou Y. Y são errados de acordo com o que pensam o Xs como eu. Os Xs estão certos por isso sou um X.
As pessoas não esquecem que não somos nada, estamos tudo. Somos um processo e nunca um produto finalizado. Mas mesmo assim, para alimentar sua arrogância continuam batendo no peito e colando seu rótulo favorito. Isso quando não se contentam com ele e dedicam sua vida a enaltecer seu rótulo pela depreciação do outro. O que constitui exercício cotidiano na grande maioria.
Esse é o ponto que em que a prepotência engole a maturidade, pois quanto mais amadurecemos passamos a entender melhor o outro, suas necessidades e dores. Assim como as nossas dores. A maturidade nos dispensa da necessidade de convencer o outro de que o que ele acredite que está errado e de que o que nos acreditamos é o único correto pensar.
O problema é que a vida traz dias e dias só trazem aprendizagem e crescimento quando nos dispomos a recebê-los. A maturidade não é compulsória, é opcional.

Ah sim... antes que me esqueça... O nosso único rótulo legítimo e inalienável é "futura comida de vermes".

sábado, 16 de julho de 2011

Quarenta anos.... a vida começa quando mesmo?

A vida começa é quando a gente nasce e termina, por razões óbvias, quando a gente morre. E ponto final. Aos diabos com os aforismos. Fala-se de crise da mulher, menopausa etc, mas e o homem? É barra fazer quarenta anos, um momento em que nossos traseiros ficam muito mais atraentes do que qualquer parte de nosso corpo uma vez que é ali, no bolso de trás, que carregamos a carteira e o documento do carro. 
Saímos da categoria homem de 30 e entramos na categoria tio. Daí, só há um caminho, a categoria Tiozinho ou coroa. Esse mundo era um campo totalmente desconhecido por mim e, como diz o Veríssimo, uma terra habitada somente pelos meus pais, tios e outros cuja convivência me davam uma sensação de “nossa! Como está longe isso para mim”. Pois é, não estava.
Aprendemos que os cabelos brancos ou a falta deles dá um certo ar de credibilidade, embora retire todo tesão que possamos despertar em qualquer criatura do sexo feminino. Aquele papo de que cabelo branco ou calvície é um charme é algo mais ou menos como “adoraria ter um tio legal  com cabelos brancos bem padrão. Igual aos programas de TV”. Sei não.. mas isso não é em nenhum momento elogioso e em nada contribui para minha autoestima de macho da espécie. 
Passamos a agregar definições a nós como super inteiro, super conservado, ou super qualquer coisas que não pareça caindo aos pedaços como era de se esperar de alguém da sua idade. Mais um tirambaço na sua autoestima (se é que você ainda ficou com alguma depois da história dos cabelos e da calvície charmosa).
Mas é isso. Tempo em velocidade avançada. Envelhecer é uma arte. A arte de entender que o tempo passa para todo mundo e que a única maneira de interromper esse processo é morrendo. Opção que, por hora, descarto. Não, muito obrigado.
E, antes que a mocinha que está me lendo me pergunte, eu respondo:
- Não. Provavelmente, eu nunca trabalhei com o seu pai ou mãe e não, eu não sou parecido com aquele tio seu que você não vê há anos. É impressão sua.


terça-feira, 21 de junho de 2011

Não se faz 40 anos todo dia.... ainda bem! (postagem de aniversário)

No dia de hoje, comemoro que há 40 anos meus pais deixaram de ser filhos somente e se aventuraram na mais sinuosa e arriscada das aventuras, ser pais. Planejados ou por acaso, por querer ou sem querer, ei-los logo ali, filhos, acordando de noite, dando problemas na escola, tirando nossas noites de sono. E sabe por que? Por que quem tem filhos tem razões de sobra para dormir menos, sair menos, ir ao teatro menos, etc menos.. pois eles são aquela versão de Camões sobre o amor: um contentamento descontente, uma dor que desatina sem doer.
Por isso, nesse meu aniversário de 40 anos, quando já há três anos deixei de se só filho e entrei para a categoria dos “paiê” (duas vezes, Daniel e Bruno), acho que devo dar parabéns a eles (meus pais) que tocaram esse barco durante tanto tempo comigo. Conviveram com a angústia de não saber no que iria dar aquele menino, um sucesso, um bandido, um neurótico, um canalha, sei lá... Talvez até um político. Não, minha mãe não seria capaz de imaginar algo tão ruim para seu filho nem nos piores pesadelos.
Mas eis-me aqui, professor. Se não há motivos para comemorar efusivamente, pois eu ganho talvez um pouco menos do que o Neymar, também não é motivo de se envergonhar. E meus pais que, depois de tanto tempo abandonaram a categoria de ‘só’ pais, ingressam na categoria dos avós. Uma espécie de mar calmo da existência familiar onde sua única função obrigatória e ajudar de forma efetiva a deseducar os meus menininhos que, por tendência natural, se incorporam a essa empreitada dos avós com maestria.
Agora, vou atender o meu Daniel que está me convocando para brincar com o seu Hulk. Paiê...!
Enquanto isso, ficamos com a musiquinha de sempre, mas remodelada. Parabéns para vocês (pais), nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida.

Ah sim... e eu continuo o mesmo. Carinha de 40, mas corpinho de 39 (e meio).

sábado, 20 de novembro de 2010

Manifesto do homem branco quarentão classe média

Fala-se de crise da menopausa para mulheres, fala-se de direitos da infância e defende-se com afinco os idosos. Luta pelos direitos dos animais, dos sem terra, dos índios, dos afrodescentes, das ararinhas azuis e do jacaré de papo amarelo. Mas o fato é que há uma espécie que, entra ano sai ano, entre governo e sai governo, tem o seu couro arrancado para manter partidos políticos no poder: é o homem branco quarentão de classe média, doravante, HBQCM. 
Normalmente com um bom nível de formação, o HBQCM é encontrado trabalhando durante o dia e alguns durante a noite também. Possuem hábitos poucos saudáveis e por conta da jornada de trabalho pesada para ganhar dinheiro e ainda sustentar a carga tributária do Estado, ele está sujeito a problemas cardíacos que costumam a encurtar sua existência de contribuinte mais cedo.
Quando conseguem tempo para fazer exercício, são desprovidos de preocupações estéticas, fazem-no para evitar o infarto. Eles têm dentro da sociedade nossa dois direitos bem definidos e defendido por todos: o direito de trabalhar em 3 turnos sempre que possível e o direito de pagar 1/3 do que ganham para o Estado. Sendo esse segundo, um direito pessoal e intransferível.
Se divertem pouco, não tem direito a vagas especiais nem cota de nada em lugar algum. Não podem furar fila, nem seus processos são julgados com nenhuma prioridade. Aposentam-se mais tarde do que todos, se viverem até lá, e, se tiverem sorte, conseguem tocar o barco até o fim de seus dias em sua casa financiada pela caixa em suaves 240 prestações.
O HBQCM é encontrado em saunas de clubes e peladas de fim de semana. Com suas barriguinhas estilo caneta de liquid paper bebem água resfolegando no intervalo de uma pelada e outra e acabam indo para o bola murcha do fantástico um dia.
O HBQCM que cai na real aprende que duas garotas de 18 ou19 anos olhando para ele de longe é sinal de que elas estão achando-o com cara de pai/tio de alguma amiga delas ou, se você é professor, você deu aulas  para elas e não está lembrando. Se houver uma abordagem de conotação sexual, prepare para ouvir as palavras: "completa é 200 reais e não beijo na boca de cliente, tio."
Enfim, o HBQCM, esse injustiçado e esquecido da sociedade cuja lembrança do governo por ele só se dá uma vez por ano e tem prazo até abril, senão paga multa sobre o imposto devido.

Marcelo
39 anos, 5 meses.
HBQCM assumido de uma vez