quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mataram Bin Laden - e daí?

Outro dia, em um aula de comunicação e expressão, um aluno me perguntou sobre o efeito da morte de Bin Laden, pois o tema em discussão era terrorismo. Veio-me a metáfora logo de cara e perguntei a ele: - Você acha que se matassem o Ronald MacDonalds, eles pararia de vender Bic Mac? Todos riram e entenderam aonde eu queria chegar.
Bin Laden era um ícone e ponto final. Uma justificativa para os bilhões de dólares que os EUA gastaram na busca do terrorista internacionalmente conhecido. E só isso. A Al Aaeda virou uma espécie de franquia nessa primeira década do século XXI. Sabe? Boticário, Cacau Show, Al Qaeda... Os caras saem cometendo atentado e para fins de marketing assumem como a Al qaeda, mas os próprios serviços secretos já reconheceram que os terroristas perderam o controle sobre isso. Talvez a Al qaeda devesse registrar a marca, talvez devesse abrir ações na bolsa, talvez devesse tentar até o ISO 9000, talvez...
Bin Laden foi mal assessorado. Poderia ter se escondido em qualquer lugar, raspado a barba, assumido outro nome.. Sei lá. Aqui no Brasil, por exemplo...
Se bem que, há tempos atrás, eu comprei uma bolsa Victor Hugo para minha esposa na 25 de março em São Paulo que me foi vendida por um cara magrinho, com sotaque árabe, sem barba, me chamou de “Brimo” e e falou que era "baratinha, baratinha" na mão dele.. Sei não... Aquele cara parecia o Bin Laden sem barba.
Meu Deus, acho que comprei uma bolsa falsificada da mão do maior terrorista do mundo...
Se bem que a bolsa não descolou, é igualzinha a original, minha esposa ficou toda alegrinha e só me custou 50 reais.
Deixa quieto então, pra que denunciar o cara, coitado.

P.S.: Outro lugar em que o Bin Laden poderia ter se escondido é na sala de troféus do Vasco. Ninguém vai lá há anos. (Não poderia perder a piada, né..). Faltou assessoria para o cara, né..

sábado, 7 de maio de 2011

As ideias do chefe

Todas as propostas naquela empresa passavam pela quarentena (sic) de 60 dias. A ideia era dada, o chefe, quando ouvia, rejeitava. Às vezes, nem ouvia. 60 dias depois, o patrão convocava uma reunião e apresentava a ideia (dele) genial que havia sido rejeitada 60 dias antes. O defeito principal da ideia apresentada anteriormente ficava claro, a idéia não era a mesma porque, na época, não tinha sido formulada por ele. Esse era o grande pecado que fazia uma estupidez de dois meses atrás ficar a genialidade de hoje.
As sugestões assim se faziam dentro de um cronograma. Se uma coisa era para começar ser implantada em agosto, apresentava-se a idéia dois meses antes, final de maio ou início de junho. Era batata. Em agosto havia a tal reunião em que o chefe apresentaria a ideia que tinha sido rejeitada há dois meses.
Um dia, do nada, consumido pelo estresse, o chefe infartou. Sentiu um formigamento no braço, dor no peito e tchum. Lá se foi o Narciso da corporação. 
Os funcionários que viram o seu corpo sobre a mesa, frio e inerte, não pensaram duas vezes. Acharam a ideia tão boa que resolveram fazer o enterro de imediato, na verdade, houve uma cremação do corpo. 
Afinal, vai que ele resolve ressuscitar daqui a sessenta dias.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Comunidade é a favela pós-moderna

Na onda do politicamente correto, o que antes era chamado de favela ganhou um termo mais nobre, comunidade. Para se entender melhor, comunidade é o agrupamento irregular de pessoas de baixa renda que são, normalmente, esquecidas pelo estado durante o ano todo, mas lembrado pelas TVs na época do carnaval. O puxador de samba começa “Alô comunidade de Vigário geral, alô comunidade de Parada de Lucas, alô comunidade do Capão Redondo” (se não conhece esses lugares, digite no Google para ter uma noção do que estou falando).
É pouco provável que o puxador, no Rio, comece com “Alô comunidade da Barra da Tijuca” ou em São Paulo, "Alô comunidade de Alphaville”, embora quem tenha dinheiro suficiente para aparecer de destaque nas escolas de samba seja o pessoal que mora nesses locais.
É isso, comunidade é a favela pós-moderna que de tanto ser desgastada pela violência, pela falta de saneamento, pelas escolas caindo aos pedaços trocou de nome. Hoje, as pessoas não andam mais por aquelas favelas, mas sim, por comunidades.... desgastadas pela violência, pela falta de saneamento, pelas escolas caindo aos pedaços.. mas com o belo rótulo de comunidade.

sábado, 30 de abril de 2011

Por um mundo com mais bullying

O senador Roberto Requião (PR) reclamou de bullying da imprensa, porque o repórter perguntou se ele abriria mão da pensãozinha vitalícia de 24 mil que recebe como ex-governador do Paraná (arrancou o gravador da mão do repórter e ofendeu com palavras incompatíveis com sua função de senador da república). O deputado Jair Bolsonaro reclamou que é vítima bullying da imprensa só porque declarou que negros e homossexuais não são pessoas que não merecem o menor respeito, sequer talvez, sejam pessoas. Mussolini foi vítima de bullying e pendurado em praça pública. Getúlio foi vítima de tamanho bullying que acabou cometendo suicídio. E o bullying que sofreu o ex-presidente collor na época do impeachment? 
Vamos parar com essa babaquice de que essa palavra serve para todo tipo de coisa. Se o objeto do assédio é um homem público que atenta contra moral do cargo que ocupa, que tira proveito, que rouba, que viola às leis, que envegonha o país, quer tira proveito de seu cargo para se arrumar estamos lindando com um bullying com justa causa. Desejo que o CQC, o Pânico, humoristas, imprensa em geral façam da vida desses políticos o inferno na terra.. Renan Calheiros, Sarney, Requião, Bolsonaro e cia. Se esse é o tipo de bullying que eles estão reclamando, lanço aqui a campanha, “Contra políticos, mais bullying
Dessa forma, se o caso é esse, vamos lutar por um mundo com mais bullying.
Se alguém vier e criticar, já sabe né. Vou acusar você de que estou sendo vítima de bullying.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O eterno samba do crioulo doido

Lembro do jornalista Sergio Porto e seu samba do Crioulo doido escrito em 1968 e que contava a história de um sambista que escrevia letras sobre fatos históricos. Em certo ano, decidiriam que o tema seria a atual conjuntura política. Ele saiu juntando os pedaços dos fatos históricos, uma obrigatoriedade nos sambas da época desde o Estado Novo, que conhecia e escreveu um samba que não dizia nada com nada (Se não conhece, veja a letra aqui). Hoje em dia, o Stanislau Ponte Preta, pseudônimo do jornalista seria execrado pela patrulha do politicamente correto e seria obrigado a dizer samba do afrodescente portador de necessidades especiais e ainda assim seria odiado por estar fazendo alusão a um povo oprimido e que deveria ser louvado para se resgatar a dívida dos anos de escravidão e não ironizado em uma paródia símbolo do poder opressor do branco europeu. Fico feliz que ele tenha escrito em outra época, pois foi poupado dessa estupidez.
O fato é que eu lembrei dele ao ouvir no rádio um representante de uma escola de samba (não sei se do Rio ou de São Paulo) que falava sobre seu o tema que era o fogo, fogo que purificava, mas com que a inquisição “queimou Joana D’Arc, que virou santa logo após, Galileu e outros tantos cientistas que também morreram na fogueira.”
Vamos lá, Joana D’Arc foi realmente queimada pela igreja, mas só virou santa em 1920, não foi logo depois. Galileu se retratou com a igreja e não foi queimado. Galileu era cientista, Joana D’Arc, não. E, por fim, não foram outros tantos queimados, pois era comum a retratação, afinal, poucos eram burros o suficiente para se deixar queimar por teimosia. 


segunda-feira, 25 de abril de 2011

São Jorge não merecia isso.. nem a gente.

Nesse último final de semana, houve em minha região a festa dos cavaleiros ou Festa de São Jorge. É uma festa tradicional em que vários cavaleiros e amazonas se reúnem para desfilar pela cidade e espalhar um belo tapete de merda de cavalo pela cidade deixando-a aromatizada com o peculiar odor de urina e estrume durante os dias que se seguem a comemoração. Na ocasião, dá-se a tradição do álcool ao extremo. Os festejantes se embriagam ao limite de seu corpo e, ocasionalmente, espancam os animais com tradicional violência ou mesmo reagem ao mínimo estímulo que, sob o efeito da bebida, justifica que se esfaqueiem ou atirem um nos outros. Isso sem falar nos acidentes de trânsito com animais desgovernados pelas ruas que tornam a ocasião algo marcante na vida de qualquer pessoa que more no local. 
E os festejos correm pelo final de semana com todo tipo de barbaridade e insanidade possível, afinal, é a tradição. E como dizem os politicamente corretos, não devemos julgar as culturas, mas entendê-las, afinal, devemos respeitar as diferenças (sic). 
E ano que vem tem mais tradição...Viva a tradição!?

***
São Jorge não merecia isso.
Nem a gente...


sábado, 23 de abril de 2011

Democracia tutelada é a mais escrota das ditaduras


Eu assistia a um documentário outro dia no History Channel sobre as democracias tuteladas da america latina. Achei essa terminologia ótima para se referir a uma ditadura negociada. Se é que se pode dizer que isso exista mesmo. Tenho cá para mim que ditadura é ditadura e ponto final. Muitas se disfarçam de estados legítimos democráticos, mas se valem do poder econômico para perpetuar o poder. Um exemplo que me chama a atenção é a Venezuela.
Um líder que se elege a custo de poder econômico uma vez que detém a máquina do estado e dela faz o que bem entende, controla a impressa que considera golpista quando discorda dele (impressa golpista... parece que já ouvi isso por aqui no Brasil há bem pouco tempo atrás...) e assume uma postura de candidato a martir de um comunismo morto e enterrado há mais de 20 anos...
Enfim, não existe democracia tutelada. Democracia tutelada é ditadura legitimada.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Poucas coisas realmente importam

O problema é que percebemos isso tarde demais para não nos importarmos com o que não merece nosso desgaste. Outro dia, eu coçava a barriga do meu filho caçula (6 meses) com a barba e o fazia dar gargalhadas. Ele se revirava cada vez que eu fazia barulho com a boca e coçava sua barriga com a barba.
Veio-me este pensamento de súbito. Quando nascemos o que nos é importante é tão básico, tão restrito. Crescemos e desenvolvemos sentimentos de posse, de revanche, de onipotência e perdemos a dimensão de como as coisas que importam são tão poucas, tão próximas.
O que vi nessa vida de pessoas que vendem sua alma por coisas, que cultivam inimizades por orgulho, que compram brigas, batem no peito e dizem que dão uma boiada para não sair da briga como se aquilo fosse algo que valesse a pena, como se aquilo fosse uma virtude a ser cultivada. E desde quando estupidez é virtude? Gente que esquece que não somos um cargo, estamos num cargo e a noite em que estamos pode ser sempre a véspera da que saímos. Pessoas assumem crenças religiosas e políticas e por elas são capazes de brigar, discutir, até matar. Evocam para si a missão de mudar o mundo convencendo as pessoas de que elas estão certas, plenamente certas. Esquecendo o quão desimportante é estar certo em 99,9% das vezes.
Tudo isso por que um dia perdemos a noção de que o que importa, de verdade, é muito pouco.

sábado, 16 de abril de 2011

O bom blefador, a arte de vender o peixe

Se tem uma coisa que eu admiro é um bom blefador. Desde que decidi calar para entender melhor o mundo que me cerca, comecei a ver a admirar esse dom sórdido, mas fascinante. O que mais me encanta, por assim dizer, é a convicção do que se afirma. Consultores são mestres geniais nessa arte. Eles afirmam fatos e dizem que não podem dar mais detalhes pois envolvem outros clientes. Isso encanta, pois ao mesmo tempo que passa o domínio de um saber mágico e misterioso, impressiona pela dimensão ética da atitude dele. Genial, dois pontos numa tacada só.
Essas e outras estruturas de discurso são altamente eficazes. Além de o fato de o blefador contar a seu favor com dois fatores: o seu histórico é desconhecido porque ele vem de fora da instituição, logo, isso o habilita a ter razão em tudo que disser; segundo, sua propaganda chega sempre muito antes dele junto com um cartão que traz coisas como Fulano e Beltrano, consultoria e projetos.
Convenhamos. Veja a credibilidade de alguém que não é do local e ainda traz um cartão escrito consultoria e projetos ltda. Quem duvidaria de alguém com esse currículo. Se ele vier de um grande centro (Rio ou São Paulo), então, temos alguém habilitado para tudo. Um gênio de visão empresarial impressionante que desce do Olimpo para nos deixar sorver de sua sapiência infinita.
Ó, pensamento provinciano, mesmo depois de séculos, por que não nos abandonaste?