domingo, 3 de janeiro de 2016

Ano novo de novo?

Acho que não lido bem com períodos de término e início. No fundo, acho tudo uma chatice sem fim até porque toda hora alguma coisa está acabando e outra começando. Já há um bom tempo que desisti das festas de fim de ano em grandes grupos porque tenho sempre a sensação de replay. Sabe aqueles sonhos que se repetem e quando você percebe, pensa... caramba.. lá vou eu de novo.O torturante show da virada, todo mundo de branco e a contagem regressiva com a imagem dos fogos de Copacabana são tão chatas quanto à musiquinha do domingo maior que anuncia uma segunda-feira daqui a pouco. Antigamente, ainda havia uma tela sem nada com uma voz ao fundo: “faremos uma pausa em nossa programação...” Penso que aquilo foi a causa de inúmeros suicídios.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Mandem-me lembranças do futuro

Ano quem vem fará 23 anos que me formei no curso de Letras. Não digo que faz 23 anos que escolhi ser professor, já que desde a adolescência, nos meus tempos de Grupo Escoteiro, já me identificava com o ofício. E aqueles que me conhecem mais de perto sabem esse ofício já foi escolhido há muito mais tempo do que essa vida pode comportar. Sinto-me confortável nessas minhas escolhas em seus ônus e bônus, estes maiores do que aqueles.
Fiz grandes amigos-ex-alunos que um dia foram alunos-amigos. E, nessas idas e vindas, sempre procurei lhes dar mais  do que as lições gramaticais. Foram construídos grandes laços afetivos assim. Alguns me perguntavam se eu queria ganhar um presente de gratidão ao final dos cursos e eu nunca soube o que gostaria de ganhar de verdade. Mas outro dia, um aluno me fez essa pergunta de novo e agora, quase ¼ de século depois, sinto-me à vontade de pedir.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Vida é curta para coisas diets

Sabe o que significa a frase Carpe Diem, de Horácio? Acho que todo mundo sabe. “Aproveite o dia”. Digo que sou de uma geração que, tendo sido obrigada a assistir ao filme Sociedade dos Poetas Mortos, aprendeu cedo. A ideia do poeta é aproveitar o dia. Mas o conceito é bem vago, uma vez que aproveitar é algo relativo. Alguns podem considerar aproveitar ao máximo, se entupir de alguma substância tóxica e ficar loucaço, outros, comendo desesperadamente, dormindo o tempo todo e não fazer nada. Mas isso não é aproveitar, isso é hedonismo destrutivo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Rótulos e a vida alheia

Ter um rótulo é inevitável. Querer um rótulo já é patológico. O rapaz sai de casa com uma meia colorida ao estilo anos 70 – Dancin Days. (Só os que sorriem entre aspas das rugas entenderão essa referência jurássica da cultura pop) e uma pochete na cintura, outro artefato arqueológico dos anos 80 que atualmente só é visto em documentários do History Channel – Artefatos do Passado. Logo, alguém rotula de cafona.
Com um fundo de razão ainda que tivesse ouvido as frenéticas quando criança e usado pochete na minha adolescência, estamos diante de um rótulo atribuído. Tirando o fato de se você não paga as contas dele, não responde legalmente por ele e a meia estar sendo usada por ele, isso não ser de sua conta ou mesmo algo que gerasse a expectativa de sua opinião, você rotulou.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Sala de espera de consultório

Consultório de médico, sala de espera de clínica médica, saguão de hospital... Já viu lugares mais preenchidos de tipos bizarros? Há aqueles que têm uma doença, aqueles que acham que tem uma doença e aqueles que gostariam de ter uma doença. Mas o tipo que mais me encanta é aquele que disputa doença e acha que sua doença é mais séria do que a de qualquer um. Sente-se ultrajado quando alguém relata uma doença pior que a sua, mas o pior é quando ele se vê diante de um colega que se vale da doença de outros para tripudiar sobre sua reputação de “o mais coitado”.

domingo, 22 de novembro de 2015

Diário de um revolucionário de Facebook

Aí o cara liga o computador pela manhã e pensa: qual é a minha desgraça favorita? Os atentados em Paris estão mais atuais, me fazem mais cosmopolita. A bandeirinha da França é um charme. Todos vão olhar e pensar "nossa, como ele é antenado com o mundo.
Descendo a página do Facebook, ele vê o desastre ambiental em Mariana-MG e pensa que seria mais patriota. Um perfil marronzinho ou uma bandeira do Brasil em cor de lama... isso, isso mesmo. Pensa satisfeito.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Saudades dos 30 anos

Ai que saudades que tenho dos meus 30 anos. Naquele época, eu tinha certeza de qual era o melhor sistema de governo, qual era a filosofia que salvaria o mundo. Eu sabia como salvar a economia e construir uma sociedade igualitária. Trazia comigo a convicção das estratégias de lutas para salvar meu povo da opressão. Não vacilava ao indicar com total segurança quem eram os mocinhos e os bandidos no quadro nacional. E a mídia, essa mídia, o nascedouro de todo o mal, maldita manipuladora. O universo poderia ser resolvido pela união das pessoas e ideologias redentoras que fariam um mundo em que todos seriam iguais, todos com a mesma quantidade de dinheiro, de saúde, de consciência, um unipensar redentor e messianista da humanidade. Ai meus 30 anos.... (suspiro)