quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Rótulos e a vida alheia

Ter um rótulo é inevitável. Querer um rótulo já é patológico. O rapaz sai de casa com uma meia colorida ao estilo anos 70 – Dancin Days. (Só os que sorriem entre aspas das rugas entenderão essa referência jurássica da cultura pop) e uma pochete na cintura, outro artefato arqueológico dos anos 80 que atualmente só é visto em documentários do History Channel – Artefatos do Passado. Logo, alguém rotula de cafona.
Com um fundo de razão ainda que tivesse ouvido as frenéticas quando criança e usado pochete na minha adolescência, estamos diante de um rótulo atribuído. Tirando o fato de se você não paga as contas dele, não responde legalmente por ele e a meia estar sendo usada por ele, isso não ser de sua conta ou mesmo algo que gerasse a expectativa de sua opinião, você rotulou.
Mas os problemas são os rótulos desejados. Costumo dizer como são infelizes (ou não) as pessoas que não tem Facebook para dizer aos outros o quanto são felizes, conscientes, politicamente corretas, solidárias e sábias entre outras características que elevam os espíritos mais nobres de nosso tempo. Como são pouco nobres aqueles que não conseguem um bom marketing pessoal nas redes sociais.
A questão é exatamente essa. Cultuamos hoje muito mais uma imagem que queremos do que um conjunto de atitudes nobres que falem por si só. As discussões por qual tragédia é a mais adequada, é a melhor, enchem o facebook de tolos narcisistas que querem, no fundo, que o mundo se dane contanto que receba os likes de endosso a sua opinião que o fazem mais consciente, mais patriota, enfim, um ser humano melhor que destoa da espécie.

Por conta de um discurso de ponderação que sempre sustentei, completamente despreocupado com o que as pessoas vão pensar, já fui taxado do religioso, ateu, direitista, esquerdista, mas nunca de radical. Esse rótulo não me cabe em nenhuma das posições. Mas se considerarmos a minha insistência em não ser radical também seja o suficiente para ser visto como radical nessa posição. Não sei... tem maluco para tudo. E eu saio como se fosse o cara da pochete e da meia colorida, desatento ao que consideram, e procurando onde se encontra arquivo em que pedi a opinião ou o rótulo de alguém. Não tenho achado.

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