Consultório de médico, sala de espera de clínica médica, saguão de hospital... Já viu lugares mais preenchidos de tipos bizarros? Há aqueles que têm uma doença, aqueles que acham que tem uma doença e aqueles que gostariam de ter uma doença. Mas o tipo que mais me encanta é aquele que disputa doença e acha que sua doença é mais séria do que a de qualquer um. Sente-se ultrajado quando alguém relata uma doença pior que a sua, mas o pior é quando ele se vê diante de um colega que se vale da doença de outros para tripudiar sobre sua reputação de “o mais coitado”.
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sábado, 5 de dezembro de 2015
sábado, 27 de dezembro de 2008
Ao chato com carinho...

Tive um colega na adolescência que, sempre que queria parecer mais esperto do que era (e ele até era esperto), inseria na discussão um "mas o que você quer dizer com X". Na verdade, fui saber mais tarde (quando fiz análise do discurso) que essas intervenções, em excesso, dentro de uma conversa, são acessos de fuga e desvio de temática através da exaustão do autor/enunciador. O meu colega usava isso na intuição, mas usava.
Outra coisa é o filósofo em compotas. Ele lê e se posiciona, normalmente, como um eterno revolucionário com referências bibliográficas que lhe dão um ar de "quando você chegar ao meu nível de esclarecimento, teremos um mundo melhor". Na verdade, ele pouco produz de raciocínio próprio e muito reproduz do alheio. Suas intervenções são tão fora de contexto quanto sua camisa vermelha do Che e a célebre frase "Hay que endurecer..." vendida em uma loja de grife em um shopping. Normalmente, este tipo de colega usa frases como "Você que é inteligente vai concordar comigo..." Isso quer dizer que se eu não admitir seu ponto de vista como perfeito e verdadeiro, serei uma besta? Com certeza...
Na maioria das vezes, prefira ser uma besta.
Há também o eterno procurador. Procura polêmica onde sequer há algo e chama para si o direito de liberdade de expressão. Concordo com esse direito. Entretanto, nove em cada dez das suas polêmicas são produtos de conflitos e melindres pessoais e ele é capaz de descer a ripa em um texto sobre chapeuzinho vermelho por causa de suas referências fálicas (o cabo do machado do lenhador) do poder das classes dominantes e ver naquilo tudo uma ode a antropofagia cultura. Dotado de vasto vocabulário e pouco raciocínio, vê na polêmica a oportunidade de construir uma autoimagem para criar credibilidade, mesmo que essa imagem só convença a si mesmo. Odeia a Globo por que ela manipula a informação, mas se esquece que não há imparcialidade no "manusear da informação" e se parasse para pensar, não adotaria esse discurso, pois também está manipulando a informação.
E há o sou do contra sim e daí? Discordam de tudo e acham que a discordância é o seu crachá de intelectual. Ressuscitam polêmicas que já viraram cinzas e quanto maior o nível de seu interlocutor, mas esforço têm em construir uma máscara daquilo que nunca foram.
Diante das situações criadas, a coisa mais educada é o silêncio, um sorriso, um muito obrigado e a salutar distância porque esses colegas são, no fundo, profundamente chatos e isso dá uma canseira na gente.
Feliz 2009.
Em tempo: Eu achei a gravura desta postagem em um blogue chamado "frasesilustradas.blogueisso.com", um show de criatividade em gravuras baseadas em frases clássicas. Gostei muito.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Da série ambiente de trabalho VI: o prestativo mal compreendido.

Quando pediam um voluntário, logo ele pulava na frente, depois iria descobrir do que se tratava. Entendia que o chefe era alguém de visão e que precisava de aliados para cumprir sua trajetória messiânica. Achava isso de todos os seus chefes em sua vida.
Sentia o seu momento de glória em velório de parente do chefe. Podia chegar perto, fazer cara de profunda tristeza, bater no ombro e dizer: meus sentimentos.
Considerava sempre de bom tom levar para o chefe alguma lembrança de suas viagens: ora a Caxambu, ora Monte Sião, ora Belford Roxo na casa de uma tia de sua esposa. O importante não é o valor, mas a lembrança. Isso é o que marca.. sempre dizia e repetia.
Mas naquele dia, já eram 10 horas e Cornélio não tinha dado as caras. 11, 12, 13... e nada. Já iam ligar para casa dele quando chegou um menino trazendo um atestado médico. Cornélio havia sido internado depois de um grave AVC, mas o que comoveu a todos foi um detalhe nessa história.
Nos últimos instantes de consciência, ainda restou-lhe forças para um último ato...
Junto ao atestado havia um bilhete meio amassado escrito a mão de letra trêmula:
Chefe, se o senhor espirrar na minha ausência...
Saúde!
Leia também...
Da série ambiente de trabalho I: O doente conveniente... o coitadinho!
Da série ambiente de trabalho II: O preconceito... o perseguido!
Da série ambiente de trabalho III: O amigo do chefe
Da série ambiente de trabalho IV: O afilhado do Almeida
Da série ambiente de trabalho V: o bonzinho.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Da série ambiente de trabalho V: o bonzinho.

Mandava sempre uns 10 e-mails para você por dia com piadas, correntes, notícias de criancinhas desaparecidas. Astolfo adorava compartilhar. Quando foi nomeado chefe da seção, Astolfo marcou uma apresentação para descontrair os colegas em que apresentou duas horas de um vídeo sobre vinho que ganhou de presente de um cunhado dele. Astolfo queria ver os colegas bem informados.
Mas naquele dia, Astolfo tomou um baque na sua vida... Sobre sua mesa jazia um bilhetinho semi-aberto com os dizeres:
Astolfo,
Morre, desagraçado!
Ass.: anônimo.
Astolfo nunca imaginou que houvesse alguém naquela repartição que detestasse tanto vinho.
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Da série ambiente de trabalho III: O amigo do chefe
Da série ambiente de trabalho IV: O afilhado do Almeida
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Da série ambiente de trabalho III: O amigo do chefe

Benedito não era um puxa-saco não. Puxa-sacos são aduladores, bajulam sem porquê. Benedito era amigo do chefe e orgulhava-se disso. Estudou numa escola perto da casa tio do cara, conheceu o pai do homem numa farmácia uma vez, sabe o nome dos filhos dele em ordem do mais velho para o mais novo, compra pão na mesma padaria que ele. Enfim, quase irmãos.
Nunca foi a casa do chefe, mas pergunta sempre, quando o encontra, "como vai a esposa, D. Fulana? E as crianças?" com se fossem cumpadres. Quando tem um problema na empresa se oferece para interceder pelas pessoas junto ao chefe. Algo como "Benedito, rogai por nós pecadores". E lá vai Benedito. Não surte efeito porque o chefe está sempre ocupado, mas ele vai me ouvir... uma hora vai. Nunca entrou na sala do chefe, mas tem certeza que, no dia em que entrar, é para algo muito importante.
Afinal, o cara é seu amigo assim ó, ó. (esfrega os dedinhos)
De longa data...
Leia também...
Da série ambiente de trabalho I: O doente conveniente... o coitadinho!
Da série ambiente de trabalho II: O preconceito... o perseguido!
Nunca foi a casa do chefe, mas pergunta sempre, quando o encontra, "como vai a esposa, D. Fulana? E as crianças?" com se fossem cumpadres. Quando tem um problema na empresa se oferece para interceder pelas pessoas junto ao chefe. Algo como "Benedito, rogai por nós pecadores". E lá vai Benedito. Não surte efeito porque o chefe está sempre ocupado, mas ele vai me ouvir... uma hora vai. Nunca entrou na sala do chefe, mas tem certeza que, no dia em que entrar, é para algo muito importante.
Afinal, o cara é seu amigo assim ó, ó. (esfrega os dedinhos)
De longa data...
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Da série ambiente de trabalho II: O preconceito... o perseguido!
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Da série ambiente de trabalho II: O preconceito... o perseguido!

Era marcação.
O cargo de gerente, tiraram de Ramon assim, ó... do nada. Tudo isso, logo depois que ele preencheu errado uma série de guias da empresa e deu um prejuízo imenso. Mas era marcação, já havia visto gente errar outras coisas e nao deu em nada. Hoje, no bebedouro, perguntou as horas para um colega e ele respondeu assim: não sei. Deixei o relógio na sala... assim com um ar de "estou armando uma para você, por causa daqueles material de escritório que você tem enfiado na bolsa e levado para casa toda sexta-feira".
E a bronca do chefe na semana passada? Aquilo era isso mesmo, perseguição... Ah se era! Só porque foi grosseiro com um cliente chato, o patrão veio e deu uma chamada nele... Tem gente aqui que é grosseira e ele não fala nada. Mas como aconteceu com o Ramon, coitado do Ramon...
Tenho certeza de que é marcação mesmo, só porque eu vim de família humilde, estudei com dificuldade, trabalhei como garçon, vim de uma região pobre, ficam tentando me derrubar... ô , gente.. ô, gente!
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sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Da série ambiente de trabalho I: O doente conveniente... o coitadinho!

Se o trabalho que ele deveria fazer, e não fazia, acumulava, logo, uns colegas se apressavam em fazê-lo. Pobre coitado, tem problema de nervos, diziam. Na firma, durante uma crise, todos foram mandados embora, mas Adalberto ficou lá. Firme e forte,.. coitado... a esposa tinha problemas de saúde terríveis e ele ia de mal a pior a cada dia que passava.
Adalberto morreu aos 98 anos, saudável, dormindo...
No velório, alguns sussuravam:
- Vê só, foi Deus que o manteve vivo.. só Deus mesmo.
Adalberto sorria levemente no caixão como quem sentia um imenso alívio de uma gripe mal curada aos 10 anos e que virou um boato que lhe rendeu a vida toda de berço esplêndido.
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