sexta-feira, 2 de março de 2012

Um Indiana Jones em cada perfil

O facebook nos trouxe um sentimento meio confuso. Um misto de surpresa ou até mesmo inveja ao vermos alguns amigos/colegas/conhecidos de infância em situações, lugares, trabalhos, lazeres etc que impressionam. Acredite, isso, aos 40 anos, não é raro: ter amigos/colegas/conhecidos que viveram como Indiana Jones ou Lara Croft.

Algumas vezes, clico em uns perfis de velhos companheiros e descubro que desde o tempo em que nos conhecemos até hoje,que eles fizeram uma viagem religiosa à India, se engajaram na luta por um Tibet livre, mergulharam com Golfinhos das Ilhas Galápagos, saltaram de paraquedas sobre o deserto de Nevada/USA, ajudaram um grupo de dissidentes africanos a fugirem de um ditador sanguinário, escaparam de uma milícia talibã no Paquistão, viajaram toda a Europa com uma mochila e terminaram bebendo com sede um vinho vagabundo em uma ruela do Marrocos enquanto fugiam de agentes secretos ingleses.

O facebook se tornou uma terra fantástica onde podemos ser tudo aquilo que holywood nos mostrou que era ideal de vida, aventura, romance, comédia e suspense.

Nesse meio tempo, levanto da cadeira e vou buscar um analgésico e fazer um xixi, pois já estou sentado trabalhando há horas em um relatório e o facebook foi só um refresco.

Passo pela janela da sala e dou uma olhada para conferir. Realmente, não há agentes secretos espreitando minha rua. Nem umzinho... continuo a caminho do banheiro.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Quanto custa o carnaval? E quem paga a conta?


Entra ano e sai ano, sempre me pergunto isso. Quanto custa o carnaval? Não falo das festas nos sambódromos Brasil afora numa espécie de CTRL+C/CTRL+V do carnaval carioca, mas me pergunto sobre o custo colateral da festa. Qual o custo dos engarrafamentos? E dos acidentes? Qual o custo dos atendimentos médicos provocados pelos excessos? 
Qual o custo da limpeza? Qual o custo da segurança? E os banheiros químicos...? Quanto custam as festas de rua com seus conjuntos e bandinhas contratadas por prefeituras miseráveis para animar a multidão? E quanto custam os seguranças? Quanto custa montar o palco e as luzes? E os descontroles que geram danos ao patrimônio público ou privado, quanto custa pagar essa conta? E aqueles enfeites “sem vergonha que colocam na rua com iluminação adicional. Quanto custa aquilo?
E os mortos nas estradas, nas overdoses, nas brigas, nos excessos provocados pelas drogas e bebida (que para mim é a mesma coisa), qual o custo que se tem quando alguém morre e se projeta o ganho presumido com base na expectativa de vida e área de atuação? Quanto custa essa brincadeira toda?
Não. Não quero que a festa acabe. Acho que deve existir com seus excessos ou não. Só faço essa indagação para entender se, na relação receita despesa, estamos diante de um evento que nos dá grande lucro ou prejuízo. Acho que tudo isso deve existir, afinal, movimenta dinheiro para o comércio e serviços. Só me questiono é se o estado tem que financiar uma banquete onde só poucos comem os lucros. 
Que se dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, a começar por entregar a fatura para quem lhe é direito.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Quem disse que isso aqui é seu?


A maior ilusão da vida é a de pertencimento. Achamos que pertencemos a um grupo, a uma nação, a uma raça, a um clã, enfim, nós pertencemos ao mundo e aos pequenos mundos que existem nele. Acreditamos, na outra via dessa mão, que o mundo nos pertence, que são nossos os filhos, os amigos, a mulher/marido, os parentes, o emprego, os títulos, os carros, imóveis tudo. E, nesse fluxo, vivemos como se a nossa vida fosse eterna, como se fôssemos ser donos de tudo o tempo todo para sempre.
O problema é que a vida é mais curta do que se imagina e, a nós, nem o nosso corpo pertence. Ele é matéria orgânica no aguardo de ser consumida por vermes. Nem seus olhos, que, nesse momento, servem para ler este texto são seus. A vida lhe deu o direito de usá-los por um tempo que está em aberto. Pode ser de meses, anos ou décadas. Mas ele não é seu. Eles não lhe pertencem. Assim são todas as coisas.
A maioria das inimizades e desavenças em nossa existência são decorrentes de brigas que temos porque alguém ameaça nos tomar aquilo que não é nosso (e nunca será). Aliás, nem é dele (de quem quer tomar). Nessa ânsia de resguardar tudo isso que não me pertence (títulos, cargos, dinheiro, bens, etc...), matamos aquilo que realmente nos é de direito, o afeto que cultivamos. Isso sim é nosso de verdade e levamos mesmo depois que os vermes devorarem o nosso último pedaço de carne putrefacta.
Desprezamos esse afeto, ignoramos nossa finitude, agarramo-nos ao sentido de pertencimento a um mundo em que podemos ser tudo, menos parte dele. Estamos nele, de passagem, por um tempo cruelmente não determinado, exatamente para que possamos aprender o quanto não lhe pertencemos.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Enfermagem de verdade, ofício para poucos

Leciono no curso de enfermagem há alguns anos e me faltou, nesse tempo, oportunidade dizer aos meninos e meninas de lá como eu os admiro. Muito alunos de alguns cursos da área de saúde querem é desfilar com jalequinho branco para todo mundo dizer: olha, lá vai um futuro “dr”. Hã.. como assim doutor? Bom, mas isso é outra história.
Os enfermeiros não. Raramente os vemos desfilando de jaleco embora no ambiente de trabalho usem as mesmas roupas que os “doutores”. (Hã..? Como assim de novo? Ah deixa pra lá.) O enfermeiro é uma espécie de médico a quem não cabem as glórias e o status dos homens de branco. Afinal, eles fazem o serviço pesado. Limpam cocô, tratam feridas purulentas, colocam sonda, carregam idosos quase desmontando as peças de tão debilitados, tiram sangue, recolhem urina e fezes, limpam o vômito e no meio dos excrementos humanos não há espaço para a glória. Quando muito gratidão, mas não glória.
Isso é vocação. Cuidar do próximo no sentido mais amplo da sua palavra, no sentido de ser as mãos que limpam e recuperam quando as suas mãos não mais atendem a essa função. Isso é doação. No final do expediente, os jalequinhos brancos  ficam pendurados no local de trabalho, pois eles sabem que jaleco não é roupa de grife e que rua é ambiente infectado para se desfilar com roupa que frequenta local com pessoas, muitas vezes, frágeis e expostas a todo tipo de infecção.
Não esperam o muito obrigado, não aguardam o rótulo de doutor, até porque, por sensatez, sabem que  doutor é quem cursou doutorado e não quem só fez a faculdade e se veste de branco.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O tolo orgulho de macho. Episódio: O Mirradinho


Com o esfriar do casamento e o amornar da cama, Ariovaldo começara há algum tempo com propostas quase perversas para sua esposa. Lá pelas tantas, dera de insistir em variar, buscar caminhos e entradas diferentes para o prazer. (Se é que você me entende) O excesso de filmes pornográficos estava virando sua cabeça e vez por outra ele retornava ao assunto. 
- E aí? Vamos tentar hoje?
- Ariovaldo, não inventa. Não quero. Não gosto.
- Opa! Isso eu não sabia. Como assim “não gosto”? Então você já experimentou com outro?
E as insistências de Ariovaldo prosseguiam nos dias seguintes.
- Quer dizer que com outro pode. Comigo, que sou marido, não pode? É... Veja como são as coisas...
E toda noite era a mesma novela.
- Amor, se doer eu paro.
- Nãããõoo! Já falei.
Ele fazia muxoxo e ficava de bico durante dias.
Um dia, numa insistência daquelas, ela disparou.
- Olha, Ariovaldo. Não quero fazer com você porque tenho medo. Você é muito grande, longo, avantajado.. enfim.. Tenho muito medo disso. O meu ex era mirradinho, curto, fino.. não me assustava em nada.
O marido ficou parado por uns instantes. Assimilou cada palavra daquela revelação tão íntima. Virou para o lado e dormiu com um sorriso discreto. 
Durante meses não tocou mais no assunto. Certo dia, após ser demitido do emprego, chegou em casa com a autoestima em baixa, sentia-se o menor dos homens. Estranhamente voltou a insistir com a mulher de novo naquela tara. Queria porque queria. A mulher percebeu a intenção e repetiu o não seguido das justificativas dadas antes.. 
Ele se virou para o lado e dormiu com um sorriso no rosto. Coitado do mirradinho.... “mirradinho”, pensava com tom de desdém, ele, o grande, o longo, a avantajado.
E ela também dormia... aliviada. 

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Palavras esquistas e seus referentes


Tem gente que tem horror a palavrão. Eu não. Acho que um palavrão bem dado e na hora certa alivia, desestressa, te coloca no eixo e no controle da situação (Foi o Leandro Hassum que disse isso e é verdade). O que me incomoda são as palavras estranhas. 
Nos últimos anos, desenvolvi um critério para avaliar o que é estranho e seu grau de estranheza (pelo menos para mim). Palavras de origem indígena que parecem ser pronunciadas por um índio fanho. Cauã, Inoã, anhanguera, pindamonhangaba, por exemplo. Essa última, as crianças só devem aprender a falar depois dos 5 anos de idade... palavra legal, mas grande e muito nasalizada.
As palavras que parecem ritmos também são bem estranhas. Lembro que a Gretchen cantava uma música Conga, conga, conga... Eu achava esquisitíssima essa música (os gritinhos dela também eram esquisitíssimos). E, há alguns anos, tinha um conjunto que cantava uma música chamada "Assereye" (sei lá se é assim que se escreve)... Outro dia, vi que tem uma música chamada kuduru (ou um ritmo chamado kuduru, também sei lá se é isso mesmo...). 

Cheguei à conclusão que Gretchen nem era tão estranha assim...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Uma gaveta de memórias



"Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim"
(Paralamas do  Sucesso, Tendo a Lua)


Janeiro é mês de revirar gavetas em buscas de lixo de papel para começar o ano no zero a zero com a rotina. Eu revirei as minhas, rasguei meus papéis e descobri no meio de tantos clipes, papéis, lápis quebrado, canetas que nem escrevem mais, um monte de pedaços de saudade. Notas fiscais que lembram uma compra, um momento, o primeiro colchão de casal. Romântico, não? Pois é. Era um Orthobon que custou... ah.. não importa. O que me ficou foi o passeio ao shopping para comprá-lo.
Há fotos que contam histórias de alunos-amigos ou amigos-alunos, tudo é uma questão do lado  que se olha. De amigos que ficaram e outros que morreram ainda que estejam “vivos”. Papel de bala e um guardanapo de companhia de aviação. Uma borracha velha e um monte de cartões de natal que teimam em morar na minha gaveta há anos. Em tempos de internet, eles não querem sair medo de bullyings dos emails. Não lhes tiro a razão.
Juntei meus cacos, rasguei meus trapos, poupei os mais entranhados na minha história. Os outros rasguei para não ocupar volume nem no meu cesto de lixo, nem em mim. Os que ficaram na gaveta, viram-me fechá-la lentamente com a promessa de voltar a vê-los ano que vem. Numa outra faxina de janeiro... A casa fica bem melhor assim.
Te vejo em 2013, Janeiro.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Onde o crime compensa


Nos últimos tempos, tem pipocado Brasil afora alguns grupos de consultoria na área empresarial de todas as formas. Inclusive alguns que têm à frente políticos que prestam assessoria/consultoria a empresas que precisam de uma ajudinha. Mas ajudinha para quê?
Muitas dessas “empresas” possuem executivos à sua frente muito bem qualificados e estruturas que funcionam. Então ajudinha para quê? Para crescer, diriam alguns. Mas se existem pessoas com competência suficiente para gerir o negócio com resultados, qual seria o viés para crescer acima do normal dentro da legalidade? Que fórmulas mágicas trazem esses consultores que ninguém sabe e só eles guardam como segredo?
É simples. O que muitas empresas querem é um serviço que as prepare para gastar menos mantendo a receita e isso se dá através de corte de gasto máximo (comprometendo a qualidade sempre) e sonegação aberta via fraudes fiscais. Dessa forma, alguns profissionais de “consulting” como muitos se autodenominam se tornou um especialista em economia-porca e crime fiscal. Só não sabe isso quem nunca atuou em cargo de chefia em uma instituição privada.
No caso de o profissional ter ligações com o governo, é pior ainda, pois envolve uso de informações privilegiadas e tráfico de influência, coisas descaradamente praticadas de Norte a sul no Brasil. Criou-se no País uma ramificação do crime que vale a pena e que se encontra escondida nas brechas da lei, uma atividade profissional que se especializou no desenvolvimento do delito legal, da infração escondida nas entrelinhas de uma legislação mal elaborada e/ou mal intencionadas.
Sei que há gente séria no meio e fico feliz quando encontro com um que não tenha um histórico passível de enquadramento no código penal.
O crime, no Brasil, ainda vale a pena... Depende de onde.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A pirataria e a hipocrisia nossa de cada dia


A hipocrisia é o que torna suportável a convivência entre humanos e, ao mesmo tempo, o que nos torna mais humanos na acepção mais plena da palavra. Nos últimos tempos, vejo alguns colegas de internet, internautas comuns, assumirem uma postura radical contra tudo que se copia da internet sem pagar direitos autorais, de um programa a uma foto. Comparam a pirataria a um crime como tráfico de drogas, contrabando, roubo a mão armada ou coisa parecida.
Eu me pergunto se houvesse um programa que destruísse todos computadores que possuem algum software pirata ou uma música ou imagem que não recolheu direitos autorais quantos computadores restariam na internet? 
É importante, antes de começar a conversar sobre pirataria, definir o que é pirataria. Pessoalmente, entendo como o uso de produto intelectual que não é de sua autoria para obter dinheiro decorrente de venda a terceiros. Ou seja, o colega que me passa um arquivo de mp3 não é um perigoso pirata que a ameaça o planeta e a sociedade judaico-cristã-ocidental. Ele não está lucrando com isso. Esse é o problema número um: controlar o conceito de pirataria.
Outra coisa, cópia incomoda porque não arrecada. Por conta de alguns, a ideia seria que pagássemos uma taxa cada vez que ouvíssemos uma música. Alegam que tira emprego do músico copiar. Tira não. Músico ganha mesmo é com show, muitos músicos menos conhecidos nunca viram a cor de direitos autorais ou viram uma pequena parcela do que tinham direito. Isso tira é arrecadação fiscal num país que acha normal vender um CD por mais de 25 reais.
Não estou defendendo cópia ilegal. Estou chamando você à reflexão.
Para aqueles que assumem um discurso radical contra toda e qualquer forma de pirataria, torçam para que nunca inventem um programa destruidor de computadores como eu falei.

Ah sim... Dentro da lógica vigente, quando comentar esse texto, uma produção intelectual de minha autoria, solicito que façam a citação e depositem em minha conta o valor de 0,50 por comentário falado e 1,00 por formato escrito. Os meus direitos autorais agradecem.

Em tempo: Pirataria sozinha não tira emprego. O que tira emprego é juros altos, carga tributária abusiva, mau uso do dinheiro público, corrupção, encargos trabalhistas pesados... enfim, há mais coisas na lista dos vilões.