sábado, 6 de agosto de 2011

A prostituta.

Empresário de sucesso, tinha tudo que o dinheiro lhe podia comprar. Mas nunca havia transado com uma prostituta de luxo. Namorara modelos, mulheres de sucesso novas ou mais velhas. Mas uma prostituta de luxo mesmo. Nunca.
O serviço foi contratado pelo telefone com base em fotos de internet e, mal ela entrou em seu flat, ele percebeu que o quanto eram odiáveis os inventores do photoshop. No telefone, ela dissera que talvez demorasse um pouco pois iria se arrumar para ele. Quando abriu a porta, lembrou disso e, por um instante, tremeu ao pensar como ela seria desarrumada. Tomou-lhe, então, o dilema dos dilemas, dispensar o serviço alegando alguma coisa ou, como nos tempos de infância, aceitar para não fazer desfeita. Poxa, tava uma merda, mas ela tinha feito o melhor, se arrumado, se pintado, se perfumado e você iria fazer uma desfeita dessas. Viu a cara de reprovação de sua mãe na hora. 
Vestida ela era ruim, mas nua, dava uma saudade de vê-la vestida que fazia o ruim até parecer nem tão ruim. Sua fé se abalara naquela hora. Nada o tiraria daquela furada.
A conversa foi breve, ela tinha pressa. Despiram-se sem cerimonias. E ele pensava como seria o tempo restante das duas horas de serviço e companhia. Mas ela tinha pressa. Ele se serviu meio que a contragosto e a viu se vestir apressadamente. Ela explicou que o serviço dela era uma gozada ou até duas horas. Ficou surpreso com esse detalhe.
Ele pagou. Despediram-se.
Deitado na cama depois de um minucioso banho pensara que aquele fora o dinheiro mais bem pago que ele já empregara para não fazer mais nada. Sua fé retornava aos poucos nesse momento.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Vou estar fazendo- anatomia de um vício

No meio do meu descanso toca o telefone.
“Boa tarde, senhor (atentem ao ‘r’ vibrante). Aqui é da Mega Plus International que por sua boa relação como cliente vai estar disponibilizando totalmente grátis sem nenhum custo adicional o Ultra Mega Plus Card com todas as vantagens do programa especial Mega Plus Services, vai estar também oferecendo (por favor, com uma epêntese do /i/, logo, ofereceindo)...” Pronto, já me perdi no gerúndio desnecessário dela.
- Obrigado pela oferta, mas não vou estar quere(i)ndo.
- Mas senhor... Insiste. Mas que vantagens o seu cartão já oferece...
- Não oferece vantagem nenhuma, mas o que rola entre a gente é uma relação sem interesse, é só amor mesmo...sabe aquele não querer mais que bem querer de Camões.
A atendente de telemarketing se despede, mas não sem antes rir do outro lado da linha.
O fato é que o gerúndio é uma forma nominal em português que projeta o aspecto durativo em um evento verbal. Eu estou escrevendo é uma maneira de dizer que no momento atual (que não é necessariamente agora) eu estou exercendo a atividade de escrever. Sendo assim, é uma aplicação aspectual muito pertinente ao tempo presente e a casos de formas de pretérito (Ontem, eu estava escrevendo quando...), mas não muito necessária ao futuro. Na verdade, é até dispensável.
Não vamos fazer um cavalo de batalha com isso, mas de uns tempos para cá algumas modalidades de discurso como o telemarketing exauriram este emprego do gerúndio assim com em certas épocas outras modalidades desgastaram termos repetidamente como “a nível de”, “eu, enquanto, X” e outras pérolas que pareciam (?) dar ao usuário um ar de intelectualidade.
A bola da vez é o gerúndio. Podemos argumentar que é uma tradução mal feita do inglês (I´m going to be offering / vou estar oferecendo) ou mesmo que, de fato temos uma ação durativa no futuro. Entretanto, o fato é que muitos verbos indicam que o evento será realizado em um ponto no tempo (vai oferecer, por exemplo. Você oferece em um momento e ponto e não faz disso um processo que se estende). Por outro lado, o gerúndio se aplica bem em casos como “Amanhã, a esta hora, vou estar falando para mais de 100 pessoas. O verbo falar esta modulado por um gerúndio que aponta nitidamente para uma ação de discursar.
Aos operadores de telemarketing, sugiro a substituição por um presente com valor atemporal (a Mega Plus International oferece ao você, sem nenhum custo adicional...). Diriam eles que isso é menos expressivo do que o gerúndio. Mas aí eu pergunto: Por quê? Tecnicamente, é até mais amplo.
Enfim, fica aí a sugestão.
Da próxima vez, com certeza vou estar sugerindo isso..
Viu como fica esquisito?

sábado, 30 de julho de 2011

Entendendo a lógica perversa do maluco da Noruega

Para início de conversa, ele não é maluco. Esse rótulo só interessa ao advogado dele. Entende-se por louco uma pessoa que rompe com a realidade e passa a agir em função de um universo pessoal que se bate com o real. Ou seja, para o louco, dinheiro pode ser rasgado, cocô pode ser comido sem problemas, pois não se trata de atitudes que violem as leis naturais do universo dele. O que rege o universo do real não lhe importa, pois ele o nega e mesmo o desconhece.
O problema é que o terrorista atirador da Noruega representa uma parcela do pensamento direitista da Europa que acredita, mesmo contra todas as provas científicas que negros, mestiços, judeus e homossexuais são a causa de todas as desgraças do seu continente. Encontraram um culpado para seus problemas e batem nessa tecla há séculos. Esse pensamento já derrubou o velho continente e o enfiou em guerras dezenas de vezes.
Mas digo tudo isso por que o que me preocupa não é o maluco(sic) terrorista atirador da Noruega, nem o pensamento tacanho de uma extrema direita estúpida do velho mundo, mas o cidadão comum, classe média, nível de instrução média, raciocínio médio que compõe a imensa maioria de eleitores e que a cada ano aceita sem pensar a lógica perversa e torta do famoso aforismo “o inferno são os outros”.
O caso da Noruega destrói algumas vidas e expõe a ponta de um iceberg, o cidadão que aceita a extrema estupidez direita vota e destrói milhares de vidas, promove facínoras, legitima ditadores e sustenta os regimes autoritários que afundam as nações e a humanidade na escuridão e no atraso. 


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Manias esquisitas dos falantes de português


Somos a terra dos falantes HIPERBÓLICOS. Aqui as pessoas falam que isso ou aquilo é a oitava maravilha (na verdade só havia até pouco tempo 7), morremos de fome e continuamos vivos e ficamos carecas por saber algo durante muito tempo.
Mas o mais engraçado é o caso da frase “concordo com você em gênero, número e grau.” Pois é. Gênero e número, tudo bem. Mas GRAU. Bom, aí vai uma aula de graça:

Ao contrário do que trazem algumas gramáticas, grau é uma derivação ou como chama MATTOSO, uma derivação é voluntária (derivatio voluntaria). As pessoas flexionam porque querem, não porque “tem que”. A concordância se dá efetivamente com as flexões, não necessariamente com as derivações.

Dessa forma, concordar com o grau é um extremo mesmo. Corresponderia a dizer:

Um caderninho pequeninho minúsculo

Esquisito, mas expressivo!
Obs.: Saca o bumbumzinho pequeninho da moça da foto. Não é montagem. Isso é que é uma hiperbole in natura.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Não dá para não pensar besteiras


Quando estive na Argentina, deparei-me com essa placa. Lembrei de um aluno meu de graduação que, um dia, veio todo sério dizer que, durante uma aula de espanhol, os alunos dele pediam que ele dissesse que expressão era aquela escrita e ele repetia: MIENTRAS, gente, MIENTRAS... Ele me disse que repetiu algumas vezes até perceber a sonoridade da palavra em Português.
Não pude deixar de rir quando vi esta placa em Buenos Aires.
Logo a frente encontrei a placa a seguir.


A gente até não quer pensar besteira, mas não tem jeito.
Dá até para imaginar que os portenhos são hostis aos turistas, mas não são não.

sábado, 23 de julho de 2011

Filhos, melhor não os ter... Será?

Camões nunca se casou e nem teve filhos, mas sinto que o soneto 11 dele se aplica muito bem a quem os tem. Filhos, filhos, filhos... melhor não os ter.. Diria o poeta. Será? Depois deles, a liberdade de ler um livro ou sair para uma peça de teatro demanda uma logística quase de operação militar com babás, vovós, listas de recomendações. Isso é um estar preso por vontade e é um ter por quem nos mata (pelo menos nossa liberdade) lealdade. Ficamos horas dedicados 100% a eles, brigando, dando bronca, rindo... e quando dormem, deixam um gostinho de saudade do tempo que estavam acordados exigindo toda nossa atenção. Isso sim, é um contentamento descontente, uma dor que desatina sem doer.
É cuidar de alguém que você sabe que única coisa que é certa é que um dia, ele irá sair pela porta e cuidará de sua vida. Sua casa ficará vazia novamente e você voltará ao solitário andar por entre a gente. Afinal, amar os filhos é cuidar que ganha em se perder.
E mesmo sabendo disso, amamo-los. E quem passa pela vida sem os ter dificilmente conseguirá entender o significado da palavra perda e da palavra medo.

Realmente, sem amor, eu nada seria... obrigado Daniel e Bruno por essa lição de cada dia.


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Cidades esquecidas.. estados esquecidos

De tempos em tempos, viajo pelo Brasil a serviço do MEC avaliando instituições de ensino. Em termos de dinheiro, não posso dizer que isso seja altamente gratificante, mas, em termos profissionais e humanos, há uma experiência inestimável que adquirimos nesse serviço. 
Na maioria das vezes, sou designado para cidades de pequeno e médio porte do interior do país que possuem instituições a serem avaliadas. Em meio a papéis, relatório e entrevistas in loco tenho sempre tempo para conhecer um pouco mais sobre aquele lugar ao qual fui designado e, possivelmente, nunca mais voltarei. A oportunidade ali é única e eu sempre aproveito.
Do nordeste ao centro oeste e daí a região norte, conheci um Brasil de cidades que nem o Brasil sabe que existe muito bem. Cidades que estão no mapa do IBGE, mas nunca as vimos quando olhamos. Cidades em que a riqueza do garimpo contrasta com a miséria da população, é o ouro maldito. Cidades em que a saúde fica a cargo dos alunos do curso de enfermagem, pois o poder público não oferece profissionais suficiente para atender a população. Cidades de ruas de terra a cem metros do centro, cidades que só carregam o nome de cidade porque um coronel local brigou para transformar sua área de ação em uma unidade estadual e, agora, junta-se com outros coronéis para formar uma unidade federativa alegando que o estado a que pertencem é muito grande e eles são esquecidos. Mas não informam que não terão com que se sustentar e a população continuará sendo esquecida.
Quem será lembrado serão os políticos que poderão criar mais cargos para seus apadrinhados e não terão que se preocupar com os custos do estado já que a união pagará essa conta em nome da “democracia”. 
Conheci cidades esquecidas que se tornaram propriedade de um outro senhor de terras, agora caminhamos para conhecer estados esquecidos sustentados pela federação. Como se não bastassem as contas que pagamos já existentes, em nome da “democracia” ampliamos nossa dívida.


sábado, 16 de julho de 2011

Quarenta anos.... a vida começa quando mesmo?

A vida começa é quando a gente nasce e termina, por razões óbvias, quando a gente morre. E ponto final. Aos diabos com os aforismos. Fala-se de crise da mulher, menopausa etc, mas e o homem? É barra fazer quarenta anos, um momento em que nossos traseiros ficam muito mais atraentes do que qualquer parte de nosso corpo uma vez que é ali, no bolso de trás, que carregamos a carteira e o documento do carro. 
Saímos da categoria homem de 30 e entramos na categoria tio. Daí, só há um caminho, a categoria Tiozinho ou coroa. Esse mundo era um campo totalmente desconhecido por mim e, como diz o Veríssimo, uma terra habitada somente pelos meus pais, tios e outros cuja convivência me davam uma sensação de “nossa! Como está longe isso para mim”. Pois é, não estava.
Aprendemos que os cabelos brancos ou a falta deles dá um certo ar de credibilidade, embora retire todo tesão que possamos despertar em qualquer criatura do sexo feminino. Aquele papo de que cabelo branco ou calvície é um charme é algo mais ou menos como “adoraria ter um tio legal  com cabelos brancos bem padrão. Igual aos programas de TV”. Sei não.. mas isso não é em nenhum momento elogioso e em nada contribui para minha autoestima de macho da espécie. 
Passamos a agregar definições a nós como super inteiro, super conservado, ou super qualquer coisas que não pareça caindo aos pedaços como era de se esperar de alguém da sua idade. Mais um tirambaço na sua autoestima (se é que você ainda ficou com alguma depois da história dos cabelos e da calvície charmosa).
Mas é isso. Tempo em velocidade avançada. Envelhecer é uma arte. A arte de entender que o tempo passa para todo mundo e que a única maneira de interromper esse processo é morrendo. Opção que, por hora, descarto. Não, muito obrigado.
E, antes que a mocinha que está me lendo me pergunte, eu respondo:
- Não. Provavelmente, eu nunca trabalhei com o seu pai ou mãe e não, eu não sou parecido com aquele tio seu que você não vê há anos. É impressão sua.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Onde os "defensores dos direitos humanos (sic)" se perderam

Na década de 70, 80 e 90, os arautos dos direitos humanos (jornalistas, advogados, sociólogos, esquerdistas de toda ordem etc...) ganharam espaço na mídia com uma ferrenha oposição aos regimes autoritários. Os regimes caíram um após outro como num dominó. Depois vieram as mazelas sociais, que pipocaram na mídia quando o foco não era mais a repressão política. Mas o assunto bateu.
Era preciso fica na mídia e cumprir os 15 minutos de fama e, obviamente, projeção que gerava dinheiro.
Foi aí que se perderam, pois passaram a aparecer na mídia como paladinos da causa bandida e inverteram o discurso demonstrando (???) que se você parasse no sinal e tomasse um tiro na cabeça dado por um bandido a culpa era sua que não deu oportunidade aquela pessoa que, a exemplo mito do bom selvagem de Rousseau, era puro e bom, mas corrompido pelo meio que você criou e sustenta.
Só faltava ao final do discurso um “ bem feito” culpa sua. Ops...
Aí se perderam. A escalada da violência atingiu níveis absurdos na década de 90 capitaneada pelas drogas, pelos traficantes, pelos policiais e políticos corruptos e alimentadas pelos garotinhos de classe média que não eram viciados, fumavam maconha e cheiravam pó, mas podiam parar quando quisessem. Era uma versão ilegal do “bebo socialmente” e paro quando quiser.
Do Carandiru para cá, outros tantos massacres se seguiram sob o descaso da mídia, o desinteresse da classe política e anuência da sociedade. Sabe por que? Porque as pessoas atingiram um ponto de insensibilização. Ou seja, cansaram... E diante da notícia de mais X traficantes/bandidos (ou não) mortos em uma ação da polícia, respiram aliviadas e voltam ao jantar diante da TV.
E os defensores dos direitos humanos (sic) sem a mídia, perderam a razão e entenderam que deveriam ter buscado apoiar as famílias vítimas dos marginais. Isso talvez lhes garantisse, ainda hoje, mais alguns minutinhos de exposição nesse circo de horrores da vida real.