quinta-feira, 21 de abril de 2016

Deixa ver se eu entendi...

Dúvidas 1
Eu pago imposto, o governo pega o meu dinheiro para construir uma estrada, constrói. Pronto, até aqui tudo bem. Aí, ele cede a concessão para uma empresa particular, eu continuo pagando imposto. Bom, até aqui foi. E aí, a empresa cobra para eu usar uma coisa pela qual já paguei e continuo pagando. Certo? É. Acho que eu entendi. Só não achei bacana.

Mas entendi.

Dúvidas 2
Bom, eu posso abater meus gastos com saúde no Imposto de Renda. Aí eu vou ao médico, ele me cobra 80 reais de consulta. Saio de lá com uma lista de remédios. Legal, acho que até aqui deu para acompanhar. Vou a uma farmácia, compro os remédios e gasto 450 reais. Tudo bem?! Bem, aí eu só posso abater os 80 já que os 450 não são vistos como despesas médicas, gastos com saúde. Huuummm... Entendi de novo, mas continuo não gostando.

Dúvidas 3
O problema é o número de reprovações no ensino fundamental na rede pública, certo? Bom, aí o governo aprova uma lei que proíbe reprovar. Ok, até aqui foi. Aí, uma vez que não se pode reprovar, todos são aprovados... É isso mesmo? Bem, então, acabou o problema com alunos reprovados no ensino público. Certo?



P.S.: Cansei de entender. Estou começando a preferir a ignorância.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Coisas nossas, falas nossas


Manias esquisitas dos falantes de português

Somos a terra dos falantes HIPERBÓLICOS. Aqui, as pessoas falam que isso ou aquilo é a oitava maravilha (na verdade só havia até ano passado 7), morremos de fome e continuamos vivos e ficamos carecas por saber algo durante muito tempo e, às vezes, ainda temos cabelo (menos eu, claro)
Mas o mais engraçado é o caso da frase “concordo com você em gênero, número e grau.” Pois é. Gênero e número, tudo bem. Mas GRAU. Bom, aí vai uma aula de graça:

Ao contrário do que trazem algumas gramáticas, grau é mais uma derivação ou como chama MATTOSO, uma derivação é voluntária (derivatio voluntaria). As pessoas flexionam porque querem, não porque “tem que”. A concordância se dá efetivamente com as flexões, não necessariamente com as derivações.

Dessa forma, concordar com o grau é um extremo mesmo, uma hipérbole (um exagero). Corresponderia a dizer:

Um caderninho pequeninho minúsculo

Esquisito, mas expressivo!

Obs.: Acho que a moça da foto exagerou na maquiagem...

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Curtas histórias II - O mal que carrego em mim

Naquele empresa, todos buscavam o sucesso a qualquer custo. Cargos, gratificações, e até quem sabe, um prédio que levasse seu nome como homenagem em vida. Afinal, não se esperaria a morte, pois a vaidade tem que ser alimentada em vida. A morte cessa sua fome, ou a faz vã.
Ele destoava daquele teatro. Não conseguia lutar por cargos, gratificações, honrarias. Sua vaidade já era nutrida pela satisfação plena de ser como se é e não como o meio o queria. Entretanto, o seu modo de ser incomodava e não tardou para que articulassem sua expulsão, afinal, todo o seu desinteresse era a maior manifestação da "soberba de sua humildade". Pois, então, depois de fazerem de sua vida algo perto do inferno por um tempo, eles o expulsaram.
Na saída, contemplavam satisfeitos os passos do homem que se afastava alongando sua sombra. No coração não carregava ódio pelo mal que lhe fizeram, mas a certeza de que saíra como entrara e não caberia rancor contra aqueles que estavam eternamente condenados a serem o que eram.

Moral da história: Não é ruim o mal que fazem conosco, ruim é o que deixamos que esse mal nos faça. Aquele que cultiva a maldade carrega consigo a maior punição que se pode impingir a um espírito: ser o que ele é até o fim dos dias. 

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Curtas histórias I - O sinal

Agonizava o bandido com o tiro que recebera. Buscou no bolso da calça o celular com as fotos afetivas que guardava. Sua história estava ali. Teclou com suas últimas forças e clicou no arquivo de foto como que guiado por algo maior e além de sua compreensão. Abriu aleatoriamente as fotos na primeira pasta que tocou. Suas mãos eram guiadas por uma força incompreensível naquele momento.
Apareceu na tela uma foto feita na semana anterior de uma etiqueta de preço de uma prateleira de desinfetante no supermercado. Havia tirado para comparar preço. Clicou de novo. Abriu uma foto de um prego que havia entrado no pneu do carro que havia tirado para mostrar aos amigos o estrago. Não desistiu. Sentia-se guiado por uma presença suprema e abriu outra. A terceira vez seria a marcação da santíssima trindade, o sinal divino. Era nessa tentativa que sua mão lhe guiava. Então surge a sua frente um nude de peitinhos de fora de uma garota que lhe passaram pelo Whatsapp no dia anterior.
... Pensou...

Aquilo era de fato um sinal presente a primeira mensagem: a vida não tem preço e a morte é a grande limpeza da alma.
Suspirou e desprendeu-se do corpo físico rumo ao desconhecido.

Moral da história: Quando a gente quer entender o que desejamos entender, urubu é pomba da paz.

domingo, 27 de março de 2016

Aviso desnecessário

Outro dia vi um daqueles mágicos que fazem e explicam a mágica (êta coisa sem graça!) fazer um truque em que havia uma caixa no meio de duas rampas. De um lado havia uma serra circular de uns 120 cm de diâmetro, de outro, outra serra do mesmo porte. À frente, havia um grande maçarico e, em cima, uma bigorna. O cara entraria na caixa, as serras desceriam dos lados, a bigorna cairia e o maçarico queimaria as laterais mostrando o mágico que não teria sofrido nada.
Antes de começar o truque, o locutor avisou:
- Não tentem fazer isso em casa!

Um aviso muito prudente e bem apropriado, já que a coisa mais comum é uma pessoa ter em casa, duas serras circulares de 120 cm de diâmetro, um maçarico, uma bigorna, duas rampas e uma caixa de madeira do tamanho de uma geladeira...
Eu, por exemplo, guardo essas minhas coisas sempre longe do alcance das crianças, perto dos remédios e dos produtos de limpeza.


quinta-feira, 17 de março de 2016

O artista, o ativista e a baita confusão

As pessoas teimam em confundir as coisas. Sabe aquela história do ator que faz papel de vilão na novela e é hostilizado na rua por aquela tiazinha de idade que não sabe diferenciar o ator do personagem? Pois é... Todo mundo conhece a história de um ator que fez papel de mau e acabou ouvindo uns bons desaforos na rua, não é?
Pensei sobre isso tempos atrás quando vi Chico Buarque sendo hostilizado por alguns caras na saída de um bar no Rio. A pergunta que fica no ar é: pra quê? Ele vai mudar de opinião sendo xingado? O cara que xingou vai receber uma comenda de a pessoa mais consciente do mundo? Alguma coisa vai mudar com esse ato de hostilidade? Não! Perda de tempo, ofensa desnecessária (se é que existe alguma ofensa necessária!?) a um dos maiores ícones da MPB que continua sendo um dos maiores ícones da MPB independente do que ande falando por aí.

segunda-feira, 14 de março de 2016

O texto, o contexto e a má fé

Certa vez, eu conversava com um colega sobre literatura e falava do quanto admirava obras de alguns autores como Nelson Rodrigues. Ele torceu a cara e disse, Nelson Rodrigues é um machista. Fiquei surpreso com a afirmativa, pois pensei que a contextualização do autor era óbvia. Ao que eu completei que sim, que ele era machista, inclusive que Monteiro Lobato, provavelmente, era racista, que Wagner (compositor) era antissemita (Nietzsche também...) e que a bíblia era homofóbica no velho testamento (ainda mais se você focar em Levíticos, um livro escrito no século XV a.C...) Ah sim.. e que Zumbi talvez tenha tido escravos. E qual o problema de se ter tido escravos no século XVII?
Pois é... Retirar o texto e o fato de seu contexto é a maneira mais cruel de não se entender nada e sair propagando sua bela consciência social que o torna o melhor dos seres humanos que já pisaram na terra. Ah sim... E se recusar a acessar a ler o livro por causa da capa.

quinta-feira, 10 de março de 2016

O chato e o mau hálito

Há uma sutil linha que nos permite comparar o chato com o cara que  tem mau hálito. A primeira coisa é o cuidado para se falar do tema com a pessoa em questão e não ser mal entendido ou arrumar um inimigo. Não é legal ter desafetos, mesmo que seja o desafeto de um chato. 
A outra é a ilusão tanto de um (chato) quanto de outro (cara com mau hálito) de que quem sente o efeito de sua presença é só o outro, e no singular mesmo. Nunca no plural. Ambos não reconhecem que tem problemas que incomodam os outros quando eles chegam perto e que, definitivamente, o problema não está com os outros, mas com ele.