sábado, 24 de setembro de 2011

Por uma questão de lógica, negros e mulheres são seres superiores a brancos e homens?


Há uma falha grotesca de raciocínio daqueles que defendem causas com paixão que lhes excede a lógica. Aprendi nas aulas de filosofia que “todo homem é mortal” (premissa maior), Sócrates é um homem (premissa menor), logo, Sócrates é mortal (conclusão). Isso é lógica.
Entretanto, quando um homem negro (ou uma mulher) ascende ao poder, como foi o caso de Barack Obama (e de Dilma Roussef), grupos étnicos e sexistas comemoram com ardor e louvores de que agora vai ser diferente. Afinal, temos um negro (ou uma mulher) no poder! 
Ora, se todos os homens são iguais, conforme apregoam esses grupos, logo um negro (ou uma mulher) é igual a todos os outros, logo, fará o mesmo que os outros e estará exposto às mesmas fraquezas que os outros brancos que lá estiveram. A história mostra exatamente isso: todos os homens são iguais mesmos em virtudes e defeitos que, felizmente, não escolhem cor de pele ou gênero. 
Se partimos do fato de que um negro ou uma mulher no poder será melhor do que um branco ou um homem, temos a negação da igualdade por pressupor a superioridade de um sobre o outro. Na verdade, o mesmo preconceito de cor ou gênero só que legitimado por outra parte. Ou seja, preconceito é bom quando não somos o objeto deste, ou quando a história nos legitima um direito de resgate ou mesmo vingança por injustiças praticadas algum dia.
Por uma questão de coerência e mesmo lógica, ou se sustenta um discurso racista e sexista ou se admite o mais razoável: seja um homem, uma mullher, um negro, um branco, um hetero ou um homossexual, todos são pessoas exatamente iguais e sujeitos às mesmas vilezas e nobrezas de todos os seres humanos. Somos uma casca que recebe rótulos. Por dentro, a matéria de que somos feitos é a mesma. Não deixe que os olhos o enganem, eles são traidores e entorpecem a razão.   

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Eu adoro as pessoas ruins


Adoro os incompetentes, os canalhas, os mentirosos, os ardilosos, os puxa-sacos e toda espécie de ser humano vil. Longe de serem nocivos, eles funcionam como aquelas doenças que nos tornam mais fortes a tudo.
Trabalhar com um sujeito mau caráter é a certeza de aprender a lidar com seres humanos de toda espécie e esperar tudo deles, mentira, inveja, armação, tramóia e tantas vilezas que só um canalha de verdade é capaz de fazer. É fantástica a maneira como ele o olha e diz que aprende muito com você, que você signfica muito para ele, mas, no fundo, ele o despreza com todo o ódio que se pode ter.
O ardiloso lhe deixa em estado de alerta constante, uma necessidade para a sobrevivência. Ele o ensina que confiança é coisa que nem nos seus dentes você deve ter, pois amigos mesmo assim, de tempos em tempos eles mordem você.
Enfim, essas figuras lúgubres e desprezadas pela história passam por nossas vidas para nos ensinar que o mundo não é feito de clone de Madre Teresa de Calcutá. Muito pelo contrário. Ele nos lembra que somos filhos da mais vil inveja e que só se obtém sucesso por vias torpes. Afinal, quem não rouba ou não herda, não sai da merda.. Ri-se e bafora um charuto imaginário. 
O mais torpe de caráter dos seres humanos sobrevive de pequenas tramóias, sutis mentiras e intrigas cotidianas até o fim de seus dias. E passa por nossa vida nos dando lições de sobrevivência... Ensinando que tudo podemos, basta ter uma fé que redima todos nossos pecados aos domingos.
Sim. Eles passam e nos dão parâmetro para o que nunca devemos nos tornar, essa é a maior de todas as lições, o que jamais devemos nos tornar.
Obrigado a todos os seres desprovidos de ética, moral e consciência que cruzaram meu caminho. Obrigado por me tornarem melhor, mas não menos vigilante.

sábado, 17 de setembro de 2011

Adelina fatalista e a socialização da desgraça

Adelina não poderia se definida como uma pessoa invejosa. Não. Não se tratava disso. Nem tão pouco seria bem classificada como uma pessoa egocêntrica. Muito pelo contrário. Entretanto, corroia-lhe o sentimento de socializar suas desgraças e pequenos infortúnios. Se uma forte dor de garganta lhe atingia, aceitava com resignação, mas a incomodava que aquele mal só estivesse atingindo a ela. E os outros?
Se ficava no trabalho até tarde, aceitava com paciência, mas retorcia-se de ódio quando via as pessoas saindo do prédios ao final do expediente. Enfim, era uma pessoa dada a socialização do infortúnio. Aceitava se lascar, contanto que todos se lascassem junto com ela. Entendia a desgraça como algo que poderia tocar a todos, inclusive a ela. Mas por que só ela? Aceitaria perder alguns dentes, contanto que o mundo fosse feito de banguelas.
Era a socialização da fatalidade. Disso, Adelina não abria mão. 
Num dia de chuva, esperava o ônibus para voltar para casa. Um carro descontrolado subiu a calçada e diante da inevitável iminência do atropelamento, olhou para os lados tentando ver se havia alguém que poderia puxar para ser atropelado com ela. Não havia ninguém e aqueles segundos gastos com isso deixaram-na na impossibilidade de tentar se safar.
O impacto foi fatal.
Sob sua lápide, um epitáfio que somente poucos souberam o real significado: Por que só eu?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Todo poder corrompe, entorpece e deforma a alma


Acho que o grande desafio da alma é expor-se ao pior e continuar sendo o mesmo. Dizem que, se queremos conhecer uma pessoa, devemos dar poder a ela. Nessas situações, o ser humano expõe o que ele tem de pior ou de melhor, varia muito de acordo com o que se tem dentro de si.
Nos últimos tempos, pude constatar quão verdadeira e imutável é essa afirmativa. Seja de origem humilde ou de berço de ouro, a sensação do poder corrompe os valores e entorpece a capacidade discernimento. Valores como amizade, respeito, honradez e palavra se desfazem como éter que evapora e sustenta-se pela alegação de que uma coisa é governar, outra é ser governado.
E, então, baseado numa ética amoral agem como se fossem deuses do Olimpo. Seres eternos sujeitos a paixões e ódios, desejosos de vingança e cheios de prazer pela punição que aplicam. Vivem o momento como se fosse a consagração do eterno. São reis de ocasião, mas esquecem que mesmos alguns reis de direito tiveram fim trágico. E, quando isso ocorre, refugiam-se no sentimento de como as pessoas foram ingratas depois de tudo que eles fizeram por elas. Mas, no fundo, esquecem que tudo o que fizeram foi para eles mesmos e nunca para os outros. Os outros são só um detalhe.
Para quê amigos, basta o poder? Para quê palavra, basta a minha palavra e ela a mim pertence? Altero-a quando bem entender. Para quê o momento se sou senhor do eterno?
Muitos dizem que têm consciência que são temporários nos cargos e funções, mas as ações não condizem com as palavras. O cérebro está entorpecido e distante da razão. Só interessam as estratégias de se perpetuar onde  se está a qualquer custo.
O que lhes passa despercebido é que da parte debaixo do despenhadeiro, as feras aguardam sua queda para, ao cair seu corpo, lacerem seus membros com ferocidade incomum.
Aí, lamentam como foram mal compreendidos.... como são ingratas as pessoas.
É.. as pessoas são ingratas algumas vezes.

sábado, 10 de setembro de 2011

O homem e o gato

Acordou e sentiu que algo estava diferente. Seu corpo estava coberto de pelos longos, seu nariz era agora meio achatado e os bigodes finos e compridos se espalhavam a partir de sua bochecha. Levou as mão em direção ao rosto e constatou que não tinha mãos, mas uma pata cinza e peluda. Parecia um pesadelo e naquele momento, se lançou em busca de um espelho. A pressa era tanta que nem percebera que corria de quatro enquanto um longo rabo em riste fazia sombra na parede. 
Olhou no espelho. Sim. Era um gato. Um gato da raça persa, gordo e peludo.. Por um momento ficou chocado com tudo, mas de súbito acomodava a sua condição. Afinal, poderia ter virado uma barata ou algo pior. Pensava, em sua lógica, agora de gato, haveria algo pior do que uma barata? Sim. Um rato, um ratão cinza de esgoto... já começava a pensar como um gato.
Procurou uma cama, deitou-se na parte contrária a cabeceira, mas não sem afofar o local, alongar as costas com o rabo espichado e se deitar como quem se enrosca em si mesmo. Segundos foram necessários para começar a ronronar levemente. O dia estava frio e o seus sonhos eram povoados de bolinhas de lã e sofás para afiar a unha.
Subitamente, sua esposa entrou no quarto e perguntou: 
- O que você está fazendo na cama deitado igual a um gato?
Levantou a cabeça, abriu somente um dos olhos e com a altivez dos gatos, voltou a ronronar.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Só não me ensinaram o essencial..


Ensinaram-me, na escola, que a esquerda era correta, mas a direita era corrupta. Disseram-me que os livros e os autores de esquerda traziam a verdade sobre os fatos que a direita tentava esconder. Contaram-me que quem matava, torturava, prendia e aterrorizava era a direita, a esquerda agia heroicamente por uma causa, independente de quê e de quem fosse essa causa. E mesmo do que fosse necessário fazer.
Diziam-me que, quando a esquerda chegasse ao poder, aí sim, teríamos igualdade social e um governo atuando pelos interesses do povo. Aí sim, teríamos o retorno ao Éden, mas, dessa vez, sem cobras e sem a impetuosidade da Eva. 
Doutrinaram-me, na escola, a crer que a única salvação era a esquerda. Diziam que os jornais como os da Globo são propagadores da mentira e da infâmia. Entretanto, eu poderia encontrar a verdade nos folhetos mimeografados dos movimentos estudantis ou dos partidos de esquerda. Lá sim, estava a verdade e aquele que a aceitasse teria a vida eterna e poderia carregar um crachá de intelectual.. Mesmo que nunca tivesse lido um livro sequer.
Enfim, incutiram-me a ideia de que só havia inteligência na esquerda. A direita era burra e truculenta.

Só não me ensinaram quem era a esquerda e quem era a direita.

sábado, 3 de setembro de 2011

A bolinada

Tecnicamente falando, aquilo que sentira no ônibus era uma bolinada. Sim. Passaram a mão em sua bunda. Algo impensável para ela com seus 105 quilos distribuídos em 1,55 m e virando a casa dos 50 anos. Mas era o que de fato sentia. Passaram a mão na sua bunda. Ali, naquele ônibus, meio congestionado no corredor. E se fosse sem querer, uma passada casual que viria seguida de um “desculpe”. Mas o "desculpe" não veio. Não. Definitivamente falando, era intencional. Atrás de si, um senhor com uma bíblia velha embaixo do braço, um menina ouvindo música com fones, um jovem com bolsa de supermercado na mão. Descartando a mocinha do fone de ouvido, tanto o jovem quanto o senhor com a bíblia velha poderiam ter trocado o que carregavam de mão, soltado as alças do ônibus e vapt. Passado a mão nela. 
O pensamento corroeu-lhe a alma. Ficava entre a vontade de reagir e uma impotente sensação de despertar desejo novamente. Pois, afinal, apesar de tudo, desejada. Já nem se lembrava mais o tempo que havia entre aquele episódio e o último elogio. Isso se perdera no tempo. Mas, ali, no ônibus, sua bunda era novamente estrela. 
Todavia, era uma afronta, um desrespeito. Precisava tomar uma atitude. Olhava trás em busca de um sinal de quem havia feito aquilo. Mas até agora nada e seu ponto de descida já se aproximava. Desceu olhando para trás com aquele dúvida amargando-lhe.
A partir daquele dia, pegou aquele coletivo mais umas 30 vezes, no mesmo horário, na esperança de descobrir quem a havia bolinado. Procurara sempre no mesmo horário por todo o tempo. Mas nada. Nunca mais viu o rapaz da bolsa, o senhor com a bíblia velha ou mesmo a garota do fone de ouvido.
Levou aquela dúvida para o túmulo.


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O lado bom e o lado ruim de tudo - Reflexões numa hora dessas..

Tudo tem um lado bom e um lado ruim na vida. A grande lição é aprender a ver a dupla face das coisa num mundo que nos mostra que somente um lado é válido. Penso que mesmo as coisas que aparentemente ruins são no fundo boas, pois nos chamam a atenção para o fato de o quanto o mundo é melhor sem elas.

Carnaval
Lado Ruim: sujeira, bebeira, brigas, aumento de acidentes de trânsito e as coberturas da TV aos desfiles, festas de rua e bailes
Lado bom: quando acaba temos a certeza de que aquela porcaria só será feita de novo daqui a 12 meses.

Funk
Lado ruim: barulho e letras de mau gosto que em nada contribuem para nada
Lado bom: Quando desligam, passamos a dar mais valor ao silêncio.

Eleições:
Lado ruim: campanhas eleitorais na TV e no rádio
Lado bom: rir da cara de um monte de candidato que se achava o tal antes e não foram eleitos a nada.

Fazer turismo
Lado ruim: Comprar porcarias caras para guardar, comer coisas estranhas para provar e assistir a espetáculos folclóricos fazendo cara de quem está gostando para não parecer politicamente incorreto. 
Lado bom: Conhecer lugares e hábitos diferentes.

Confraternizações de fim de ano
Lado ruim: confraternizar com quem tentou te ferrar os 364 que antecederam aquele dia e que vai continuar tentando logo que acabar a festa
Lado bom: Um ano me separa de outra festa dessa depois que acaba.

E vai por aí...

sábado, 27 de agosto de 2011

Ninguém vai para o Panamá

Outro dia, no aeroporto, ele esperava seu horário de embarque e ficava distraído olhando os painéis de voos de tempo em tempo.  Entre nomes como Paris, Madrid, New York, Londres e outros, passava insistentemente a chamada do voo para a Cidade do Panamá. Quase como uma súplica. Nesse momento, atentou para o fato de que nunca conhecera ninguém tivesse ido para o Panamá. De lá, só temos notícias do chapéu do Panamá e do Canal do Panamá. Pensou, quem é que vai para o Panamá? Fazer o que no Panamá? Aliás, quem mora no Panamá? e o que estão esperando no Panamá? Lost seria perto do Panamá? Ou o próprio seria Lost?
Compadeceu-se do Panamá. Sentiu vontade e jurou que se tivesse dinheiro sobrando algum dia, iria ao Panamá. Fazer o quê? Sei lá. Dar um alô. Comprar um chapéu, tirar uma foto do canal e dizer: aí, na boa, amigos, vim dar só uma força pra vocês. 
E voltar imediatamente.
Aliás, achou que aquele voo que via no painel do Galeão, deveria ser um voo repleto por pessoas antecipando a essa minha missão humanitária.
Correu para trocar seu bilhete no balcão. Precisava fazer parte daquilo para se sentir melhor.